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sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Devir regressa ao lançamento de BD europeia!



Depois de anunciar algumas obras bastante interessantes durante este mês de Outubro, como Bairro Distante, de Jiro Taniguchi, ou Crianças do Mar, de Daisuke Igarashi, a editora Devir também fez saber que voltará a lançar uma obra de um autor europeu!

Falo do livro Maltempo, do autor francês Alfred, de quem a editora já lançou, em 2022, o muito recomendado Como Antes!

Para mim, isto é uma grande notícia, pois fico duplamente contente pelo facto de Alfred continuar a ver a sua muito interessante a obra a ser editada em português e, também, é bom verificar que a Devir não deixa cair a edição de autores europeus.

Sim, mesmo assim, gostaria de ver mais autores europeus - ou americanos - a serem editados pela editora, claro, mas também é verdade que este é um bom sinal.
Maltempo terá o seu pré-lançamento no Amadora BD, a 18 de Outubro, devendo chegar às livrarias a partir de 21 de Outubro. Já se encontra em pré-venda no site da editora.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


Maltempo, de Alfred

Mimmo, um rapaz de 15 anos, vive numa pequena ilha italiana. 

Preso entre a fatalidade de uma vida de pobreza ou um futuro na máfia, o rapaz sente que a única saída é a sua guitarra. 

Quando fica a saber que um canal de TV vai fazer audições para um famoso espetáculo musical na sua aldeia, ser selecionado torna-se o seu único objetivo, uma ideia fixa. 

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Ficha técnica
Maltempo
Autor: Alfred
Editora: Devir
Páginas: 324, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 14,8 x 21 cm 
PVP: 20,00€ 

Devir lança novo mangá de Taniguchi!



A editora Devir prepara-se para lançar, numa edição integral, a obra Bairro Distante, de Jiro Taniguchi!

Originalmente lançado em dois volumes no ano 1998, chega agora a Portugal, devendo o seu pré-lançamento ocorrer no próximo dia 19 de Outubro no Amadora BD.

O livro chegará, depois, a partir do dia 21 de Outubro, às livrarias do país. Por agora, já se encontra em pré-venda no site da editora.

Como sou um adepto da obra de Jiro Taniguchi, é com alegria que vejo mais uma obra do autor publicada por cá!

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

Bairro Distante, de Jiro Taniguchi

E se fosse possível voltar atrás no tempo?

Hiroshi Nakahara, um homem de meia idade, regressa inesperadamente ao seu tempo de adolescente, quando tinha 14 anos. 

Reencontrando amigos de escola, amores passados e a sua família, revive a leveza desses tempos felizes, mas também a preocupação e tristeza de acontecimentos que o marcaram para sempre. 

Será ele capaz de alterar o seu passado, mudando o curso da sua vida? 

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Ficha técnica
Bairro Distante
Autor: Jiro Taniguchi
Editora: Devir
Páginas: 421, a preto e branco (com algumas páginas a cores)
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 24 cm 
PVP: 24,99€ 

Análise: Sambre #7 e #8


Sambre #7 e #8 - Flor da calçada | Aquela que os meus olhos não vêem…, de Yslaire

Ao longo de uma vida a ler milhares de livros de banda desenhada - e mesmo sendo um claro amante das histórias aos quadradinhos, que muitos até consideram demasiado "benevolente" nas suas análises e opiniões - é natural que não se torne tão fácil assim que uma série entre para aquele conjunto fechado de obras que mudam a minha vida. Dito por outras palavras, há a BD muito boa, sim, mas que, apesar disso, não chega ao ponto de me tocar tão intensamente assim e, depois, há aquela BD mais rara, mais singular, mais única, que me toca cá no fundo, que me deixa viajar para longe, que me faz sonhar. Sambre é uma dessas séries.

Sendo visualmente linda, da primeira à última vinheta, esta também é uma série onde o belo e o putrefacto, o amor e o ódio, a riqueza e a pobreza, andam sempre de mãos dadas numa história trágica, num romance a la Shakespeare e numa história grandiosa que é difícil olvidar.

