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terça-feira, 15 de março de 2022

Análise: Robinson Crusoé

Robinson Crusoé, de Christophe Lemoine e Jean-Christophe Vergne - Levoir e RTP

Robinson Crusoé, de Christophe Lemoine e Jean-Christophe Vergne - Levoir e RTP
Robinson Crusoé, de Christophe Lemoine e Jean-Christophe Vergne

Robinson Crusoé, da autoria de Christophe Lemoine e Jean-Christophe Vergne, e que adapta a obra clássica de Daniel Defoe, foi um dos últimos volumes - o penúltimo, para ser exato - a ser lançado pela Levoir, em parceria com a RTP, na sua coleção Clássicos da Literatura em BD que, entretanto, já foi terminada em 14 volumes.

A história de Robinson Crusoé, mesmo sendo sobejamente conhecida por todos, tendo em conta o sucesso que foi esta obra, pode ser sintetizada da seguinte forma: Robinson era um jovem com espírito aventureiro que, farto da vida rotineira e demasiadamente pacata que levava na cidade de York, em Inglaterra, decide tornar-se marinheiro. Numa das suas viagens acaba por ser o único sobrevivente do naufrágio do navio onde se encontrava, que foi assolado por uma grande tempestade. O protagonista consegue então chegar a uma ilha deserta e aí permanece durante mais de 28 anos.

Robinson Crusoé, de Christophe Lemoine e Jean-Christophe Vergne - Levoir e RTP
A coisa mais fantástica da obra é o facto dela mesma representar um autêntico manual de sobrevivência já que, descrevendo tudo aquilo que Robinson Crusoé faz para sobreviver, nos dá algumas ideias inteligentes, úteis e bastante concretas, daquilo que poderíamos fazer, caso ficássemos retidos numa ilha deserta, em condições semelhantes. A introdução da personagem Sexta-Feira também faz com que o livro ganhe enredo e nos prenda face ao que pode- ou não – acontecer na vida de Robinson e do seu novo amigo.

A adaptação do argumento da obra original para banda desenhada ficou a cargo de Christophe Lemoine que acaba por ser o autor com mais contribuições para esta coleção da Levoir, já que, para além deste Robinson Crusoé, também foi o argumentista responsável pelas obras A Ilha do Tesouro e Odisseia. E parece-me que, entre os três livros, será mesmo este Robinson Crusoé o seu melhor trabalho. Também temos que ser justos e admitir que a obra original até não era tão difícil de adaptar – como a Odisseia, por exemplo – já que grande parte do seu núcleo assenta em descrever tudo aquilo que o protagonista enceta para assegurar a sua sobrevivência. Seja, ao nível da alimentação, do conforto, da ocupação do tempo, mas, também, ao nível da sanidade mental. E, portanto, podemos considerar que este livro se lê muito bem e que o argumento está simples e escorreito – à semelhança da obra original de Daniel Defoe.

Robinson Crusoé, de Christophe Lemoine e Jean-Christophe Vergne - Levoir e RTP
O que me parece relevante no texto original – e que acaba por estar bem patente nesta adaptação – é a constante tentativa do Homem em melhorar a sua existência de forma a (sobre)viver no mundo. Numa primeira instância é natureza humana a sobrevivência. Mas, despois desta ser assegurada, o Homem procura viver a vida, gozando-a e aproveitando-a. Mesmo que esteja completamente só, numa ilha deserta.

Quanto aos desenhos de Jean-Christophe Vergne, devo dizer que não sendo muito belos nem muito detalhados ou virtuosos, apresentam uma bela eficácia. É um daqueles autores que me parece que não desenha nada verdadeiramente bem, mas também não desenhada nada verdadeiramente mal. É um desenho que cumpre, que ilustra o que é necessário, que é simples, que é direto e que é clássico na sua génese. Por vezes, até parece algo infantil. Claro que posso dizer que, se houvesse mais aprumo nos desenhos das personagens, dos ambientes e dos cenários, bem como na arte-finalização dos mesmos, o álbum poderia ser bem melhor neste cômputo. Mas, também não são desenhos que "firam" a vista.

Robinson Crusoé, de Christophe Lemoine e Jean-Christophe Vergne - Levoir e RTP
Acaba por parecer um livro que poderia muito bem ter sido produzido nos anos 70, devido aos desenhos clássicos - e à colorização dos mesmos - que apresenta. Em termos de planificação, o autor soube dosear a obra de diferentes abordagens e ritmos, que contribuíram para a fluidez da leitura. As legendas e balões, com linhas demasiado espessas, é que, infelizmente, desarmonizam o traço fino do autor.

Em termos de edição, e à semelhança de todos os outros livros da coleção, este Robinson Crusoé apresenta uma boa qualidade, com capa dura, bom papel e boa encadernação. No final do livro, há um interessante – e relevante – dossier de extras que serve para contextualizar a obra, o autor e a altura em que o romance original foi publicado. Muito bem conseguido.

Colocando a razão de ser deste livro como uma boa e eficaz síntese da obra original Robinson Crusoé, podemos concluir que esta adaptação para banda desenhada acaba por funcionar bem. Em termos de ilustração, mesmo sendo um conjunto de desenhos que, aqui e ali, parecem meio amadores, ou demasiadamente simplistas, acaba por cumprir os pressupostos mínimos.


NOTA FINAL (1/10):
7.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Robinson Crusoé, de Christophe Lemoine e Jean-Christophe Vergne - Levoir e RTP

Ficha técnica
Robinson Crusoé
Autores: Christophe Lemoine e Jean-Christophe Vergne
Adaptado a partir da obra original de: Daniel Defoe
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2021

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