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terça-feira, 25 de outubro de 2022

Um olhar sobre Amadora BD 2022



Mais um ano se passou e, com ele, foi tempo de regressar àquele que continua a ser o maior evento de banda desenhada em Portugal - o Amadora BD. Após um primeiro fim de semana, em que estive presente nos principais momentos do festival, julgo estar apto a tecer os meus comentários, como é habitual.

E o primeiro deles tem que ser em relação ao TODO. À globalidade do evento, vá. Justiça seja feita: a edição de 2022 supera, em tudo, a edição do ano passado e leva-me a crer no seguinte: mesmo havendo espaço para melhorias, a Organização está de parabéns. Este é o melhor festival dos últimos 10 anos.

Mas vamos lá por partes.

Se mais abaixo tentarei justificar o porquê destas afirmações, também sublinharei tudo aquilo – e ainda é alguma coisa – que é urgente melhorar no futuro.

Comecemos pelas coisas boas, então.

Os leitores atentos saberão que, no ano passado, e ainda que já tenha havido muito de positivo a destacar na edição de 2021, houve várias coisas que foram mal executadas pela Organização e que eu, naturalmente, não me coibi de apontar.

Este ano, para minha total satisfação, vi que algumas das coisas que no ano passado tinham sido comummente aceites como negativas, foram tratadas de forma diferente. E isso revela uma Organização que está atenta às sugestões para melhorar! Que bom isso é!



O espaço das exposições

Este foi dos melhores anos de qualidade de exposição no Amadora BD. Houve cuidado visual e documental em cada uma das exposições, houve aprumo no tratamento do espaço cénico, houve um bom design de produção. Não acho nada justos certos comentários que já vi e ouvi, que dizem que o espaço de exposições não estava bom. Quer dizer… para mim não estava bom… estava muito bom!

A Organização e os responsáveis por cada uma das exposições conseguiram transformar as mesmas num autêntico "museu da banda desenhada". E todos estão de parabéns! Na verdade, já no ano passado eu tinha gostado muito da área expositiva do Festival e este ano considero que a mesma ainda conseguiu superar o ano transato.

Estou muito satisfeito com este espaço – que tem uma dimensão bastante aceitável – e que é tratado com muito cuidado por todos os envolvidos. Gostei de todas as exposições, mas destaco as minhas preferidas que foram a do Armazém Central, que foi recriada com um cuidado e um carinho inimaginável, ao ter-se reproduzido literalmente (!) o espaço do armazém central, onde não faltavam todos os produtos que eram vendidos nesta loja, bem como os sapatos vermelhos de salto-alto e laço e, ainda numerosos pormenores da série; a dos 60 anos do Homem-Aranha, com lindíssimas ilustrações espalhadas pelas paredes do espaço; a de Balada para Sophie, com um belo e harmonioso espaço cénico, que nos remetia para a sala de Julien Dubois; e Os Mundos de Thorgal, onde foi colocada a reprodução de uma embarcação da série.

Mas, não nomeando todas, a verdade é que nenhuma exposição me deixou insatisfeito. Gostei de todas.

Talvez pudesse, no entanto, ter havido um espaço dedicado ao mangá, já que é um género tão em voga e que satisfaz tanto os mais novos. Fica a sugestão.




Sobre a tenda principal

Em primeiro lugar, a organização da tenda onde ocorrem os debates, apresentações, sessões de autógrafos e espaço comercial, está muito, muito, muito melhor. Esta tenda recebeu um aumento de mais de 200 m2 face à área do ano passado, bem como sofreu várias alterações para melhor.

