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quinta-feira, 31 de março de 2022

Análise: O Último dos Moicanos

O Último dos Moicanos, de Marc Bourgne e Marcel Uderzo - Levoir e RTP

O Último dos Moicanos, de Marc Bourgne e Marcel Uderzo - Levoir e RTP
O Último dos Moicanos, de Marc Bourgne e Marcel Uderzo

O Último dos Moicanos, a adaptação para bd da célebre obra de James Fenimore Cooper, é o livro da Coleção Clássicos da Literatura em BD, que a Levoir lançou em parceria com a RTP, que faltava analisar aqui no Vinheta 2020. Todas as restantes 13 obras da coleção, já receberam o seu próprio artigo por aqui. Relembro também que, para todos os que gostaram de colecionar esta coleção, há boas notícias, já que a editora Levoir anunciou recentemente que se prepara para lançar uma segunda série para esta Coleção dos Clássicos da Literatura em BD.

Esta adaptação de O Último dos Moicanos é da autoria de Marc Bourgne e Marcel Uderzo. São dois autores com algum currículo na banda desenhada franco-belga. Marc Bourgne é o autor responsável pela Nova Temporada da série Michel Vaillant, cujo último volume, curiosamente, aqui analisei há poucos dias. O prolífico ilustrador é Marcel Uderzo que, embora tenha na sua carreira um considerável número de livros de banda desenhada, talvez seja mais famoso por ter sido irmão do célebre Albert Uderzo, um dos criadores de Astérix. Ambos os irmãos faleceram recentemente.

O Último dos Moicanos, de Marc Bourgne e Marcel Uderzo - Levoir e RTP
Mas se os autores que adaptam a célebre obra de O Último dos Moicanos têm um vasto currículo e experiência na banda desenhada, isso não faz com que este livro tenha a qualidade que poderia (deveria?) ter. Há aqui algumas coisas interessantes, especialmente ao nível de (algumas) ilustrações, mas a verdade é que este livro pareceu-me ter o carimbo de “obra encomendada”. Mas já lá irei.

Olhando para a história de O Último dos Moicanos, a mesma passa-se no período da colonização norte-americana, em que os colonos ingleses procuraram, junto das tribos de indígenas, impor a sua cultura e os seus costumes. É um romance carregado de referências deste importante capítulo da América e que, por isso, tem um grande valor histórico para a forma como hoje podemos analisar o processo de colonização do continente norte-americano (e não só!) e como esse processo teve marcas nos intervenientes que, ainda hoje, estão presentes.

E, claro, para além de toda esta reflexão histórico-social, o enredo coloca-nos dentro dos inúmeros conflitos entre ingleses, franceses e as diferentes tribos de índios. Em termos de adaptação para a banda desenhada, quer-me parecer que Marc Bourgne fez os mínimos olímpicos. Sintetiza a história da obra, mas sem grande brio ou cuidado, parecendo, não raras vezes, que se limita a ir despejando acontecimentos, mas sem o cuidado de os saber “arrumar” entre si. Dito de outra forma, esta é uma daquelas adaptações para bd que falha em sintetizar, de forma conveniente e assertiva, a história original. Se alguém não conhecer a obra original não é com a leitura deste livro que passará a resolver essa questão. Claro que, obviamente, a leitura desta adaptação dá algumas luzes sobre o que se passa. Mas fiquei pouco convencido nesse cômputo.

O Último dos Moicanos, de Marc Bourgne e Marcel Uderzo - Levoir e RTP
E também relativamente às ilustrações, os sentimentos foram mistos. Por um lado, vê-se, aqui e ali, que Marcel Uderzo sabe desenhar. Adotando um estilo semi-realista, o autor revela-se mais talentoso no desenho das paisagens, da florestação, dos rios, dos acampamentos índios. Um bom paisagista, portanto. Se essa é a parte boa, a parte má será que o tratamento das personagens, quer ao nível facial, quer ao nível físico, bem como as cenas de ação, a sensação de movimento ou os próprios enquadramentos, não constituem momentos tão bem conseguidos por parte do autor.

