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sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Uma Nota sobre o Amadora BD 2020




Uma Nota sobre o Amadora BD 2020

Está a decorrer, caso não tenham dado por isso (é possível), o Amadora BD - Festival de Banda Desenhada da Amadora. Este ano é um ano atípico a todos os níveis – bem o sei – e, por esse motivo, temos o festival a acontecer de forma virtual, com algumas conversas a sucederem de forma digital. 

Ora bem, podemos sempre dizer – e com alguma razão – que é melhor haver isto do que nada. A Organização poderia simplesmente ter cancelado a edição deste ano, tal como muitos outros eventos têm vindo a ser cancelados ao longo de 2020. Também podíamos dizer que organizar um evento destes, num formato tão diferente, é algo novo e sem precedentes por parte da Organização. Tudo isso é verdade. Estou de acordo.

Porém, olho para este evento com um certo sabor amargo pois parece-me que há pouco envolvimento da Organização para levar o Amadora BD a bom porto. Seja ele um porto "físico" ou "virtual". Porque mesmo tendo em conta todas as condicionantes que referi, é lamentável que os eventos sejam tão poucos, tão mal divulgados e tão pouco inspirados no seu cerne. A imagem do site, os materiais promocionais, a maneira como é feita a comunicação, a quantidade de conversas/entrevistas… é tudo muito fraco. Sinceramente, o Amadora BD deste ano parece-me um projeto de área-escola (ainda se usará este termo?) montado por um grupo de adolescentes do ensino secundário. 

E, tal como disse Saramago, “a oportunidade é como ferro: devemos batê-lo enquanto estiver quente”. É verdade que existem condicionantes para a organização do evento, mas também é verdade que existem oportunidades. E uma delas seria o convite de autores internacionais para as tais "conversas". Num ano em que, apesar de tudo, se lançaram tantas (e de tanta qualidade) obras em Portugal, nacionais ou internacionais, deveriam ter sido organizadas muito mais conversas com autores internacionais. Até porque se havia algo positivo é que não seria necessário gastar-se dinheiro com viagens e alojamento. Bastava contactar com antecedência os autores/editoras e, estou certo, isto seria possível. Se houvesse vontade, claro. São manifestamente insuficientes – não em qualidade, mas em número – as entrevistas propostas pela organização. Se não me enganei na contagem, apenas há 6(!) conversas/entrevistas e os dias do evento são 16! Ou seja, há mais dias em que não acontece nada do que dias em que acontece algo! 

Já para não falar nas editoras portuguesas e lojas de banda desenhada que, atravessando um período difícil, em que, devido ao confinamento a que a pandemia de covid-19 levou, tiveram que superar o problema das lojas estarem fechadas, se vêem relegadas para um plano mais que secundário por parte da Organização. Essas editoras e lojas que, ao longo dos anos, tiveram tanta responsabilidade e relevância para que o Festival tivesse sucesso e visitantes, pois muitas vezes eram os editores - e autores - que asseguravam as próprias exposições de vários espaços. Mais! Uma das principais causas de visita ao Amadora BD por parte dos visitantes, era o espaço de lojas que lá existia. Ora, mesmo não tendo uma existência física, bem que a Organização do evento poderia ter um espaço virtual, uma loja online que permitisse a compra dos livros por parte dos visitantes. Seria bom para os profissionais e para o público. Não era difícil, não era dispendioso e não demorava assim tanto tempo a fazer. Nem se dignaram a colocar links para os sites das editoras dos livros que estão a concurso! Ou, pelo menos, para as lojas que os vendem e que costumam marcar presença no evento. Incrível! 

E por falar em concurso. Este ano a Organização ainda teve a brilhante ideia de retirar algumas das categorias que faziam parte do concurso. Até 2018 existiam 11 categorias a concurso mas em 2020, optou-se por apenas se ter 6 categorias, deixando de fora categorias importantes e relevantes, quer para público, quer para autores. 

Ora, se tivermos em conta que não há prémio monetário para os vencedores, a Organização não lucra nada com a retirada destas categorias. E quem perde são os 1) autores e editores, que tinham nestes prémios a possibilidade de chegarem a um público maior e ganharem visibilidade; e 2) os leitores de banda desenhada e público em geral, que devido a estes prémios, poderiam conhecer novos autores e obras. Não se entende e não faz sentido. Será que há um vírus de preguiça a contagiar a Organização? 