Esta tenda principal - chamemos-lhe assim, já que havia uma outra tenda - está organizada de forma simples, com lojas em cada um dos lados. Outro ponto positivo é que este ano, para além de todas as lojas/editoras que estiveram presentes no ano passado, há dois novos espaços comerciais: a Penguin Random House – que até aproveitou para apresentar uma nova chancela editorial de banda desenhada (a Iguana), da qual falarei num outro dia – e a Convergência, que vende banda desenhada de teor mais independente e alguns fundos de catálogo a bom preço. Portanto, no total temos, entre lojas de banda desenhada e editoras, os seguintes espaços: Dr. Kartoon, Arte de Autor, Âncora, Convergência, Polvo, Penguin Random House, Cult, Kingpin Books, ASA, Chili com Carne, Escorpião Azul, Devir, Ala dos Livros e Comic Heart. Podemos, pois, dizer que o Festival tem uma ótima e bem representativa oferta de banda desenhada para todos os gostos.

Notei que, ao centro desta grande tenda, havia espaço para circular, corrigindo assim o grande problema do ano passado, onde o espaço era demasiado contíguo para a livre circulação.

Mas a grande novidade da tenda comercial foi o redesenho do espaço e a colocação, em cada uma das suas extremidades, do auditório, de um lado, e do espaço para autógrafos, do outro. 

Meus caros, eu já frequento o Amadora BD há anos e anos e acho que é justo e certeiro dizer que este foi o melhor espaço de auditório de sempre. A organização, aqui, está mesmo de parabéns! No ano passado, optou por colocar o auditório enquanto ilha, no meio do pavilhão. A vantagem era que as pessoas que ali circulavam podiam facilmente ter contacto com o que estava a ser apresentado. A desvantagem era que não estavam criadas as condições mínimas para que, quem estivesse sentado na plateia, pudesse ouvir o que estava a ser dito em palco, tamanho era o caos sonoro. E, mesmo eu, enquanto moderador de um debate, lembro-me de mal dar para ouvir o que o meu entrevistado me dizia. Portanto, era óbvio que a Organização teria que fazer algo diferente para este ano. 

Havia, no entanto, o perigo de que, se se deslocasse o auditório para um outro espaço físico, que não esta grande tenda, ficássemos com assistências diminutas, o que é embaraçoso, quer para os artistas convidados, quer para os editores, quer para a Organização - e sua reputação - e quer até para o público. Mas a Organização matou dois coelhos com uma cajadada. Criou um auditório que reúne o melhor dos dois mundos: por um lado, como está localizado mesmo ali, dentro do grande espaço comercial, é de fácil e rápido acesso, fazendo até com que se possa assistir, sentado ou de pé, às apresentações. E, ao mesmo tempo, resolveu os problemas de som do ano passado. Este novo auditório permite intimidade suficiente para se fazerem apresentações, mas, em paralelo, e da forma como está projetado, permite que não se tenham assistências pequenas. Bem jogado, Organização!

Mesmo assim, deixo apenas algumas sugestões simples para ainda tornar melhor, aquilo que já foi bom, para o auditório:

1) acho que era simpático que o som daquilo que está a ser dito no auditório pudesse ser reproduzido (num volume mais baixo, claro está) por colunas espalhadas ao longo da tenda comercial. Isto faria com que algumas pessoas que estão por ali, a cirandar, soubessem o que está a acontecer em palco e, consequentemente, ainda enchessem mais o auditório. Acho que ainda há várias pessoas a perder algumas apresentações pela simples razão de não se aperceberem que está a ser apresentado algo.

2) Uma coisa simples, barata, eficaz e fácil: TEM que ser colocado um cartaz da programação dos Debates e Apresentações à entrada do auditório. Reparem: eu até fiz algumas apresentações e considero que estava bem por dentro do que iria acontecer em palco e, mesmo assim, como não havia um cartaz com estas informações, vi-me obrigado a estar sempre a consultar o site, através do meu telemóvel, para saber quem iria falar a seguir. Se há coisas fáceis de resolver, esta é uma delas. Basta imprimir uma miserável folha A3 com o programa de apresentações de debates e colá-la na entrada do auditório. Espero que no próximo fim de semana esta hiper-super-mega fácil “medida” já tenha sido implementada.

3) Não sei se haverá orçamento da Organização para isto, mas acho que seria muito interessante se as conversas passassem a ser filmadas. Poderiam ter transmissão em diferido nas redes sociais do festival, aumentando o engagement dos interessados em banda desenhada em Portugal e, ao mesmo tempo, contribuir para a produção de um acervo de conteúdos por parte da organização.

