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quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Mais de 20 livros de BD para os mais jovens!

 


Não, de facto, as bandas desenhadas que coloco acima, na imagem, não são forçosamente para crianças. Muitas delas - como Diário de Um Ingénuo, por exemplo - até podem apontar para um público mais maduro.

Não obstante, considero pertinente fazer um apanhado de alguma da banda desenhada que li nos últimos dois anos e que, quanto a mim, pode ser uma boa porta de entrada na banda desenhada, por parte dos mais novos. Quando digo "mais novos" não me refiro apenas a crianças abaixo dos dez anos de idade. Refiro-me, também, a jovens com idades entre os 11 e os 17 anos.

É sabido que o público infanto-juvenil parece estar algo desligado da banda desenhada. Pelo menos, se compararmos o grau de ligação que havia há algumas décadas, quando a BD era escape e entretenimento para tantas crianças e jovens. Como eu, por exemplo.

Hoje, esses leitores que cresceram nos anos 70, 80 e 90 terão os seus 30, 40, 50, 60 anos e muitos continuam a ser adeptos do género, alimentando o mercado nacional. Porém - e isto é algo que me preocupa - as gerações mais novas parecem ocupar mais o seu tempo com outras atividades que não a banda desenhada, como a televisão, o cinema, os videojogos, os telemóveis, os tablets, as redes sociais e um sem número de outras coisas. Se há algum mal nisso? Nem por sombras! Longe de mim estar aqui a pregar sobre como hão-de os jovens ocupar o seu tempo. Não obstante, e porque sou um apaixonado e militante da banda desenhada enquanto arte, preocupa-me que a BD possa vir a perder cada vez mais relevância nas próximas décadas.

Portanto, acho que cabe às escolas e, principalmente, às famílias a promoção do género junto dos mais novos. E quando falo em escolas, até não me estou a referir concretamente ao contexto do programa educativo - se bem que também seria de louvar que algo fosse feito nesse cômputo. Se houver abertura das escolas em receber, por exemplo, ações de promoção por parte das editoras/autores ou, pelo menos, se se organizarem visitas de estudo a locais como os vários festivais de banda desenhada e eventos congéneres que se realizam por cá, isso já será muito positivo. 

Voltando a essas ações de promoção, posso dizer-vos que acredito (mesmo) que isto poderia ter um papel importante na promoção da BD junto das crianças. 

Dou-vos até um exemplo concreto e pessoal que, não sendo propriamente sobre a implantação de hábitos de leitura na minha pessoa, foi, ainda assim, um bom exemplo da implantação de hábitos de consumo na minha vida. 

Sou o filho mais novo de quatro irmãos. E os meus três irmãos nunca foram muito adeptos de comer cereais ao pequeno almoço. Comiam outro tipo de alimentos e, portanto, os meus pais não compravam cereais. E, portanto, foi só quando a Nestlé fez ações promocionais na minha escola primária - promovendo, ainda me lembro, os cereais Nesquick Cereais e Trio da Nestlé - e oferecendo, a todas as crianças, uma pequena amostra do produto que tive contacto com o produto. Depois de o levar para casa e provar, passei a ser consumidor para o resto da vida. Estão a ver? Se não fosse aquele primeiro contacto com um potencial público-alvo, eu não teria tomado contacto com o produto e não teria alterado os meus hábitos de consumo.

"E que tem isto que ver com banda desenhada", perguntam vocês? Bem, mesmo admitindo que mudar o consumo de cultura não será algo tão fácil como levar ao consumo de um produto que, ainda por cima, está carregado de açúcar, a verdade é que a banda desenhada é constituída por desenhos e desenhos são, por regra, apelativos para as crianças. Para mim, o problema não é que a BD não seja apelativa para os jovens. O problema é que não chegam até eles. E o preço, vá, mas isso é um outro assunto. Se os jovens não se interessam por BD é (também) porque a mesma não está a chegar verdadeiramente até junto das crianças. Ou, pelo menos, porque todas as outras coisas que roubam o interesse das crianças se estão a colocar no caminho entre elas e a BD.

Portanto, sim, acredito mesmo que é necessário uma intervenção ao nível das escolas para atrair crianças para a banda desenhada.

Mas, claro, para além disso, há algo que todos nós, individualmente podemos fazer e que poderá ter igual força junto dos mais novos: oferecer-lhes BD. Com o Natal à porta, diria que é a ocasião perfeita! Em vez de mais um carro telecomandado, uma boneca que diz olá em 3 línguas, mais um Lego ou mais um Playmobil, que tal oferecermos livros de banda desenhada?

Há para todos os gostos, se soubermos procurar. E como me parece que os diferentes meios de comunicação que falam de banda desenhada em Portugal (refiro-me a blogs, a vlogs, a páginas de instagram, etc) parecem não dar muita atenção à banda desenhada para um público mais jovem, decidi criar este artigo especial onde selecciono alguns títulos que me parecem uma boa forma de introduzir os mais novos à BD.

Bem sei que podia ser taxativo e dizer simplesmente: ofereçam os clássicos Astérix, Lucky Luke, Tintin e Spirou aos mais novos e o trabalho fica feito. E, lá está, não ficaria mal feito, diga-se.

Porém, e não descurando minimamente a enorme qualidade dos exemplos que referi acima, acho que talvez haja outros caminhos e propostas mais recentes que, devido à sua contemporaneidade, possam ser do agrado dos mais novos.

Por isso, aqui vamos nós.


