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quinta-feira, 17 de abril de 2025

Análise: Frei Luís de Sousa

Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges - Levoir - RTP

Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges - Levoir - RTP
Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges

A coleção dos Clássicos da Literatura Portuguesa em BDque a editora Levoir tem vindo a publicar em parceria com a RTP, aproxima-se do seu final.

O 13º volume da coleção é dedicado Frei Luís de Sousa, o clássico do romantismo português de Almeida Garrett, que conta com desenhos do brasileiro Gustavo Borges e com argumento do português André Morgado que, com este livro, contabiliza quatro álbuns desta coleção, nomeadamente: Carta a El-Rei D. Manuel sobre o Achamento do Brasil, Farsa de Inês Pereira e O Fato Novo do Sultão. Em todos eles, o autor se fez acompanhar por um ilustrador brasileiro.

Frei Luís de Sousa é um drama que retrata a tragédia de uma família portuguesa no século XVI, marcada pelo conflito entre o dever patriótico e os sentimentos pessoais. A peça gira em torno de D. Madalena de Vilhena, que acredita ter perdido o marido, D. João de Portugal, na Batalha de Alcácer-Quibir. Anos depois, ela casa-se com D. Manuel de Sousa Coutinho, com quem tem uma filha, Maria. 

Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges - Levoir - RTP
No entanto, o regresso inesperado de D. João obriga os protagonistas a renunciar à sua felicidade, por respeito às normas sociais e religiosas da época. O desfecho trágico para as personagens simboliza bem a opressão das convenções sociais sobre os desejos individuais, refletindo também uma crítica ao contexto político vivido à época em Portugal.

Esta nova perspetiva sobre o drama romântico de Almeida Garrett que nos é dada por André Morgado e Gustavo Borges, preserva bem a essência da obra original, tendo-me deixado bastante agradado, pois considero que torna o romance original mais acessível a um público contemporâneo, especialmente aos leitores mais jovens.​

André F. Morgado, responsável pela adaptação do texto, demonstra sensibilidade ao equilibrar a linguagem original com uma abordagem mais contemporânea. Este equilíbrio permite que a profundidade temática da obra seja mantida, ao mesmo tempo que a torna mais acessível aos leitores atuais, conseguindo condensar eficazmente os principais momentos-chave da peça de Almeida Garrett sem sacrificar a profundidade emocional nem a complexidade temática. 

Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges - Levoir - RTP
Ao sintetizar o essencial, a obra preserva as ideias centrais do drama original — o conflito entre dever e desejo, a identidade nacional e a tragédia do destino — tornando-os acessíveis a novos públicos, mas sem os banalizar. É natural que alguns dos temas como o sebastianismo e a crítica social implícita, elementos centrais na obra de Garrett, sejam aqui trazidos mais à superfície, mas também é óbvio que não poderíamos esperar que uma adaptação para BD com 64 páginas o pudesse fazer de forma muito aprofundada. Mesmo assim, alguma da simbologia presente na obra original, como o incêndio do palácio que reforça o claro presságio e a atmosfera trágica da narrativa original, é  preservado nesta adaptação. 

As ilustrações de Gustavo Borges, com o seu traço marcadamente "cartoonesco", revela-se uma escolha surpreendentemente eficaz. Longe de desvalorizar o conteúdo trágico da obra, este estilo acentua a expressividade das personagens, captando com intensidade as suas emoções — da angústia de Maria à inquietação de D. Manuel. Para além disso, a dinâmica da planificação, com variação constante na dimensão e organização das vinhetas, confere um ritmo visual que se ajusta bem ao tom dramático e introspectivo da história. Admito que um maior cuidado no aprimoramento dos cenários teria elevado a experiência a outro patamar. No entanto, também tenho que conceder que o método de utilizar texturas para preencher os cenários acaba por se revelar uma boa opção.

Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges - Levoir - RTP
Mas o mais importante é mesmo o facto do trabalho de Gustavo Borges se destacar pela sua capacidade de traduzir visualmente a intensidade emocional da história. As ilustrações capturam com precisão os dilemas internos das personagens e o ambiente opressivo da época, enriquecendo a experiência de leitura e proporcionando uma nova dimensão à obra de Garrett.​

A edição da Levoir deste livro não foge à fórmula utilizada nos restantes volumes da coleção, com o livro a apresentar capa dura baça, bom papel brilhante, boa encadernação e boa impressão. No final, há um caderno informativo com 6 páginas sobre o autor, a obra e o contexto histórico-social da mesma, que promove o cariz didático da edição.

Em suma, um dos aspetos mais notáveis deste Frei Luís de Sousa é a sua coesão narrativa e competência estética, que o coloca entre os melhores livros desta coleção da Levoir. Ao combinar fidelidade ao texto original com uma apresentação visual envolvente, a obra consegue, se uma forma simples, transmitir a complexidade emocional e temática do drama de Garrett a uma nova geração de leitores. 

NOTA FINAL (1/10):
8.6



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Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges - Levoir - RTP

Ficha técnica
Frei Luís de Sousa
Autores: André F. Morgado e Gustavo Borges
Baseado na obra original de: Ameida Garrett
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
Lançamento: Janeiro de 2025

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