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sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Análise: Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp

Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros

Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros
Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer

Undertaker é capaz de ser o melhor western da atualidade! E falo em “atualidade” porque a série, que na edição original já vai no sexto volume, não parece dar sinais de que vá parar tão depressa assim. E ainda bem! Se, nos dias que correm, alguém me perguntar: “como é que se faz um bom western em bd?” a minha resposta será: “Lê o Undertaker e retira ideias”.

É que esta série de Xavier Dorison e Ralph Meyer tem tudo aquilo que deve ter para agradar a um fã de histórias de faroeste: uma boa, refrescante e leve história, com personagens marcantes, muita aventura e uma boa dose de humor, um desenho verdadeiramente espetacular que, ao mesmo tempo, consegue fazer a proeza de ser moderno, mas prestar homenagem aos westerns clássicos; e fantásticas cores, que sabem puxar por esta arte.

Acho que poderia acabar a minha análise aqui porque, sinceramente, acho que está tudo dito no parágrafo de cima.

Mas desenvolvamos um pouco mais.

Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros
Este terceiro álbum da série, intitulado O Monstro de Sutter Camp, é igualmente o terceiro que a Ala dos Livros publica por cá. Depois dos eventos vividos no primeiro e segundo tomo da série, Jonas Crow, o cangalheiro que protagoniza a série, e que era, aparentemente, um solitário bem ao jeito de Lucky Luke, vê-se agora acompanhado de duas pessoas. E atente-se que essas duas pessoas não são dois pistoleiros de barba rija que o poderiam ajudar nas milhentas aventuras e perigos que vão aparecendo no seu caminho, mas sim, duas mulheres. E logo aí a série inova e ganha toques de modernidade onde as mulheres – e bem! – ocupam cada vez mais lugares de destaque nos livros, filmes e videojogos de aventura. As duas mulheres em causa são a lindíssima inglesa Rosa Prairie – que era governanta nos tomos anteriores – e Lin, a divertida e carrancuda imigrante chinesa que, mesmo parecendo que é apenas uma personagem com o objetivo de ser um comic relief da série, acaba por ser muito mais do que isso. Ou não fosse a série muito bem pensada e escrita pelo argumentista Xavier Dorison que já nos deu séries tão boas, e diferentes, como Long John Silver, O Castelo dos Animais ou O Terceiro Testamento.

Xavier Dorison tem o dom de formular boas histórias de aventura, com personagens cativantes e uma boa trama que as envolve. Não é que Undertaker seja uma série que nos ponha a pensar ou a refletir sobre a vida, mas, diga-se, também não é esse o seu objetivo. O propósito de Undertaker é puro entretenimento, à boa e antiga maneira, em que são adicionados uma boa trama, um fantástico protagonista emblemático, boas personagens secundárias, bons vilões e uma boa dose de aventura. Despretensioso nos intentos, mas altamente bem fabricado pelos autores.

Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros
Assim, e voltando à história, este O Monstro de Sutter Camp coloca Jonas Crow, Rosa Prairie e Lin, esta equipa funerária atípica, a travarem uma enorme luta pela vida – e pela vingança de Jonas – depois de, numa cerimónia fúnebre preparada pelos três, um antigo coronel que o cangalheiro conhecera no passado, lhe anunciar, com laivos de loucura, que “O Monstro de Sutter Camp está vivo!”. Por esta altura o leitor não sabe quem é este “monstro” que tanto terror parece incutir naqueles que o conhecem. Mas rapidamente ficamos a conhecer que este monstro é um homem maquiavélico, cujos atos nefastos já vêm desde os tempos da Guerra da Secessão. Não adianto mais, para não estragar o prazer da leitura da obra aos que ainda a forem ler – e espero que sejam muitos!

