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quarta-feira, 31 de março de 2021

Análise: Heartstopper #1 - Rapaz Conhece Rapaz

Heartstopper #1 - Rapaz Conhece Rapaz, de Alice Oseman - Cultura


Heartstopper #1 - Rapaz Conhece Rapaz, de Alice Oseman - Cultura
Heartstopper #1 - Rapaz Conhece Rapaz, de Alice Oseman

Desde que foi originalmente lançada em 2019, a série de bd Heartstopper transformou-se num autêntico bestseller mundial, tendo conquistado milhões de fãs em todo o mundo. Entretanto, no início de 2021, a gigante Netflix já adquiriu os direitos da franquia, para começar a fazer a sua própria adaptação da obra original da jovem autora inglesa, de 26 anos, Alice Oseman.

A editora portuguesa Cultura, por sua vez, aproveitou o sucesso mundial da obra para se estrear no lançamento de banda desenhada em Portugal. O que é algo que deverá deixar os amantes de bd felizes. Nesse sentido, desejo, naturalmente, que a editora portuguesa continue a lançar os próximos volumes de Heartstopper, bem como, outras séries de banda desenhada.

Heartstopper conta-nos a história de Charlie e Nick, dois colegas de escola, que não se conheciam entre si, até ao dia em que, numa disciplina escolar, se sentam lado a lado. Rapidamente se tornam então amigos e Charlie, que é homossexual assumido, começa a apaixonar-se por Nick, embora considere que não terá oportunidades com o amigo, por achar que ele é heterossexual. Convém dar nota de que, antes de travar conhecimento com Nick, Charlie já tinha tido uma relação com outro rapaz, Ben. Mas este, parecia aproveitar-se de Charlie só para ter alguém que satisfizesse os seus ímpetos com outro rapaz. E facilmente nos apercebemos que a relação entre ambos se está a tornar tóxica para Charlie. É nessa altura que, ocasionalmente, Nick dá de caras com Ben a aproveitar-se de Charlie. Decide intervir e proteger o seu amigo. E, a partir deste ponto, Charlie e Nick ficam ainda mais próximos e passam os dias juntos, partilhando os mais variados momentos. Até que o invevitável acontece e os dois envolvem-se amorosamente.

Heartstopper #1 - Rapaz Conhece Rapaz, de Alice Oseman - Cultura
Uma história do mais simples que há! Uma pessoa apaixona-se por outra, sente borboletas na barriga por isso e julga sempre que não será correspondida. Em Heartstopper a diferença será, por ventura, o facto da narrativa se centrar em duas pessoas do mesmo sexo. A história é contada de forma bastante graciosa e romântica, focando-se mais na questão do primeiro amor e paixão do que, propriamente, no facto de ser uma relação homossexual. Claro que isso também é abordado – especialmente através da personagem de Nick, que não está ainda resolvido em termos sexuais e enfrenta muitas dúvidas e incertezas à medida que se vai envolvendo com Charlie – mas, o foco de Heartstopper não é a questão da homossexualidade. A questão em grande plano é o primeiro amor entre jovens.

E isso será, por ventura, a verdadeira inclusão social que o livro traz consigo. Era fácil partir-se por aquele caminho expetável do “ah... a sociedade ainda considera tão errado e estranho ser-se homossexual e ninguém vai aceitar estas personagens e, portanto, pode-se explorar essa dificuldade que elas sentem”. Mas não. Não é por aí que Heartstopper aparenta querer ir. É certo que nos apercebemos de algum bullying por parte dos colegas de escola, quando Charlie se assume como homossexual; e sentimos a dor de Nick quando se questiona se será mesmo homossexual. Mas, por outro lado, temos um Charlie que parece ser totalmente aceite pela sua família; temos a mãe de Nick que parece dar conta do quão mais feliz e solto este parece ser, na presença de Charlie; e temos uma história que é apresentada de forma límpida, suave e terna, sem lugar para a auto-comiseração.

Heartstopper #1 - Rapaz Conhece Rapaz, de Alice Oseman - Cultura
É claro que a leveza da narrativa, que traz este olhar absolutamente natural e despreconceituoso para com a homossexualidade, possibilitanto ainda, para além disso, uma leitura escorreita e fácil da história, leva a que também possamos objetar que a obra poderia ter ido mais longe na capacidade para sensibilizar os jovens das dificuldades por que passam todos aqueles que têm uma sexualidade diferente daquilo que (ainda) é socialmente esperado. Estou a lembrar-me por exemplo, da magnífica e inesquecível banda desenhada publicada pela Arte de Autor, O Azul é Uma Cor Quente, que é uma história mais profunda, mais pesada e mais sexual sobre a questão da homossexualidade entre jovens. Mas, lá está, Alice Oseman e o seu Heartstopper não parecem tanto querer refletir sobre ser-se homossexual mas, ao invés disso, apresentar-nos simplesmente uma história de amor entre jovens. E nada de errado há nisso. Muito pelo contrário. E, em última instância, apresentar algo como sendo normal – embora muita gente ainda não o considere – pode ser, por si só, uma forma de, ágil e perspicazmente, veicular mudança na mentalidade alheia.

Heartstopper procura demonstrar que é natural e normal que os jovens se apaixonem, se envolvam e se conheçam a si mesmos nos amores juvenis. Sejam eles heterossexuais ou homossexuais. E acho que isso é de louvar na série e, certamente, será uma das grandes valências desta banda desenhada, que tanto sucesso está a recolher junto de público e crítica. Mas não só.

