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quarta-feira, 7 de junho de 2023

O meu olhar sobre o Festival de Beja 2023


Foi no último fim de semana, que arrancou aquele que é um dos eventos sobre banda desenhada mais acarinhados pelos leitores de BD: o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja. Porquê? Bem... porque ali se respira banda desenhada, porque ali se sente o amor generalizado pela 9ª arte e porque ali se encontram velhos amigos que têm em comum esse enorme gosto pelas histórias aos quadradinhos. 

O evento é completamente descomplexado e informal, possibilitando que autores, editores, divulgadores e leitores troquem impressões, enquanto bebericam uma cerveja. Ou outra bebida qualquer.


Imaginem o seguinte cenário: estou sentado numa das mesas por debaixo das arcadas e à minha esquerda vejo o autor Rúben Pellejero (atual desenhador da série Corto Maltese), em frente tenho José de Freitas, um dos editores d' A Seita, no outro lado tenho Vanda Rodrigues, da Arte de Autor. Na mesa à minha direita tenho os autores Luís Louro e Derradé, os responsáveis pelo blog Juve Bêdê, Carlos Cunha e Alexandra Sousa, e os editores Rui Brito (da Polvo) e Ricardo Pereira (da Ala dos Livros). Entretanto, o Paulo Monteiro, Diretor do Festival, passa por este local, um minuto depois de Rui Alves de Sousa, do programa Pranchas & Balões, da Antena 1, cirandar por aquele mesmo sítio. Isto não é uma situação imaginada por mim. Foi algo que aconteceu no sábado passado e que torna inequívoca a sensação de normalidade que é juntar num só espaço todos os que circulam à volta do universo da banda desenhada.

Para além disto, desta convivência salutar entre todos os intervenientes, o Festival de Beja tem uma programação bastante completa e eclética, tem boas e variadas exposições e um mercado de banda desenhada, onde não faltam livros de banda desenhada. Entre outras coisas.



As Exposições

Como é apanágio do Festival de Beja, as exposições continuam feitas com bom gosto, com um bom cuidado cénico e com temas variados. Nesta questão de oferecer aos seus visitantes um conjunto eclético de exposições, a Organização do evento, na pessoa do Paulo Monteiro, continuam a merecer os meus parabéns.

A boa iluminação e bom emolduramento dos materiais em exposição continuam a fazer-nos crer que estamos num moderno museu, onde temos privaciade para admirar, com calma, cada uma das exposições, muito embora a Casa da Cultura já vá apresentando alguns sinais do tempo.


Neste ano, tenho que selecionar enquanto minhas preferidas, as exposições de Paulo Borges, Ricardo Leite, Ricardo Baptista, Zanzim, Rúben Pellejero e Hermann como as minhas favoritas. Não obstante, sou sincero quando vos digo que todas as exposições, sem exceção, me pareceram bem concebidas.







O Programa de Apresentações
Mais uma vez, a organização preparou um conjunto de apresentações, com conversas com autores, muito pertinente e compacto.

Considero que as apresentações são sempre algo rápidas em demasia. Normalmente, duram 15 minutos. Compreendo que tal é feito para que se consiga dar a oportunidade a todos. E há mérito nessa ideia, claro. 

No entanto, acho que, do ponto de vista dos interessados, talvez se ganhasse mais com algumas apresentações mais demoradas e desenvolvidas.

Daquelas que consegui ver - pois este ano só consegui marcar presença na sexta e sábado do primeiro fim de semana - destaco as de Paulo Borges com Nuno Neves (do Notas Bedéfilas) e os lançamentos dos livros Porra... Voltei, de Álvaro Santos, e Como Flutuam as Pedras, de Pedro Moura e João Sequeira.

Mesmo assim, devo dizer que o grande momento das apresentações a que pude assistir foi quando Ricardo Leite apresentou a sua obra Em Busca do Tintin Perdido. A apresentação do autor foi absolutamente magnética. Daquelas que nos agarra do primeiro ao último minuto e que chega mesmo a comover-nos. Julgo que é justo dizer que qualquer pessoa que saia de uma apresentação assim, fica com o imediato desejo de ler Em Busca do Tintin Perdido!

