A profícua dupla criativa constituída por Ed Brubaker e Sean Phillips lançou uma nova série recentemente. Por cá a edição portuguesa foi expetavelmente assegurada pela G. Floy Studio que tem sido a editora responsável pelo lançamento da obra dos dois autores como Criminal, The Fade Out, Fatale, entre outras obras one shot.
E não é preciso ler sequer essas obras todas – embora eu o tenha feito – para perceber uma coisa simples: é que Ed Brubaker é um escritor exímio nas palavras, na narração e no universo negro, descontente, e violento que criou. Bem sei que o argumentista tem pontuado as suas séries de nuances narrativas que as diferenciam entre si, mas o que é certo é que me parece "mais do mesmo". E quando digo “mais do mesmo” não é no sentido pejorativo, mas no sentido mais positivo possível, ok?
Quando um artista nos dá algo que é tão bom, então parece que queremos mais desse produto, não é? É o que se passa com Brubaker. Se alguns o poderão acusar de ser algo repetitivo nos temas ou de inovar pouco em termos de linha de história, haverá outros – como eu – que enaltecem o céu e a terra por termos a sorte de poder navegar em tão violentas personagens, com passados tão pesados.
E toda esta introdução para vos dizer que, sim, Reckless é “mais do mesmo”. E que bom isso é! Tal como em Criminal, temos aqui um conjunto de personagens com um passado retorcido, com milhentas experiências demarcadamente negativas, que nos agarram da primeira à última página. Ou não fosse Ed Brubaker o mestre incontestado do policial.
A história passa-se em Los Angeles e traz-nos Ethan Reckless, cuja semelhança física com Robert Redford é impossível não notar, e que é alguém cuja profissão é resolver aquele tipo de problemas que interessam ser tratados sem envolver a polícia. Pode ser a cobrança de uma dívida, uma investigação privada ou ter que lidar com individualidades do subcrime. Mas Ethan Reckless estará sempre disponível para tal.
Mas, como seria expetável, Ethan também tem um passado. Nos anos 60 envolvia-se com um grupo de radicais. Apaixonou-se por uma mulher desse grupo mas, devido a ter uma vida dupla e ser um colaborador do FBI, acabou por se ter que afastar do seu grupo de hippies e da mulher que amou.
Entretanto, estamos nos anos 80, Ethan continua a empreender os seus serviços e, num belo dia, dá de caras com a sua antiga paixão que agora o contacta por precisar dos seus serviços. Depois disto, tudo se complica, tudo se embrulha com Ethan a ter que enfrentar um vilão cheio de carisma, que me agradou bastante. Mais não digo.
Estamos perante uma boa história, ao jeito das outras obras da dupla criativa, que nos sabe dar alguns bons momentos.
Não consegue igualar Criminal na força narrativa mas é uma bela história, que vai beber bastante às novelas pulp dos anos sessenta e que supera as igualmente boas propostas Pulp ou Os Meus Heróis Foram Sempre Drogados, da mesma dupla.
Em termos visuais, temos Sean Phillips, em boa forma, a ilustrar à maneira que já nos habituou. Não são desenhos que eu ache estrondosamente belos, mas não há dúvidas de que funcionam bem e que fazem um bom "casamento" com os argumentos de Brubaker.
As cores, que aqui nos são dadas pelo filho de Phillips, Jacob Phillips, permitem que amiúde a história seja mais luminosa e colorida, o que nos proporciona algumas ilustrações bem belas, com que perdemos mais tempo na observação. É claro que a negritude visual também tem aqui lugar, ou não fosse esta uma história de Brubaker e Phillips.
Ainda em termos de desenho, devo dizer que a parecença com o ator Robert Redford foi bem-vinda mas, ao mesmo tempo, como é uma parecença demasiado igual, fez com que eu não me tivesse conseguido abstrair disso mesmo. Visualmente fica bem conseguido, sim, mas não sei se as parecenças não deveriam ser mais suaves.
Quanto à edição da G. Floy Studio, temos mais um bom trabalho da editora. Capa dura, bom papel brilhante, boa impressão e boa encadernação. No final, há algumas páginas de extras, onde temos um posfácio da autoria de Brubaker e o processo de criação de Phillips, quer de uma prancha, quer da própria capa do livro que, já agora, me pareceu muito bem conseguida ao remeter-me para os filmes de ação dos anos 70.
Em suma, Reckless dá-nos tudo aquilo que poderíamos esperar numa obra da dupla Brubaker/Phillips: um bom protagonista amargurado, um maquiavélico e emblemático vilão e, sobretudo, uma história negra, pesada e violenta. Enfim… tudo aquilo que queríamos. Recomenda-se, pois está claro!
NOTA FINAL (1/10):
9.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
-/-
Reckless
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 144, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 18 x 27,5 cm
Lançamento: Julho de 2022
Sem comentários:
Enviar um comentário