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terça-feira, 30 de abril de 2024

Um Olhar sobre o Coimbra BD 2024



Este ano tive a oportunidade de ir ao Coimbra BD 2024. No ano passado, não tive a hipótese de o fazer e, portanto, estava muito curioso com uma coisa: o novo espaço. Do qual já tinha ouvido muitos elogios.

Desde a última edição, que o evento passou da Casa Municipal da Cultura para o Convento São Francisco. E, meus caros, e sem desprimor para a Casa Municipal da Cultura - ou para a FIAT -, pode-se dizer que o evento trocou um Fiat Uno por um BMW M3! Digo isto porque o novo espaço é tudo aquilo com que um evento deste tipo pode desejar: tem boa localização, tem parque de estacionamento gratuito, tem instalações modernas e equipadas, é arejado, é espaçoso, é moderno. Até há um restaurante/café dentro do próprio edifício.
Enfim, nada falta a este espaço. 

Posso dizer que gostei muito da forma como a área comercial está organizada. Num espaço amplo e comprido, encontramos livros de todas as editoras nacionais e ainda a zona denominada Artists' Alley. É simples o conceito deste espaço comercial, mas funciona muito bem. E acaba por ser aqui que se concentra o maior número de pessoas. O ponto de encontro do Coimbra BD.



Depois, se contei bem, há três auditórios onde decorrem apresentações e workshops. Um no primeiro piso e dois no segundo piso. Quanto a mim, parece-me que não são necessários tantos auditórios. Porque não existe tanta coisa a acontecer em simultâneo (tirando os workshops e as apresentações de livros) e porque acaba por fazer com que se torne um pouco confuso de perceber o que está a decorrer e em que sítio. Talvez fosse melhor confinar um auditório apenas às apresentações de BD e outro apenas aos workshops. Mas já lá irei.



Em termos de exposições, estiveram patentes as exposições dedicadas aos 30 anos de O Corvo, de Luís Louro; à BD Umbigo do Mundo, que reunia interessantes contributos de outros autores, que prestaram homenagens visuais às persoangem Alma criada por Carlos Silva e Penim Loureiro; ao trabalho a preto e branco de André Caetano; à obra Mensagem, de Susa Monteiro e Pedro Vieira de Moura; à obra A Norte de Sul Nenhum, com pranchas originais de João Mascarenhas; e à obra A Revolução Interior: À Procura do 25 de Abril, com pranchas originais de José Carlos Fernandes. Boas e interessantes exposições que estavam colocadas no segundo piso, viradas para o átrio do Convento. 

Em termos cénicos, e por causa do sítio onde estavam expostas, não houve grande possibilidade para um tratamento semelhante ao que é dado às exposições em eventos como o Amadora BD ou como o Festival de Beja, onde são ricos os detalhes cénicos em torno das obras expostas, mas, ainda assim, posso dizer que gostei das exposições. Simples, mas interessantes.

Nota ainda, positiva, para o número muito interessante de autores nacionais presentes no evento. Ao todo, foram mais de 30 os autores que marcaram presença, ora nas sessões de autógrafos, ora nas apresentações que ocorreram. 



Para além da banda desenhada, havia uma sala de retrogaming que esteve sempre muito concorrida; uma grande sala com espaço para os jogos de tabuleiro, que também me pareceu ser um sucesso; e vários eventos destinados aos mais jovens e aos cosplayers

Não são iniciativas que eu procure especialmente, mas considero-as importantes para chamar público novo para o evento. Há muita gente que se opõe às coisas "não BD" num festival de BD. Quanto a mim, considero que, desde que essas coisas "não BD" não retirem espaço e força à BD mas, em sentido contrário, até promovam que mais pessoas possam ir ao evento e, consequentemente, possam tomar contacto com a banda desenhada, é algo bastante positivo.



Infelizmente, só consegui estar no Coimbra BD num só dia, no 25 de Abril. E pareceu-me que havia um número interessante de visitantes, embora as apresentações de livros estivessem muito vazias (já lá irei, também).

Desta vez, marquei presença no evento enquanto convidado da Organização para apresentar o meu livro Muitos Anos a Virar Páginas e para apresentar o novo livro da série Undertaker

Devo dizer que fui muito bem tratado pela Organização, nas pessoas do meu amigo João Miguel Lameiras e, também, do Pedro Cardoso, do António Quintanova e da Elsa Marques. Uma equipa de pessoas disponíveis, empáticas, profissionais e com avidez para fazer mais e melhor. Foi um prazer!



Como desafios ou coisas a melhorar, porque acredito que isso também é importante, deixo apenas algumas sugestões com esse mesmo intuito de tentar fazer mais e melhor na próxima edição.

1) Parece-me que fará mais sentido utilizar um só piso para a banda desenhada. Ficando o segundo piso para os videojogos, jogos de tabuleiro, cinema e cosplay e o primeiro piso para a banda desenhada, com o espaço comercial, a sala de sessões de autógrafos e um auditório. 

Desta forma, facilmente se resolve a questão das apresentações terem os auditórios vazios. Não são necessários vários auditórios para falar sobre BD - poque o excesso de auditórios até acaba por causar entropia. Basta um. E se for aquele situado no primeiro piso, entre o espaço comercial e a sala para sessões de autógrafos, melhor. 