4) Em vez das 20 cadeiras que compõem o auditório, julgo que faria sentido que o mesmo tivesse, pelo menos, mais 10 cadeiras. Dei conta de estarem muitas vezes pessoas em pé, a assistir, sem que se pudessem sentar, devido a não haver cadeiras disponíveis.



Sobre a cerimónia de abertura

Falando sobre a cerimónia de abertura que ocorreu na quinta-feira, também considero mais positivo que a mesma acontecesse dentro do auditório. 

Ainda que eu considere que o oco, embora visualmente espampanante espetáculo dos Custom Circus, nada tenha a ver com banda desenhada, preferi, mesmo assim, ver a atuação dentro do espaço em vez de à entrada do recinto, como no ano passado. 

Continuo a achar que a inauguração do evento não deveria acontecer em três espaços diferentes, pois isso apenas desfoca e confunde o público, e continuo a achar que esta cerimónia de inauguração deveria ter outro aprumo, como, por exemplo, através da organização de um evento mais social (com a presença de iminentes figuras que tragam media atrás deles, ou que tenham relevância viral nas redes sociais). E, de preferência, organizar a própria cerimónia de entrega de prémios neste dia da inauguração. Meus caros, não estou a dar nenhuma ideia tão extravagante assim.



Sobre a cerimónia de entrega de prémios

Mesmo assim, concedo que a cerimónia de entrega de prémios, foi mil vezes melhor do que a do ano passado. Não é que isso fosse difícil, relembro.

Este ano, a entrega dos prémios decorreu no auditório, no domingo, ao final da tarde. E, lá está, embora eu reitere que era possível e preferível fazer uma cerimónia mais “a sério”, fazendo um evento mais social e com alguns influencers que trazem público e mediatismo ao evento, tenho que conceder que esta cerimónia foi muito, mas muito melhor do que a do ano passado. Ao invés de um auditório dos Recreios da Amadora completamente vazio, tal como aconteceu no ano passado, este ano tivemos um auditório que se encheu para que os visitantes do evento pudessem assistir à entrega dos prémios.

Por falar em prémios, já pude opinar sobre a incredulidade que as nomeações dos mesmos deixaram por toda a gente que tenha algumas gotas de bom senso e, portanto, não vou tecer mais comentários sobre isso. 

Contudo, e tal como também já tinha previsto nessa minha primeira reação, parece-me que os vencedores destes prémios foram, todos eles, muito bem escolhidos: 
- a “Melhor Obra de Autor Português” foi para Bernardo Majer, com Estes Dias (editora Polvo);
- a “Melhor Obra Estrangeira de BD editada em Portugal” foi para O Relatório de Brodeck, de Manu Larcenet (editora Ala dos Livros);
- o prémio "Revelação" foi para O Crocodilo, ou o Extraordinário Acontecimento Irrelevante, de Francisco Valle e Rui Neto (Lobo Mau Produções);
- o “Melhor Fanzine ou Publicação Independente” foi para Ditirambos: Fauna, de Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Nuno Filipe Cancelinha, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira, Sofia Neto, Sónia Mota e Carla Rodrigues;
- e a “Melhor Edição Portuguesa de BD” foi para Tu És a Mulher da Minha Vida, Ela a Mulher dos Meus Sonhos, de Pedro Brito e João Fazenda, edição d’ A Seita e Comic Heart. Tudo vencedores legítimos, quanto a mim.

Nota especial para Ricardo Baptista que, quando recebeu o prémio para Ditirambos, referiu que seria pertinente que, futuramente, regressassem algumas categorias dos Prémios que nos últimos anos foram canceladas, como as categorias para Melhor Argumento ou para Melhor Ilustração. Não poderia estar mais de acordo com o Ricardo e tiro-lhe o chapéu por fazer este statement.

Mantendo o formato dos prémios deste ano, deixo algumas sugestões para a próxima edição:

1) Que na próxima edição cada um dos vencedores deste ano seja convidado a apresentar a respetiva categoria. E que seja prática recorrente nos anos seguintes.

