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sexta-feira, 31 de maio de 2024

Levoir e RTP publicam o clássico "Peregrinação" em BD!


A Levoir e a RTP acabam de publicar mais dois livros para a sua coleção Clássicos da Literatura Portuguesa em BD.

O primeiro de que vos falo é a primeira parte da adaptação de Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto. Esta será uma das duas obras desta coleção que será editada em dois volumes - a outra será a adaptação de Os Lusíadas, de Luís de Camões.

Os autores que adaptam este Peregrinação são João Miguel Lameiras e Miguel Jorge, dois repetentes em adaptações de clássicos da literatura para banda desenhada publicadas pela Levoir. Relembro que foi esta a dupla responsável pela adaptação de Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, tendo João Miguel Lameiras adaptado também, mas desta vez com Joana Afonso, a obra Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente.

Este livro já se encontra disponível para venda em livrarias.


Peregrinação #1, de João Miguel Lameiras e Miguel Jorge


A grande obra de Fernão Mendes Pinto, Peregrinação, volume 6 da coleção Clássicos da Literatura Portuguesa em Banda Desenha, editado pela Levoir em colaboração com a RTP, é publicado a 27 de maio.

O argumento é da autoria de João Miguel Lameiras e a Ilustração de Miguel Jorge.

Peregrinação é indiscutivelmente uma das obras mais notáveis das literaturas de língua portuguesa e até mesmo da literatura mundial, nunca perdendo a capacidade de suscitar novas e desafiantes leituras.

É muito vasto e desigual o elenco de textos que abordam a presença portuguesa no Oriente ou que dizem respeito à Expansão (crónicas, tratados, relatos de viagens, cartas...), mas esta obra soube aproveitar bem o efeito de novidade das «muitas e muito estranhas cousas que viu e ouviu» o autor. E o seu êxito foi significativo até no contexto internacional, pois em poucos anos já contava com traduções para castelhano (1620), francês (1628), neerlandês (1652), inglês (1653) e alemão (1671), para além de numerosas reimpressões.

Considerada por alguns como romance de aventuras, com elementos ficcionais que estimulam a imaginação dos leitores, e por outros como narrativa autobiográfica, fiel à verdade dos factos, Peregrinação é, acima de tudo, um texto que agrega traços típicos de modelos tão diferentes quanto a crónica, a relação, o roteiro, a narrativa de naufrágios, a escrita epistolar, o romance de cavalaria, a sátira ou a novela picaresca.

O relato de tudo quanto o narrador viu e viveu, nomeadamente a estranheza de gentes, territórios, hábitos e costumes, modelos de organização social e política, formas de representação do sagrado, suscitou incredulidade e polémica logo após a sua publicação. 
Esta obra vai ser editada em 2 volumes.

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Ficha técnica
Peregrinação
Autores: João Miguel Lameiras e Miguel Jorge
Adaptação da obra original de: Fernão Mendes Pinto
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
PVP: 15,90€

O Inferno de Dante recebe adaptação para BD!



As editoras A Seita e a Arte de Autor lançaram há poucos dias a sua mais recente aposta conjunta em banda desenhada!

Falo da adaptação de O Inferno de Dante, poema de A Divina Comédia, de Dante Alighieri. Adaptação essa que é feita pelos irmãos Gaëtan e Paul Brizzi.

A propósito deste lançamento, até houve exposição sobre esta obra, com a presença de um dos autores, Gaëtan Brizzi, no Maia BD.

Esta é uma obra que me está a suscitar bastante curiosidade, tendo em conta o seu estilo de ilustração detalhado e impressionante, a lembrar o estilo de gravura, com que os autores nos brindam. Confesso ter ficado bastante bem impressionado com as ilustrações em exposição.
E isto já para não falar na dimensão "gigante" do livro que tem medidas iguais, ou muito semelhantes, ao Burlão nas Índias, publicado pela Ala dos Livros.

Nota ainda, positiva, para o facto de haver uma capa exclusiva para compras feitas no site da Wook.