Heartstopper #1 - Rapaz Conhece Rapaz, de Alice Oseman - Cultura
A maneira como a autora, Alice Oseman, sabe dosear a história é muito bem conseguida, e mesmo sendo verdade que este primeiro livro da série tem 262 páginas de história, é um livro que se pode ler em pouco mais do que uma hora. Porquê? Bem, primeiro, porque cada página raramente excede as três vinhetas; segundo, porque o ritmo da história é bem rápido, com diálogos simples e juvenis; e, terceiro, porque é cativante o modo como a autora constrói as personagens e doseia o início da paixão entre elas. Acaba por ser quase impossível não ganharmos simpatia quer por Charlie, quer por Nick, e que não torçamos para que ambos fiquem juntos. E felizes. É pois uma leitura viciante pois assim que começamos a ler o livro, é difícil parar de ler.

O estilo da narrativa é bastante jovial/adolescente. Isto não é dizer que Heartstopper não seja indicado para adultos. Acho que pode e deve ser lido por adultos. No entanto, é óbvio que o público-alvo desta série é o adolescente e jovem-adulto. A leitura é fácil, a arte é simples e jovial, e o tema é atual e resfrescante. Já para não falar que mesmo em termos de comunicação, o facto da autora introduzir “smiles” e “emojis” nos próprios balões de falas das personagens, consegue aproximá-las à geração de jovens atual, que tanto se serve desses elementos para comunicar, especialmente através das redes sociais e dos telemóveis. Tudo características indicadas para ser um must para jovens.

Heartstopper #1 - Rapaz Conhece Rapaz, de Alice Oseman - Cultura
Em termos de arte ilustrativa, Alice Oseman detém um traço com fortes influências no estilo mangá, com as personagens a apresentarem olhos extremamente expressivos, narizes simplistas e cabelos revoltos. Algumas características dos comics americanos também podem ser encontradas aqui e ali. Não obstante, é justo dizer que a autora consegue incrementar o seu próprio estilo. Por vezes gostaria que os cenários e os corpos das personagens fossem feitos com mais rigor e detalhe. No entanto, também percebo que para o tipo de leitura que temos em mãos, que utiliza mais os desenhos como um instrumento para ilustrar a história do que para ser um livro com ilustrações belas, acaba por funcionar bem. E mesmo admitindo ser verdade que o desenho de corpos e cenários seja algo básico e quase adolescente por parte da autora, há que admitir que Alice Oseman é exímia na forma como consegue ilustrar os sentimentos vários que as suas personagens experienciam ao longo da narrativa. Se a expressão facial de uma personagem deve ser inequívoca relativamente ao sentimento que se pretende passar para o leitor, então o trabalho de Alice Oseman é digno de louvores.

Em termos de edição, este é um livro em capa mole. Pela forma física do objeto-livro, aproxima-se mais de um qualquer romance em capa mole do que, propriamente, de um álbum de banda desenhada. Algo também semelhante aos mangás que são lançados por cá. As folhas, meio amareladas e baças, também me parecem mais indicadas para texto do que para conterem ilustrações. Cada folha permite ver um pouco da ilustração do seu verso, coisa que não é muito agradável. De qualquer maneira, e percebendo o estilo de público desta obra, bem como o estilo de leitura aqui presente, aceita-se esta opção da editora Cultura. Além de que parece ser fiel à edição original inglesa. Um destaque para as partes em verniz da capa que tornam o livro mais apelativo.

Concluindo, e depois de lida a obra, que até foi premiada com o Goodreads Choice Awards 2020 para Melhor Banda Desenhada, é fácil compreender o sucesso massivo que Heartstopper está a conquistar em todo o mundo. É uma obra simples, bem pensada e bem executada, que nos conta a história de dois adolescentes que se começam a apaixonar um pelo outro. Tratando-se de um romance entre dois rapazes, colegas de escola, a história aborda a questão homossexual – para muitos um assunto muito tabu ainda – durante a adolescência. Uma boa leitura que até poderá trazer vários novos leitores para o universo da banda desenhada. Recomenda-se.


NOTA FINAL (1/10):
8.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Heartstopper #1 - Rapaz Conhece Rapaz, de Alice Oseman - Cultura

Ficha técnica
Heartstopper #1 - Rapaz Conhece Rapaz
Autora: Alice Oseman
Editora: Cultura
Páginas: 288, a preto e branco
Encadernação: capa mole
Lançamento: Janeiro de 2021

Lançamento: One-Punch Man #12



A Devir acaba de anunciar o lançamento de mais um número da série One-Punch Man, da autoria de One e Yusuke Murata.

Abaixo, fiquem com a sinopse da obra e imagens promocionais.


One-Punch Man #12, de One e Yusuke Murata

Durante o torneio de artes marciais, um grande número de monstros testa os limites dos heróis que defendem a cidade Z! 

Inconsciente do que se passa fora do estádio, Saitama prepara-se para a partida contra Bakuzan!

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Ficha técnica
One-Punch Man #12
Autores: One e Yusuke Murata
Editora: Devir
Páginas: 212, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 9,99€

terça-feira, 30 de março de 2021

Análise: Duke Volumes 1, 2, 3 e 4

Duke – Volumes 1, 2, 3 e 4, de Yves H. e Hermann - Arte de Autor


Duke – Volumes 1, 2, 3 e 4, de Yves H. e Hermann - Arte de Autor
Duke – Volumes 1, 2, 3 e 4, de Yves H. e Hermann

Ainda antes de avançar para o quinto álbum da série Duke, intitulado Pistoleiro é o que Serás, que a editora Arte de Autor lançou há poucas semanas, decidi ler os primeiros 4 álbuns da série. Lembro-me que já tinha lido o primeiro de todos, A Lama e o Sangue, há uns anos, mas que, entretanto, com a passagem do tempo, tinha perdido contacto com a série. Assim, o texto que se segue procura ser uma análise dos primeiros quatro volumes.

E o que é, afinal, este Duke?