Não é portanto de admirar que rapidamente tenha surgido uma petição online contra a Redução das categorias nos Prémios do Amadora BD. Naturalmente, já assinei a referida petição e convido todos os leitores do Vinheta 2020 a fazê-lo. 

E já nem vou tecer opiniões sobre a nomeação das obras Desvio e A Época das Rosas para os prémios de ilustração, quando são inequivocamente obras de banda desenhada. Enfim. 

Quanto tempo foi gasto no desenvolvimento da imagem do evento? 15 minutos? 

Quanto tempo foi gasto no desenvolvimento do website do evento? 2 horas? 

Quanto tempo foi gasto na preparação das conversas com os autores? 6 chamadas telefónicas de 5 minutos, convidando os autores? 

E ainda por cima, retiram categorias dos prémios? 

Como sou otimista, acho que é sempre preferível fazer do que não fazer… mas caramba! Pede-se mais. Há que fazer mais. A bandeira da promoção da banda desenhada por parte da Câmara Municipal da Amadora já é mais teórica do que, propriamente, prática. Termino com as palavras célebres do meu ídolo Elvis Presley: "A little less conversation, a little more action, please!". 



Abaixo, deixo os nomeados para os Prémios Nacionais de BD e Ilustração 2020




Banda Desenhada


Melhor Obra de BD de Autor Português 

Raizes - colectivo autores do The Lisbon Studio - A Seita 

Mindex - Fernando Dordio e Pedro Cruz - Kingpin Books 

Sentinel - Luís Louro - ASA 

Toutinegra - André Oliveira e Bernardo Majer - Edições Polvo 

Conversas com os putos e com os professores deles - Álvaro - Insónia 



Prémio Revelação 

Zé Nuno Fraga - Assembleia de Mulheres - A Seita 

Paulo J. Mendes - O Penteador - Escorpião Azul 

Jacky Filipe - “Relatividade”, antologia Apocryphus - Sci-Fi - Mighell Publishing 


João Gordinho - O Filho do Fuhrer - Escorpião Azul 




Melhor Obra Estrangeira de BD editada em Português 

Dois Irmãos - Fabio Moon e Gabriel Bá - G.Floy 

Criminal – Livro II - Ed Brubaker e Sean Philips - G.Floy 

O Homem que matou Lucky Luke - Mathieu Bohomme - A Seita 

Undertaker #1 - Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros 

O Número 73304-23-4153-6-96-8 - Thomas Ott - Levoir 



Melhor Fanzine / Publicação Independente 

Tequila Shots - Cláudio Yuge e Juan Burgos - Comic Heart 

Apocryphus Sci-Fi - colectivo - Mighell Publishing 

H-alt #9 - colectivo - Sérgio Santos 







Ilustração 

Melhor Obra de Ilustrador Português 

Troca-Tintas - Gonçalo Viana 

O Protesto - Eduarda Lima 

Desvio - Bernardo P. Carvalho 

Fernão de Magalhães - O Homem Que Se Transformou em Planeta - António Jorge Gonçalves 

1.º Direito - Nicolau 



Melhor Obra de Ilustrador Estrangeiro 

Mvsevm - Javier Sáez Castán e Manuel Marsol 

Endireita-te - Rémi Courgeon 

Histórias da Mamã Ursa - Kitty Crowther 

HNHAM - Nuppita Pittman 

A Época das Rosas - Chloé Wary

10 comentários:

  1. Esquece... isso é dar murros em ponta de pregos. Já lá vão uns 5 ou 6 anos que desisti dessa guerra

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  2. Hugo,
    excelente comentário, mas tudo o que disseste poderia ser dito em qualquer edição - no ano passado até houve melhorias, mas a directora acho que saiu.

    Em 2011, lancei o Inspector Franco e percebi que os prémios eram viciados, consoante as exposições que iam ser feitas no ano seguinte. Não vendo o Osvaldo nomeado para arte e vendo coisas estupidamente inferiores, disse ao editor que a minha posição era não enviar nada para concorrer ao Amadora BD, daí em diante. Da minha parte, não valorizo o Festival para prémios. É apenas bom para promover e estar com o público.

    Eu lancei o Mindex em Fevereiro e depois surgiu a pandemia. Depois o artista teve um problema grave de saúde e já nem pensei mais no livro para os próximos tempos.
    Além disso, como não pretendo fazer mais BD, desliguei-me destas coisas porque a Festivalidade de BD em Portugal para mim só dá para chatear.