Deixo-vos com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais da obra.


O Inferno de Dante, de Gaëtan e Paul Brizzi

A meio do caminho desta vida, encontrei-me numa floresta escura...

Com estas palavras, inicia-se um dos maiores clássicos da literatura, A Divina Comédia, de Dante Alighieri. Com uma mestria rara, os irmãos Brizzi recriam uma das obras mais difíceis e complexas da literatura europeia, tornando-a acessível a uma geração inteira de leitores, numa narrativa simultaneamente fascinante e terrível.

A Divina Comédia é frequentemente considerada como a obra fundadora da literatura europeia em língua vernácula, por oposição ao latim que imperava na Idade Média. 

Obra complexa, poema épico e extraordinariamente sofisticado (e intitulado “comédia” por oposição à “tragédia”, por acabar bem), foi também o culminar de uma certa visão da civilização europeia do mundo, mas também dos “outros mundos”:
os mundos divinos, celestiais, mas também os infernais, o Inferno, que constitui o primeiro livro dos três da Comédia, e que formou a sua imagem definitiva na psique europeia até hoje, a de um Inferno dividido em nove círculos, progressivamente mais profundos e cheios de pecadores progressivamente mais amaldiçoados.

Ao longo dos séculos, este Inferno de Dante foi objecto de inúmeros tratamentos visuais, entre os quais podemos citar as maravilhosas ilustrações de Gustave Doré, no século 19, ou mais próximas de nós, as de Dalí ou as que o pintor Lima de Freitas realizou no nosso país, ou mesmo as de Mattotti ou Moebius, dois dos maiores nomes da BD. Os irmãos Brizzi pegaram na longa e rica tradição de ilustração de clássicos, para construírem um livro imponente, que cruza vistas titânicas dos abismos infernais, com pranchas que relatam as emoções à escala humana, constantemente reflectidas na face de Dante, de uma maneira absolutamente surpreendente.

Mas, para além do seu trabalho gráfico inultrapassável, os irmãos Brizzi realizaram uma notável transcrição do texto medieval, reescrevendo para os leitores modernos a narrativa original sem a trair, e mantendo os seus pontos mais importantes: o gosto pela desmesura, a contínua tensão dramática da narrativa, e o negro e sombras que oprimem as regiões infernais mais profundas.


“Um pináculo da arte gráfica”
Cédric Pietralunga, Le Monde

“Uma grande obra de arte, um livro a meio caminho entre a narrativa ilustrada e a banda desenhada”
Emmanuel Khérad, La Librairie Francophone, France Inter

A edição da Arte de Autor e d’A Seita inclui um extenso caderno de extras, com esboços e estudos de personagens, não publicados na edição normal francesa, e um texto explicativo dos autores sobre o seu método de trabalho, e também uma tiragem especial com uma capa alternativa exclusiva da Wook.

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Ficha técnica
O Inferno de Dante
Autores: Gaëtan e Paul Brizzi
Editora: A Seita
Páginas: 168, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 240 x 340 mm
PVP: 29,00€

quarta-feira, 29 de maio de 2024

Levoir lança nova BD do iraniano Mana Neyestani!




A Levoir lançou na passada semana uma nova banda desenhada do autor Mana Neyestani, do qual já havia publicado recentemente, na última coleção de Novelas Gráficas que a editora lançou em parceria com o jornal Público, o muito interessante Uma Metamorfose Iraniana.

Desta vez, a editora portuguesa traz-nos Os Pássaros de Papel, a mais recente obra do autor iraniano.

Confesso que fiquei muito agradado com o livro Uma Metamorfose Iraniana e, por isso, estou bastante interessado neste novo livro do autor, que até marcou presença no Festival Maia BD.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais da obra.

Os Pássaros de Papel, de Mana Neyestani

A Levoir lança a 25 de Maio no Festival Maia BD a obra de Mana Neyestani, Os Pássaros de Papel, com a presença do autor e sessão de autógrafos.