Duke é um western, bastante clássico na forma e (não tanto) no conteúdo, que nos traz o célebre ilustrador Hermann, responsável por séries de sucesso como Comanche, Bernard Prince, Jeremiah e muitas outras. O argumentista é Yves H., que é filho de Hermann. Ambos os autores já colaboraram noutros álbuns de bd como, por exemplo, Laços de Sangue ou Verão de '57.

Duke – Volumes 1, 2, 3 e 4, de Yves H. e Hermann - Arte de Autor
Convém desde já dizer que recomendo que Duke seja lido de uma só vez. A leitura da soma do todo é muito mais marcante do que se os livros forem lidos de forma isolada. É certo que a série, que já se encontra no quinto tomo, ainda não está terminada e que, por esse motivo, alguns interessados poderão querer aguardar pelo fim da publicação da série. Não obstante, devo dizer que, quando li isoladamente o primeiro volume, até não fiquei muito impressionado com a obra. Pareceu-me interessante mas nada de extraordinário. No entanto, depois de ler 5 tomos seguidos, devo dizer que, de facto, esta é uma excelente série de banda desenhada e totalmente recomendada para os fãs do génereo western. Não é, porém, isenta de algumas falhas. Mas, já lá irei.

Fazendo um breve resumo das histórias do primeiro ao quarto tomo, a série coloca-nos na cidade de Ogden, no Colorado, Estados Unidos da América, e traz-nos a personagem de Duke, que é um ajudante do Xerife e que terá que reagir à onda de assassinatos que começa a imperar na pequena localidade onde atua. Se o primeiro tomo me parece o mais fraco, menos marcante e que, de certa forma, até faz com que a série arranque com o “pé esquerdo”, a verdade é que a partir do tomo 2 é que a série começa, realmente, a saber contar a história e a adensá-la com uma trama que deixa o leitor cheio de dúvidas por esclarecer.

Duke – Volumes 1, 2, 3 e 4, de Yves H. e Hermann - Arte de Autor
Na verdade, e por estranho que pareça, até acho que se a série começar a ser lida apenas a partir do segundo tomo, não se perde grande coisa em termos de história ou de momentos memoráveis. De facto, esse segundo tomo, Aquele que Mata, arranca com uma cena marcante e emocionalmente forte, em que nos é apresentada Eleanor, uma criança que escapa a uma chacina e que ficará, posteriormente, a fazer parte da série. E é também neste segundo volume que é introduzida a missão de transportar (e proteger) 100 mil dólares, de um ponto para o outro, prestando este serviço à personagem Mullins, um magnata do setor minério. Esta missão da escolta do dinheiro vai estando presente em todos os outros tomos o que nos permite, desde já, concluir que o tempo de ação desta série é bastante lento.

Acompanhado por mais algumas personagens, Duke parte então nesta missão de escoltar o dinheiro enquanto persegue, ao mesmo tempo, o conjunto de assassinos que tem importunado a localidade. Entretanto, a história avança e recua, e acontecem várias peripécias ao longo da viagem que não revelarei, para não estragar o prazer da leitura da obra aos que ainda não a leram. Mas uma coisa é certa: é uma obra de ritmo lento. Existe ação, sim, mas também existe bastante reflexão, memórias que persistem na mente de Duke e que servem para que possamos conhecê-lo aos poucos. Em paralelo, vamos conhecendo o percurso de Peg, a amada de Duke, e todas as privações pelas quais tem que passar enquanto espera, devotamente, que Duke regresse.

Duke – Volumes 1, 2, 3 e 4, de Yves H. e Hermann - Arte de Autor
Duke não é a personagem tipo deste género de série. Sabemos que é um pistoleiro incrível – e que as outras personagens respeitam os seus dotes nas armas - mas até não o vemos muitas vezes em ação. Claro que, à medida que a história vai avançando, começamos a desvendar, aos poucos, as características únicas que definem esta personagem e como a infância e a relação com o seu irmão, Clem, moldou Duke.

E uma coisa que me parece muito interessante no protagonista desta história é a forma, bem pensada, como o argumentista Yves H. explora a dualidade de se ser assassino. Se, em determinadas alturas, Duke parece querer afastar-se de todas as situações que o levem a ter que matar alguém, noutras alturas, parece que tem um real apetite para tirar vidas. E como é uma personagem muito reservada, o argumentista serve-se (bem) disso para confundir o leitor em relação às pretensões de Duke. E esta é, possivelmente, a coisa mais bem conseguida em termos de argumento.

Mas há outras personagens marcantes, para além do protagonista. Por um lado, existe Peg, a mulher que espera por Duke e a quem este prometeu que, depois de reunido dinheiro suficiente, irá viver com ela e afastar-se da vida de pistoleiro. Esta é a vertente mais romântica da história. Mas não é Peg a única mulher na vida de Duke. Rose, um antigo amor, também se vai cruzar com o protagonista nesta viagem. Os fantasmas do passado ainda estão bem vivos na mente de Rose, o que fará com que o encontro com Duke não corra da maneira que nenhum dos envolvidos gostaria. Como se não bastasse, ainda existe o irmão Clem que vai adquirindo mais importância ao longo da história.