Portanto, em boa hora, a editora Arte de Autor começou a publicar esta série que, como tantas outras, tinha sido deixada ao abandono aquando da sua primeira edição portuguesa. Na altura, apenas os primeiros tomos da série foram lançados pelas editoras Baleia Azul e Witloof. Bem, para ser mais exato, o primeiro ciclo da série ficou fechado, sim, mas dado que a história continua as aventuras e desventuras da família Sambre, era uma pena que tivesse sido deixada a meio. A Arte de Autor voltou, então, a publicar os quatro primeiros álbuns, enquanto publicou os inéditos, em Portugal, volumes 5, 6, 7 e 8. Havia dúvidas sobre a possibilidade da série terminar no 9º ou 10º tomo, com vários sites a apresentarem informações díspares quanto a isso, mas - e com base numa entrevista que o próprio autor Yslaire deu há uns meses - posso confirmar-vos que Sambre está pensada para terminar em 2026 - ano em que a série comemora 40(!) anos - num álbum duplo que terá cerca de 180 páginas. Mal posso esperar por esse dia! O mau é que a espera ainda vai ser algo longa!...

Mas concentremo-nos, por agora, no mais recente álbum duplo, que reúne Flor da Calçada e Aquela que os meus olhos não vêem…, respetivamente os tomos 7 e 8 da série.

Neste volume, a narrativa continua a explorar a história dos protagonistas, principalmente a relação tumultuosa entre as várias personagens principais, dando-nos três subnarrativas aparentemente diferenciadas e paralelas: a vida trágica e pobre, a fazer lembrar Oliver Twist, de Judith; a vida cativa e exilada (e controlada pela sua tia) de Bernard-Marie; e a existência de Julie que, arredada de tudo e todos, procura uma nova forma de vida. A carga dramática mantém a sua característica intensidade, com cada uma das personagens a revelar um grande número de conflitos internos.

A cadência narrativa impressa por Yslaire continua a ser lenta, mas com a história da jovem rebelde Judith, que é pródiga em acontecimentos marcantes, o autor consegue que o leitor nunca se sinta entediado ou deixe de querer estar mergulhado na leitura da obra. Essa é, aliás, uma característica da série Sambre e, diria mesmo, de todas as boas histórias. Assim que mergulhamos na leitura de um dos livros da série, o tempo e o espaço onde estamos parece parar, enquanto somos transportados até à Paris do século XIX e à história desta malograda família.

Também o lado sombrio da narrativa, com claros laivos góticos, se mantém bem presente. Se calhar, até de forma mais intensa do que nos anteriores álbuns. A escrita também se nos revela rica e complexa, com o autor a explorar os temas emotivos e profundos da paixão, da força do destino e das relações familiares.

E nada aqui é "leve". Pelo contrário, o amor em Sambre é "pesado" e amplamente marcado por sofrimento e sacrifício, tornando-se uma contante e um fado do qual nenhuma das personagens parece conseguir fugir. E mesmo estando geograficamente distantes, fica latente que o encontro entre Judith e Bernard-Marie se torna inevitável. Mas, quanto a isso, a ver vamos.

Quanto às ilustrações, devo dizer que, por incrível que possa parecer, Sambre parece continuar sempre a melhorar de livro para livro! Por um lado, compreende-se que, pela passagem de tantos anos entre os vários volumes da série, o autor tenha evoluído o seu traço. Por outro lado, também é comum em várias séries de banda desenhada que, com a passagem dos anos, haja, por parte do(s) seu(s) autor(es) um certo descuido visual, potenciado pelas vendas "certas" e "garantidas" de determinadas séries. Felizmente, este último cenário não é o que acontece em Sambre. Se formos olhar para os volumes 1 e 8 da série, veremos que o autor soube manter harmonia e congruência com a arte do primeiro volume, mas, ainda assim, evoluiu muito os cenários, as expressões das personagens, as cores, os efeitos visuais, a exploração da luz e das sombras, e tudo e mais alguma coisa. Já era muito bom no primeiro volume, mas é um verdadeiro tratado neste último livro. Com o seu belo traço em tons a sépia onde os vermelhos assumem protagonismo, há aqui várias vinhetas que poderiam ser pinturas expostas num museu, tal não é a sua beleza e tratamento técnico. Sinceramente, é um trabalho do melhor que há.

Avançando para a edição da Arte de Autor, também estamos perante um belíssimo trabalho. O livro enverga capa dura, com textura aveludada, bom papel brilhante no miolo e boa impressão e encadernação. A última página reserva alguns esboços de Yslaire. Tudo bem feito, portanto. Não costumo opinar sobre traduções mas, no caso concreto, não consigo deixar de dizer que a opção pela palavra "tiinha" para a tradução do termo francês "tatie" não me parece muito feliz e até me incomodou um bocado na leitura, já que a palavra aparece inúmeras vezes. Pode ser ignorância minha, reconheço, mas em 40 anos de vida nunca ouvi a palavra "tiinha" como diminuitivo de tia. Penso, portanto, que "tiazinha" - ou mesmo "ti", "titi" ou "titia" - seriam melhores opções que "tiinha". Ou mesmo a tradução para a palavra portuguesa sem diminuitivo, simplesmente "tia", teria funcionado melhor. Peço desculpa pelo preciosismo, mas é algo que me incomodou mais do que aquilo que eu gostaria. 

