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quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Comparativo: Lydie pel' A Seita e Arte de Autor e pela Norma Editorial

E como não há duas sem três, esta semana ainda vos trago um terceiro comparativo entre edições da mesma obra de banda desenhada.

Desta vez, foco-me na edição portuguesa e na edição espanhola do livro Lydie, da autoria de Zidrou e Jordi Lafebre, do qual já falei aqui no Vinheta 2020. Aconselho, aliás, a (re)leitura desse artigo, onde dou conta do quanto a obra me tocou. Este é um lindo livro, onde a escrita e argumento de Zidrou são verdadeiramente inspirados e onde, mais uma vez, o trabalho de Jordi Lafebre impressiona. E não tenho nem uma dúvida de que Lydie merecia ser editado em Portugal!

Por esse motivo, e mesmo já tendo na minha coleção pessoal a versão espanhola da obra, pela Norma Editorial, foi com enorme satisfação que soube que este livro iria ser publicado em Portugal através da parceria formada pelas editoras A Seita e Arte de Autor.

Esta é, aliás, a primeira obra que Zidrou e Jordi Lafebre fizeram em colaboração, ainda antes da belíssima série Verões Felizes, por cá publicada também pela Arte de Autor.

Passarei agora, então, a analisar as diferenças entre as edições portuguesa e espanhola deste Lydie.

E, desta vez, por muito que eu tenha sempre um especial carinho pelas edições portuguesas em detrimento das edições estrangeiras - porque, caramba, mesmo que eu consiga ler bem em inglês, espanhol e, mais ou menos, em francês, prefiro sempre ler em português, a minha língua mãe e, portanto, aquela onde se consegue maior profundidade na real captação dos significados, por vezes, complexo das palavras e expressões - por uma questão de honestidade intelectual, tenho que dizer o óbvio: em quase todas as valências, a edição espanhola supera a edição portuguesa.

Até porque, convenhamos, eu tinha a versão especial espanhola, o que pode, por si só, desnivelar um pouco este comparativo.

Mesmo assim, também há algumas coisas na edição portuguesa que superam, quanto a mim, a edição espanhola.

Em primeiro lugar, as duas edições têm capas diferentes. E, neste ponto, a edição portuguesa vence facilmente. A capa portuguesa da obra é muito mais apelativa, não só em termos de ilustração como, até mesmo, ao nível do grafismo do arranjo gráfico. A capa portuguesa vende por si só... a capa espanhola, não. Portanto, neste ponto, tenho que dar os parabéns às duas editoras portuguesas.

Ainda no grafismo das obras, refira-se que também na contracapa, a obra portuguesa é mais bonita. Para mim, pelo menos.


Mas, olhando para as duas capas, há também uma outra coisa que salta à vista: o formato dos dois livros. A edição espanhola é substancialmente maior em relação à edição portuguesa. E, neste ponto, mantenho-me firme no que sempre digo: prefiro sempre que as edições tenham a dimensão maior possível (salvo raras e concretas exceções), embora também não ache que uns cms a mais, ou a menos, arruinem a experiência de leitura. Não é isso que me faz deixar de comprar uma edição. Portanto, preferindo a edição maior, também é verdade que não me sinto ultrajado pela edição relativamente mais pequena portuguesa.

Imagino que, como o plano das duas editoras portuguesas é lançarem uma coleção de obras de Zidrou, tenham tido a ideia de estandardizar as dimensões dos vários livros. Pelo menos, o Emma G. Wildford, já lançado pel' A Seita e pela Arte de Autor, tem a mesma dimensão deste Lydie. Portanto, goste-se ou não, pelo menos parece haver uma certa lógica nesta opção da dimensão dos livros.


Quanto ao tipo de papel utilizado, volto a preferir a escolha feita pela edição portuguesa da obra que opta por um papel baço em detrimento de um papel brilhante. 

Acho que certos tipos de traços, bem como certos tipos de histórias, funcionam melhor num papel baço. E é o caso deste Lydie.


De resto, em termos de encadernação e impressão, ambas as edições têm uma boa qualidade onde nenhuma se destaca em relação à outra.