E, na verdade, o trabalho de Marcel Uderzo deixa bastante a desejar. Persiste a dúvida se o autor não é capaz de fazer mais e melhor – por incapacidade técnica - ou se, por oposição, este é um daqueles “trabalhos encomendados”, onde o autor se limitou a fazer o minimamente aceitável. A cumprir com os mínimos. Quem mais perde, claro, é a obra em si já que não passa disso mesmo: “minimamente aceitável”.

O Último dos Moicanos, de Marc Bourgne e Marcel Uderzo - Levoir e RTP
Nota ainda para a colocação das cores, por Ott, que me pareceu pouco feliz. A um tal nível, que cheguei a pensar se o problema não seria da impressão do livro! Por exemplo, logo nas páginas 9 e 10, na cena da cascata, é inexplicável a presença daqueles tons em azul nas caras das personagens. Se o desenho já não era fenomenal, a maneira como as cores são aplicadas no mesmo, ainda tornam o todo mais amador.

Quanto à edição da Levoir, tudo muito bem feito para um preço tão simpático como 10,90€. Capa dura, papel de boa gramagem, boa encadernação, boa impressão. Como aqui tenho vindo a dar conta, o dossier de extras é um forte complemento à obra. Nem demasiado grande, nem demasiado pequeno, reúne um conjunto de informações úteis que contextualizam o autor, a obra e o período histórico da mesma.

Em suma, esta adaptação até teria potencial para ser um pouco melhor do que a média das restantes obras da coleção. Mas o pouco brio e cuidado que os autores depositaram na sua feitura, leva-me a considerar este título como um dos mais fracos duma coleção que já não é, por si só, muito forte.


NOTA FINAL (1/10):
6.7



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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O Último dos Moicanos, de Marc Bourgne e Marcel Uderzo - Levoir e RTP

Ficha técnica
O Último dos Moicanos
Autores: Marc Bourgne e Marcel Uderzo
Adaptado a partir da obra original de: James Fenimore Cooper
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Setembro de 2021

Gradiva prepara-se para publicar o último volume de O Guardião!


Em menos de três meses, a Gradiva conseguiu o feito de publicar os últimos três volumes da série O Guardião, da autoria de Yves Sente e François Boucq!

A série que, supostamente, ainda não terminou na sua publicação original, apenas tem 5 volumes editados. Pelo que, com o lançamento deste 5º tomo - intitulado A Incubadora do Diabo, que encerra o primeiro ciclo (e único, para já) da série - os leitores portugueses ficam com toda a série publicada em português.

A aposta desenfreada da Gradiva na publicação e, talvez mais importante, término das sériesé algo que merece rasgados louvores!

O livro já se encontra em pré-venda no site da editora e deverá chegar às restantes livrarias a partir do próximo dia 5 de Abril.
Abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e algumas imagens promocionais.


O Guardião #5 - A Incubadora do Inferno, de Yves Sente e François Boucq

Quem são os caçadores de nazis que seguem na peugada de Vince?

Quem são os verdadeiros dirigentes da «Ordem da Renovação do Templo»?

Quem é esse irmão gémeo, supostamente morto, reaparecido nas fileiras dos seus inimigos?
Tudo questões a que o terceiro guardião terá de dar resposta, no inferno húmido do mangal mexicano.


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Ficha técnica
O Guardião #5 - A Incubadora do Inferno
Autores: Yves Sente e François Boucq
Editora: Gradiva
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 16,50€

quarta-feira, 30 de março de 2022

Análise: O Mercenário #2 e #3 - A Fórmula e As Provas

O Mercenário #2 e #3 - A Fórmula e As Provas, de Vicente Segrelles - Ala dos Livros

O Mercenário #2 e #3 - A Fórmula e As Provas, de Vicente Segrelles - Ala dos Livros
O Mercenário #2 e #3 - A Fórmula e As Provas, de Vicente Segrelles

A Ala dos Livros acaba de lançar, de uma só vez, o segundo e terceiro álbum de O Mercenário, de Vicente Segrelles, nesta que é a coleção definitiva da série, já que é uma edição melhorada, revista e de qualidade superior. Após o lançamento do primeiro e décimo álbum (este último, que era inédito em Portugal) a editora regressa com mais uma dose dupla desta série de culto.

