Depois dos álbuns dedicados a Fernão de Magalhães, a Tenzing e ao díptico dedicado às descobertas de Charles Darwin, a Gradiva voltou a lançar mais um álbum da sua coleção Descobridores. Bem, na verdade, foram dois álbuns, uma vez que este Marco Polo foi lançado em dois volumes.
Os autores Christian Clot e Fabio Bono são, tal como em Darwin, os autores responsáveis, embora se tenham juntado a estes Eric Adam e Didier Convard no texto e argumento da obra. Devo dizer que esta coleção me tem agradado bastante. Sendo bandas desenhadas de cariz didático, em que o objetivo primordial passa, portanto, por educar e por aumentar os conhecimentos dos leitores, são obras que têm uma qualidade bastante aceitável. Olhando, por exemplo, para a coleção também didática da Levoir, Clássicos da Literatura em BD, pode-se dizer que quer, esta coleção Descobridores, bem como a Sabedoria dos Mitos ou Eles Fizeram História, está francamente melhor. Pelo menos, em termos globais.
Ora, como não seria de estranhar, este Marco Polo relata-nos as aventuras do célebre Marco Polo, aquele que é comummente apelidado como o “primeiro viajante do mundo”. Não o terá sido – e as notas do dossier histórico, no final do livro, dão conta disso mesmo – mas foi, certamente, um dos viajantes que se tornou mais célebre no mundo inteiro. Sobretudo porque documentou as suas viagens. Coisa que não era feito no seu tempo, no século XIII.
De origem veneziana, Marco Polo viajou de Itália para a China em variadíssimos meios de transporte, terrestres e marítimos, numa viagem plena de aventuras e que demorou quase 25 anos. Uma vida, portanto! Numa altura em que em poucas horas podemos dar uma volta ao mundo, não deixa de ser curioso ler que uma viagem desta envergadura demorava, basicamente, o tempo de uma vida a ser feita. E acho que essa também é a magia que o nome de Marco Polo suscita em nós e que os autores sabem resgatar nesta adaptação bem sucedida para banda desenhada.
Diria que o nível de informação está bastante bem dado na obra. É certo que, por vezes, senti algum excesso de texto, especialmente no segundo volume, mas, do ponto de vista global, pareceu-me que havia um bom equilíbrio entre texto e ausência do mesmo, de forma a que o livro não se tornasse maçudo para ler.
Por esse motivo, Marco Polo é uma obra que se lê bem, que relata um bom número de peripécias que, alegadamente, Marco Polo experienciou e que, no final, ainda tem o condão de nos deixar com uma boa síntese acerca da vida deste célebre viajante. Estão a ver aquela aula de história que era excelente pois retratava um período de verdadeira aventura empolgante enquanto, ao mesmo tempo, nos cultivava o conhecimento? Este Marco Polo procura ter essa missão e é eficientemente bem-sucedido. Pode ser um álbum que não é um portento da banda desenhada, ou que não é uma obra de arte suprema, mas é, sem dúvida, um livro que acaba por ser eficiente em todas as suas matrizes.
Nesse sentido, também em termos de ilustração, que é da autoria de Fabio Bono, esta é uma obra que é bastante eficiente. O traço realista do autor não terá uma técnica ou um nível de detalhe majestoso, mas tem, ainda assim, o poder de bem desenhar tudo aquilo que é suposto passar para o leitor. O destaque positivo tem que ser dado a algumas paisagens que muito embelezam o álbum e que me fizeram pensar que se o autor se tivesse aplicado em todas as outras ilustrações como se aplicou nestas boas vinhetas, então estaríamos perante um álbum ainda mais inolvidável. Não obstante, acho que é justo dizer que o desenho e as cores são bem feitos e cumprem bem a sua função.
E convenhamos que, sendo a viagem de Marco Polo tão recheada de momentos diferentes, como a travessia de desertos inóspitos, a luta contra tribos locais, os romances do protagonista, as viagens (e batalhas) marítimas, a presença na corte do Khan, entre outros momentos de relevo, pode-se dizer que o autor foi feliz a retratar bem toda esta diversidade de momentos.
Quanto à edição, esta não foge àquilo a que a Gradiva nos tem habituado nas suas coleções de banda desenhada franco-belga. Temos capa dura brilhante, bom papel, com uma boa dose de brilho, e boa impressão e encadernação. Cada um dos livros é guarnecido com um dossier de extras onde a figura de Marco Polo, o seu contexto histórico e as suas viagens são esmiuçados. Uma nota positiva para o facto de entre o lançamento do primeiro e do segundo tomo, só se ter passado um mês. Isto incrementa, indubitavelmente, a relação de confiança entre o leitor e a editora, fazendo com que o mesmo não tenha que esperar muito para poder concluir a leitura da obra. Muito bem feito, Gradiva!
Em suma, Marco Polo é uma boa adição à banda desenhada de cariz didático que, em Portugal, tem vindo a crescer nos últimos tempos. Ensinando e elucidando sobre quem foi Marco Polo, a obra acaba por encontrar um bom equilíbrio entre o romance e os factos históricos, sabendo dosear a informação, de modo a proporcionar ao leitor um bom momento de aventura. Como já disse, é aprender – ou relembrar conhecimentos adquiridos outrora - de forma lúdica. Gostei.
NOTA FINAL (1/10):
8.2
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Marco Polo #1 - O Rapaz que Realiza os seus Sonhos
Autores: Christian Clot e Fabio Bono
Editora: Gradiva
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 23,50 x 31,20
Lançamento: Junho de 2022
Autores: Christian Clot e Fabio Bono
Editora: Gradiva
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 23,50 x 31,20
Lançamento: Julho de 2022
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