Mas deixando os pormenores e centrando-me no mais global e determinante, importa reforçar que estes dois novos capítulos de Sambre, com todo o seu dramatismo romântico, as suas palavras poéticas que ecoam no leitor, as suas personagens emocionalmente atordoadas e os seus desenhos verdadeiramente impressionantes - que deveriam ser considerados património cultural pela UNESCO - mantêm viva a certeza de que esta é uma das séries de banda desenhada da minha vida. Soberba, mandatória e digna de nota máxima!


NOTA FINAL (1/10):
10.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Ficha técnica
Sambre #7 e #8 - Flor da calçada | Aquela que os meus olhos não vêem…
Autor: Yslaire
Editora: Arte de Autor
Páginas: 144, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Agosto de 2024


Ala dos Livros lança BD sobre a atriz Ava Gardner!



A Ala dos Livros continua em modo "turbo"! A editora acaba de anunciar mais uma nova obra de banda desenhada! 

Desta vez, a obra anunciada é Ava, dos autores espanhóis Emilio Ruiz e Ana Miralles, que versa sobre a célebre atriz Ava Gardner. Uma obra inédita, da qual pouco ou nada sei. Conheço Djinn, de Ana Miralles, e posso dizer-vos que gosto bastante das ilustrações da autora espanhola que parece manter um registo algo semelhante neste AVA - 48 Horas na Vida de Ava Gardner.

O livro já se encontra em pré-venda no site da editora e deverá chegar às livrarias nos próximos dias.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.
AVA - 48 Horas na Vida de Ava Gardner, de Emilio Ruiz e Ana Miralles

1954. Ava Gardner é uma das maiores estrelas de cinema a nível mundial. O filme “A Condessa Descalça” acaba de estrear e, numa deslocação ao Rio de Janeiro para a sua promoção, a presença da actriz gera um grande interesse por parte do público. No instável contexto político do Brasil dos anos 50, a estrela de cinema é recebida de forma entusiástica, mas vê-se também envolvida em diversas controvérsias e sujeita ao assédio constante da imprensa. 

São os acontecimentos dessas 48 horas da sua estadia no Rio que os autores seguem para desvendar a personalidade de Ava Gardner, uma mulher dona de uma beleza estonteante que enfrentou todos numa época em que desfrutar da mesma liberdade de um homem era uma verdadeira transgressão.

Ava Gardner é a imagem da mulher fatal e de ícone inacessível. A imprensa concentrou-se na sua vida privada, nos seus romances e num impressionante número de amantes. Criticada pelos seus três casamentos e divórcios, nunca ninguém censurou que os seus três ex-maridos tenham somado 20 casamentos ao longo da vida.

“Ava” é uma visão de uma vida manchada pela violência: a dos homens e do seu desejo de a possuírem que Ana Miralles ilustra segundo o argumento de Emílio Ruiz. Uma mulher fatal, generosa, com grande sentido de humor e, ao mesmo tempo, uma vulnerabilidade que a tornava irresistível. Um retrato íntimo daquela a quem chamaram “a mais bela criatura do mundo”.

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Ficha técnica
AVA - 48 Horas na Vida de Ava Gardner
Autores: Emilio Ruiz e Ana Miralles
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 112, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 320 mm
PVP: 27,50 €

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Devir aposta em duas novas séries de mangá!




A editora Devir acaba de anunciar que vai editar duas novas séries de mangá!

São elas Frieren, de Kanehito Yamada e Tsukasa Abe, e Crianças do Mar, de Daisuke Igarashi. Confesso que estou especialmente intrigado com esta última, pois é uma série que ainda não conheço, mas que já me foi recomendada por vários amigos!

As duas séries já se encontram em pré-venda no site da editora a partir de hoje e deverão chegar às livrarias no próximo dia 14 de Outubro.

Mais abaixo, deixo-vos com as sinopses destas obras e com algumas imagens promocionais.





Crianças do Mar - Volume 1, de Daisuke Igarashi

Ruka Azumi tem 14 anos e vive numa pequena cidade do Japão. Durante as férias de verão, Ruka conhece Umi e Sora, duas crianças misteriosas criadas por dugongos, mamíferos marinhos em vias de extinção.

Umi e Sora estão mais à vontade na água do que em terra, quando nadam parecem voar… mas de onde vêm realmente estes dois irmãos?

Coleção em 5 volumes.