Desta vez, começo por falar naquilo que, sinceramente, mais me tem surpreendido nesta aposta da editora portuguesa: a qualidade da edição. Se não estamos perante a melhor qualidade na edição de uma série em Portugal, não havemos de andar muito longe disso! Para além da edição em capa dura, da lombada com textura diferente – cujo objetivo dos editores é que a mesma remeta para a pele de um dragão – da qualidade do papel, impressão e encadernação, cada livro é composto por um fantástico caderno de extras em que Segrelles nos fala, não só da obra que temos em mãos, como também do seu percurso enquanto artista: que materiais usou, como, onde e porquê. Está tudo muito bem explicado. 

O Mercenário #2 e #3 - A Fórmula e As Provas, de Vicente Segrelles - Ala dos Livros
E, ainda por cima, na primeira pessoa. O que ganha outra força para o leitor, quando o mesmo verifica que não está a ler um texto sobre o autor do livro, escrito por outrem, mas sim, um texto escrito pelo próprio autor a falar sobre a sua obra. Fantástico! Cada livro tem 16 páginas, repletas de informações e ilustrações – algumas que nem estão propriamente ligadas a O Mercenário. Acho que se os extras de todos os livros fossem agrupados num só livro, já seria um livro muito interessante por si mesmo. Mas assim, em jeito de conteúdo adicional que complementa estas histórias clássicas da banda desenhada europeia, a iniciativa ainda se destaca mais.

Quanto às ilustrações aqui presentes, continuamos com o estilo de arte único de Segrelles. Esta é, aliás, uma banda desenhada cujas vinhetas parecem ter sido arrancadas das telas de um museu de pintura clássica. Por isso mesmo, e como já referi na minha análise aos volumes #1 e #10, “o Mercenário é uma série que se destaca e se distingue pela sua arte ilustrativa inconfundível. Aplicando uma técnica bastante rara em banda desenhada, a pintura a óleo, Segrelles consegue criar um ambiente singular e, diria mesmo, nunca antes visto, em banda desenhada. A utilização deste método de pintura permitiu ao autor a criação de um mundo aparte, um universo advindo do mundo onírico para onde os leitores são convidados a ingressar. E as personagens, sendo representadas de forma super-realista, parecem verdadeiras! 

O Mercenário #2 e #3 - A Fórmula e As Provas, de Vicente Segrelles - Ala dos Livros
Se a arte é soberba, acho que aquela sensação de estática nos desenhos – especialmente na linguagem corporal e nas cenas de ação – será, por ventura, a única fraqueza que poderemos apontar a uma arte tão deslumbrante. Como escrevi anteriormente, “se fosse uma série de cariz mais político, em que tivéssemos muitos diálogos, talvez isto não fosse tão facilmente verificável. Mas como é uma série de ação, que tem lutas e movimentos rápidos (ou que deveriam ser rápidos) por parte dos protagonistas, parece-me que falta à arte de Segrelles a vivacidade e dinâmica necessária ao estilo de ação. Cada vinheta parece ter sido captada como se a personagem tivesse posado – sem se mexer – para o autor. Não há qualquer sensação de movimento. E isso, a meu ver, é uma lacuna. Ou um efeito colateral, vá.”

As histórias destes dois livros continuam a saga – embora de forma independente e autocontida - começada no primeiro volume.

O Mercenário #2 e #3 - A Fórmula e As Provas, de Vicente Segrelles - Ala dos Livros
Em A Fórmula, o Mercenário é contratado por Claust, um brilhante alquimista, para o escoltar até ao País das Nuvens Permanentes, uma zona extremamente inóspita e povoada de perigosas criaturas, à qual ninguém ousa deslocar-se. No entanto, chegado a esse destino, Claust revela que as suas intenções não são necessariamente boas, o que fará com que O Mercenário tenha que tomar uma posição em relação às atitudes de Claust.