    De repente deram-me os parabéns. Eu não sabia que havia prémios, nem Festival.
    E depois perguntaram-me se ia ao evento de entrega de prémios. Eu perguntei "Que evento?".
    Não fui contactado para nada.

    Assim sendo, sei antemão que o Mindex não será vencedor (senão iam ter trabalho em me contactar acho...).
    E este ano as nomeações não foram para a Lusa e não chegaram aos leitores casuais, portanto a sua relevancia será nula.

    Amadora BD é para ir comprar livros aos editores e falar com os autores para estes não desistirem de fazer BD - como é o meu caso e tantos outros que às tantas desistem.

    É urgente haver um festival capaz de absorver a antiga importância do Amadora BD que é um zombie que nem morre nem vive saudavelmente.

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  3. Já tinha comentado noutro fórum, mas parece evidente que a CMA já não tem (desde à vários anos), pessoas com competência nem interesse em dar continuação, com dignidade, a este evento. Tudo falha, desde a comunicação, às exposições, aos convidados de referência (quer deixaram de existir), aos lançamentos, à vertente comercial, etc, etc, etc... Não se estabeleceram parcerias, não se procurou um local com as infra-estruturas e espaço adequados, não se fortaleceram os laços com editores e público, no fundo não se criou massa crítica para fazer crescer o festival. Tal como o Fernando Dordio, também defendo um novo evento na zona grande Lisboa que ocupe o espaço que o Amadora BD deixou querer de ocupar. Reúnam-se vontades - eu estou disponível para apoiar...

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  4. Caros Nuno, Fernando e António... infelizmente partilho das vossas perceções.

    É algo que me deixa bastante triste e desapontado pois sempre adorava o Festival quando era mais jovem... :/

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    Respostas
    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Fernando Dordio2 de novembro de 2020 às 12:58
      Hugo,
      claro que deixa uma pessoa desapontada.

      Para mim o chocante é o Festival manter o orçamento de 500 000 euros por ano (este ano deve ser excepção naturalmente).
      Sim. Quando pensamos que dos nossos impostos meio milhão é para um festival com estas lacunas todas, está tudo dito.

      No entanto, digo sempre a mesma coisa.
      Vão ao encontro dos autores nacionais. Se existe um Amadora BD, ou o XPTO BD e gostam dos autores portugueses, vão ao seu encontro.

      A "produção" de BD Nacional teve bons anos, mas se não se apoiar temo pelos próximos anos.

      Ajudei e "faço" parte de uma editora que acho que ajudou bastante a subir o patamar da BD, a KP e neste momento a KP está parada.
      Voltar a publicar não é algo que está nos planos a curto prazo.

      Portanto é estimar o que há. E nunca esquecer que os autores trabalham por carolice.

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    3. Sim, 500.000 euros é dinheiro suficiente para se fazer algo melhor. E não estou a pensar na edição deste ano, apenas. Estou a pensar nas outras. Possivelmente, este ano tiveram uma redução no orçamento. Mesmo assim, muito pouco o que está a ser feito. Quanto à KP, que causas existem para que a aposta em nova BD esteja em stand by? Questões financeiras? Investimentos iniciais? Retorno de investimento? Diria que a KP começou a afirmar-se tão bem na bd nacional que tem sido com algum espanto que vejo que essa aposta tem sido refreada. Mas claro, eu não estou por dentro e não sei das reais razões para tal. Mas lá que me intriga... lá isso intriga.

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    4. Em relação à KP?

      As pessoas deixaram de compram BD nacional. A resposta acaba por ser simples.

      De há uns anos para cá começaste a ter publicaçao estrangeira com fartura. Tu que vês a perspectiva do consumidor final, percebes como já o disseste, que o consumidor está pouco a lixar-se para saber se o álbum foi feito cá ou na China. Se tens colecções com livros do Batman a 10 euros com 130 páginas, porque é que vais comprar um livro nacional que tem 60 e custa 14? Ou até mesmo se o álbum do Batman custar 14.

      E sem eventos para quê lançar livros nacionais? Só autores como o Filipe Melo ou o Luís Louro conseguem editar num momento tão complicado, sem os editores questionarem se não se vão afundar.

      Todas as editoras metem dinheiro uma vez e reinvestem. Quando os clientes não comparecem, não há dinheiro para reinvestir, logo não há livros.

      E o livro que editamos este ano nem conta, porque no fundo estava para ser editado há vários anos.
      Neste momento, a última das últimas perioridades da KP é a edição de livros.

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    5. Pois, compreendo. E faz sentido. E é uma pena.

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