Ficha técnica
Crianças do Mar - Volume 1 (de 5)
Autor: Daisuke Igarashi
Editora: Devir
Páginas: 324, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 14,8 x 21 cm
PVP: 20,00€


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Frieren #01, de Kanehito Yamada e Tsukasa Abe

Frieren e os seus companheiros, Himmel, Eisen e o padre Heiter, regressam vitoriosos da sua batalha contra o rei demónio.  

A paz no reino foi restabelecida. Agora é altura de se separarem, o que é difícil depois de tantas aventuras juntos! 

Frieren parece pouco afetada pela separação. Para a elfa com uma vida excecionalmente longa, uma década não é nada de especial, ao contrário da vida humana que é tão curta!  
Frieren tem um longo caminho a percorrer para compreender a raça humana... O seu novo objetivo: aprender os mistérios do coração! 

Ficha técnica
Frieren #1
Autores: Kanehito Yamada e Tsukasa Abe
Editora: Devir
Páginas: 192, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 12,6 x 19 cm
PVP: 9,99€






Análise: O Mistério dos Templários

O Mistério dos Templários, de José Ruy - Editora Polvo

O Mistério dos Templários, de José Ruy - Editora Polvo
O Mistério dos Templários, de José Ruy

Mesmo que José Ruy, um dos autores mais emblemáticos da banda desenhada nacional, nos tenha deixado há cerca de dois anos, a sua obra continua - e, estou certo, continuará - a ressoar na mente coletiva dos amantes portugueses da 9ª arte.

O Mistério dos Templários, que hoje vos trago, é a última obra que o autor terminou na íntegra. É verdade que A Passagem Impossível, publicada pela editora Ala dos Livros, foi a última obra em que José Ruy trabalhou antes do seu falecimento, mas este O Mistério dos Templários, publicado pela editora Polvo - que também já havia publicado postumamente Lendas Japonesas, foi o último trabalho integralmente finalizado pelo autor.

Lembro-me até, com alguma nostalgia, que cheguei a ver de perto José Ruy a trabalhar em algumas das pranchas deste álbum quando, a propósito do Prémio Carreira dos VINHETAS D'OURO atribuído ao autor, quando conversei com o mesmo, na sua casa.

O Mistério dos Templários, de José Ruy - Editora Polvo
Nessa longa conversa que tivemos, José Ruy contou-me que sempre foi muito fascinado pela Ordem dos Templários e por tudo o que a envolveu. Este era, pois, um projeto muito querido do autor e que foi encetado ao longo de vários anos, com José Ruy a recolher informação de diversas fontes sobre o tema e trabalhando no argumento.

E indo ao encontro daquilo a que José Ruy nos habituou, este O Mistério dos Templários assume um tom educativo, sendo rico em factos históricos e tentando traçar os vários momentos da Ordem dos Templários, desde a sua criação até à sua extinção, não esquecendo a referência de alguns dos momentos mais emblemáticos destes cavaleiros que eram monges e soldados ao mesmo tempo.

Em termos de desenho, José Ruy também mantém fidelidade ao seu estilo de ilustração e planificação clássicas que os admiradores do autor, certamente apreciarão. Lamento que algumas das vinhetas sejam demasiadamente povoadas de texto, embora também compreenda que esse sempre foi o modus operandi do autor, já que os seus argumentos - mesmo que também procurassem entreter - tinham como missão primordial o seu cariz educativo e informativo.

O Mistério dos Templários, de José Ruy - Editora Polvo
Também o processo de colorização das ilustrações, embora efetuado através de ferramentas digitais - que o autor, impressionantemente, ainda viria a dominar já na fase final da sua longa vida - assume um aspeto próximo da banda desenhada mais clássica. O que tem a valência de não criar nenhum rompimento com o trabalho clássico do autor mas que, quanto a mim, que sou de uma geração mais nova, me leva a crer que talvez as histórias adquirissem um aspeto mais moderno e comercial, se feitas a preto e branco. E a edição de A Passagem Impossível, já mencionada, leva-me a insistir ainda mais nesta questão. Em banda desenhada, o preto e branco nunca fica fora de moda, ao passo que a colorização, como obedece a uma corrente estilística, torna-a cativa, para o bem e para o mal, da faixa temporal dessa mesma corrente. E o mesmo até pode ser dito relativamente ao cinema.

Quanto à edição da editora Polvo, estamos perante um bom trabalho. O livro apresenta capa dura baça e bom papel brilhante no miolo. O trabalho de encadernação e impressão também é bem conseguido. Nota positiva, mais uma vez, para as bonitas guardas a preto e branco do livro.