2) Por outro lado, acho que é importante que se anuncie através de um sistema audio, localizado no espaço comercial, o que está a acontecer no auditório ou quem está a dar autógrafos. 

Por vezes, as coisas que estão a acontecer até podem ser interessantes para o público, mas se o mesmo não souber que as mesmas estão a acontecer, acaba por perdê-las. E é mau para todos os envolvidos: para a Organização, para os autores/editores e para os próprios visitantes. 

É verdade que havia vários cartazes com a programação espalhados pelo espaço mas, ainda assim, acho que é necessário que se faça esta chamada para os eventos. E é muito fácil corrigir isto já na próxima edição.



3) Fica também o desafio para que a Organização consiga trazer nomes internacionais ao evento. Não sei se haverá orçamento para isso e, portanto, é muito fácil para mim estar aqui a "mandar postas". Mas creio que é esse o passo que falta para que o evento se revista ainda de maior relevância. Nem serão precisos muitos nomes internacionais... mas se forem dois ou três nomes de peso, certamente o evento encher-se-á de mais pessoas e de maior notoriedade.


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Em suma, fiquei muito bem impressionado com aquilo em que o Coimbra BD já se tornou e, ainda melhor do que isso, com o forte potencial de crescimento que ainda tem.

Espero voltar nas próximas edições!


Nova BD da Sueca Liv Strömquist é publicada em Portugal!



A Editora Cultura prepara-se para publicar o livro Não Sinto Nada, da autora sueca Liv Strömquist, que deverá chegar às livrarias a partir do próximo dia 2 de Maio.

Relembro que a editora Bertand já havia lançado por cá, em 2021, um livro da mesma autora intitulado O Fruto Proibido – Uma História Cultural da Vulva.

Este Não Sinto Nada é, portanto, o segundo livro da autora a ser publicado em Portugal.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais da edição inglesa.


Não Sinto Nada, de Liv Strömquist

Com irresistível sentido de humor e audaciosa inteligência, a autora sueca Liv Strömquist, uma das mais relevantes artistas da atualidade, examina as engrenagens do amor e sua respetiva evolução histórica. Como é que o amor se tornou algo que acreditamos poder entender racionalmente?

Strömquist apresenta-nos a traição de Sócrates a Alcibíades, o abandono de Ariadne por Teseu e outros fascinantes episódios clássicos, reenquadrando o pensamento dos grandes filósofos e artistas de outrora nos nossos hábitos e significados modernos.

Uma radiografia ao fim dos namoros na era do narcisismo extremo.

«Esta ousada aplicação de teorias sociais proporciona um guia estimulante e uma resposta contundente às suposições atuais sobre namoro, relacionamento e família nuclear.»
— Publishers Weekly

«Os desenhos de Liv Strömquist são inteligentes, raivosos, engraçados e justos, mas também espantosamente informativos.»
— The Guardian

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Ficha técnica
Não Sinto Nada
Autora: Liv Strömquist
Editora: Cultura
Páginas:176, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 170 x 240 mm
PVP: 18,50€

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Análise: O Príncipe e a Modista

O Príncipe e a Modista, de Jen Wang - Desrotina - Infinito Particular

O Príncipe e a Modista, de Jen Wang - Desrotina - Infinito Particular
O Príncipe e a Modista, de Jen Wang

A chancela Desrotina, da editora Infinito Particular, lançou recentemente o livro O Príncipe e a Modista, da autora americana Jen Wang. Este é um livro que foi originalmente lançado em 2018, tendo convencido o público e a crítica, vencendo vários prémios - nomeadamente um Eisner, a que a edição portuguesa faz referência, através de um autocolante, na capa.

Tendo em conta que a Desrotina se trata de uma editora com pouca ou nenhuma experiência no lançamento de banda desenhada, foi com entusiasmo e satisfação que verifiquei que havia mais uma editora nacional a aventurar-se nos caminhos da edição da banda desenhada. Mesmo que o tenha feito através de uma expectável, segura e trendy aposta em mais uma banda desenhada de género queer. Tão em voga nos tempos atuais.

Mesmo assim, parece-me que acertou na obra escolhida.

O Príncipe e a Modista, de Jen Wang - Desrotina - Infinito Particular
O Príncipe e a Modista
é um livro mais direcionado para os jovens e conta-nos a história do príncipe Sebastian que se encontra à procura de uma noiva. Bem, na verdade, são os seus pais que mais se preocupam em encontrar uma noiva para o seu filho, já que este parece mais ocupado na sua atividade secreta: gosta de se vestir como uma mulher. Devido a esse gosto de experimentar, pela secreta, vestidos de mulher, acaba por travar conhecimento com uma brilhante e criativa costureira, Frances, que depressa se torna na sua amiga confidente e lhe faz os vestidos com que sempre sonhou. Com os ousados vestidos concebidos por Frances, Sebastian passa a sair à noite e a assumir a identidade de Dama Cristália. A Dama Cristália é então muito bem aceite por todos, com muitos admiradores, aonde quer que vá. Agora, o que ninguém sabe, além de Frances, de Sebastian e do mordomo deste, é que a Dama Cristália não é mais do que o príncipe herdeiro do trono travestido de mulher.