E chegados a este ponto deste comparativo, até poderão achar que, além da questão do formato da obra, eu até gostei mais da versão portuguesa de Lydie, pois gostei mais da capa portuguesa, bem como do papel utilizado. 

No entanto, há algo que a edição espanhola tem e que, infelizmente, a edição portuguesa optou por não ter: um muito generoso e completo dossier de extras onde há textos sobre a obra e muitos e belos esboços do autor Jordi Lafebre. Um verdadeiro mimo.

Acho que, neste ponto, a A Seita e a Arte de Autor perderam a oportunidade de incluir estes belos extras e de tornar a sua edição em algo muito mais especial.

Também é verdade que o preço da edição portuguesa é relativamente inferior ao da edição espanhola - o que é sempre uma boa notícia para os leitores portugueses - mas, mesmo assim, julgo que, mesmo que o preço do livro português fosse ligeiramente superior ao que é, seriam muitos os portugueses a apreciar tão belo dossier de extras na edição portuguesa, como partilho convosco mais abaixo.







Resumindo e concluindo, sim, A Seita e a Arte de Autor dão-nos uma bem conseguida edição da totalmente recomendada obra Lydie, de Zidrou e Jordi Lafebre, mesmo que, comparando com a edição da espanhola Norma Editorial desta mesma obra que eu já detinha na minha coleção, a oferta em português não seja superior em termos qualitativos.

6 comentários:

  1. Já vais "levar na boca" do Hartvig...
    Eu gosto BASTANTE da capa da edição espanhola. Mais ou menos, não sei: são diferentes.
    Agora, gosto BEM MAIS da contracapa da edição espanhola. Para mim, a ilustração da "santinha" dá um ar "azeiteiro" à coisa.

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    1. Eheheh. São opiniões subjetivas e dou validade a todas elas.

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  2. Estou sem entender a fixação que os leitores de BD em Portugal (e mangá também) têm com a edição, as impressões, se está ligeiramente mais azul se está ligeiramente menos amarelo. Está bem que a impressão é importante mas quase parece que só se valoriza o objecto do livro e não o seu conteúdo nem o que está a tentar contar. Estamos aqui a discutir detalhes que pouco importam. Convido-o a visitar uma gráfica ou a tentar imprimir um livro para perceber o trabalho que está por detrás das correções de cor.

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    1. Obrigado pelo seu comentário. Nada do que diz se coaduna com a minha postura perante a BD. Não sei se costuma passar muito no Vinheta 2020 ou não, mas se é leitor assíduo, verá que estou sempre a dizer que o mais importante é o conteúdo, a história, as ilustrações, a narração, o enredo. Isso é ponto assente. Agora, as questões do objeto-livro também têm relevância. Especialmente para os colecionadores. E, no caso em específico, o conteúdo, as ilustrações - enfim, o que interessa mais - já foi analisado no Vinheta 2020. Este artigo é apenas de comparação entre edições.

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  3. Viva Hugo. É sempre com curiosidade que acompanho os seus artigos de comparativos de edições - não só permitem avaliar das opções do editor e designers no momento da edição como fazer uma apreciação crítica da peça impressa. Tratando-se de dois mercados substancialmente diferentes é natural que hajam diferenças na qualidade das obras apresentadas - a versão de colecionador é naturalmente mais contida e sóbria - Imagino que haverá uma outra versão corrente mais aproximada á nacional. Pessoalmente também gostaria que por cá circulasse a versão “ampliada” mas também compreendo que mais cadernos e formato maior encaraceriam a edição (por quanto, não sei…) Relativamento ao papel, e pela imagem que publica, a impressão em papel couché brilhante parece dar muito mais saturação, vivacidade e contraste á edição. Se tal corresponde a uma versão mais fiel de reprodução, também não o sei dizer. Pessoalmente também prefiro edições em papel semi-brilhante (couché mate) ou sem brilho (qualquer papel não revestido), desde que não adulterem a reprodução de cores e clareza do traço.

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    1. Boas, António. Obrigado por mais um comentário cheio de relevância. E concordo com tudo o que aqui diz.

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