Em suma, O Mistério dos Templários é um bom livro de José Ruy - bem ao seu género - que tem o apelo adicional de ser a última banda desenhada terminada pelo autor. Um livro especialmente obrigatório, portanto, para os adeptos da obra deste autor imprescindível da 9ª arte portuguesa.


NOTA FINAL (1/10):
7.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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O Mistério dos Templários, de José Ruy - Editora Polvo

Ficha técnica
O Mistério dos Templários
Autor: José Ruy
Editora: Polvo
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 217 x 306
Lançamento: Outubro de 2023


quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Análise: O Deus das Moscas

O Deus das Moscas, de Aimée de Jongh - ASA - LeYa

O Deus das Moscas, de Aimée de Jongh - ASA - LeYa
O Deus das Moscas, de Aimée de Jongh

Num ano em que o lançamento de banda desenhada de qualidade por parte da ASA se parece aproximar dos melhores anos da editora, com a edição de belas obras como As 5 Terras, de Lewelyn e Lereculey; Senhor Apothéoz, de Julien Frey e David; Tananarive, de Mark Eacersall e Sylvain Vallée; Quentin por Tarantino, de Amazing Améziane; Spirou - A Esperança Nunca Morre... - Quarta Parte, de Émile Bravo; As Águias de Roma - Livro VI, de Enrico Marini; Gaston #22 - O Regresso de Lagaffe, de Delaf; Airborne 44 - #9 - Black Boys, de Philippe Jarbinet; entre outras boas opções, a aposta na obra da autora holandesa Aimée de Jongh é (mais) um dos bons tiros certeiros da editora este ano. Primeiro, a ASA editou o magnífico Dias de Areia e, agora, há poucos dias, a editora portuguesa fez chegar às livrarias o mais recente álbum de Aimée de Jongh, que dá pelo nome de O Deus das Moscas.

Trata-se, pois, de uma adaptação para banda desenhada do aclamado e célebre romance original homónimo de William Golding. A obra original foi publicada em 1954 e, desde então, tornou-se um clássico obrigatório da literatura mundial. A sua adaptação ao cinema também teve uma forte ressonância - pelo menos na minha geração. É uma história que quase toda a gente conhece.

A premissa narrativa é esta: um avião despenha-se numa ilha deserta e os únicos sobreviventes são um grupo de crianças. Todas elas rapazes. Ao início, a reação das crianças a esta situação até é positiva, pois sentem-se livres para brincar, festejar e fazer aquilo que lhes apetece, sem que haja um adulto a traçar-lhes regras e limites. E mesmo na primeira fase de sobrevivência, em que, juntos, os rapazes começam a cooperar na obtenção de alimentos, na construção de abrigos e no controlo do fogo... corre muito bem. 

Todavia, assim que o tempo vai passando, essa alegria inicial esmorece e dá lugar a uma certa desorganização que, eventualmente, culmina em anarquia, por um lado, e na criação de forças antagónicas, por outro. Afinal de contas, é da natureza humana a instituição das posições de "líder" e de "liderado". Simplesmente, nem sempre os liderados querem determinado líder nem, tampouco, certos líderes procuram satisfazer os desejos dos seus liderados. Eventualmente, surge então o desacordo, o conflito e a guerra. E até a tentativa de, através de uma entidade maior e imaterial - um deus - exercer influência e controlo sobre os outros, é algo que a obra sabe explorar.

O Deus das Moscas, de Aimée de Jongh - ASA - LeYa
Além disso, O Deus das Moscas também aborda a dualidade da natureza humana, a luta entre a civilização e a barbárie, e as consequências da ausência de estruturas sociais. Através da trajetória dos jovens náufragos, a história revela como o instinto de sobrevivência pode desencadear comportamentos primitivos e como a pressão social e o medo podem transformar indivíduos comuns em figuras autoritárias ou em vítimas de opressão.

O trabalho de Aimée de Jongh reinterpreta de forma bastante fiel a obra clássica, continuando a explorar os temas da natureza humana, da sociedade e da perda da inocência. Com efeito, através de toda a beleza do trabalho ilustrativo da autora e de todo o detalhe e cadência de relato, assente no tempo pausado de narrativa que Jongh imprimiu à sua adaptação, este é um livro que convida - ou incrementa até - à componente de reflexão da obra original. Não esqueçamos que não é todos os dias que uma adaptação para banda desenhada de um romance da literatura consegue ter um maior número de páginas do que o romance original em que se baseia. Mas é o que acontece neste caso. 

