Se há coisas que eu gostaria de ver publicadas em Portugal uma delas era a coleção da Disney Glénat, em que autores de renome e com provas dadas na banda desenhada mundial, criam as suas próprias histórias que envolvem as famosas personagens da Disney. Não havendo, porém, publicação da Disney Glénat em Portugal que, pelo que pude constatar, acarretaria um investimento demasiado grande por parte das editoras portuguesas, podemos ler estes fantásticos livros na sua língua original – o francês – ou em português do Brasil.
Estou certo que para alguns puristas do português de Portugal isto será um ultraje para com Camões, mas, sejamos sinceros, também é verdade que muita gente – para não dizer “toda a gente” – se habitou a ler as revistas da Disney em português do Brasil. Ou a Turma da Mônica, vá. Portanto, não será um problema para a grande maioria dos leitores portugueses, espero. Até porque estamos a falar de um tipo de história leve. Não há nada de muito filosófico num livro da Disney, como sabemos. No meu caso, mesmo conseguindo ler em francês, prefiro sempre ler em português. E com a oferta crescente de livros brasileiros por parte da loja Casa da BD, mesmo ao pé da minha casa, torna-se por demais apelativo para mim ler estas edições brasileiras.
Se a edição brasileira será melhor ou pior que a edição francesa já são outros quinhentos que abordarei num destes dias até porque tenho as duas versões e brevemente farei um comparativo entre elas.
Centremo-nos, então, na análise a esta edição brasileira da Panini Comics.
A dupla criativa responsável por este Mickey e A Terra dos Anciões é Denis-Pierre Filippi, no argumento, e Silvio Camboni, no desenho. Dupla esta que é repetente nesta coleção da Disney Glénat, uma vez que já nos deu a obra Mickey e o Oceano Perdido.
A primeira coisa que salta à vista neste livro é, sem dúvida alguma, a maravilhosa componente visual. Os desenhos de Camboni, elegantemente coloridos por Samuel Spano, são de uma beleza ímpar e magnífica que facilmente nos tira o fôlego. As personagens são copiosamente bem retratadas, mas é nos cenários, deslumbrantes, que nos transportam no espaço e no tempo para um local do foro onírico, e nas cenas em que vemos Mickey a voar às costas do seu pássaro em céus de perder de vista, sobrevoando planetas verdejantes que são como que ilhas voadoras – onde possivelmente, o filme Avatar nos virá à memória – que este Mickey e A Terra dos Anciões mais se destaca. É verdadeiramente cativante e é fácil termos o ímpeto de ficar a observar estas sublimes ilustrações durante largos minutos.
Posso dizer que os desenhos são tão belos que mesmo que não houvesse qualquer história, já seria um álbum apetecível. Acho ainda que a grande diferença entre estes álbuns da Disney Glénat e de uma qualquer revista da Disney que selecionemos aleatoriamente é - para além da óbvia utilização do grande formato e dos nomes célebres dos autores - o cuidado especial com a arte visual. Convenhamos que as revistas da Disney sempre foram bem desenhadas. Mas eram-no – e são-no – de uma forma rápida e eficaz, não deixando grande espaço de manobra para desenhos mais detalhados e intrincados. Ora, com os álbuns da Disney Glénat que até agora me passaram pelas mãos, isso não acontece. Os desenhos são belos, detalhados e onde se vê claramente que os autores depositaram um grande cuidado. O crème de la crème da banda desenhada a envolver personagens da Disney, diria.
Falando agora na história deste Mickey e A Terra dos Anciões, temos o argumentista Filippi a convidar-nos a mergulhar num “universo aéreo”, onde a população local reside em pequenas ilhotas que flutuam pelos céus. Neste mundo retirado da cabeça de Filippi, Mickey tem uma importante responsabilidade que é a de manter em segurança as muitas pequenas porções de terra (as tais ilhotas) dos habitantes, face às temíveis tempestades que as colocam em perigo.
Há, também, um conhecido vilão que é o Mancha Negra, que aqui governa enquanto tirano absolutista, controlando este vasto universo com mão de ferro. Mas quando João Bafo de Onça e o seu clã entram em ação, apontando armas aos soldados do Mancha Negra, não fica muito claro para Mickey e para os seus amigos Minnie, Pateta, Horácio e Clarabela, em que fação do combate se hão-de colocar. Depois, claro, há alguns volte-faces que, naturalmente, não revelarei sob pena de arruinar a experiência de leitura àqueles que lêem este texto.
Convém ressalvar que embora pelas minhas palavras possa parecer um ambiente futurista, as imagens que aqui coloco, da edição francesa, não enganam, permitindo-nos perceber que o universo criado pelos autores é mais do foro da fantasia de aventura do que, propriamente, de algo mais futurista ou de ficção científica.
Deixem-me dizer-vos que a história, entretendo bem e tendo alguns bons elementos é, talvez, um pouco linear demais. Bem sei que estamos perante um livro do Mickey, que procura ser acessível para uma criança ou para um adulto, mas, não obstante, acho que o argumento poderia ter dado mais ao leitor. Ou então, claro, as páginas poderiam ser em maior número para que o fim da história não parecesse, de certa forma, algo apressado. No entanto, é uma história que se lê bem e que tem os seus pontos de interesse.
Quanto à edição da Panini Comics, o livro é em capa dura, com papel couché e um bom trabalho de encadernação e impressão. No final, temos um caderno de esboços e estudos, comentado por Camboni, que é muito bem-vindo. É interessante olhar para a edição brasileira e para a edição francesa ao mesmo tempo e, por esse motivo, farei o tal comparativo entre ambas as edições num artigo futuro. Para já, digo apenas que a edição brasileira, sendo inferior em termos qualitativos à edição francesa é, ainda assim, bem conseguida.
Olhando, por fim, não apenas para este excelente Mickey e a Terra dos Anciões mas, também, para toda a série Disney Glénat, acho que podemos dizer que todos nós já gastámos (investimos?) horas da nossa vida nas revistas da Disney, certo? Pois agora imaginem que, de alguma forma, esse universo mágico que nos ficou na retina ao longo de décadas, era recapturado por autores de renome e nos era dado numa bandeja de prata. Ainda vou mais longe! Se formos justos, concordaremos que os nossos gostos, leitores de banda desenhada, também foram sendo refinados à medida que crescemos e que fomos aprofundando o nosso conhecimento em banda desenhada tendo, quiçá, posto de lado as revistas da Disney. Mas a proposta da Disney Glénat parece perceber isso muito bem - e talvez seja esse o grande segredo no sucesso desta coleção – e decide projetar obras de banda desenhada que podem muito bem ser lidas por crianças a partir dos 6 anos, mas que também estão direcionadas ao público que já tem 66 anos (ou mais) e quer, de alguma forma, subtrair um 6 à sua idade e voltar a ser criança. E sim, acima de tudo, o bom da coleção Disney Glénat é que nos permite, a nós adultos, voltarmos a ser crianças através de bandas desenhadas majestosamente bem concebidas. Leiam em francês ou em português do Brasil… mas leiam!
NOTA FINAL (1/10):
8.7
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Mickey e a Terra dos Anciões
Autores: Denis-Pierre Filippi e Silvio Camboni
Editora: Panini Comics
Páginas: 72, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 23.5 x 31.2 cm
Lançamento: 2022
onde consigo comprar?
ResponderEliminarOlá, Luís! Sugiro que tente contactar a Casa da BD, no Lumiar. Foi lá que comprei o meu exemplar.
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