A história relembra um pouco o magnífico Mau Género, de Chloé Cruchaudet, lançado pela Iguana. A diferença é que essa é uma história baseada em factos verídicos, mais adulta, claro, e mais dramática. Este O Príncipe e a Modista é uma história leve, que se lê bem e que, felizmente, quanto a mim, não procura ser demasiado fundamentalista. Ao invés, procura apenas demonstrar que uma coisa simples como vestir-se de uma forma diferente face àquilo que a sociedade espera de nós, não é - ou não devia ser - algo que devamos esconder com medo de sermos repreendidos ou ostracizados. Confesso que algumas das histórias deste tipo que tanto têm pululado nas livrarias portuguesas, me fazem revirar os olhos, por vezes, por achar que são “mais do mesmo”, repetindo-se umas às outras, e que, mesmo sendo obras que supostamente tentam quebrar um preconceito, conseguem o curioso feito involuntário (?) de encerrarem em si mesmas um certo tipo de novos preconceitos. Mas não é isso que acontece neste O Príncipe e a Modista. De uma forma simples, sem que a obra seja demasiadamente política ou fundamentalista, é-nos apresentada uma questão e uma moral. Bem feito, quanto a mim.

O Príncipe e a Modista, de Jen Wang - Desrotina - Infinito Particular

Um dos pontos fortes do livro é, pois, a sua abordagem delicada e inclusiva das questões de identidade e expressão de género. Jen Wang apresenta a jornada de Sebastian de uma maneira autêntica e compassiva, explorando os desafios emocionais que a personagem enfrenta ao tentar reconciliar, por um lado, a sua própria e verdadeira identidade, e, por outro, as suas responsabilidades governativas para com o Reino, do qual é príncipe herdeiro.

E se a história, não sendo grandiosa, funciona bem, os desenhos de Jen Wang conseguem ser muito aprazíveis! 

Apresentando um traço “cartoonesco”, a fazer lembrar desenhos animados, a autora dá-nos personagens ultra-expressivas pelas quais é difícil não sentir empatia. Cada sentimento que passa pelas personagens (e são muitos) é brilhantemente ilustrado por Jen Wang, o que faz aquecer o coração do leitor.
O Príncipe e a Modista, de Jen Wang - Desrotina - Infinito Particular
Posso até partilhar algo pessoal que me aconteceu enquanto lia este livro: a minha filha mais velha, de 9 anos, que por ali passou, não hesitou em exclamar: “Uau, pai! Esse livro tem desenhos super giros!”. E tem-nos, de facto. É claro que, olhando de forma mais atenta, verifica-se que na parte cénica o nível de detalhe dos desenhos não iguala a destreza da autora na ilustração das personagens. São, por isso, vários os ambientes e os cenários que, quanto a mim, carecem um pouco de um maior nível de detalhe. Seja como for, isso é apenas uma coisa menor, já que não restam dúvidas de que, também em termos visuais, O Príncipe e a Modista funciona muito bem.

Em termos de edição, o livro apresenta capa mole, com badanas, e com detalhes a verniz. A encadernação e a impressão são boas, e o papel é brilhante e de boa qualidade. Acredito, porém, que um papel baço teria funcionado melhor para o tipo de ilustração de Jen Wang. O livro inclui ainda seis páginas, no final, em que a autora nos mostra o seu processo de trabalho na feitura deste livro, o que é um bom acrescento à edição.

Em conclusão, O Príncipe e a Modista é uma envolvente história, (mais) destinada aos jovens, que celebra a autoexpressão, a amizade e a aceitação. Com a sua narrativa cativante e ilustrações bastante apelativas, o livro acaba por ressoar com leitores de todas as idades, oferecendo uma mensagem poderosa de amor e autenticidade, sem ser demasiadamente fundamentalista.


NOTA FINAL (1/10):
7.9



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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O Príncipe e a Modista, de Jen Wang - Desrotina - Infinito Particular

Ficha técnica
O Príncipe e a Modista
Autora: Jen Wang
Editora: Desrotina
Páginas: 288, a cores
Encadernação: Capa mole
Dimensões: 15 x 23 cm
Lançamento: Março de 2023

Análise: Amor

Amor, de Filipa Beleza - Iguana - Penguin Random House

Amor, de Filipa Beleza - Iguana - Penguin Random House
Amor, de Filipa Beleza

Depois de lido Amor, o primeiro livro de banda desenhada desta autora portuguesa, há algo que se torna para mim bastante claro: Filipa Beleza é uma das mais recentes revelações da banda desenhada nacional!

Analisando objetivamente Amor enquanto obra de banda desenhada, é verdade que o livro não é perfeito e que há coisas que talvez pudessem ter funcionado melhor, se fossem feitas de outro modo (já lá irei), mas o que é certo é que a inteligência, o humor, os vários níveis de leitura das 6 histórias que compõem este livro e, claro, os desenhos, me fizeram ficar fã do trabalho desta autora portuguesa!