Os desenhos são verdadeiramente maravilhosos. Se em Dias de Areia a autora foi exímia na conceção de paisagens tão áridas e empoeiradas, neste O Deus das Moscas a autora é igualmente fantástica na reprodução de uma ilha onde a vegetação é luxuriantemente verdejante e onde o mar que a rodeia é de tons azuis cristalinos. Um verdadeiro deleite para os olhos! Embora também nós estejamos perdidos nesta bela ilha - e apesar de toda a violência que nela experienciamos, bem como o elevado número de páginas do livro - não nos apetece chegar ao fim da leitura. Apetece, isso sim, continuar na ilha, tal não é a sua vibrante beleza.

O desenho das personagens mantém-se fiel àquilo que a autora já nos mostrou noutros trabalhos. Com um estilo muito europeu - daquele a que gosto de chamar "a nova escola Spirou" - a autora oferece-nos personagens com uma expressividade desarmante que, devido a isso mesmo, nos tocam o coração nos momentos mais tensos e melancólicos da trama. 

O Deus das Moscas, de Aimée de Jongh - ASA - LeYa
É verdade que algumas das personagens apresentam, por ventura, demasiadas parecenças nas feições, podendo ser confundidas entre si, embora, ainda assim, e com a autora certamente ciente disto, as personagens mais importantes da narrativa se distingam bem, devido às diferentes cores dos seus cabelos: Ralph é louro, Merridew é ruivo e Simon tem o cabelo preto. E depois ainda temos Piggy mas este, por ser gordinho e envergar óculos, é o mais facilmente reconhecível. As outras personagens talvez pudessem ter sido mais diferenciadas pela autora, concedo. Mesmo assim, não é algo que, quanto a mim, afete muito negativamente a boa compreensão da história.

De resto, é espetacular a forma como a autora consegue transpor para a banda desenhada esta história, deixando transparecer para a leitura todos os conflitos internos e as rivalidades das personagens. E não o faz meramente por via do texto, mas também através da expressão artística visual que realça as emoções e a tensão latente da narrativa.

A obra também é visualmente muito bonita por haver um bom contraste gráfico entre os momentos de violência e as imagens de beleza natural, intensificando desta forma o impacto emocional da experiência. Quando falarmos em boas adaptações de clássicos da literatura para banda desenhada, este O Deus das Moscas deverá passar a figurar nessa lista dos melhores exemplos!

O trabalho de edição que a ASA faz deste livro também é digno de nota. O livro apresenta capa dura baça e bom papel brilhante no miolo. A impressão e encadernação também são excelentes. No final, ainda há um texto conclusivo da autora e 6 páginas com esboços e desenvolvimentos de cena. Estamos perante uma edição de luxo, portanto. E mesmo que Dias de Areia tenha uma boa edição, a deste O Deus das Moscas consegue ser melhor - embora eu lamente que os dois livros não tenham recebido uma edição mais coerente entre si, tendo em conta que são da mesma autora e da mesma editora.

Concluindo, O Deus das Moscas, de Aimée de Jongh, é uma adaptação poderosa que não só honra o texto original de Golding, como também consegue expandi-lo através de uma nova lente. A combinação desta rica narrativa com ilustrações deslumbrantes torna-a uma obra notável e vibrante. Mais uma que se coloca no restrito rol de melhores bandas desenhadas lançadas em 2024! Altamente recomendável, portanto!


NOTA FINAL (1/10):
9.7



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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O Deus das Moscas, de Aimée de Jongh - ASA - LeYa

Ficha técnica
O Deus das Moscas
Autora: Aimée de Jongh
Adaptado a partir da obra original de: William Golding
Editora: ASA
Páginas: 352
Encadernação: Capa dura
Formato: 275 x 206 mm
Lançamento: Setembro de 2024

Hoje sai novo volume de Tanguy e Laverdure!



Hoje chega às bancas o sexto volume da série Tanguy e Laverdure que a editora ASA tem vindo a editar em parceria com o jornal Público.

Intitula-se Canhão Azul Já Não Responde e é o sexto de um total de oito volumes da autoria de Jean-Michel Charlier e Albert Uderzo.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


Tanguy e Laverdure #6 - Canhão Azul Já Não Responde, de Jean-Michel Charlier e Albert Uderzo

Tanguy e Laverdure, juntamente com os seus companheiros Leroux e Mignot, partem em missão para a Gronelândia, onde se deverão juntar à base americana em Thule, para testarem o desempenho do Mirage III E, a temperaturas muito baixas.

No entanto, na sombra, uma organização com longos tentáculos por todo o hemisfério, pretende apoderar-se de um daqueles aparelhos, para descobrir os segredos dos seus instrumentos electrónicos ultra-modernos.