No terceiro volume, As Provas, o Mercenário recebe uma proposta que não pode recusar: ajudar Nan-Tay na proteção e segurança da Ordem da Cratera. Mas para que possa ser aceite nesta Ordem, o Mercenário terá que superar, primeiramente, 3 provas de elevado grau de dificuldade, que porão a sua vida em risco, como gigantes guerreiros, monstros ou espíritos maléficos.

Em termos de argumento, podemos esperar tramas simples e lineares. Vicente Segrelles pode ser um autêntico virtuoso e dono das técnicas de ilustração mais fantásticas, mas a verdade é que não é um grande argumentista. As histórias da série são, pois, sempre muito simples e lineares. É claro que, bem sei, também não parece que fosse propósito do autor em ter narrativas muito complexas e ricas. Nem, por ventura, será isso que um leitor desta série procura. Ou seja, os argumentos servem apenas como pretexto para que Segrelles possa desenhar. São narrativas clássicas na forma e no estilo.

O Mercenário #2 e #3 - A Fórmula e As Provas, de Vicente Segrelles - Ala dos Livros
Afinal de contas, conforme eu mesmo já abreviei, "a fórmula da série é simples: num mundo perdido, algures entre montanhas de perder de vista e nuvens como pano de fundo, onde os cavaleiros se deslocam em dragões, existe um mercenário que está pronto a fornecer os seus serviços enquanto soldado. A este mundo onírico, recheado de soldados maléficos e dragões assustadores, junte-se uma boa dose de mulheres nuas em apuros e - aí está! - num só parágrafo, está descrita a tónica desta série de bd emblemática".

Posso, portanto, concluir que, se é nos desenhos e na originalidade e singularidade do universo visual criado por Segrelles que O Mercenário vence e convence tantos admiradores em todo o mundo, também é nesta edição fantástica da Ala dos Livros, que esta série se torna uma oferta irrecusável!





NOTAS FINAIS (1/10):

O Mercenário #2 – A Fórmula: 7.8

O Mercenário #3 – As Provas: 8.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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O Mercenário #2 e #3 - A Fórmula e As Provas, de Vicente Segrelles - Ala dos Livros

Fichas técnicas
O Mercenário #2 - A Fórmula
Autor: Vicente Segrelles
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Janeiro de 2022

O Mercenário #2 e #3 - A Fórmula e As Provas, de Vicente Segrelles - Ala dos Livros

O Mercenário #3 – As Provas
Autor: Vicente Segrelles
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Janeiro de 2022

Miss Marple está de volta!




Esta semana chega às livrarias o livro Miss Marple - Crime no Hotel Bertram, que é mais um título da coleção da Agatha Christie, publicada em Portugal pela Arte de Autor.

Desta vez, os autores responsáveis pela adaptação da obra são Dominique Ziegler e Olivier Dauger, que já haviam adaptado o outro título da dedicado à personagem de Miss Marple, que foi o álbum Miss Marple – Um Cadáver na Biblioteca.

Mais abaixo, deixo-vos com algumas imagens promocionais e com a sinopse da obra.

Miss Marple - Crime no Hotel Bertram, de Dominique Ziegler e Olivier Dauger

Uma série de assaltos abala a Inglaterra. 
A polícia está num impasse e não quer a ajuda da velha senhora. 

É altura de tirar férias. E porque não no Hotel Bertram, um local que não muda – verdadeiramente tranquilizador?

Agatha Christie (1890-1976) conhece o sucesso desde o seu primeiro romance de mistério, O Misterioso Caso de Styles. Foi designada como a «duquesa da morte» e escreveu sessenta e seis romances, e uma centena de novelas que foram traduzidas numa centena de línguas e venderam até hoje mais de dois milhões de exemplares em todo o mundo.

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Ficha técnica
Miss Marple - Crime no Hotel Bertram
Autores: Dominique Ziegler e Olivier Dauger
Baseado na obra original de: Agatha Christie
Editora: Arte de Autor
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 17,50€



terça-feira, 29 de março de 2022

Qual das três adaptações para bd de "1984", de George Orwell, comprar?


TOP 3 - Há 3 adaptações para BD de 1984, de George Orwell. Que livro comprar?