Começando por falar dos desenhos, eu já tinha gostado bastante do trabalho da autora em Entalados. O seu desenho é simples, "cartoonesco" e aparentemente rápido, mas isso não quer dizer que não haja um certo charme próprio e uma estética muito singular que nos fazem identificar, prontamente, que se trata de um desenho de Filipa Beleza. Como tal, quem já leu os primeiros dois livros de cartoons da autora identificará em poucos segundos que este Amor se trata de uma obra de Filipa Beleza. Aqui, a autora transpõe o seu modo de ilustração para a banda desenhada e fá-lo com belos resultados. Cada uma das seis histórias que compõem este livro é colorida por uma cor predominante, o que faz com que as histórias divirjam entre si.

Amor, de Filipa Beleza - Iguana - Penguin Random House
Mas se nas ilustrações o bom trabalho da autora não foi uma surpresa para mim, em termos da criatividade dos argumentos, das subtilezas das personagens e das leituras de vários níveis que a autora nos oferece, devo dizer que fiquei muito bem impressionado. Já conhecia o humor da autora, mas, lá está, em larachas e em pequenos gags a experiência torna-se - pelo menos para mim, admitindo que é uma questão pessoal - num estilo de humor mais superficial e, portanto, mais olvidável. Mas, em Amor, a autora vai mais fundo, presenteando-nos com ricas personagens que me remetem para, no cinema, um estilo bem ao jeito de Woody Allen. São caricaturas todas estas personagens, mas, quando não nos identificamos a nós mesmos com estas personagens, pelo menos parecemos conhecer alguém muito igual.

Dando-nos seis histórias, a autora convida-nos a conhecer um belo conjunto de personagens, com tiques e idiossincrasias curiosos, que têm, como ponto assente, o envolvimento das mesmas numa história de amor. Cada qual à sua própria maneira. Até porque, não esqueçamos, há muitos tipos diferentes de amor. É, portanto, essa a ignição da autora para as seis histórias que compõem Amor: temos o amor fulgurante da paixão, o amor que chega quando menos se espera, o amor por um animal, o amor que nem sempre corresponde à nossa expectativa inicial, o amor pelos nossos próprios sonhos (e, portanto, por nós próprios) e o amor por alguém que já partiu deste mundo. Em todas as histórias, sem exceção, Filipa Beleza nos consegue surpreender.

Amor, de Filipa Beleza - Iguana - Penguin Random House
O livro arranca com uma história sem qualquer fala que é um interessante exercício figurativo e estético para demonstrar a loucura, sem rei nem roque, que é uma paixão correspondida. Se este exercício é bem conseguido, foi a partir da segunda história que fiquei mais bem impressionado. O que falta muitas vezes em banda desenhada é uma caracterização mais humanizante e, por isso, mais verossímil das personagens. E Filipa Beleza não cessa de nos apresentar diversas e variadas características próprias de cada uma das suas personagens que têm o condão de gerar empatia no leitor. A isso acrescenta uma boa dose de humor e um texto bem arquitetado et voilà: temos aqui uma (nova) autora portuguesa completa e original de banda desenhada! Já sou fã!

Mesmo assim, não posso deixar de dizer que este livro não é perfeito. E só não o é por pequenas (grandes) coisas. Mas são “problemas” que derivam mais do ponto de vista prático e do meio da banda desenhada do que, propriamente, da criatividade do argumento ou das ilustrações da autora. Com efeito, a legendagem merecia ter sido mais bem executada, com uma font mais amiga da leitura em banda desenhada. Também há balões com algum excesso de texto e o próprio pequeno formato escolhido para a obra não é o que mais jus lhe faz. Talvez por isso, certas vinhetas pareçam algo apertadas entre si e outras tenham uma dimensão demasiado pequena. Há uma certa sensação claustrofóbica visual em algumas das páginas deste livro por causa da má escolha de formato.

Amor, de Filipa Beleza - Iguana - Penguin Random House
Reitero que nada disto estragou a minha leitura ou me deixou menos bem impressionado com este trabalho da autora que considero, desde já, como uma das obras revelações do ano 2024 em banda desenhada, mas lá que poderia ter sido melhor nestas pequenas (grandes) questões técnicas, lá isso poderia.

A edição da Iguana apresenta capa mole baça, com badanas, e com detalhes a verniz, bom papel baço e um bom trabalho ao nível da impressão e encadernação. O próprio grafismo do livro e das badanas também é especialmente apetecível. Estou bastante satisfeito por esta aposta da Iguana no trabalho em banda desenhada de uma autora que, a continuar com esta criatividade nas suas histórias e com estas belas ilustrações, é um talento a promover e a ter em conta.

Portanto, em suma, Amor é um conjunto muito bem conseguido de seis histórias que demonstram o quão diferentes podem ser os sentimentos e manifestações de amor, em relatos divertidos, cheios de ironia e, claro, com belas ilustrações de Filipa Beleza que, assim sendo, se revela como uma das revelações nacionais em banda desenhada.


NOTA FINAL (1/10):
8.5



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Amor, de Filipa Beleza - Iguana - Penguin Random House

Ficha técnica
Amor
Autora: Filipa Beleza
Editora: Iguana (Penguin Random House)
Páginas: 112, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 165 x 200 mm
Lançamento: Abril de 2024

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Ala dos Livros lança novo livro de Undertaker!