2) Que haja uma melhor apresentação audiovisual das obras nomeadas. Se queremos dizer aos visitantes quem são as melhores obras nas diversas categorias, há que colocá-las visualmente presentes, como é feito na maioria das entregas dos prémios. Não é difícil de fazer… até se pode criar um arcaico powerpoint para este efeito. Enquanto se enumeram as obras nomeadas, aparecem projetadas as capas desses álbuns e, depois disso, uma imagem maior com o vencedor. É um pequeno detalhe, mas que não tenho dúvidas que enriqueceria a qualidade audiovisual da coisa. Não perceberam bem como é que isto se faz? Vejam os Oscars ou os Globos de Ouro. Ou, pelo menos, vejam os VINHETAS D’OURO. De nada.




Sobre o espaço de gaming

Este ano há uma novidade: um novo espaço de gaming, que consiste numa pequena tenda situada entre o pavilhão das exposições e a área comercial. Algumas vozes insurgiram-se (logo) contra esta iniciativa, assim que a mesma foi anunciada.

Compreendo que se desvia do tema central do evento – que é (e TEM de ser) a banda desenhada – mas, e depois de falar a este propósito com a muito simpática Diretora do Festival, Catarina Valente, devo dizer que fiquei convencido com a resposta da Organização. 

Um dos objetivos do Festival passa por (também) cativar um público mais jovem para o evento e para a banda desenhada. Sabemos que os videojogos são um bom meio para tal e, portanto, foi nesse sentido que este espaço foi criado: para tentar captar mais público. É louvável, quanto a mim. E tendo em conta que o espaço e atenção sobre a banda desenhada não diminuiu – mas sim, aumentou – não me chateia nada que também haja este espaço para videojogos.



Sobre os autores presentes

Não terá sido o festival com a presença mais forte de autores, mas também não foi o pior. Quanto a mim, houve uma boa seleção de autores.

Diria que a grande super-estrela desta edição foi Régis Loisel, mas nomes multipremiados como Marcello Quintanilha, Jean-Louis Tripp, Bob Mcleod, Alfred, Giampiero Casertano, Fred Vignaux ou Olivier & Chico, também merecem destaque.

Já para não dizer que os principais nomes relevantes da banda desenhada nacional também marcam sempre presença neste evento.



Sobre o website

Já no ano passado me mostrei satisfeito com o website do evento. Por ser simples, intuitivo, apelativo e ter as informações relevantes.

Este ano, a Organização conseguiu melhorar ainda mais o mesmo, ao ter carregado as informações com mais antecedência para o website. 

E isso é mais relevante do que o que pode parecer. Obrigado e parabéns por isto, Organização.



Sobre a sinalética

Fiquei um bocado abismado com a falta de sinalética no evento. Ok, não é um evento enorme em dimensão e não estou a dizer que é por isso que as pessoas não encontravam uma coisa ou outra.

Há 3 espaços: o espaço das exposições, o espaço do gaming e o espaço comercial da banda desenhada. Mas, para chegar de um ponto ao outro, nem sempre era linear. A passadeira no chão servia como circuito, bem como os vasos que a delimitavam, mas sinto – e também recolhi essa opinião de muita gente – que faltou sinalização básica. 

Convenhamos que não tinha custado muito fazer umas setas a indicar devidamente onde era a entrada, a saída, os espaços, etc. Um daqueles erros de principiante que, não sendo o fim do mundo, pode e deve ser corrigido facilmente no futuro.



Sobre os Autógrafos

Deixei o pior para o fim.