Este ano tive o privilégio de estar alguns minutos à conversa com Joana Estrela, autora de Pardalita e Miau!. Pela parte que me toca, foi uma conversa que achei bastante interessante, pois Joana Estrela é uma autora que começa, cada vez mais, a merecer o devido reconhecimento por parte dos leitores portugueses. 

Aproveito para agradecer ao Paulo Monteiro pela oportunidade.





O Mercado de BD
Mais uma vez, o Festival de Beja tem uma ampla tenda onde podemos adquirir banda desenhada de todas as formas e feitios, e onde estão representadas, salvo erro, todas as editoras portuguesas de banda desenhada. Até há espaço para belíssimas edições em inglês, francês ou espanhol.

Volto a referir que lamento que não se façam promoções mais agressivas para, deste modo, impulsionar as vendas. Coisas como "pague um, leve outro", "livro do dia" ou iniciativas semelhantes fariam com que se vendesse mais livros, estou certo. 




Sugestões:

- O Festival de Beja é uma máquina bem oleada nas mãos do Comandante Paulo Monteiro e, portanto, creio que as minhas sugestões terão sempre um peso relativo porque a verdade é que o Festival continua a ser muito bem pensado e organizado.

Mas, claro, também acredito que há sempre espaço para melhorias, portanto deixo as minhas críticas construtivas:

- Continuo a achar que o palco onde se desenrolam os concertos animados está subaproveitado. Creio que faria todo o sentido que os autores de maior renome pudessem ser apresentados neste local, em vez de no pequeno auditório da Casa da Cultura. Isso faria com que mais público pudesse assistir às apresentações. Não digo que se deva deixar de usar o auditório da Casa da Cultura para apresentações. Digo apenas que faz sentido que haja dois espaços: um para os os projetos mais independentes e outro para os projetos mais mainstream. Um palco principal e um palco secundário, se preferirem. Acho que o festival merece que haja dois espaços diferentes para apresentações e, quanto a mim, isso nem requer um aumento de investimento dos meios. Porque os meios já lá estão. Se funcionam para os concertos animados, também podem funcionar para as apresentações.


- Já quanto ao volume sonoro da música dos concertos desenhados, parece-me que continua excessivamente alto. Repare-se numa coisa: enquanto baterista de rock que sou, considero que não existe algo como "volume excessivamente alto". Mas isso é quando falamos numa performance de banda. Se estivermos a pensar num tipo de concerto que não é mais do que um DJing ou uma música que funciona mais como pano de fundo para aquilo que está a ser desenhado, o que se pretende é que o som seja mais ambiente, mais agradável. Invariavelmente, os visitantes acabam a gritar uns com os outros se se querem fazer ouvir. Acho que isto merece ser repensado na próxima edição.


-/-

Em suma, foi mais um evento muito bonito, marcado pelas caras conhecidas de sempre e, felizmente, algumas novas caras. Pareceu-me que houve bastante público nesta edição, o que é algo que merece louvores.

Ainda que o fim de semana mais importante já tenha ocorrido, uma visita ao Festival de Beja para aqueles que não puderam marcar presença continua a ser merecida, já que a exposição vai estar patente até ao dia 18 de Junho.

Não deixem de visitar este evento que merece ser acarinhado por todos os que se dizem amantes da banda desenhada!

Resta-me agradecer ao Paulo Monteiro - e a toda a equipa que o acompanha - por toda a sua simpatia, generosidade e comprometimento para fazer de Beja um destino obrigatório. 

Parabéns a toda a Organização!

Para o ano há mais!

2 comentários:

  1. Hugo antes de mais agradecimentos pela sua reportagem especialmente para quem não teve a oportunidade de se deslocar. Noto também o incompreensível e diminuto palco para os autores em destaque - não se conseguiria um local melhor para projectar imagens das obras do que aquela pequena sala e monitor? Lisboa devia pôr os olhos nesta iniciativa exemplar. Continua a ser das poucas capitais europeias sem um festival do género (e desconto aqui Comicons e AmadorasBD...)

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    1. Pois. Eu compreendo que a organização queira tratar cada autor de igual forma. Quer seja um nome grande e internacional, quer seja um nome desconhecido e nacional. Respeito essa postura do Paulo Monteiro. Ainda assim, considero que talvez pudesse ser feita uma "segunda apresentação" dos artistas mais internacionais no palco grande, exterior.

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