A Ala dos Livros acaba de lançar o novo volume da série Undertaker!

O lançamento ocorreu ontem, no Coimbra BD, onde tive a oportunidade e privilégio de apresentar o livro com o editor, e meu amigo, Ricardo Pereira.

Posso dizer que já tive a oportunidade de ler este sétimo tomo, que dá pelo nome de Mister Prairie, e que é um dos melhores da série - que já por si é excelente!

O livro deverá chegar às livrarias a partir da primeira semana de Maio, mas já se encontra em pré-venda no site da editora.

Para já, deixo-vos com a sinopse da obra e com as imagens promocionais da mesma.
Undertaker #7 - Mister Prairie, de Dorison, Meyer e Delabie

Um inesperado telegrama, a solicitar os seus serviços numa pequena povoação do Texas, vai levar Jonas Crow a largar tudo. Esse telegrama apresenta duas características muito peculiares: a primeira, é que lhe pedem que para fazer um caixão para um bebé ainda por nascer; a segunda, é o facto de a mensagem estar assinada por R. Prairie…

Mas nem tudo é o que parece… E rapidamente serão precisos mais caixões para além do pequeno caixão que inicialmente lhe pediam para executar. Para além disso, quando na cidade surge um novo adversário que quer proteger “a moral e os bons costumes”, Jonas terá de recorrer a muito mais do que o seu sarcasmo e os seus evangelhos para conseguir enfrentar toda uma cidade que fica em polvorosa.

“MISTER PRAIRIE”, o sétimo tomo da série, onde o texto saído da fértil imaginação de Xavier Dorison é uma vez mais servido pelo magistral grafismo de Ralph Meyer, associado nas cores ao talento de Caroline Delabie, reafirma o lugar de Undertaker como uma das melhores séries de western da banda desenhada europeia.

Esta série, difundida em 14 países entre os quais se inclui Portugal, obteve desde o início da sua publicação em França, em 2015, numerosos prémios e distinções. Salientam-se, o Prix Saint Michel 2015 du Meilleur Dessin, o Prix Le Parisien 2015 de la Meilleur BD, o Prix 2015 des rédacteurs de scenario.com e ainda a distinção Album preferé des lecteurs de BD Gest 2015.
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Ficha técnica
Undertaker #7 - Mister Prairie
Autores: Xavier Dorison, Ralph Meyer e Caroline Delabie
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
PVP: 18,50€










Análise: E Depois do Abril

E Depois do Abril, de André Mateus e Filipe Duarte - Escorpião Azul

E Depois do Abril, de André Mateus e Filipe Duarte - Escorpião Azul
E Depois do Abril, de André Mateus e Filipe Duarte

O mais recente lançamento da editora Escorpião Azul traz-nos o regresso dos autores André Mateus e Filipe Duarte que, além de outras colaborações, já nos tinham dado, pela mesma editora, a obra A Última Nota. Desta feita, a dupla portuguesa traz-nos um livro onde traça um interessante exercício de reflexão através de uma premissa simples: que seria de Portugal se a revolução do 25 de Abril tivesse fracassado? Em que ponto estaríamos agora?

Tendo em conta a atualidade sócio-política que vivemos em Portugal - e também em muitos outros países - em que as mais recentes eleições revelam uma população mais próxima dos valores de direita do que aquilo que se poderia antever há uns anos, o lançamento deste E Depois do Abril, numa clara alusão à emblemática canção E Depois do Adeus, de José Niza e António Calvário, imortalizada pela voz de Paulo de Carvalho, revela-se particularmente oportuno e assume-se como um aviso à navegação. Sem ser demasiado panfletário, diga-se, pois mais que assumir uma posição política, a obra assume um tom de elogio da liberdade. E é esse o valor que, quanto a mim, mais interessa reiterar.

O protagonista da história é Alfredo Loureiro, um soldado que havia servido sob as ordens do Capitão Salgueiro Maia, e cuja ex-mulher, Celeste Horta, é líder do partido político clandestino FLOP (Frente da Libertação do Operariado Português). Apesar de, por estes motivos, Alfredo estar intimamente ligado a iniciativas anti-regime, é igualmente agente da PIDE, estando perto de alcançar a almejada reforma. Mas tudo muda quando a sua ex-mulher é capturada. A partir daqui, a viagem de Alfredo a tudo o que já viveu na luta pela liberdade, na relação com a sua ex-mulher e com o filho de ambos, vai-se tornando mais profunda até que desemboca numa cena final, bem ao jeito de filmes de ação.

E Depois do Abril, de André Mateus e Filipe Duarte - Escorpião Azul
O embalo inicial narrativo é forte e a (re)construção do espírito e vida de uma sociedade lisboeta fechada em si mesma e presa às amarras do Estado Novo, é bem captado por André Mateus no relato que aqui nos é oferecido. O autor é também bem sucedido na forma como utiliza a técnica de voz-off para melhor arrastar o leitor para a trama.