Para este tema, proponho-vos uma breve e pequena fábula que invento, de seguida, enquanto vos escrevo estas palavras:

Era uma vez um gato chamado Tobias que era muito admirador de outro gato, um célebre pintor e cantor, chamado Josh Lemon. O Tobias decidiu organizar um evento de quatro dias em que tinha trabalhos de Josh Lemon expostos. E o melhor de tudo é que conseguiu trazer ao seu evento o Josh Lemon em pessoa. Naturalmente, as filas de gatos para conhecerem este célebre gato foram muitas. Nos primeiros dias, o Tobias não sabia bem como lidar com tantos fãs que queriam conhecer o Josh Lemon e tirar uma selfie com ele. Mas, no dia seguinte, lembrou-se de uma ideia: “e se eu desse senhas aos fãs que querem conhecer o Josh Lemon, de forma, a conter todo este caos?” E assim foi. Para contentamento de todos, foi isso que aconteceu e a loucura e caos à volta de Josh Lemon deu lugar a encontros ordeiros, justos e onde imperava a calma. No ano seguinte, Tobias quis organizar o mesmo evento mas, desta feita, com a presença Paul MaCat Ney, outro músico e artista plástico famoso. E agora pergunta-vos o vosso querido narrador: o que acham que Tobias fez, de forma a conter o caos de todos os fãs que queriam ver e conhecer Paul MaCat Ney? Resposta A: o Tobias aproveitou os ensinamentos obtidos com o caos do primeiro evento e optou logo por um sistema de senhas, não tendo gerado qualquer caos e tendo uma boa organização do evento ou Resposta B: o Tobias achou: “Senhas? Hmm… bah… não me parece”.

Pois bem, meus caros, esta maravilhosa fábula, meio jocosa, admito, é para vos descrever o que a Organização decidiu fazer este ano, em relação a este tema dos autógrafos. No ano passado, recordo, no primeiro dia, houve uma situação caótica e desnecessária com as filas dos autógrafos que se foram aglomerando dentro do espaço e, posteriormente, foram postas na rua e à chuva (sim, custa a acreditar, mas aconteceu mesmo!). O caos era tanto que a Organização optou por incluir um sistema de senhas. Foi perfeito? Não. Mas melhorou da noite para o dia a situação caótica? Logicamente que sim. Ora, como qualquer sistema de senhas, a pessoa poderia passear nos stands, comprar uns livros, assistir a apresentações de livros… enfim, aproveitar o tempo enquanto esperava pela sua vez para ter o famigerado autógrafo.

Logicamente, seria de antever que a Organização, “escaldada” com o que ocorreu no ano passado, optaria por um sistema de senhas para este ano. Mas, não só a Organização não aprendeu com o erro como, meus caros, conseguiu ainda piorar a situação. Decidiu-se que este ano seria feita uma fila única(!), que ocupava todo o pavilhão(!). Só quando a pessoa chegava praticamente ao fim da fila é que dizia a um dos colaboradores em que autor estava interessada em recolher um autógrafo. “E depois de recolhido o autógrafo?”, perguntam vós, caros leitores. Bem, depois de recolhido o autógrafo, se a pessoa quisesse o autógrafo de um outro autor, teria que ir novamente (!!) para o fim da fila. Mesmo que esse autor estivesse sem ninguém à sua frente. Não estou a brincar, não estou a exagerar, não estou a tentar ter graça. Foi isto que aconteceu.

Como é possível? Não sei. Mas aconteceu. Isto gerou o caos e, naturalmente, as pessoas passaram a não cumprir as regras, multiplicando ainda mais o caos. No entanto, lá se passou a usar as senhas, que facilitaram um pouco as coisas.

Eu acho que há duas formas de fazer os autógrafos: ou se opta pela maneira mais fácil que é de fazer uma fila por autor et voilà. É a forma mais simples e vai acabar por gerar, também, outras pequenas filas. Mas, lá está, é muito melhor do que aquilo que tivemos no sábado. Ou, então, faz-se um sistema de senhas, logo de início, mas uma coisa bem feita e mais bem organizada. Em vez de se colocar um pobre colaborador a berrar “senha 26!!”, como se estivesse a anunciar os números da lotaria do Ano Novo, se calhar poderia comprar-se um simples sistema de senhas eletrónico. Colocava-se num lugar bem visível e as pessoas iam estando atentas ao seu número, enquanto faziam compras em loja ou enquanto assistiam a apresentações. E antes que alguém diga: “isso é tudo muito bonito, mas é difícil de fazer”, como sou prático e “não falo para o boneco”, pesquisei por um sistema destes e a Worten vende-os a 169€. Será que não é um investimento que se justifique? Eu acredito que sim, pois não é nenhuma extravagância financeira para o orçamento de um evento desta envergadura.