Após uma escala na Islândia, onde conhecem o comandante Buck Danny, outro famoso herói da banda desenhada, os pilotos franceses descolam a caminho de Thule, sob condições atmosféricas muito adversas, com neve e ventos fortes. Um dos pilotos não chegará ao seu destino.

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Ficha técnica
Tanguy e Laverdure #6 - Canhão Azul Já Não Responde
Autores: Jean-Michel Charlier e Albert Uderzo
Editora: ASA
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 11,90€


terça-feira, 1 de outubro de 2024

Análise: O Segredo dos Mártires

O Segredo dos Mártires, de Jorge Mateus e Paulo Caetano - Iguana - Penguin Random House

O Segredo dos Mártires, de Jorge Mateus e Paulo Caetano - Iguana - Penguin Random House
O Segredo dos Mártires, de Jorge Mateus e Paulo Caetano

Foi apenas há algumas semanas - e um pouco de forma algo inesperada, já que a editora nunca tinha avançado uma antevisão desta obra - que a Iguana, uma chancela da Penguin Random House, editou este O Segredo dos Mártires, uma obra que assinala o regresso de Jorge Mateus e de Paulo Caetano ao lançamento de banda desenhada. Ambos os autores já tinham colaborado, recorde-se, em Urso, que foi lançado em 2019 pela editora Bizâncio.

O Segredo dos Mártires é uma obra de grande fulgor, com mais de 150 páginas, que nos leva até à época dourada dos Descobrimentos portugueses, revelando-nos um episódio pouco conhecido desse tempo.

A história é baseada em factos reais, o que lhe atribui uma revestida importância por ter esse cunho didático e investigacional, que permite, além de entreter, informar os leitores. O que é bem-vindo, está claro.

O Segredo dos Mártires, de Jorge Mateus e Paulo Caetano - Iguana - Penguin Random House
A Nossa Senhora dos Mártires foi uma nau portuguesa que, em 1606, partia da Índia com destino a Portugal, trazendo na sua carga um tesouro muito valioso: pimenta-preta, essa especiaria que, por esse tempo, era coisa rara na Europa. Mas além dessa carga importante, havia um outro tesouro, trazido em segredo para a embarcação pelo vice-rei D. Aires de Saldanha. Na mesma Nossa Senhora dos Mártires também viajava o padre jesuíta Francisco Rodrigues, acompanhado pelo seu jovem protegido. 

E é esse mesmo padre jesuíta que, de forma algo diabólica, tudo fará para deitar mãos a esse segredo bem guardado pelo vice-rei. A juntar a tudo isto, o mesmo vice-rei também é amante da rainha de Portugal, o que aumenta a crítica subjacente à leitura da obra. 

A partir daqui, a história arranca para um enredo pleno de intrigas, mistério, conspiração, aventura, violência e muita ação. Uma viagem de barco que demorava oito meses no mar e onde havia diversas privações causadas não só pelas tempestades, mas também pela presença de piratas que procuravam deitar mão às cargas transportadas pelas embarcações portuguesas, era o acontecimento de uma vida e, portanto, mesmo nos dia de hoje, engodo suficiente para satisfazer os nossos desejos de aventura de um outro tempo. É, pois, uma obra bastante ambiciosa e que, de um modo geral, cumpre bastante bem os seus intentos. 

O Segredo dos Mártires, de Jorge Mateus e Paulo Caetano - Iguana - Penguin Random House
O argumento arranca muito bem, com a história a ser contada de trás para frente, remetendo para uma técnica muitas vezes utilizada no cinema. Logo ali, no início, ficamos a saber o que aconteceu à nau Nossa Senhora dos Mártires, mas fica a faltar que saibamos o "como" e é por isso que a narrativa se apega muito bem ao leitor - ou o leitor a esta - logo de início. 

A juntar a isto, ainda se juntam algumas personagens interessantes e memoráveis, com destaque para o padre jesuíta e para o vice-rei das Índias. Infelizmente, o argumento acaba por se perder um pouco a si mesmo do meio para o fim do livro, com algumas subnarrativas que são adicionadas à trama a não serem convenientemente exploradas e deixando no ar a ideia que talvez "menos pudesse ter sido mais".

Seja como for, apreciei bastante a obra, a frescura do tema e o desenvolvimento das personagens principais.

Quanto às ilustrações que nos são dadas por Jorge Mateus, devo dizer que fiquei bastante agradado na maior parte das vezes. Em alguns casos, até fiquei impressionado! O autor utiliza um traço caricatural e bastante estilizado que oferece uma aura muito própria, plena de identidade, ao conjunto visual. Para essa abordagem refrescante também contribuiu a utilização de cores fortes e bastante contrastadas que tornam moderno e artístico o estilo, o que acaba por beneficiar o impacto gerado no leitor. 