Chamei TOP 3 a este artigo, mas bem que lhe podia ter chamado, apenas, as "3 adaptações para BD de 1984, publicadas em Portugal, enumeradas da melhor para a pior".

Bem, mas esse título também não me deixou muito satisfeito. Até porque, como veremos mais abaixo, não me parece justo que, no caso concreto, haja uma obra que se demarca muito, pela positiva ou pela negativa, em relação às demais.

Mas já lá irei.

Por agora, relembro que a grande causa que originou que, em cerca de um ano, surgissem no nosso pequeno mercado de banda desenhada, não uma, nem duas, mas três (!) adaptações da icónica obra 1984, de George Orwell, foi o facto da obra do escritor inglês ter entrado em domínio público recentemente.

Quer isto dizer que as editoras são agora livres de publicar a obra sem as habituais condicionantes e regras dos direitos de autor. A obra passou a ser do público, portanto.

E que obra ela é! Já o disse aqui, creio eu, que coloco 1984 numa restrita lista dos melhores livros que li na minha vida. Pela sua audácia, pelo facto de ser uma obra visionária e porque, em jeito de distopia futurista, nos permite ver tanto do que está errado nas sociedades contemporâneas e que riscos daí poderão advir no futuro. De quantas obras podemos nós dizer isto, não é?

Mas focando o meu texto nas bandas desenhadas que foram publicadas pela Alfaguara, pela Cavalo de Ferro (20|20 Editora) e pela Relógio d’Água, posso dizer que temos obras para todos os gostos. Ou, por ventura, para todo o tipo de leitores. Acho até que esse será o principal ponto.

É que, sendo uma adaptação da obra de Orwell, todas estas adaptações cumprem os requisitos mínimos de o ser, mas, claro está, com resultados e abordagens bastante diferentes entre si.

Sei também que a escolha de qual será "a melhor" dependerá muito dos gostos de cada um. Mas, não obstante, olhando para as características inerentes das obras, até não é muito difícil percecionar as diferenças.

A mim, enquanto leitor, parece-me que a obra que globalmente é mais bem conseguida é a versão de Fido Nesti. Acredito que não será uma opinião muito consensual, já que este livro sofreu bastantes críticas – não só em Portugal, como lá fora – por ter demasiado texto e de não ter conseguido abreviar bem a obra. Meus caros, permitam-me discordar nesse ponto. 1984 é uma daquelas obras que tem que ser explicada para que possa ser (melhor) percecionada. E é isso que Fido Nesti aqui faz. 

Se é verdade que também eu achei que, por vezes, há demasiado texto – incluindo páginas de texto em prosa! -, não deixa de ser verdade que, para quem conhece bem a obra original, como é o meu caso, esta será a versão das três que melhor – e de forma mais completa – tenta ser uma adaptação completa. Dito por outras palavras, é – das três opções – o livro que me parece mais completo e, portanto, mais recomendável para quem não conhece, ou para quem conhece mal, a obra original de George Orwell. 

No entanto, parece-me claro que, graficamente falando, a obra mais espetacular das três, é a de Xavier Coste.

Esta adaptação tem, aliás, sido alvo de muito mais louvores e aceitação do que a de Fido Nesti. O problema que esta tem, quanto a mim, é que quase nem parece uma adaptação, mas mais uma homenagem à obra. E porquê? Bem, porque tentando não ter tanto texto e deixar mais espaço para que os desenhos e os momentos possam respirar melhor – e isso é, de facto, conseguido – acaba por explicar de uma forma bastante incompleta quem foi Winston e o mundo de 1984

Se a obra de Fido Nesti tinha muito texto, esta tem demasiado pouco texto. E se a adaptação de Nesti é a que considero pertinente para alguém que nunca leu a obra original, e quer fazê-lo através de uma novela gráfica, esta adaptação de Xavier Coste é completamente adequada para quem já conhece a obra original e/ou para aqueles que são leitores mais batidos de bd e procuram um álbum com ilustrações maravilhosas.

Finalmente, a adaptação da dupla de autores Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane situa-se no meio termo. Nem os desenhos são tão bonitos como os de Xavier Coste, nem a adaptação é tão bem elaborada como a de Fido Nesti. Acaba, por isso, por ser a obra mais superficial das três e a menos memorável. 