Não obstante, e mesmo sendo verdade que este mundo alternativo de ficção especulativa me cativou, com personagens cheias de portugalidade que nos remetem, com facilidade, para os anos 70 portugueses, confesso ter ficado algo desapontado com a resolução da trama que o autor dá à história a partir dos acontecimentos na Torre de Belém. Percebo a sugestão e clara influência de V de Vingança, de Alan Moore, mas, mesmo assim, pareceu-me que a história é subitamente acelerada. Até estava a gostar do rumo da mesma, mas achei que, do meio para a frente, a história carecia de mais tempo (páginas) e os eventos que nos são dados necessitariam de um desenlace mais convincente.

No entanto, também é justo dizer-se que é na voz-off que o texto de E Depois do Abril parece mais inspirado e onde a obra consegue assumir-se mais marcante. Porque, afinal de contas, é através desse texto que nos é dada uma segunda leitura, assente nas várias menções a estar-se numa realidade alternativa, a ser um “pesadelo” aquilo que Alfredo sente. Como se a obra encerrasse uma meta-comunicação em si mesma que considera demais nefasta a simples possibilidade de um Portugal sem democracia, de um Portugal sem liberdade, de um Portugal sem 25 de Abril.

Quanto ao trabalho de Filipe Duarte, devo dizer que, daquilo que conheço do autor, este é o trabalho que mais me impressionou. Adotando um registo a preto, branco e vermelho, o autor conseguiu oferecer à obra um belo ambiente noir e dramático, que se adequa muito bem à história. O vermelho só é usado em pequenos detalhes, como numa gravata, num automóvel, num fundo, no sangue e, claro, nos cravos. Funciona extremamente bem, dotando as ilustrações de um cariz um pouco mais artístico. O trabalho de Filipe Duarte impressionou-me especialmente nos momentos iniciais mais introspetivos da história. 

E Depois do Abril, de André Mateus e Filipe Duarte - Escorpião Azul
Marcelo Caetano é representado de forma caricatural por motivos óbvios, diria, o que também encaixa bem na ideia do livro. Destaco duas das páginas duplas que o autor nos oferece que trazem consigo alguns dos pontos mais altos da ilustração presente no livro. Falo da cena em que a Torre de Belém explode, visualmente impactante, e, especialmente, da página dupla em que Alfredo nos relata o seu pesadelo. Não só os desenhos de Filipe são muito impressionantes, com uma excelente gestão gráfico-narrativa, como o texto de André consegue ser verdadeiramente impactante. São estas, aliás, as duas páginas onde a sintonia entre a palavra de André e o desenho de Filipe conseguem atingir o seu melhor nível.

Mesmo sendo verdade que, tal como já disse, fiquei bastante bem impressionado com os desenhos de Filipe Duarte, considerei apenas que nem sempre os mesmos se apresentam ao mesmo nível. Por vezes, no que ao desenho diz respeito, sente-se alguma falta de coesão de uma vinheta para outra, com o aparecimento de algumas expressões faciais, linguagem corporal ou anatomia das personagens menos bem conseguidas. Dito por outras palavras, há neste E Depois do Abril desenhos bastante bons, mas também há desenhos que ficam aquém desse mesmo nível de qualidade. Não é que seja algo de grave ou que contamine a boa fruição da leitura, atenção, mas é algo que afasta a obra de ser ainda melhor e mais emblemática. Porque, de facto, quando Filipe Duarte está em pleno das suas capacidades, o seu trabalho não nos deixa indiferentes. É, portanto, pena que o autor não se apresente sempre ao mesmo nível ao longo de todo o livro.

A edição da Escorpião Azul é em capa mole, com badanas, e com bom papel baço no interior. A impressão e a encadernação são boas, também. As bordas das páginas são pintalgadas pela cor vermelha, o que se torna agradável à vista e encaixa, claro, muito bem na vertente gráfica da obra. No final do livro, há um dossier de extras de 9 páginas onde nos são mostradas capas alternativas, estudos de personagens, exercícios visuais de contexto e uma versão alternativa da morte de Salgueiro Maia. No início do livro, há ainda uma nota introdutória dos autores e um prefácio de Ana Gomes, ex-deputada do Parlamento Europeu. Devo dizer que o trabalho da Escorpião Azul se tem revelado melhor nos últimos livros lançados, como disso são exemplo as obras Elviro, Neon, O Breve Passado e Outras Histórias ou este E Depois do Abril.

Em suma, E Depois do Abril é um passo em frente para os autores André Mateus e Filipe Duarte e, ao mesmo tempo, traz consigo um exercício e uma reflexão pertinentes para um Portugal onde as divisões binárias e extremistas ocupam um lugar cada vez mais presente, não só em questões políticas, como um pouco por todo o tipo de temas com que nos deparamos num país que assinala por estes dias o 50º aniversário da sua nova democracia.


NOTA FINAL (1/10):
8.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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E Depois do Abril, de André Mateus e Filipe Duarte - Escorpião Azul

Ficha técnica
E Depois do Abril
Autores: André Mateus e Filipe Duarte
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 96, a duas cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 24 cm
Lançamento: Março de 2024

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Análise: A Vida Secreta dos Escritores

A Vida Secreta dos Escritores, de Miles Hyman - Gradiva

A Vida Secreta dos Escritores, de Miles Hyman - Gradiva
A Vida Secreta dos Escritores, de Miles Hyman

Começo por dizer o óbvio: A Vida Secreta dos Escritores, uma adaptação para banda desenhada de Miles Hyman, baseada no romance homónimo do francês Guillaume Musso, é - com alguma facilidade até, diria - uma das melhores bandas desenhadas publicadas pela Gradiva! De sempre.