Acho que esta coisa dos autógrafos foi mesmo a principal “mancha” neste primeiro fim de semana.



Sobre o espaço onde decorre o Festival

Outra coisa que tem sido alvo de muitas críticas é a questão do espaço onde se desenrola o festival. Meus caros, eu compreendo e corroboro que não é o espaço perfeito, mas parece ser o espaço possível para o festival. E mais vale habituarmo-nos a ele, tentando extrair o que de melhor ele tem e corrigindo eventuais problemas.

Se o pavilhão onde decorrem as exposições está perfeito para o evento, é verdade que organizar numa tenda a outra parte do festival – os autógrafos, as apresentações e o espaço comercial – que é tanto ou mais importante para os visitantes e agentes envolvidos como o espaço expositivo, é algo que ainda acarreta muitos problemas.

Aqui a solução é simples: é necessário que seja construído um novo pavilhão. Só dessa forma o evento poderá crescer condignamente e deixar de ser feito em tendas.

Esse será, aliás, o grande desafio e projeto que Sua Excelência, a Sra. Presidente da Câmara, tem que fazer acontecer. Sei que há um projeto para a construção de uma estrutura, mas não sei se já há orçamento e/ou aprovação e, muito menos, se há vontade. Sei também – todos sabemos! – que em Portugal os projetos camarários que envolvem, portanto, dinheiros públicos, são tudo menos rápidos. Mas, seja como for, acho que cabe à Presidência da Câmara fazer este statement. Se a bandeira da “cidade da banda desenhada” e da “relevância da cultura” tem sido tantas vezes hasteada por esta Câmara… é, agora, (hoje e não amanhã) a altura de fazer acontecer. “Ah… é complexo. Ah… é difícil. Ah… é custoso. Ah… é moroso”. Meus caros, como diria o outro, “practice what you preach” e façam acontecer.

Esta forma de evento em tendas é o que é possível no presente e convivo bem com isso. Mas é algo temporário e que precisa de mudar o quanto antes. Se não for em 2023, que seja, forçosamente, em 2024. A partir daí, estou certo que as coisas vão melhorar.

Até porque há coisas que, simplesmente, não casam bem entre si, não é? Sei lá… iogurte de bacalhau. Claques rivais de equipas de futebol a partilharem uma estância balnear. Outra coisa que não combina mesmo nada bem é água e papel. Ora, se quase sempre chove em Outubro e se, em Outubro, faz-se um evento de livros (compostos por papel, para quem não sabe ou finge não saber), isto quer dizer que uma tenda pode não ser a melhor solução, não?

Em vez de olharmos para os problemas, que tal olharmos para as soluções? Não seria melhor adiantar o Festival um mês, para o final de Setembro, quando chove muito menos? Não adiantando o festival, não seria melhor investir parte do orçamento em soluções como um desumificador para cada stand? Ou em tendas melhor apetrechadas em termos de impermeabilidade?

É claro que, quando existir a tal estrutura sólida (novo pavilhão) este problema será apenas uma memória passada. Mas cabe à organização decidir: ou bem que fazemos o tal novo pavilhão, ou bem que, se não conseguimos o pavilhão para já, fazemos a tal tenda de melhor forma. Decisions, decisions

Portanto, e concluindo este longo texto, dou os meus parabéns à Organização e a todos os envolvidos.

Faço uma breve síntese daquilo que me parece mais relevante a retirar deste festival que tem nota muito positiva, apesar de tudo!



Prós:

- o espaço de exposições está fantástico;

- a tenda da banda desenhada cresceu em tamanho;

- o novo auditório para debates e lançamentos está quase perfeito;

- a cerimónia de entrega dos prémios, podendo ainda melhorar, foi tãããão melhor do que a do ano passado!