Duke – Volumes 1, 2, 3 e 4, de Yves H. e Hermann - Arte de Autor
Ao contrário da aclamada série Comanche que apresentava uma estrutura muito mais clássica no género, em que cada um dos volumes contava uma história com princípio, meio e fim, aquilo que nos é dado em Duke é bem diferente. Se por um lado, pode parecer uma história bem mais contemplativa, quase filosófica e com momentos que, por vezes, são parados demais, a verdade é que esta série traz consigo uma abordagem quiçá mais madura, menos romantizada e mais terra-a-terra. É menos emotivo e divertido que um western mais clássico, mas é, por ventura, mais maduro e sério. Valha isso o que valer. Se uma série como Undertaker, publicada pela Ala dos Livros, pode perfeitamente ser lida (também) por um jovem de 18 anos (mesmo sendo um western), Duke parece-me voltada para um público bastante mais maduro de banda desenhada. Que acompanhou a clássica série Comanche e que, nos dias de hoje, já procura menos aventura jovial e mais reflexão graúda. Mesmo que ambientada no faroeste americano. Eventualmente, foi até esse o percurso que Hermann, autor de Comanche e de Duke, também fez enquanto autor, atrevo-me a especular.

Sobre a arte ilustrativa de Hermann, devo confessar que tenho sentimentos mistos. Há ilustrações na série Duke que me fazem ficar de queixo caído, dada a qualidade e inspiração das mesmas. Há outras coisas que me fazem abanar a cabeça tristemente. Note-se que a arte deste autor e o seu traço característico estão muito em linha com aquilo que o autor nos tem dado nos últimos anos de obra. A utilização de aguarelas para colorir a história é sublime, por vezes, com as ilustrações a serem dignas de figurar numa galeria de arte! Espantosas! Magníficas!

Duke – Volumes 1, 2, 3 e 4, de Yves H. e Hermann - Arte de Autor
Porém, há três coisas que me deixam desagradado com a arte de Hermann em Duke: 1) as expressões faciais das peronsagens que, por vezes, parecem estranha e despropositadamente desfiguradas; 2) a fisionomia das personagens que, muitas vezes, apresentam cabeças que parecem desenquadradas dos corpos que as sustentam; e 3) a caracterização das faces femininas que me parecem injustificadamente feias. Se as mulheres de Gibrat ou de Manara são belas, as mulheres de Hermann parecem travestis de segunda categoria. É óbvio que, bem sei, isto será mais uma opção estética do autor do que uma incapacidade técnica. Até porque, relembro, Comanche até era uma mulher bastante bonita e feminina. Portanto, Hermann sabe desenhar mulheres. Mas simplesmente não o parece querer fazer em Duke e noutras obras mais recentes. A razão pela qual isto denigre artisticamente a obra – na minha modesta opinião, que vale o (pouco) que vale – é que gera uma certa incoerência artística. Por exemplo, na série Bouncer de Boucq, também publicada pela Arte de Autor, as mulheres também têm expressões rudes. Mas, nesse caso, há um rudeza no traço que afeta toda a ilustração do autor: os traços são rudes nas mulheres, mas também nos homens, nos animais, nos décors, em tudo. No caso de Duke, essa rudeza parece só atingir mulheres. Os homens parecem-se homens. Mas as mulheres também se parecem homens! Mais grave ainda: até as crianças parecem homens!

Duke – Volumes 1, 2, 3 e 4, de Yves H. e Hermann - Arte de Autor
Não percebo o porquê e acho que traz um peso negativo à ilustração que, não raras vezes, é para lá de majestosa. Desculpem, leitores, este meu desabafo, mas não consigo não falar nisto. E sei que, naturalmente, há uma certa subjetividade na forma como consideramos certos desenhos bonitos ou feios. O que me faz confusão neste caso é a dualidade de critérios do autor. Ora faz vinhetas que poderiam concorrer ao prémio de melhor vinheta do ano, ora faz vinhetas que parecem desenhadas pela minha filha de 6 anos. É uma opção e há que respeitá-la. Mas é uma pena que tenha sido essa a opção tomada. Os fãs de Hermann não me levem a mal. Eu também sou um fã do autor. E acho maravilhoso que, com mais de 80 anos, continue a lançar livros a um ritmo tão bom. Mas, em última análise, fico com os tais sentimentos mistos em relação à sua arte ilustrativa.

Onde Hermann brilha muito, convém realçar, é na caracterização das paisagens, nas imagens mais contemplativas (que, talvez por isso, abundam em Duke) e, claro, aqui e ali na boa caracteização das personagens. E o trabalho de cores é, todo ele, muito artístico e único no estilo. Quando a história volta atrás através dos flashbacks, o autor utiliza uma paleta de cores em tons sépia que também é lindíssima de observar.

Duke – Volumes 1, 2, 3 e 4, de Yves H. e Hermann - Arte de Autor
Quanto à edição da Arte de Autor, é uma coleção muito bem conseguida. Hoje em dia, o western está muito em voga relativamente às apostas das editoras portuguesas (relembro que A Seita acaba de publicar uma nova coleção de Tex, a ASA continua com a sua coleção clássica de Lucky Luke, a Gradiva anunciou recentemente o lançamento de O Último Homem e a Ala dos Livros tem Undertaker como o seu herói do faraoeste), e este Duke, a par de Bouncer, constitui uma forte e respeitável aposta da Arte de Autor para satisfazer o desejo de histórias de cowboys por parte dos leitores portugueses.

Em conclusão, devo dizer que Duke é uma série que começa timidamente com um primeiro tomo algo insípido mas que, a partir daí, sabe montar uma boa trama, ao jeito dos bons filmes de cowboys. E claro, sendo servida pela arte de Hermann que, por vezes é sublime - e noutras vezes não tanto - tem, à partida, uma dose de boa qualidade assegurada. Não agarra logo o leitor, mas vai agarrando-o gradualmente. Não recomendo um tomo para experimentar. Recomendo mesmo a leitura total pois só dessa forma se consegue apreciar (verdadeiramente) a série e a sua história.

Brevemente não percam a análise ao quinto álbum, Pistoleiro é o que Serás.