Este é um livro que traz consigo um argumento de estilo thriller de investigação, que é depois ilustrado com uma arte diferente de tudo aquilo que, normalmente, nos é dado em banda desenhada.

Esta é uma história que, mesmo sendo de cariz policial, com uma boa pitada, nas entrelinhas, de uma componente política, é um romance em que as questões amorosas estão bem presentes e uma obra muito bem pensada e escrita, onde a arte da literatura parece sempre muito constante e onde, inclusive, até há espaço para relembrar e homenagear vários autores universais da literatura como Milan Kundera, Agatha Christie, Margaret Atwood, Umberto Eco, Franz Kafka, entre vários outros. O que acabo mesmo por achar (mais) incrível neste livro, é que faz muita coisa bem feita. Não sendo uma história nada simples, cruza muitas coisas. Sempre com personalidade, astúcia e beleza. No fundo, é um daqueles livros que poderia ter corrido mal por variados fatores. Mas, correndo bem, torna-se num livro imperdível!

A Vida Secreta dos Escritores, de Miles Hyman - Gradiva
A trama centra-se em Nathan Fawles o célebre e misterioso escritor que, depois de publicar três romances que se tornaram em obras de culto da literatura mundial, decide deixar de escrever, retirando-se para Beaumont, uma ilha selvagem e paradisíaca do Mediterrâneo. Passados vinte anos, o escritor é confrontado por Mathilde Monney, uma jovem jornalista que procura descobrir qual o segredo de Fawles. Entretanto, a trama é-nos narrada por Raphael Bataille que ambiciona ser escritor. Mas nada do que começamos por ler neste livro é o que parece. Rapidamente a trama assume laivos de policial, com o aparecimento de um cadáver na pacífica ilha que tudo coloca em alvoroço.

Esta é, pois, uma obra que mergulha nas complexidades da criatividade, fama e segredos do mundo literário, através de uma trama intricada com muitas e boas reviravoltas surpreendentes, numa história envolvente que mantém o leitor intrigado do início ao fim. São explorados os temas da ambição, da obsessão, da traição e da redenção, enquanto nos é dado a nós, leitores, um profundo mergulho nas vidas complexas dos personagens que aqui circulam. Nada (nem ninguém) é o que aparenta ser.

A Vida Secreta dos Escritores, de Miles Hyman - Gradiva
Com efeito, foram várias as vezes que achei que a história me estava a levar por um caminho para, de repente, sentir que, afinal de contas, as coisas não eram o que pareciam. É verdadeiramente inteligente a forma como a história nos é dada. É verdade que não li o romance original de Musso e, portanto, não conheço a quantidade de eventos do texto original que foi deixada de fora por parte de Miles Hyman. Não obstante, e isso é algo a não esquecer, tendo em conta a complexidade desta trama, posso antever sem problemas que o trabalho da adaptação foi muito bem conseguido. Era fácil deixar a história com pontas soltas ou com ideias mal desenvolvidas. Mas não é isso que Hyman faz. Com um belo texto, na quantidade certa, e separando muito bem os quadros e aquilo que precisa – e não precisa – de ser revelado ao leitor, o trabalho do autor roça a perfeição.

Um dos pontos fortes do livro é a existência de personagens muito bem construídas, revelando ser, à medida que vamos avançando na leitura, ricamente desenvolvidas, com vários níveis de nuances psicológicas que as tornam complexas e cativantes. Se há leituras que são feitas por muitas camadas, este A Vida Secreta dos Escritores é, sem dúvida, um livro que oferece uma dessas experiências.

A Vida Secreta dos Escritores, de Miles Hyman - Gradiva
Mas se até aqui me tenho concentrado no argumento do livro, há que dizer que é difícil que se fique indiferente à componente visual desta obra. Já que o autor americano Miles Hyman assume um estilo de ilustração, num traço a lápis, que é verdadeiramente singular e impactante.

Ao folhearmos este livro, não parece que estejamos perante ilustrações de banda desenhada, mas antes perante uma galeria de pequenos quadros que poderiam estar num museu e que aqui assumem a forma de vinhetas alinhadas. E o nível de detalhe que Hyman deposita em cada um dos seus desenhos consegue ser arrebatador. As cores, em tons pastel, assumem um calor muito próprio que nos remete facilmente para os dias solarengos em pleno Mediterrâneo, onde a luz solar banha o ambiente captado pela obra.

Reconheço que, por vezes, este universo visual muito estilizado e plástico, torna certas expressões das personagens menos dinâmicas ou verossímeis, podendo ficar a ideia de que se tratam de figuras de cera. Mesmo assim, isto é apenas um detalhe e uma consequência desculpável de um estilo tão próprio e rico porque a verdade é que, em muitos dos momentos da leitura me senti maravilhado perante o trabalho de Hyman.

