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sexta-feira, 12 de março de 2021

Análise: A Ilha do Tesouro

A Ilha do Tesouro, de Christophe Lemoine e Jean-Marie Wohehrel - Levoir e RTP

A Ilha do Tesouro, de Christophe Lemoine e Jean-Marie Wohehrel - Levoir e RTP
A Ilha do Tesouro, de Christophe Lemoine e Jean-Marie Wohehrel

Devo dizer que sempre gostei bastante do imaginário dos piratas. Desde tenra idade. O capitão Gancho sempre foi dos meus vilões favoritos dos clássicos de animação da Disney; os meus bonecos da Playmobil favoritos eram os piratas; uns dos meus desenhos animados favoritos em criança eram o mangá, de 1978, A Ilha do Tesouro (Takarajima); a minha atração favorita quando fui à Disneyland Paris eram Os Piratas das Caraíbas e mais tarde também gostei bastante de alguns (não todos!) os filmes em que Johnny Depp protagoniza a franquia Piratas das Caraíbas. Entretanto, tenho lido algumas bandas desenhadas – infelizmente, poucas – que versam sobre o tema dos piratas como Long John Silver, Raven ou Barracuda. E claro, na adolescência também li entusiasticamente o romance de Robert Louis Stevenson, A Ilha do Tesouro, no qual se baseia esta adaptação a bd.

Considero A Ilha do Tesouro como um dos melhores romances infanto-juvenis e que é uma história seminal para o imaginário do universo dos piratas. Posto isto, quando soube que a Levoir iria lançar, enquanto volume 6 da sua coleção Clássicos da Literatura em BD – editada em parceria com a RTP - a adaptação para BD de A Ilha do Tesouro, fiquei naturalente empolgado.

A Ilha do Tesouro, de Christophe Lemoine e Jean-Marie Wohehrel - Levoir e RTP
E à semelhança daquilo que esta coleção nos tem vindo a oferecer nos demais títulos publicados até agora, este A Ilha do Tesouro não encanta mas cumpre bem a sua função de resumir os principais acontecimentos desta jornada épica em meras 48 páginas. Uma criança – ou um adulto – que não conheça a obra original consegue, após a leitura desta adaptação, ficar com uma ideia genérica da obra original. E nisso, acaba por funcionar bem.

Com a adaptação para argumento de banda desenhada a cargo de Christophe Lemoine - autor de Odisseia, da mesma coleção - a história conta-nos a viagem fantástica, em busca de um tesouro incalculável perdido, que o jovem protagonista, Jim Hawkins, realiza, acompanhado pelo Conde Trelawney, pelo Doutor Livesey e pelo temível e emblemático pirata com perna de pau, que dá pelo nome de Long John Silver.

Tudo começa quando o Capitão Billy Bones, um velho lobo do mar, se acomoda na estalagem que Jim e a sua mãe exploram. Esse velho bêbado faz-se acompanhar de um baú que guarda religiosamente. Mas quando Billy Bones morre e Jim, ao vasculhar o baú, encontra um mapa para o tesouro do Capitão Flint, é que a aventura começa verdadeiramente. É então organizada uma viagem que levará Jim e o resto da tripulação, maioritariamente constituída por piratas, a uma ilha deserta, situada no coração do oceano, onde está escondido o tesouro do Capitão Flint.

A Ilha do Tesouro, de Christophe Lemoine e Jean-Marie Wohehrel - Levoir e RTP
Para além das voltas e reviravoltas no enredo, a obra é fértil em duas grandes vertentes, a meu ver: por um lado, no brotar da coragem e amadurecimento do jovem Jim Hawkins. São as peripécias pelas quais ele vai passando que vão, gradualmente, despertando a sua coragem e fazendo dele um herói.E isso é algo interessante de absorver na sua personagem. E, claro, à semelhança daquilo que Joker significa para Batman – a personificação do mal e do medonho -, Long John Silver é um vilão desse tipo. Maquiavélico, aterrador, misterioso e cheio de truques maliciosos. Tal como muita gente lê Batman mais por causa do Joker do que, propriamente, pelo Batman, também estou certo que muita gente lê A Ilha do Tesouro mais por causa de Long John Silver do que por Jim Hawkins.

Devo dizer que o argumentista, Lemoine, apenas nos consegue aproximar do universo de A Ilha do Tesouro sem, no entanto, nos fazer mergulhar profundamente neste universo fantástico. Se calhar, em apenas 48 páginas, não dava para fazer melhor, reconheço. Mas é pena que Long John Silver não tenha sido suficientemente desenvolvido. Aqui aparece como uma personagem demasiado superficial e unidimensional.

A Ilha do Tesouro, de Christophe Lemoine e Jean-Marie Wohehrel - Levoir e RTP
Relativamente à arte ilustrativa, este é um livro que engana. Quando olhei pela primeira vez para as páginas promocionais, pensei: “Eh, lá... este livro parece ter uma ilustração bastante boa”. Folheando o livro à pressa também se fica com essa ideia. Mas lendo com atenção a obra, e observando as ilustrações com mais detalhe, encontramos um trabalho do ilustrador Jean-Marie Wohehrel algo intermitente.

Faz umas coisas de forma muito competente mas outras não têm um resultado tão bom. No desenho dos cenários, na utilização de diferentes “planos de câmara” e na planificação das pranchas, o trabalho do autor até é bastante satisfatório. No entanto, na caracterização dos rostos das personagens, o resultado fica bastante aquém das expetativas e, várias vezes, as personagens parecem bonecos de cera. Em ceras vinhetas, chegou mesmo a incomodar-me a forma como estava desenhada a cara e/ou expressão facial de determinada personagem. É pena porque, não fora isto, e o álbum saltaria de patamar qualitativo.

A Ilha do Tesouro, de Christophe Lemoine e Jean-Marie Wohehrel - Levoir e RTP
Ainda assim, a arte visutal de Wohehrel cumpre de forma satisfatória e aceitável. Para isso também ajuda a aplicação de cores que, estando a cargo de Patrice Duplan, contribui para que a arte ilustrativa seja mais apetecível. Talvez até seja por causa do simpático processo de colorização da obra que temos aquela ideia de que a obra é melhor do que é, quando folheamos rapidamente o livro.

A edição da Levoir mantém-se com uma excelente relação entre qualidade/preço, apresentando uma encadernação em capa dura e com um papel de boa qualidade. O dossier de extras, no final da história, é sempre bem-vindo para que o leitor possa aprofundar os seus conhecimentos sobre a obra e o autor. Neste caso concreto, achei que a informação era de ótima qualidade, apresentando muitos elementos interessantes de uma forma contida e bem sintetizada.

Em conclusão, temos uma obra interessante. Que não é fantástica na forma como consegue transportar-nos para o universo original criado por Robert Louis Stevenson mas, ainda assim, consegue ser eficaz na sua premissa de nos apresentar a obra-prima da literatura infanto-juvenil que é A Ilha do Tesouro. Não encanta. Mas cumpre.


NOTA FINAL (1/10):
7.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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A Ilha do Tesouro, de Christophe Lemoine e Jean-Marie Wohehrel - Levoir e RTP

Ficha técnica
A Ilha do Tesouro
Autores: Christophe Lemoine e Jean-Marie Wohehrel
Adaptado a partir da obra original de: Robert Louis Stevenson
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Fevereiro de 2021

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