Nota final do Livro 1: A Lama e o Sangue: 7.5
Nota final do Livro 2: Aquele Que Mata: 8.7
Nota final do Livro 3: Sou uma Sombra: 8.7
Nota final do Livro 4: A Última Vez que Rezei: 8.3


NOTA FINAL DOS 4 PRIMEIROS TOMOS (1/10):
8.3



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Duke – Volumes 1, 2, 3 e 4, de Yves H. e Hermann - Arte de Autor

Fichas técnicas
Duke #1 - A Lama e o Sangue
Autores: Yves H. e Hermann
Editora: Arte de Autor
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2017

Duke – Volumes 1, 2, 3 e 4, de Yves H. e Hermann - Arte de Autor

Duke #2 - Aquele que Mata
Autores: Yves H. e Hermann
Editora: Arte de Autor
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Maio de 2018

Duke – Volumes 1, 2, 3 e 4, de Yves H. e Hermann - Arte de Autor

Duke #3 - Sou uma Sombra
Autores: Yves H. e Hermann
Editora: Arte de Autor
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2019

Duke – Volumes 1, 2, 3 e 4, de Yves H. e Hermann - Arte de Autor

Duke #4 - A Última Vez que Rezei
Autores: Yves H. e Hermann
Editora: Arte de Autor
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Fevereiro de 2020

Lançamento: Astérix e o Grifo


Astérix e o Grifo, de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad

Já há nome, capas provisórias (em português e em mirandês) e até um vídeo de apresentação para o novo álbum de Astérix!

A editora ASA finalmente desvendou o mistério envolto no lançamento do próximo álbum de Astérix, do qual já tinha falado há umas semanas.

A data de lançamento será o dia 21 de Outubro e o nome da obra é Astérix e o Grifo.

Estas serão as capas provisórias que já foram dadas a conhecer aos meios de comunicação:

Abaixo, fiquem ainda com um vídeo teaser de apresentação da obra.





segunda-feira, 29 de março de 2021

Lançamento: Um Trovão no Caminho e Outras Histórias




A Escorpião Azul prepara-se para lançar a sua primeira obra de 2021! 

Trata-se do livro Um Trovão no Caminho e Outras Histórias, da autoria do português António Rocha, que, já na altura em que falei com o editor Jorge Deodato, a propósito das novidades que a editora preparava para 2021, dei conta.

A obra estará disponível em livrarias em meados de Abril.

Abaixo, fiquem com a nota de imprensa e com algumas imagens promocionais.


Um Trovão no Caminho e Outras Histórias, de António Rocha

No deserto rochoso do Arizona, uma criança assiste em choque à morte do seu pai, um destemido caçador de tempestades. 

Vinte anos depois, essa mesma criança, agora casado e pai de uma menina, vai tentar o sucesso onde o seu pai falhou. 

Uma história que reflecte sobre quem somos enquanto filhos, e como isso influencia quem somos enquanto pais. 

Um tema revisitado na curta “O Pai Partiu”, onde a ausência é a personagem principal. 

Mas muito mais se pode encontrar nesta colectânea de temáticas e géneros de Banda Desenhada, desde o arquétipo do bom selvagem representado no estilo “sword and sorcery”, uma derivação da “Guerra dos Mundos” ou a solidão do espaço sideral.

Narrativas para reflectir a nossa existência, ou, se quiser, apenas para passar umas horas divertidas de leitura.


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Ficha técnica
Um Trovão no Caminho e Outras Histórias
Autor: António Rocha
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 88, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
PVP: 13,00€

sexta-feira, 26 de março de 2021

Lançamento: O Último Homem




Tal como já tinha aqui anunciado há uns dias, a Gradiva vai publicar no próximo dia 6 de Abril a obra O Último Homem, de Jérôme Félix e Paul Gastine.

Uma notícia muito boa para os fãs de western e não só!

E tal como prometido, partilho agora algumas páginas da edição portuguesa, a sua ficha técnica e respetiva sinopse da editora.


O Último Homem, de Jérôme Félix e Paul Gastine


«Um western crepuscular e magistral do tempo dos últimos cowboys.»

A era dos cowboys está a chegar ao fim. 

Em breve, serão os comboios a condu­zir as vacas aos matadouros de Chicago. 

Acompanhado de Bennett, um jovem de 20 anos com limitações intelectuais, Rus­sell, decidiu arrumar as esporas e iniciar uma nova vida como rancheiro no Mon­tana. 

A caminho, fazem uma paragem em Sundance. 

De manhã cedo, Bennett é en­contrado morto. 

O mayor prefere pensar em acidente, para não ter de se confrontar com a eventualidade de haver um assas­sino entre os seus concidadãos, e expulsa Russell da povoação. 

Mas o velho cowboy regressa à frente de um bando de margi­nais para exigir a verdade sobre a morte de Bennett…


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Ficha técnica
O Último Homem
Autores: Jérôme Félix e Paul Gastine
Editora: Gradiva
Páginas: 74, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 16,50€

quinta-feira, 25 de março de 2021

Vencedor do passatempo "O Penteador"



Já temos o vencedor para o passatempo/giveaway do Vinheta 2020 que tinha o livro O Penteador, de Paulo J. Mendes, da editora Escorpião Azul, para oferecer!


Desta vez, ultrapassámos as 100 participações, feitas através do facebook e do instagram!


Foi feito um sorteio através de um site para o efeito (Sorteador.com.br) que, aleatoriamente, escolheu o seguinte participante:




Duarte Guerreiro




Muitos parabéns! Este álbum já é teu!


Quanto a todos os que desta vez não ganharam, resta-me agradecer pelas participações.


Se concorreste e não ganhaste desta vez, não desanimes porque o Vinheta 2020 terá muitos mais passatempos nos próximos tempos.


Só tens que ir passando no blog e acompanhando as redes sociais do mesmo, para saberes que prémios haverão para oferecer aos leitores deste espaço.