A Vida Secreta dos Escritores, de Miles Hyman - Gradiva
E nota para o facto de, em termos de planificação, o autor nos dar um bom trabalho que nunca trai os segredos que a narrativa encerra em si mesma.

Em termos visuais, acho apenas que a capa do livro poderia estar mais bem urdida. O facto de apresentar o nome dos autores com uma dimensão desproporcional, rouba beleza à ilustração e destaque ao próprio nome da obra. E nem é algo que possamos apontar à edição portuguesa pois a capa já assim o era na edição original francesa. Julgo que esta aposta com o nome dos autores tão gigante e desprepositado, terá estado relacionado com o facto de Guillaume Musso ser atualmente o romancista cujas obras mais vendem em França.

A edição da Gradiva apresenta capa mole com badanas e bom papel brilhante no miolo. A encadernação e impressão são de boa qualidade. Quanto a mim, considero que este livro merecia capa dura e também acho que o papel adequar-se-ia melhor ao estilo de ilustração de Miles Hyman, se fosse baço em vez de ser brilhante. No final da obra, há ainda um extenso epílogo escrito por Guillaume Musso que acende ainda mais o interesse (e dúvidas, quiçá) do leitor perante o porquê da feitura desta obra.

Em suma, A Vida Secreta dos Escritores é um livro notável, quer a nível de argumento, quer a nível de ilustração, e que entra com altivez para o conjunto de melhores bandas desenhadas lançadas pela Gradiva. Uma das grandes surpresas do ano e verdadeiramente obrigatório!


NOTA FINAL (1/10):
9.8



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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A Vida Secreta dos Escritores, de Miles Hyman - Gradiva

Ficha técnica
A Vida Secreta dos Escritores
Autor: Miles Hyman
Adaptado a partir da obra original de: Guillaume Musso
Editora: Gradiva
Páginas: 192, a cores
Encadernação: Capa mole com badanas
Formato: 21,5 x 28,5 cm
Lançamento: Abril de 2024

Antologia de BD sobre o 25 de Abril é lançada esta semana!



A Câmara Municipal de Montijo volta a apoiar o lançamento de banda desenhada nacional!

Desta feita, e muito a propósito da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, é lançada a antologia Abril, Cravos Mil – Histórias de Liberdade, que conta com o contributo dos autores Daniel Maia, Patrícia Costa, José Macedo Bandeira, Mário André, entre outros. Esta edição marca também a estreia do novo grupo autorial TágIIde que sucede ao anterior Tágide.

No dia 26 de Abril a obra é apresentada no Montijo e, no fim de semana, será apresentada no Coimbra BD.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa deste lançamento e com algumas imagens promocionais.

Abril, Cravos Mil – Histórias de Liberdade

Abril, Cravos Mil é uma antologia de banda desenhada criada para a Câmara Municipal de Montijo e integrada nas festividades da cidade do quinquagésimo aniversário do 25 de Abril de 1974.

A edição marca a estreia do novo grupo autoral TágIIde. Os autores são Jorge ‘RoD!’ Rodrigues (Cruzada Negra), José Macedo Bandeira (Aurora Boreal em Reflexos Partilhados), Mário André (Quaresma, o Decifrador), Patrícia Costa (Crónicas de Enerelis), António Coelho (Capitão Morsa e seus Amigos), Maria João Claré (BD Montijo: Antologia I) e Yves Darbos (BD Montijo: Antologia I), mais os artistas convidados Daniel Maia (CoBrA: Operação Goa) e Susana Resende (ilustração de capa/contracapa).

Em Abril, Cravos Mil – Histórias de Liberdade, celebra-se os 50 anos da Revolução dos Cravos com oito BDs de abordagens variadas, do humor ao drama e da acção histórica à alegoria. As narrativas são baseadas em momentos-chave do movimento militar e em visões pessoais da data, e ainda em explorações especulativas sobre a sociedade nacional.

O livro repete o apoio cultural da autarquia montijense no sector da banda desenhada, depois de em 2022 publicar BD Montijo: Iniciação à Arte Sequencial - Antologia I, com os trabalhos finais dos alunos dos cursos ministrados pela autora Susana Resende entre 2018-2020, a convite da autarquia. 

O livro foi finalista no 4º Prémio Bandas Desenhadas em Melhor Antologia e no XX Troféus Central Comics em Melhor Publicação Independente e Melhor Obra Curta, vencendo esta última categoria.

Abril, Cravos Mil – Histórias de Liberdade é apresentado dia 26 de Abril, às 18h00, no 2º Foyer do CinemaTeatro Joaquim d’Almeida (Montijo), integrado no programa de festas da Câmara Municipal de Montijo. Posteriormente, a antologia é apresentada no 6º CoimbraBD, de 25 a 28 de Abril, no Convento S. Francisco.

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Ficha técnica
Abril, Cravos Mil – Histórias de Liberdade
Edição: Câmara Municipal de Montijo
Produção: TágIIde
Autores: Mário André, José Macedo Bandeira, Maria João Claré, António Coelho, Patrícia Costa, Yves Darbos e Jorge Rodrigues
Autor convidado: Daniel Maia
Capa/Contracapa e Design: Susana Resende
Coordenção editorial: Daniel Maia e Eduardo Martins
Páginas: 48, a cores