sexta-feira, 15 de maio de 2020

Análise: Prometeu e a Caixa de Pandora




Prometeu e a Caixa de Pandora, de Luc Ferry, Giuseppe Baiguera e Clotilde Bruneau

Prometeu e a Caixa de Pandora é um dos muitos (e bons) lançamentos de banda desenhada que a Gradiva nos deu, em tempos recentes. Foi lançado a meio de 2019, inaugurando uma nova coleção da editora, denominada A Sabedoria dos Mitos, que se baseia em histórias da mitologia grega. A mencionada coleção recebeu, entretanto, mais dois títulos: Édipo e O Nascimento dos Deuses.

Este Prometeu e a Caixa de Pandora é um álbum de banda desenhada muito competente e bem feito a muitos níveis. E mesmo, estando a falar de banda desenhada e não de cinema, em jeito de comparação, este livro chega-me a parecer uma daquelas grandes produções de cinema de Hollywood. Senão vejamos: olhando logo para a primeira página deste Prometeu e a Caixa de Pandora, não encontramos um, nem dois, ou três nomes, mas sim seis(!) nomes que fizeram este livro acontecer. O livro é concebido e escrito por Luc Ferry, o guião é da autoria de Clotilde Bruneau, a direção artística e story-board ficou a cargo de Didier Poli, o desenho é de Giuseppe Baiguera, a cor é de Simon Champelovier e a capa ficou nas mãos de Fred Vignaux. Seis nomes, portanto, quando o mais comum é encontrarmos um ou dois nomes (por vezes, três) na autoria de uma banda desenhada. 

E acho que isto é um ponto fulcral para olharmos para este livro. É que, por um lado, uma equipa técnica tão diversificada permite que o livro tenha qualidade garantida em todos os pontos. A capa é muito boa, a arte das páginas também é muito cativante e o enredo, baseado nos textos mitológicos, também me parece bem intrincado. O único lado menos positivo disto é que, de alguma forma, o livro foi feito de forma tão “profissionalizada” que acaba por parecer um pouco impessoal. Parece-me pois, que cada um dos artistas tinha a sua função completamente bem delineada e que só teve que fazer o que lhe era pedido. E talvez seja por isso que me parece um livro algo impessoal e com pouca paixão. Parece que vai pouco ao âmago da narrativa e que arrisca pouco. Aposta no seguro. E fá-lo extremamente bem. Sei que estou ao nível do subjetivo aqui, mas diria que é a única coisa (com algum valor para mim, enquanto leitor, confesso) que gostaria de ter visto de outra forma neste Prometeu e a Caixa de Pandora.

No entanto, apesar de alguma frieza, este é um livro extremamente bem feito, tenho que admitir. Algo muito funcional. Conta bem a história, de forma simples e acessível a toda a gente – e talvez por isso me leve a considerar que procura atingir um público mais juvenil, mesmo tendo em conta que a mitologia grega até é bastante violenta e adulta. Não devemos confundi-lo por isso, com um livro demasiado infantil. Acho que é para um público mais juvenil mas considero que pode (e deve) ser lido por qualquer adulto. 

A sua história remete-nos para o período da mitologia grega em que Zeus, após uma temporada sem guerras e de algum aborrecimento entre os deuses do Olimpo, decide pedir a Prometeu que faça seres mortais, de forma a que os deuses tenham algo com que se divertir, para preencher a sua existência. Prometeu desenvolve então o Homem, uma espécie que, dotada do fogo e de técnicas, consegue superar todas as outras espécies de animais. E isto faz com que Zeus fique enfurecido e puna severamente Prometeu. 

Realço que a arte é bonita de se observar, com um traço moderno e bem delineado. Os cenários não são excessivamente detalhados mas são-no quanto baste. Também gostei particularmente da caracterização física e de expressões das personagens. As cores são bonitas e a planificação das páginas apresenta uma certa dinâmica que favorece a experiência de leitura. Em termos de arte, não há portanto nada que se possa apontar a este livro. Bonito e atraente - tal como são as deusas gregas aqui presentes - e com umas cores cativantes. Insisto que não é uma arte assombrosa ou que arrisque muito, mas é uma arte funcional, cativante e que resulta muito bem.

Destaque positivo ainda para o dossier informativo no final do livro, que nos permite saber mais informações acerca do mito de Prometeu. Uma boa adição e que assentua, ainda mais, o cariz educativo do livro.

E no final, a componente didática, à semelhança das coleções “Descobridores” - cuja obra Darwin já recebeu uma análise no Vinheta 2020 - ou "Eles fizeram História", também da Editora Gradiva, é uma grande mais valia desta coleção e destes livros, incluindo este Prometeu e a Caixa de Pandora. E a grande vantagem é que não ensina de forma aborrecida mas sim, de forma cativante. Bons desenhos, boas cores, textos acessíveis. Parece aquela professora que, mesmo sendo gira e simpática, também era uma boa professora, e que todos nós gostámos de ter na Escola Secundária. O que se poderia pedir mais de Prometeu? 

NOTA FINAL (1/10):
8.2

Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020 

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Ficha técnica
Prometeu e a Caixa de Pandora
Autores: Luc Ferry, Giuseppe Baiguera e Clotilde Bruneau
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: capa dura
Lançamento: Julho de 2019

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