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terça-feira, 14 de março de 2023

Comparativo: Congo 1 - Edição Original VS Edição Definitiva


Os irmãos Gandum lançaram recentemente uma nova edição do primeiro álbum da sua saga Congo conforme, aliás, já aqui tinha dado conta.

Como tal, e para que alguns dos que me lêem e já têm na sua coleção a edição original de Congo 1 - Um Mundo Esquecido, possam averiguar se esta nova edição vale, efetivamente, a pena, trago-vos mais um dos meus comparativos.

Este comparativo incidirá em duas vertentes, na parte do objeto livro e na parte do livro em si já que, Duarte e Henrique Gandum optaram por fazer de raiz este seu primeiro volume da sua série, pensada para quatro volumes, Congo.

Assim, e olhando primeiro para o objeto em si, há diferenças que saltam à vista assim que colocamos os dois livros lado a lado.

A nova edição apresenta uma nova ilustração. Se é verdade que gosto do ambiente de mistério que a ilustração da capa da edição original (bem como o segundo volume da série) apresenta, também tenho que admitir que a nova ilustração não só é muito bela como é, parece-me, muito mais apelativa em termos comerciais.



Embora os dois livros apresentem capa mole, a edição definitiva tem capa mole com badanas, que dão consistência ao livro e são bem aproveitadas pelos autores, com uma breve biografia sobre os mesmos na primeira badana e informação, através de QR Code, sobre Congo 2 - No Caminho das Trevas e Amélia - Uma História do Congo.

O design da contracapa desta nova edição, não sendo feio, não me parece muito apelativo. Acho que neste ponto, talvez a informação pudesse ter sido apresentada, graficamente, de um modo mais moderno, e talvez tivesse sido benéfico introduzir uma ilustração mais colorida. Mas é uma opinião muito pessoal, reconheço.



Naturalmente, a espessura de ambos os livros é muito diferente mas isso também se justifica pela alteração no número de páginas. É que o novo livro tem 64 páginas e a edição original do livro contava com 96 páginas. Voltarei a este assunto mais à frente mas, por agora, digo apenas que foi uma bela decisão dos autores.

O papel em ambos os livros, sendo algo diferente, mantém uma qualidade equilibrada.

De resto, no interior, a nova edição apresenta uma nova ilustração de página inteira, assim que abrimos o livro, embora tenha perdido o texto introdutório de José Alex Gandum. No final, a edição original tinha uma prancha que funcionava como teaser do segundo volume. Nesta nova edição definitiva, essa prancha saiu, mas deu lugar a uma lindíssima ilustração do ator Pedro Lima (que, antes de falecer, chegou a dar vida a Afonso Ferreira, o protagonista de Congo); e ainda duas páginas dedicadas aos críptidos feitos por Henrique Gandum, bem como uma página com 24(!) ilustrações de fan art. Infelizmente, estão em tamanhos tão pequenos que é difícil observar estes desenhos numa dimensão tão pequena.

Olhando para o interior da obra e para aquilo que os autores fizeram, devo dizer que fiquei verdadeiramente impressionado. Não estamos perante um "reajustezinho", uma pequena melhoria de Congo 1. Não. Estamos, isso sim, perante uma autêntica revolução que vai aos mais ínfimos detalhes!

Primeiro que tudo, importa dizer que Congo 1 foi o primeiro álbum dos irmãos, lançado originalmente em 2017, e, expetavelmente, não tinha a maturação de técnicas e conhecimento que, posteriormente, os irmãos acabaram por adquirir. Note-se que a história já lá estava, o interessante world building também mas, no que diz respeito à planificação, aos desenhos, às cores, à narrativa e, até, aos próprios diálogos, Duarte e Henrique Gandum ainda eram bastante "verdinhos". Não há nada de mal nisto até porque "ninguém nasce ensinado" e este Congo 1 é uma bela prova desta expressão idiomática.

Conheço ambos os autores e posso dizer que são pessoas muito humildes, sem quaisquer ideias de grandeza ou manias, sempre dispostos a ouvir e a aprender. E essas características são, a meu ver, relevantes para uma evolução mais rápida e forte. E foi isso que se passou com os autores.

Quando, em 2019, nos apresentarem Congo II, houve, naturalmente uma evolução gritante, a todos os níveis, do primeiro para o segundo álbum da série. Se isso foi algo bom e que deixou toda a gente muito bem impressionada com o trabalho executado - incluindo a minha pessoa, tal como prova a análise que, na altura, fiz a esse segundo livro - a verdade é que a melhoria de qualidade nesse segundo volume trouxe um sabor agri-doce ao todo.

É que a melhoria era tão gritante que, de alguma forma, parecia que Congo 1 era o patinho feio em relação a Congo 2. Talvez por isso - mas não só - Duarte e Henrique Gandum meteram mãos à obra e desenharam de raiz todo o primeiro volume. Ora, isto não é algo que aconteça muitas vezes.

Todos nós sabemos a dificuldade e tempo que pressupõe a feitura de um álbum. Portanto, faço vénias aos dois irmãos, e em especial a Henrique Gandum, por ter tido a coragem e devoção à sua arte para ter feito tamanho empreendimento.

Pode ter dado muito trabalho mas uma coisa fica na retina: valeu muito a pena! Com esta edição definitiva, Congo 1 é um álbum com belos desenhos, com cativantes cores, com uma história mais escorreita, com melhores diálogos e com melhor planificação de páginas. E é, aliás por ter uma melhor planificação que o álbum acaba por ter menos páginas. E não pensem que foi para poupar nos custos. Nada disso! Foi para melhor contar a história porque, de facto, não era necessário ter vinhetas tão grandes como acontecia no primeiro álbum, que retiravam dinâmica à narração visual. Enfim, este novo Congo é em tudo melhor do que o primeiro! Possivelmente, até fica um pouco acima de Congo 2, embora a diferença (agora) já não seja gritante e se consiga, portanto, uma mais premente homogeneidade visual entre volumes.

Henrique Gandum tem um traço muito mais confiante, fino e detalhado, que consegue contar bem melhor a história. Também nas cores a diferença é impressionante pois essa até era uma fraqueza na edição original e aqui passou a ser uma das mais valias do livro, pois são muito belas as cores dos desenhos. Os próprios textos foram reescritos para serem mais verossímeis o que revela, também, o bom envolvimento de Duarte Gandum nesse cômputo. 

Eu olho para a edição original e para a edição definitiva de Congo 1 como se estivesse a olhar para as diferentes fases da produção de uma música: a edição original de Congo 1 é como se fosse uma demo de música. Já dá para perceber a ideia da música, o ritmo, a melodia, a letra. Mas é tudo feito de forma algo crua, arcaica e pouco trabalhada. Mas esta nova edição definitiva de Congo 1 é como se estivéssemos a ouvir a produção final de uma música gravada em Abbey Road e, depois, produzida, mixada e masterizada por produtores profissionais, com toda a compressão, equalização e pormenores de produção que apreciamos ouvir.

Portanto, voltando ao início, e respondendo à questão se vale (ou não) a pena comprar este Congo 1? Não tenho quaisquer dúvidas que sim! Aliás, a resposta a esta questão é um autêntico no brainer. Esta é a edição que todos nós, adeptos de banda desenhada, devemos ter nas nossas prateleiras, quer nunca tenhamos lido Congo 1 ou quer já tenhamos a edição original da obra.

O bom trabalho (re)compensa e este Congo 1 - Edição Definitiva é a prova disso! 

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