Mas isto também não quer dizer que não seja um livro com vários pontos interessantes, quer do ponto de vista narrativo, quer do ponto de vista visual. Para quem aconselharia eu esta versão? Bem, para aqueles vossos amigos que não lêem banda desenhada habitualmente e que também só querem uma leitura mais leve e fácil da obra.

Quanto às edições, todas elas são em boa qualidade, com um bom trabalho de encadernação por parte das respetivas editoras. As da Alfaguara e da Cavalo de Ferro apresentam capa dura, enquanto que a versão da Relógio d’ Água é em capa mole.

Em suma, e abreviando aquilo que escrevi mais acima, esta é a minha consideração sobre as três obras, quando comparadas entre si: 


1984, de Fido Nesti
(Alfaguara) – destina-se aos que não conhecem bem a obra original e querem passar a conhecê-la através da banda desenhada. É a adaptação mais completa da história original.


1984, de Xavier Coste
(Relógio d’Água) – destina-se aos que já são leitores de bd e procuram um álbum muito belo em termos de ilustrações e, também, aos que já conhecem, pelo menos por alto, a obra original.


1984, de Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane
(Cavalo de Ferro – 20|20 Editora) – destina-se aos leitores que habitualmente não lêem banda desenhada e querem apenas ficar com uma breve ideia da obra original de Orwell.








Como disse, há opções para todo o género de leitores.

A mim, enquanto leitor, diria que as minhas preferências recaem algures entre a edição de Nesti e a de Coste. Nenhuma das duas me deixa totalmente satisfeito, mas ambas são bastante boas. E, eventualmente, tenho uma ligeira preferência pela edição de Nesti, diria. Não tem desenhos tão bonitos, mas é um livro mais completo para uma história tão complexa como 1984.

Para saberem mais sobre cada uma destas obras, convido-vos a visitarem os artigos que escrevi para cada livro, mais abaixo.



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Fichas técnicas

1984 - A Novela Gráfica 
Autor: Fido Nesti
A partir da obra original de: George Orwell
Editora: Alfaguara 
Páginas: 224, a cores 
Encadernação: capa dura 
Lançamento: Outubro de 2020
Análise à obra, aqui.


1984
Autor: Xavier Coste
A partir da obra original de: George Orwell
Editora: Relógio D’Água
Páginas: 248, a cores
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Agosto de 2021
Análise à obra, aqui.


1984: Novela Gráfica
Autores: Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane
A partir da obra original de: George Orwell
Editora: 20|20 (Cavalo de Ferro)
Páginas: 240, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Agosto de 2021
Análise à obra, aqui.

segunda-feira, 28 de março de 2022

Um Olhar sobre o Coimbra BD 2022

Depois de o hiato de um ano, em que o evento não se realizou devido à Covid-19, o Coimbra BD voltou a acontecer no passado fim-de-semana, entre os dias 25 e 27 de Março, na Casa Municipal da Cultura, em Coimbra, claro está.

Já por uma vez tinha estado quase a ir ao evento mas, por uma razão de última hora que, honestamente, já não recordo, acabei por não ir. Portanto, foi a minha primeira vez neste certame.

Mas, mesmo sem nunca lá ter ido, já tinha uma ideia muito concreta sobre o evento, por tudo aquilo que já tinha lido e visto sobre o mesmo.

E, bem vistas as coisas, saí bastante satisfeito com a experiência.

O Coimbra BD é o terceiro maior evento dedicado à banda desenhada em Portugal. E traz consigo muito de tudo aquilo que um amante de bd procura - e encontra - no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja. De facto, o Coimbra BD é um evento pequeno e goza das vantagens e desvantagens da sua dimensão. É que, se por um lado, não tem o número de visitantes, de autores, de intervenientes e de destaque de um Amadora BD, por outro lado, é um sítio mais familiar e friendly, onde reina a camaradagem e boas conversas sobre bd, e onde é mais fácil estar-se junto dos autores nacionais de banda desenhada.