Até já!



Lançamento: O Burlão nas Índias está a chegar!!!




Está para chegar aquele que, a meu ver, será um dos grandes lançamentos de BD em Portugal, durante o ano de 2021: O Burlão nas Índias, da autoria de Juanjo Guarnido (Blacksad) e de Alain Ayroles (De Cape et de Crocs).

Devo dizer que fui acompanhando a feitura deste trabalho nas redes sociais de Juanjo Guarnido e a arte é qualquer coisa de espantoso. Com uma qualidade de ilustração semelhante àquela que é uma das minhas séries preferidas de sempre: Blacksad. Também estive várias vezes a "namorar" a versão original em francês que saiu em 2019. Felizmente, ainda bem que me contive e agora poderei apreciar esta obra em português.

Como se isto não fosse já uma notícia de ouro para os adeptos de bd, a Ala dos Livros volta a surpreender com o lançamento de uma edição especial! Haverá uma edição limitada a 100 exemplares, numerada, com selo branco, e embalada em moldura com tela.

Este é um sério candidato a livro do ano. 

Abaixo, fiquem com a sinopse da obra e com as imagens promocionais.

O Burlão nas Índias, de Juanjo Guarnido e Alain Ayroles

El Buscón, a novela picaresca escrita por Francisco de Quevedo, é uma das mais importantes obras da literatura espanhola de todos os tempos. No último parágrafo desta obra, Pablos, um burlão, relata que no final da vida viajou até às Índias em busca de fortuna. Prometeu detalhar os pormenores dessa viagem numa segunda parte, a qual Quevedo nunca escreveu.

Pegando na história no ponto em que Quevedo a interrompeu, é essa “segunda parte da História da vida do aventureiro de nome Don Pablo de Segóvia, vagabundo exemplar e espelho dos trapaceiros” que o desenhador espanhol Guarnido (Blacksad) e o argumentista francês Alain Ayroles (Garulfo, De Cape et de Crocs) nos propõem em O Burlão nas Índias, uma banda desenhada magistral de 160 páginas que é, também ela, uma importante obra literária.

O Burlão nas Índias narra-nos as aventuras de Dom Pablos de Segóvia, um bandalho pouco recomendável, mas extremamente simpático e convincente, que na Espanha do Século de Ouro se aventura nessa América a que então chamavam Índias. Sucessivamente miserável e riquíssimo, adorado e escarnecido, as suas peripécias conduziram-no dos meios pobres aos palácios, dos picos da Cordilheira aos meandros do Amazonas, até esse local mítico onde se cristalizam todos os sonhos do Novo Mundo: o Eldorado!

Inicialmente publicada em França em 2019, esta obra obteve os seguintes prémios:

«Prix des Libraires de BD », « Prix Landerneau», «Prix RTL de la BD», «Prix BD Le Parisien», «Prix BDGest du meilleur récit court Europe» e o «Prix Hors les murs».

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Ficha técnica
O Burlão nas Índias
Autores: Juanjo Guarnido e de Alain Ayroles
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 160, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 33,00€
PVP do Pack Especial - Edição limitada a 100 exemplares, numerada, com selo branco, embalada em moldura com tela: 45€

quarta-feira, 24 de março de 2021

Análise: Les Vieux Fourneaux #4 - La Magicienne

Les Vieux Fourneaux #4 - La Magicienne, de Lupano e Cauuet - Dargaud


Les Vieux Fourneaux #4 - La Magicienne, de Lupano e Cauuet - Dargaud
Les Vieux Fourneaux #4 - La Magicienne, de Lupano e Cauuet

Les Vieux Fourneaux é uma série de banda desenhada franco-belga que tem tido bastante sucesso na Europa, contando já com 6 volumes e uma adaptação cinematográfica, realizada por Christophe Duthuron em 2018. Esta série, da autoria dos autores franceses Wilfrid Lupano e Paul Cauuet, conta-nos a história de três septuagenários, Antoine, Emile e Pierrot, que são amigos desde a mais tenra infância. Todos eles seguiram entretanto o seu caminho, fazendo as suas próprias escolhas que, naturalmente, os fizeram adquirir pontos de vista e perspetivas diferentes sobre, e perante, a vida. Ainda assim, a amizade dos três permanece sólida. Afinal de contas, as verdadeiras amizades que fazemos na vida são assim mesmo, certo? Verdadeiros amigos até podem ter partidos políticos, percursos profissionais, clubes de futebol, religiões, gostos musicais... opostos entre si. Mas mantêm-se amigos para sempre. Esta série pega nesta premissa, juntando-lhe uma interessante quantidade dos temas mais marcantes na esfera social, política e cultural dos anos recentes e a forma como os idosos lidam – ou têm que lidar – com tudo isso.

Les Vieux Fourneaux #4 - La Magicienne, de Lupano e Cauuet - Dargaud
Neste quarto tomo, intitulado La Magicienne, Antoine, juntamente com a sua neta, Sophie, e a sua bisneta, Juliette, regressam à sua vila e encontram-na em verdadeira ebulição entusiástica, devido a uma plena expansão económica que se prepara para poisar sobre a localidade. Assim, o projeto de expansão da empresa Garan-Servier, que construirá enormes instalações na região, promete trazer muita prosperidade económica à localidade, contribuindo para a criação de muitos postos de trabalho.

No entanto, não há bela sem senão, e começam a surgir vozes contra a construção destas grandes instalações pois, acredita-se, trazem um forte e negativo impacto ambiental. Em especial porque este empreendimento poderá colocar em causa o habitat natural da espécie de insecto “magicienne dentelée”, também conhecida como “saga pedo”. Este confronto de interesses colocará a localidade em alvoroço, levando as personagens a extremar as suas posições, quer pela fação pró-económica, quer pela fação pró-ecológica.