O Segredo dos Mártires, de Jorge Mateus e Paulo Caetano - Iguana - Penguin Random House
Quer nas cenas de batalha em que as ilustrações do autor se mostram dinâmicas, quer nas cenas em que o oceano se revolta contra a nau portuguesa, quer nos desenhos de maior dimensão, onde o autor brilha especialmente, estamos perante um belo trabalho. Também na caracterização fortemente caricatural do padre jesuíta, Jorge Mateus é especialmente bem sucedido. Posso dizer que adorei o desenho - exagerado nas expressões - desta personagem que se destaca, claramente, das demais.

Contudo, e apesar das boas indicações, este O Segredo dos Mártires fica alguns furos abaixo de ser perfeito. Em termos de planificação, é uma obra que, infelizmente, apresenta algum ruído visual. São vários os exemplos onde a sensação de claustrofobia perante tantas e tão pequenas vinhetas inseridas numa só prancha - ainda por cima tendo em conta que o formato do livro não é muito grande - retiram muita da fluidez que seria necessária para uma melhor fruição da leitura.

Além de que essa referida fluidez também sai prejudicada pela não utilização de margens entre vinhetas e pelo excesso de balonagem - muitas vez densamente povoada de texto - que tornam o conjunto algo denso e pesado. Fica a ideia que para que a obra pudesse ser mais marcante - e de boas ideias e de bom potencial está ela cheia, relembro - talvez o texto pudesse ser em menor quantidade, as vinhetas menos apertadas entre si e o formato do livro maior.

Em termos de edição, ficando, como já referido, essa ideia de que a obra teria beneficiado com um maior formato, há que dizer que a edição em capa mole com badanas, com bom papel brilhante e com boa impressão e encadernação, se revela bem feita. Nota ainda, positiva, para a ilustração de capa e grafismo da mesma, onde o livro também é bastante bem conseguido.

Em suma, é com bons olhos que vejo a Iguana a apostar em mais autores portugueses de banda desenhada, numa obra que mesmo podendo não ter aproveitado, na íntegra, o enorme potencial que tinha, se reveste de relevância e merece ser (re)conhecida por todos os amantes portugueses de BD.


NOTA FINAL (1/10):
8.4



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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O Segredo dos Mártires, de Jorge Mateus e Paulo Caetano - Iguana - Penguin Random House

Ficha técnica
O Segredo dos Mártires
Autores: Jorge Mateus e Paulo Caetano
Editora: Iguana (Penguin Random House)
Páginas: 160, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 24 cm
Lançamento: Setembro de 2024

Já são conhecidos os Nomeados para os Prémios de BD da Amadora 2024!


A Câmara Municipal da Amadora acaba de divulgar, em nota oficial, quais são as obras nomeadas para os Prémios de Banda Desenhada da Amadora (PBDA). Eu, enquanto Presidente do Júri, obviamente já conhecia estes resultados, mas partilho-os convosco, agora que é informação oficializada pela Câmara. O restante júri foi composto por João Ramalho Santos e Paulo Monteiro.

Devo dizer que a eleição destas obras não foi "pêra doce", dado que houve muita e boa banda desenhada publicada durante o ano passado e este ano. Gostos pessoais à parte, parece-me que a qualidade das obras apresentadas legitimam bem as suas nomeações. 

Para que conste, relembro ainda que as obras elegíveis eram aquelas publicadas entre o segundo semestre do ano passado e o primeiro semestre deste ano. 

Antevendo algum do habitual "drama" que possa haver, refiro que, nas categorias de Melhor Fanzine e Melhor Obra de Autor Português, o jurado Paulo Monteiro se absteve-se de votar para evitar conflito de interesses (no drama, portanto). Além disso, na categoria Revelação, o júri considerou que Amor, de Filipa Beleza, por ser a primeira obra de BD da autora (pese embora a mesma já tivesse lançado álbuns de cartoons no passado) devia ser considerada na mencionada categoria (no drama, portanto). Quanto a outras questões ou dúvidas que possam existir, remeto os interessados para o regulamento dos prémios.

Mesmo assim, e pelo menos neste espaço, todas as opiniões são bem-vindas. Especialmente se bem fundamentadas.

Os vencedores serão agora revelados durante o Amadora BD, no próximo dia 20 de Outubro, pelas 18h, na Cerimónia de Entrega dos Prémios.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa divulgada esta manhã pelo Município.