Análise: Miss Marple – Um Cadáver na Biblioteca

Miss Marple – Um Cadáver na Biblioteca, de Dominique Ziegler e Olivier Dauger

A coleção de banda desenhada dedicada a Agatha Christie tem tido um lançamento bastante regular por parte da editora Arte de Autor. No total, já são 5 obras que foram lançadas em 4 livros (pois um deles é um álbum duplo). Hoje é dia de olhar para Miss Marple – Um Cadáver na Biblioteca, cuja adaptação para a banda desenhada ficou a cargo do argumentista Dominique Ziegler e do ilustrador Olivier Dauger.

A história, para quem não se lembra, começa quando um cadáver de uma mulher desconhecida é encontrado na biblioteca da abastada residência do coronel Bantry e da sua esposa Dorothy. São então nomeados dois detetives que procuram desvendar o enorme mistério que envolve esta vítima. Mas, aparantemente, são oficiais algo negligentes na sua procura. E será Jane Marple, a amiga de Dorothy Bantry que, perspicazmente, vai ajudar a resolver este caso. Trata-se de uma história de estilo clássico, normalmente associado à célebre autora inglesa Agatha Christie. Temos um crime misterioso e várias personagens que se nos são apresentadas como possíveis suspeitos do delito. É claro que, depois, há um inteligente emaranhado de eventos que tornam mais complexa a trama e a descoberta de quem será o assassino. Por vezes – mas nem sempre – o criminoso até acaba por ser a personagem que parecia menos suspeita aos olhos do leitor. É sempre um exercício deveras aliciante, pois é um tipo de narrativa que quase parece um jogo, pois estamos sempre a tentar perceber quem é o verdadeiro malfeitor mascarado.

O argumento é adaptado para banda desenhada por Dominique Ziegler. Devo dizer que, sendo uma trama com bastentes volte-faces, foi muito bem dividida pelas 64 páginas do livro. Pese embora, exista alguma balonagem excessiva, na minha opinião. Mas nada de demasiadamente exagerado, ainda assim.

O autor tomou também certas liberdades que, a meu ver, não seriam muito necessárias mas também não é pelas mesmas, reconheço, que a história não fica interessante de ler. É que o romance original de Agatha Christie foi lançado em 1942 mas a história que esta adaptação nos oferece é passada nos anos 60, em que o movimento hippie, o crescimento da indústria cinematográfica, a ascenção dos The Beatles ou das drogas LSD estavam em voga. Sinceramente, não percebo o porquê desta opção. Não é que, repito, estrague a obra. Mas também não seria assim tão necessária, direi. Parece-me quase um capricho do autor Ziegler que parece que queria fazer uma história nos anos 60, no matter what. Se me pedirem uma adaptação para BD d' Os Maias, de Eça de Queiroz, não fará muito sentido que a história seja ambientada nos anos da Primeira Guerra Mundial, certo?

Mas posto isso, há que dizer que os elementos base da obra original estão cá todos. O ritmo da narrativa, a forma como as questões vão sendo levantadas por Miss Marple – e pelos leitores – está bem conseguida e faz jus à obra original.

Quanto à arte, o trabalho de Olivier Dauger apresenta ilustrações em linha clara, de cariz franco-belga, em harmonia com o estilo de ilustração dos outros álbuns desta coleção, que foram publicados até agora. Faz lembrar um pouco, com as devidas diferenças, o estilo de ilustração da série Blake e Mortimer. O que faz ainda com que seja mais curioso o aparecimento da dupla de personagens criadas por Edgar P. Jacobs na página 28 deste livro. Um cameo que achei divertido e que representa, possivelmente, uma homenagem dos autores à série Blake e Mortimer.

A arte de Dauger funciona bem e capta o espírito e ambiente retratados nos livros de Agatha Christie. Por vezes, achei o desenho algo despido em termos de detalhes cénicos. Noutras ocasiões, as personagens e respetivas expressões faciais também me pareceram um pouco estáticas e a necessitar de um melhor cuidado, para que a noção de movimento fosse mais natural. Ainda assim, o desenho de Dauger é agradável e harmonioso, assegurando uma qualidade interessante a todo o conjunto. E não devemos esquecer o fantástico plano, logo na página 6, em que o casal Bantry dá de caras com a rapariga assassinada na biblioteca. Este é um desenho de página inteira que é verdadeiramente impressionante e o ponto alto, em termos de ilustração, de toda a obra.

A edição da Arte de Autor é, mais uma vez, irrepreensível. Encadernação em capa dura, com papel de boa qualidade e boas cores. Como já referi numa outra análise a outro dos títulos desta coleção, inicialmente não estava muito entusiasmado com esta coleção, que arrancou de forma mediana com Hercule Poirot – Crime no Expresso do Oriente. Contudo, a coleção foi-me fazendo mudar de opinião ao longo dos livros lançados. O primeiro livro é mesmo o mais fraco, a meu ver. Os outros melhoram em termos de qualidade.

Em conclusão, este Miss Marple – Um Cadáver na Biblioteca é uma boa adaptação para bd do clássico da literatura de Agatha Christie, especialmente se formos tolerantes com uma certa adaptação algo livre na alteração da época em que a história se desenrola. Não será, a meu ver, o melhor álbum da coleção – preferi o álbum duplo Hercule Poirot - Morte no Nilo e O Misterioso Caso de Styles, bem como Os Beresford – Mister Brown – mas é, ainda assim, um álbum bastante competente e interessante para os amantes de uma boa história de mistério. 

NOTA FINAL (1/10):

8.2

Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

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Ficha técnica

Miss Marple - Um Cadáver na Biblioteca

Autores: Dominique Ziegler e Olivier Dauger

Editora: Arte de Autor

Páginas: 64, a cores

Encadernação: Capa dura

Lançamento: Maio de 2019