Mas o argumento não se fica por aí pois há muitas camadas narrativas nesta obra. Sophie acaba por descobrir uma verdade sensível acerca do seu avô, Antoine, enquanto que parece começar a nutrir uma paixão inebriante pelo ecologista Vasco.

Les Vieux Fourneaux #4 - La Magicienne, de Lupano e Cauuet - Dargaud
Na verdade, este tomo até se foca mais em Sophie do que no seu idoso avô e nos seus dois amigos. E embora seja uma série de comédia, e que seja levada com ligeireza por parte do argumentista Lupano, acaba por conseguir chegar a níveis mais profundos, nomeadamente em termos afetivos, enquanto trata, também, das questões mundanas que, neste tomo, dizem respeito à dicotomia responsabilidade ecológica versus desenvolvimento económico.

O humor nas falas e nos comportamentos extremados das personagens é também uma força da série pois, mesmo quando os assuntos retratados são sérios, a abordagem é light e divertida. Destaque para a forma como as fantasias de Sophie, relativamente a Vasco, são imaginadas e retratadas pelos autores. De forma verdadeiramente genial e que constitui uma cereja em cima do bolo.

Muito bem doseada em todas as vertentes, Les Vieux Fourneaux assume-se como uma leitura leve, que aproxima as personagens do leitor que, sem grande esforço, cria relações afetuosas com as mesmas. Embora não tenha aquela dose nostálgica que nos enche o coração da série Verões Felizes, publicada em Portugal pela Arte de Autor, remeteu-me várias vezes para essa série. Aqui, também temos personagens ternas e bem humoradas numa história simples mas que consegue levantar questões pertinentes enquanto se aloja na nossa mente. No final da leitura, criámos uma relação com estas personagens e nem demos por isso.

Les Vieux Fourneaux #4 - La Magicienne, de Lupano e Cauuet - Dargaud
E mesmo na questão gráfica, também é uma série de estilo claramente franco-belga, muito bem desenhada e cativante, naquele estilo da escola Spirou, em que autores como o Jordi Lafebre, da série já mencionada Verões Felizes; Andre Franquin (de Gaston Lagaffe, Spirou ou Marsupilami) ou mesmo, Régis Loisel (de Armazém Central, de Peter Pan ou Em Busca do Pássaro do Tempo) são autores que me vieram à memória. O próprio Loisel até é publicamente considerado por Cauuet, o autor deste Les Vieux Fourneaux, como a sua mais importante influência da banda desenhada, juntamente com Hermann.

Mas, influências à parte, importa dizer que este é um álbum muito bem conseguido em termos de arte visual, com as personagens a transmitirem as sensações de forma graciosa e cenários brilhantemente desenhados. As cores, asseguradas por Gom, também oferecem à obra o ambiente e cor adequados para que seja um álbum bonito de observar.

A edição original desta obra é da editora Daugaud, com capa dura e em bom papel. Embora o design de capa me pareça, possivelmente, a maior fraqueza desta obra. A meu ver, é tudo menos apelativo. O verdadeiro apelo gráfico só existe quando se abre o livro e se encontra um excelente trabalho de ilustração do autor Cauuet. 

Os vários níveis de leitura são uma constante na obra, o que permitirá, estou certo, chegar a vários públicos. Quer seja com a postura dos três idosos que se comportam como crianças, quer seja na vertente mais emocional e familiar de Sophie, quer seja na análise dos temas da atualidade por parte de três idosos que opinam sem escrúpulos perante qualquer coisa, esta é uma série com grande potencial e que eu gostaria de ver publicada em Portugal. Possivelmente, encaixaria que nem uma luva no catálogo da editora Arte de Autor, que já tem as (relativamente) semelhantes Armazém Central ou Verões Felizes, ou no catálogo de qualquer outra editora (estou a pensar numa A Seita, numa Ala dos Livros, numa Gradiva ou numa ASA, por exemplo) que, apostando nesta Les Vieux Fourneaux, estaria a abordar aquele género de bd familiar e leve que, parece, tem ainda muito espaço para crescer nas estantes dos leitores de banda desenhada portugueses. Recomenda-se!


NOTA FINAL (1/10):
8.9



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Les Vieux Fourneaux #4 - La Magicienne, de Lupano e Cauuet - Dargaud

Ficha técnica
Les Vieux Fourneaux #4 - La Magicienne
Autores: Wilfrid Lupano e Paul Cauuet
Editora: Dargaud
Páginas: 54, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2017

A Ala dos Livros lança prémio de banda desenhada


Prémio de Argumento para Banda Desenhada Jorge Magalhães

Esta é uma excelente notícia para a banda desenhada em Portugal!

A Ala dos Livros acaba de publicar o regulamento para o Prémio de Argumento para Banda Desenhada Jorge Magalhães, que procurará reconhecer e destacar os melhores argumentos da banda desenhada portuguesa, numa base anual. A primeira edição arrancará em 2021.

Como o próprio nome sugere, este prémio homenageia uma figura incontornável da banda desenhada em Portugal, nos mais variantes vetores, que foi o próprio Jorge Magalhães, avô dos proprietários da Ala dos Livros.

Esta é sem dúvida uma excelente notícia para a banda desenhada nacional e julgo ser muito justo que se dê destaque ao argumento. Por muito relevantes que sejam os desenhadores para qualquer banda desenhada, igualmente relevantes (e, por vezes, mais) são os argumentistas. E muitas são as ocasiões onde crítica e leitores parecem concentrar-se mais no papel dos desenhadores do que no dos argumentistas. Deixo, portanto, os meus votos de sucesso à editora e à sua feliz iniciativa!

