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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Análise: O Nascimento dos Deuses

O Nascimento dos Deuses, de Luc Ferry, Bruneau, Dim. D e Santagati - Gradiva


O Nascimento dos Deuses, de Luc Ferry, Bruneau, Dim. D e Santagati - Gradiva
O Nascimento dos Deuses, de Luc Ferry, Bruneau, Dim. D e Santagati

O Nascimento dos Deuses é o terceiro livro da coleção A Sabedoria dos Mitos, que é editada pela editora Gradiva e que versa sobre os temas da mitologia grega. Os outros títulos, já todos analisados no Vinheta 2020, são Prometeu e a Caixa de Pandora, Édipo e As Desventuras do Rei Midas. Se há coisas que esta coleção tem demonstrado, é uma qualidade bastante interessante, quer no argumento, quer na ilustração, bem como um conjunto de obras bem niveladas e homogéneas entre si, mesmo tendo em conta que, na ilustração, os autores até se vão alterando. Este O Nascimento dos Deuses não é exceção e, possivelmente, até é o melhor álbum até agora.

Mas vou começar pelo menos bom para depois chegar ao bom. Repetidamente, tenho traçado a importância de uma capa para o “pré-interesse” que um livro pode gerar (ou não) nos potenciais compradores. E esta capa, com um título genérico como O Nascimento dos Deuses, e com uma imagem que, embora bem desenhada, apenas demonstra um conjunto de pedras rolantes (seria talvez uma boa capa para um álbum dos Rolling Stones?) a envolver o Monte Olimpo, lá bem no fundo, é tudo menos apelativa, a meu ver. E depois de lido o livro, que nos revela a história de Zeus, fico com a ideia reiterada de que a capa deveria ter sido outra. Uma ilustração, tão espetacular quanto possível, de Zeus seria mais apropriado. Pois, afinal de contas, é sobre esta personagem que este livro é feito. E claro, o próprio título O Nascimento dos Deuses é demasiado lato. Que Deuses? De que religião? Mesmo admitndo que o conhecimento prévio da coleção dê pistas sobre qual é a mitologia de que estamos a tratar ou a própria imagem do Olimpo, bem pequena na capa, não levante dúvidas, penso que esta capa é um bom exemplo de como perder uma boa oportunidade para cativar um potencial público. Vi este livro nas lojas por diversas vezes e nunca tive vontade de pegar nele. Por causa da capa. Não me dizia grande coisa. Não criava relação. E, repito, não é que a capa seja feia ou mal executada. Simplesmente não é bem conseguida do ponto de vista de appeal comercial.

O Nascimento dos Deuses, de Luc Ferry, Bruneau, Dim. D e Santagati - Gradiva
Porque, fora isso, até foi dos livros desta coleção que mais prazer me deu ler. Como em todos os livros da série, a história parece-me, por ventura, demasiado abreviada e que, se estes livros tivessem mais umas 10 ou 20 páginas, poderiam aprofundar melhor as personagens e as histórias, sendo, dessa forma, mais marcantes para o leitor. Não obstante, também é justo dizer que, normalmente, os livros desta coleção, mesmo abreviando em demasia as histórias, abreviam-nas de forma eficaz. Neste caso, isso também acontece.

A história, conforme já referido, conta-nos o percurso de Zeus. Aliás, até começa um pouco mais atrás quando, saídos do caos primordial, Geia, a terra, e Úrano, o céu, unem-se de forma a darem vida aos primeiros deuses do panteão grego: os Titãs, os três primeiros Ciclopes (Raio, Relâmpago e Trovão) e os Hecatonquiros (seres imortais e com uma força imensa, concebidos para a guerra). Mas, com o receio de que ocupem o seu lugar, Úrano encerra os próprios filhos no ventre da mãe. Desse encarceramento, Crono consegue libertar-se e, mais tarde, quando também ele já é pai começa a engolir (!) os próprios filhos, com o mesmo medo de que estes possam destroná-lo do seu lugar. E, tal pai, tal filho, será novamente o filho mais novo, Zeus, que conseguirá fugir e iniciar a sua luta com o seu pai. Liberta os seus irmãos e irmãs e dá início à guerra dos deuses, entre os olímpicos conduzidos por Zeus e os titânicos guiados por Cronos.

O ritmo da narração é rápido, não dando grandes espaços a reflexões ou ao aprofundamento de detalhes de carácter, mas permite-nos ficar a conhecer como é que Zeus consegue ascender ao lugar primordial do Olimpo e quais são as forças que o ajudam a conquistar esse lugar.

O Nascimento dos Deuses, de Luc Ferry, Bruneau, Dim. D e Santagati - Gradiva
Em termos de arte ilustrativa, as primeiras 8 páginas são ilustradas pelo autor Dim. D. E são fantásticas e memoráveis! Confesso que teria gostado que todo o livro fosse assinado por este autor. Dessa forma, o livro daria um salto qualitativo impressionante. Provavelmente, afastar-se-ia bastante dos demais livros da coleção A Sabedoria dos Mitos mas, ainda assim, tornaria espetacular este álbum. Porém, a partir da página 11, até ao fim do livro, temos a ilustração a ser assegurada por Federico Santagati. O seu traço, mais em linha com o traço das outras obras desta coleção da Gradiva, é mais simples, menos artístico e mais direto. Funciona bem em quase toda a obra se bem que, a meu ver, utiliza um estilo de sombra, com base em pequenos riscos grossos, que tornam os seus desenhos algo crus, aparentando serem feitos um pouco à pressa.

E isto não é dizer que os seus desenhos não são bonitos ou eficazes – porque até o são – mas acho que em termos de arte final, poderiam ter recebido um melhor cuidado do autor. Além disso, este tipo de sombra, utilizado nas faces das personagens, para além de não ser muito cuidado, ainda apresenta resultados piores num livro de grande formato, como é o caso.

O Nascimento dos Deuses, de Luc Ferry, Bruneau, Dim. D e Santagati - Gradiva
De qualquer maneira, gostei bastante das expressões, e da própria planificação das pranchas que aqui é utilizada. As ilustrações cumprem muito bem os seus intuitos, revelando uma interessante mistura entre o estilo franco-belga e o estilo americano do comic, em termos de desenho, planificação e até de aplicação de cores.

A edição da Gradiva é em grande formato, capa dura e com o habitual dossiê de extras, que complementam a leitura e são sempre bem-vindos. Continuo a achar que a informação contida nestes extras é demasiado técnica/especializada, se tivermos em conta que o desenho e argumento da bd é mais direcionado para um público infanto-juvenil. Parece-me que há aí uma certa incongruência. De qualquer maneira, é apenas uma nota pessoal, que não procura ser demasiado negativa porque, acho sempre importante, repito, que existam alguns extras que acrescentem algo mais à leitura da história. São bem-vindos, portanto.

Em conclusão, este O Nascimento dos Deuses é um álbum bastante interessante e merece que lhe seja dada uma oportunidade, mesmo que a capa não vos cative especialmente. É uma leitura fácil, agradável, que aumenta (ou relembra) os conhecimentos dos leitores sobre a mitologia grega e faz parte de uma série que me parece uma aposta muito interessante por parte da Gradiva. Que venha o próximo número!


NOTA FINAL (1/10):
8.4


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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O Nascimento dos Deuses, de Luc Ferry, Bruneau, Dim. D e Santagati - Gradiva

Ficha técnica
O Nascimento dos Deuses
Autores: Luc Ferry, Clotilde Bruneau, Dim. D e Federico Santagati
Editora: Gradiva
Páginas: 60, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Fevereiro de 2020

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