Falando da arte ilustrativa, Undertaker consegue ser magnífico em todos os vetores que nos lembremos de considerar. O traço de Ralph Meyer é elegante, dinâmico, moderno, eficiente e multifacetado. Se as cenas de ação são muito bem representadas, com todo o drama que lhes é suposto, as cenas mais calmas, os sentimentos das personagens ou meras imagens de Jonas a cavalgar pelas trevas da floresta,  também estão eximiamente bem representados. Os ambientes são muito belos, com muito detalhe a perder de vista. A planificação é diversificada e os planos escolhidos revelam bastante sensibilidade cinematográfica. E isto já para não falar das cores, da autoria de Caroline Delabie, a esposa de Ralph Meyer, que também são magníficas. O próprio jogos de sombra e luz, do claro e do escuro, é tão bom que até admito que também gostaria de ver estes livros publicados numa versão a preto e branco, como existe em França, e como a Ala dos Livros fez com a série Comanche. Não obstante, as cores são lindas e oferecem ao conjunto uma boa dose de modernidade. 

Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros
E é até nessa questão da modernidade que me parece que Undertaker joga a sua principal cartada. Porque consegue ser moderno em relação ao western mais clássico em banda desenhada, colocando mulheres a desempenhar papéis mais relevantes, trazendo alguns temas mais contemporâneos para os enredos e tendo uma ilustração moderna, com técnicas atuais, mas, ao mesmo tempo, também consegue prestar as devidas homenagens ao clássico e aos personagens emblemáticos. Quem gosta dos westerns clássicos também gostará de Undertaker, estou certo. A série acaba, pois, por ter um equilíbrio impressionante ao conseguir balancear bem o melhor dos dois mundos: do moderno e do clássico. Quando, há uns tempos, falei com Ralph Meyer a este propósito, ele confirmou que, realmente, tornar Undertaker clássico e moderno ao mesmo tempo, é algo que os criadores tentam fazer. E fazem-no com distinção, acrescento eu. A própria capa deste terceiro tomo, que é, quanto a mim, uma das mais belas do ano, revela bem esta questão de ser clássico e moderno ao mesmo tempo.

Em termos de edição, tudo bem feito pela editora portuguesa. Capa dura, com brilho, bom papel, boa impressão e boa encadernação. No final do livro há ainda um caderno gráfico com algumas pranchas de Ralph Meyer a lápis, antes de receberem a aplicação da tinta, bem como alguns esboços do autor, que resultam numa experiência visual gratificante ao visualizarmos o nível de detalhe que Ralph coloca nos seus esboços. Depois, ainda temos três ilustrações a tinta e uma delas até é de página dupla. Verdadeiramente lindíssimas e um bom “rebuçado” com que a editora decidiu premiar os seus leitores.

Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros
Tendo em conta que as aventuras de Undertaker são sempre em díptico, isto é, cada arco ou história desenvolve-se ao longo de dois volumes, acho que esta é uma série onde eu gostaria de ver álbuns duplos a serem publicados. A meu ver, pensando no leitor, vá, acredito que funcionaria melhor para melhor imersão na história. Todavia, deixem-me dizer-vos que isto não é bem uma "crítica" ou "insatisfação" da minha parte pois conheço pessoalmente o editor Ricardo M. Pereira e sei a quantidade de cuidado e de opções bem pensadas, que ele procura ter nas edições da Ala dos Livros. E, por esse motivo, provavelmente, esta opção de publicar volume a volume é por uma questão de fidelidade à publicação original francesa. Coisa que, lá está, se compreende e aceita-se perfeitamente.

Em suma, Undertaker consegue ser um western magnífico, praticamente perfeito e ainda tem a capacidade de ser uma boa forma de iniciar os não amantes do género western nas histórias de cowboys. É fácil mergulhar no universo desta série e difícil de sair dela. Se é relativamente recente, acho que já é justo dizer que pode muito bem ombrear, em termos de qualidade, com séries clássicas do género como Blueberry ou Comanche. Que venham os próximos volumes!


NOTA FINAL (1/10):
9.4



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros

Ficha técnica
Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp
Autores: Xavier Dorison e Ralph Meyer
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Agosto de 2022

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