Contras:

- A gestão dos autógrafos. “Plamordedeus", é fácil fazer melhor!

- A sinalética. Facílimo fazer melhor.

- O espaço em tenda. Partindo do princípio de que é um evento que ocorre no final de Outubro, a opção pelas tendas vai continuar a trazer vários problemas alocados: chuva dentro dos stands, humidade que enrola os livros e que, portanto, traz custos para os lojistas. É, portanto, um “contra”, mas que também pode ser visto como uma “oportunidade”, caso a Organização consiga construir o novo pavilhão, o mais depressa possível.



Nota final

O Amadora BD decorre até ao próximo fim de semana. Não é perfeito e tem muito espaço para melhorar, mas é o maior evento de banda desenhada em Portugal. 

E considero visita obrigatória para todos os que amam a 9ª arte. Portanto, se estás a ler isto e ainda não foste ao Amadora BD, não o deixes de fazer. Se já lá foste, estou certo que ainda há motivos para uma segunda visita.

Vemo-nos por lá.




2 comentários:

  1. Boas Hugo deixo aqui o meu breve comentário á Amadora BD, feito noutro forúm, mas que julgo continua a fazer sentido. "... sem querer repetir as observações que fiz no ano passado não posso deixar de notar que os progressos foram muito poucos. Estive no Amadora BD essencialmente para conseguir autógrafo e desenho de Alfred, autor que muito aprecio e cuja obra sou grande admirador. Dito isto o essencial continua a (não) estar lá, ou seja espaço e instalações condignas. Quem chega é brindado com uma pobre estrutura em metal com pouca visibilidade e nenhum impacto. A sinalética é péssima (pedaços de cartão manuscritos espetados em paus!!!...) ou inexistente. As zonas de circulação demasiado estreitas e ao ar livre. Num fim de semana de temporal até a bilheteira foi transferida para a entrada do pavilhão de exposições com as inevitáveis acumulações, confusões e atropelos. E, mais uma vez, as fatídicas tendas... apertadas, sem espaços devidamente delimitados e sem um verdadeiro "artists alley". Muito, muito pobre... É confrangedor assistir todos os anos a este lamentável desfile de insuficiências - 33 anos depois o Amadora BD já deveria ter outra escala, outra projeção e local condigno, mas continua a arrastar-se nesta "feira de Carcavelos" (no pior sentido). Os amantes, apreciadores, fãs, editores, divulgadores, enfim todos os amam esta forma de arte, mereciam muito, muito melhor. Mais do que falta de visão, perspectivas e interesse por parte da CMA o que me perturba é falta de ambição em investir num evento que poderia pôr a cidade / concelho da Amadora no mapa dos grandes eventos internacionais ligados á 9ª Arte, com inevitáveis impactos na economia local. Sejamos francos. o concelho da Amadora é essencialmente uma área suburbana sem grandes atrativos e motivos de interesse - porque não potenciar este evento, dando-lhe dimensão e condições projectando-o no mapa de grandes feiras europeias? Porque não alargar o âmbito do evento a outras áreas do entretenimento, mantendo o core na BD, de forma a atrair outros públicos potenciais? Porque não criar uma equipa profissional encarregue de estabelecer contactos a longo prazo com autores, editoras, criar parcerias com outras entidades, angariar patrocinios e apoios junto de entidades crediveis, etc... Será assim tão complicado? Não me parece...

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    1. Antonio. Não tenho uma visão tão negativa assim do Amadora BD. Decerto não é perfeito. Decerto poderia ser melhor. E até concordo com algumas das coisas que aponta. Mesmo assim, achando que, sim, devemos exigir mais do Amadora BD... também acho que não devemos esquecer que o Amadora BD ainda é o maior festival de banda desenhada em Portugal. E, portanto, com tudo o que isso acarreta... acho que pode e deve melhorar, sim... mas já é o maior e o melhor evento de BD em Portugal, noutros pontos. Há que saber reconhecer isso, também.

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