Sim, este não é um evento internacional mas sim nacional. Bem sei que houve um esforço da organização para que cá viesse um dos autores mais relevantes da banda desenhada espanhola, mas tal não foi possível. E, além disso, também sei que a Organização só teve 5 semanas para organizar o evento, devido aos habituais atrasos camarários que limitam a possibilidade de fazer as coisas com tempo e melhor planeamento.

Mesmo assim, em termos nacionais, parece-me que o evento teve uma boa representação. Nomes como os de Filipe Melo, João Fazenda, Pedro Brito, Carlos Silva, Joana Rosa, João Mascarenhas, João Miguel Lameiras, Miguel Jorge, Jorge Marinho, Paulo J. Mendes, Paulo Vaz de Carvalho e Penim Loureiro marcaram presença. Derradé também estava confirmado mas, infelizmente, à última da hora, não pôde comparecer devido à covid-19.

As exposições eram dedicadas às obras mais recentes da maioria destes mesmos autores. Ou seja, podíamos encontrar as exposições referentes às obras: O Perigoso Pacifista, Balada para Sophie, O Fogo Sagrado, O Umbigo do Mundo, O Penteador, Amor de Perdição, e The Mighty Gang.

Do ponto de vista das exposições, que até podem não parecer muitas em quantidade, acho que, olhando para o espaço disponível para exposição, até foram em bom número. Estavam interessantes e alguns dos trabalhos que foram expostos nunca o haviam sido, anteriormente. Se o Coimbra BD gozou dessa mais valia, dei comigo a desejar que o espaço tivesse mais tratamento cénico. Mesmo a sala com as exposições de Umbigo do Mundo, Balada para Sophie e O Penteador, que tinha um piano no meio da sala - com o fantástico detalhe do papel a dizer: "Por favor, Tocar" - estava algo vazia, do ponto de vista cénico.  

Compreendo que não deve ser fácil de levar isto a cabo, devido aos condicionalismos próprios do espaço mas, talvez possa ser algo a rever em edições futuras. E com mais tempo de preparação. Gostaria, também, que tivessem sido expostos mais originais, embora eu tenha gostado principalmente de alguns exemplos em que houve um esforço para expor algo mais do que as pranchas. Lembro-me, por exemplo, de um excerto do guião de Filipe Melo para Balada para Sophie ou do guião de Amor de Perdição, com notas explicativas de João Miguel Lameiras para Miguel Jorge. É esse tipo de coisas que um amante de banda desenhada (também) aprecia, estou certo.

O espaço onde tem lugar o Coimbra BD parece-me o suficiente para que o evento decorra sem problemas mas também me parece que traz consigo algumas limitações. As exposições estão localizadas entre o primeiro piso e o piso inferior. Não há muito espaço para fazer mais - em termos de quantidade - e, por esse motivo, considero que a Organização esteve bem na forma como utilizou o espaço disponível. No entanto, acho que a sinalética do evento poderia estar melhor. Na verdade, ela até existia e também não posso dizer que, num evento desta dimensão, o visitante não acabasse por encontrar os vários espaços pretendidos. Mas acho que poderia estar mais facilmente compreensível. Dei por mim a ter que perguntar a alguém onde era o espaço dos autógrafos. Depois até reparei que havia uma seta para lá.

Em termos de espaço comercial, fiquei bastante agradado. Não dei conta de nenhuma das principais editoras portuguesas que não tivesse os seus livros à venda, neste espaço que era explorado pela Convergência e pela Dr. Kartoon. E, em ambos os espaços, ainda havia um conjunto de caixotes com alguns achados de bd.

Acho que a Organização está de parabéns por, em tão pouco tempo, ter conseguido organizar um evento bem estruturado, com várias iniciativas paralelas a acontecer. Julgo que, nas próximas edições, o evento poderia receber um maior fôlego caso se conseguia apostar na vinda de alguns autores estrangeiros. Não precisam de ser muitos. Dois ou três, que tenham público por cá, serão suficientes. Não obstante, para quem gosta de banda desenhada, é imprescindível.

Mais abaixo, deixo-vos algumas fotografias que tirei.