Começando pelos mais novos, recentemente tomei conhecimento da nova série Flora e Bambu que, tendo já dois livros lançados em Portugal pela editora Lilliput, tem a interessante premissa de ser uma obra destinada às crianças a partir dos 4 anos. Tendo em conta que com essa idade as crianças não sabem, por regra, ler, achei curiosa a aposta, que procura que os pais tomem ação na leitura de BD com os filhos. É algo normalmente feito com os livros ilustrados mas, em termos de BD, não é assim tão frequente. Vale a pena conhecer.

Também a série Raposa e Coelho, com dois álbuns já editados por cá pela Booksmile, é destinada aos mais novos. Mas, neste caso, estamos perante um livro destinado às crianças que já conseguem ler autonomamente, isto é, com mais de 7 anos. Uma série ingénua e harmoniosa que também vale a pena conhecer.


A série Os Cinco, de Enid Blyton, que adapta para banda desenhada as aventuras dos famosos cinco amigos, também pode ser uma boa opção para as crianças que começaram a ler há pouco tempo. Em Portugal, já há 6 volumes publicados pela Oficina do Livro.

A série O Bando das Cavernas, de Nuno Caravela, que já tinha muito sucesso enquanto livro de histórias para crianças, recebeu recentemente a sua primeira adaptação ao género da banda desenhada. Chama-se O Bando das Cavernas Novela Gráfica 1: A Incrível Tribo B.D e é um livro divertidíssimo da Booksmile, para uma criança com bom sentido de humor.

Não sendo, propriamente, "banda desenhada" no seu sentido mais clássico mas apelando, na minha opinião, ao mesmo tipo de leitor adolescente, temos o célebre Diário de Um Banana, da Booksmile, ou os dois novos livros, publicados pela Nuvem de Tinta, do já muito famoso Khaby Lame. Um deles, O Diário de Khaby, apresenta texto em prosa com algumas ilustrações e diálogos ilustrados com falas em balões, bem ao jeito dos já mencionados Diários de Um Banana. O outro, Khaby Lame - Super Easy, está mais perto daquilo a que, em termos de planificação, poderemos considerar como banda desenhada mais "clássica".


De igual forma, não sendo um livro de banda desenhada, mas tendo ilustrações maravilhosas por um dos autores de banda desenhada mais acarinhados em Portugal, destaca-se Amani, de Miguelanxo Prado, publicado pela Ala dos Livros. É um belo livro ilustrado que, acredito, pode muito bem servir como ignição para um interesse na obra do autor e consequente aproximação à banda desenhada.

Como clássicos da banda desenhada, destaco recentes álbuns de Astérix ou de Lucky Luke. Bem sei que, em ambos os casos, existem propostas clássicas mais bem conseguidas do que os lançamentos mais recentes. Contudo, e porque também estas são opções que valem a pena conhecer, recomendo o mais recente Astérix e o Grifo ou o penúltimo Lucky Luke, intitulado Um Cowboy no Negócio do Algodão. Ambos os livros são publicados pela ASA. Mickey e a Terra dos Anciões, publicado pela Panini Comics - e, lamentavelmente, com parca distribuição em Portugal, excetuando a loja Casa da BD - também merece ser nomeado, pois é uma excelente sugestão para crianças e jovens.

Em termos de adaptações literárias, destaco O Jardim Secreto da editora Fábula. Ana dos Cabelos Ruivos, da mesma editora, também será uma ótima opção. 

A editora Arte de Autor também tem duas boas propostas para um público mais jovem. Bem, talvez até não sejam primordialmente destinadas a um público mais jovem. Mas são, quanto a mim, livros que podem agradar a um público mais jovial. Falo do magnífico Mausart, cujas ilustrações deverão deixar de boca aberta quer miúdos, quer graúdos. Depois, e dentro de livros mais "sérios", com temáticas mais pesadas, destaco Branco em Redor que, com o seu tema pertinente na atualidade e com um estilo de ilustração bastante moderno, pode ser do agrado de muitos jovens, parece-me.

E já que estamos a falar de banda desenhada com um tema sério mas que também pode (e deve) ser lida por jovens, recomendo vivamente Spirou - Diário de um Ingénuo, pois é um daqueles livros que à semelhança d'O Principezinho, de Saint-Exúpery, é uma daquelas obras fabulosas que consegue falar aos jovens e aos adultos em simultâneo. Por cá este livro foi recentemente publicado pela ASA.



Depois, claro, temos também os mangás que apontarão para um público adolescente, já mais crescido. Diria que, tendo em conta os TOPs de vendas de banda desenhada, é um género que está de boa saúde em termos comerciais e que os jovens (já) apreciam bastante. 

No entanto, não é demais relembrar que o mangá também é uma das formas possíveis para introduzir um jovem à banda desenhada. 

Como tal, e sem me alongar muito, diria que séries como One Piece ou Spy X Family, que a Devir tem vindo a publicar por cá, bem como as novas apostas das editoras A Seita ou Gradiva, com séries como Kyo Kara Zombie, City HallGood Game ou Versus Fighting Story serão boas propostas. Spectrus – Paralisia Do Sono, da Midori Editora, ou The Mighty Gang, da portuguesa Joana Rosa, também serão boas opções dentro do mesmo género.




Concluindo este artigo, deixem-me dizer-vos: não interessa bem com que obras alguém se inicia na leitura de banda desenhada. Interessa é que, de alguma forma, o faça. E estas são apenas algumas propostas, recentes, que me passaram pelas mãos e que provam que, ainda que com alguma timidez, também se edita boa banda desenhada para crianças e jovens em Portugal.

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