O regulamento para este prémio que pode ser consultado aqui.

terça-feira, 23 de março de 2021

Análise: O Homem Polvo

O Homem Polvo, de Véte


O Homem Polvo, de Véte
O Homem Polvo, de Véte

Desde a idade de ouro dos comics, que a proliferação de super-heróis tem existido na cultura popular. É, aliás, algo que cedo saiu das páginas aos “quadradinhos” e invadiu todo e qualquer meio – televisão, cinema, brinquedos, todo o tipo de merchandising, etc – marcando, para sempre, a cultura popular. E claro que, ao longo dos anos, assistiu-se ao aparecimento de milhentos super-herós. Homens, mulheres, magros, gordos, bonitos, feios, bons, maus. Tudo e mais alguma coisa. E, em muitos casos, tal como um Batman ou um Homem-Aranha, os super-herós que foram sendo criados tinham uma relação com qualquer animal. O que ajudaria, logo à partida, que pudéssemos pré-formar um conceito mental sobre as capacidades desse super-herói só de ouvirmos o seu nome.

O prolífico português Véte (autor de Haverá um Amanhã?! ou de O Amor é Apenas uma Palavra, por exemplo) decidiu, há uns anos, criar a sua própria versão de super-herói e chamar-lhe “Homem-Polvo”. E, para tal, criou uma personagem que, embora tente proteger os fracos dos opressores, é, em tudo, muito falível e errático na forma como atua. Ainda que seja movido pelas melhores intenções possíveis. No entanto, recorre à violência gratuita, tem um método de improviso para resolver as situações com que se depara e é extremamente cínico (embora hilariante) nos comentários que vai tecendo ao longo das suas aventuras.

O Homem Polvo, de Véte
Este é um pequeníssimo livro de 20 páginas, numa edição ashcan que reúne três histórias. As duas primeiras até foram originalmente lançadas para o mercado espanhol, no webzine Antimateria (daí o título El Hombre Pulpo #1). A terceira história, por sua vez, é inédita. Este é um livro onde Véte parece estar, uma vez mais, – ou não estará sempre a tentar isto, tal como os bons artistas, verdadeiramente independentes? - a fazer um projeto mais para si do que para os outros. E este O Homem Polvo parece funcionar como um honesto e singelo exercício de banda desenhada. Como que uma tentativa de incursão criativa, como uma delineação de uma nova abordagem de banda desenhada, por parte do autor. Ou, simplesmente, como uma tentativa de (des)construção de um super-herói.

Quanto a mim, devo dizer que este Homem-Polvo me agradou bastante e que é uma personagem divertida. Lembrou-me outras personagens famosas, pelas melhores razões. Quando o Homem Polvo combate os vilões, vai dizendo comentários provocativos tal como um Homem-Aranha. Mas quando utiliza qualquer coisa que esteja à mão, por mais pouco ortodoxa que seja, como é o caso de um dildo (!) na terceira história, este Homem Polvo lembrou-me um Jack Sparrow dos filmes da Disney, Os Piratas das Caraíbas. E, claro, quando utiliza violência de um modo bastante agressivo, enquanto faz reflexões hilariantes, fui remetido para Deadpool. Não esquecendo que aquela chamada à realidade – tão portuguesa, diria – quando, por exemplo, a meio de uma batalha contra o crime, o Homem Polvo atende o telefone e ouve cuidadosamente a sua mulher a pedir-lhe que traga algo do supermercado, me lembrou do super-herói português O Corvo, da autoria de Luís Louro.

O Homem Polvo, de Véte
Mas apontar todos estes super-heróis para onde fui remetido enquanto lia O Homem Polvo não é, de forma alguma, dizer que esta personagem de Véte não tem o seu próprio carisma e personalidade. Pelo contrário! Simplesmente parece-me que, de uma forma involuntária (ou não), o autor foi beber a excelentes exemplos de character building. E isso, em conclusão, só atesta que este super-herói poderia (deveria?) receber mais atenção por parte do autor. Provavelmente isso não acontecerá, pois trata-se de uma série descontinuada – ou não fosse esta uma versão ashcan que, no jargão dos comics, pressupõe o fecho de uma série e/ou um novo experimento, estilo “episódio piloto”, para uma série de BD.

Seja como for, sublinho que me diverti a ler estas breves páginas. As três aventuras utilizam uma meta-comunicação para desconstruir (com humor) alguns dos chavões e lugares comuns do universo dos super-heróis na banda desenhada. A primeira e a terceira histórias são aquelas que melhor funcionam, com o autor a assumir aquela consciência de si mesmo, enquanto leitor de banda desenhada. É preciso ser-se um fã de banda desenhada para se perceber todas as pequenas piadas e referências que Véte utiliza num livro de tão poucas páginas. E, nesse sentido, este O Homem Polvo acaba por ser, ele mesmo, uma homenagem ao universo dos super-heróis.

A arte de Véte continua no seu estilo próprio, com um traço algo infantil, que neste livro também recebe uma vertente mais caricatural, com algumas personagens – especialmente as da terceira história – que me parecem ter saído de uma série de desenhos animados da empresa Nickelodeon.

Enquanto lançamento profissional, sabe a pouco, parece tímidamente explorado e não se leva muito a sério. Mas enquanto lançamento de autor... é uma delícia. Quem cresceu a ler comics americanos encontrará, certamente, muita satisfação nestas breves e divertidas páginas. É saboroso. Só é pena... que termine rápido. Gostaria de ler mais aventuras d' O Homem Polvo.


NOTA FINAL (1/10):
6.6



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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O Homem Polvo, de Véte

Ficha técnica
O Homem Polvo
Autor: Véte
Editora: Independente (Edição de Autor)
Páginas: 20, a cores
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Maio de 2019