Mana Neyestani nasceu em Teerão em 1973, formou-se em arquitetura, em 1990 inicia a sua carreia como desenhador e ilustrador para várias revistas culturais, literárias, económicas e políticas. Tornou-se ilustrador de imprensa com a ascensão dos jornais reformistas do Irão em 1999. Mana Neyestani recebeu numerosos prémios iranianos e internacionais, incluindo o Prémio Coragem 2010 da CRNI (Cartoonists Rights Network International). Membro da Cartooning for Peace, foi galardoado com o Prémio Internacional de Caricatura de Imprensa atribuído por Kofi Annan em 3 de maio de 2012 e com o Prix Alsacien de l'Engagement Démocratique em 2015.

O Curdistão iraniano situa-se no noroeste do país, ao longo da fronteira com o Iraque. É uma região montanhosa muito pobre, conhecida como um foco de contrabando de cigarros, álcool e vestuário. Os aldeões são explorados por bandos mafiosos para contrabandearem através das montanhas entre os dois países. Os traficantes percorrem rotas mortíferas e perigosas, atravessando os picos de 4 000 metros das montanhas Zagros, transportando mercadorias. Estes contrabandistas são conhecidos como kolbars e todos os anos dezenas deles são vítimas dos guardas fronteiriços iranianos, de minas terrestres, de avalanches ou dos invernos rigorosos da região.

Jalal, conhecido como o “Engenheiro”, é recrutado para participar numa destas expedições com homens da sua aldeia. Uma pequena tropa é formada e embarca na perigosa viagem.
Drama humano arrebatador e cheio de suspense, que conta também a história dos crimes de honra e o terrível quotidiano dos habitantes das montanhas do Curdistão iraniano, obrigados a correr riscos insanos para garantir a sua subsistência. A história desenrola-se à medida que os membros da expedição vão morrendo um a um.


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Ficha técnica
Os Pássaros de Papel
Autor: Mana Neyestani
Editora: Levoir
Páginas: 216, a preto, branco e vermelho
Encadernação: Capa dura
Formato: 170 x 240mm
PVP: 28,90€

Ala dos Livros lança nova BD de Miguelanxo Prado!



A Ala dos Livros acaba de lançar o novo livro de Miguelanxo Prado que dá pelo nome de Presas Fáceis - Abutres

Este livro volta a trazer-nos as personagens que conhecemos no primeiro livro de Presas Fáceis, que foi lançado em Portugal pela editora Levoir.

Presas Fáceis - Abutres foi originalmente lançado no início de 2024 e tem agora a sua versão portuguesa. 

Aproveito para informar que o autor estará em Portugal, na Feira do Livro de Lisboa e no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, para apresentar este livro nos próximos dias 8 e 9 de Junho.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

Presas Fáceis 2 - Abutres, de Miguelanxo Prado

Desta vez, os inspectores Tabares e Sotillo vão assumir a investigação da morte da jovem Irina, filha adoptiva de um casal espanhol. O que parece um simples caso de suicídio pode afinal revelar-se muito mais complexo, com ramificações que vão abalar a estrutura da própria sociedade.

A investigação vai levá-los a conhecerem a dura realidade do submundo da pornografia infantil cujo alcance pode ir muito para além do esperado.

Este é um livro que nos leva a pensar sobre os perigos escondidos nas novas tecnologias e como estes podem ter efeitos imprevisíveis.

Com a reconhecida excelência de argumento e desenho de Miguelanxo Prado, e pouco tempo depois do seu lançamento original, a Ala dos Livros edita “Presas Fáceis – Abutres”, o regresso do autor à sua série policial. Agora a cores, a fantástica arte de Miguelanxo Prado transporta-nos para o ambiente da narrativa, lado a lado com os investigadores.

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Ficha técnica
Presas Fáceis 2 - Abutres
Autor: Miguelanxo Prado
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 88, a cores
Encadernação: Capa dura, com lombada em tecido
Formato: 235 x 310 mm
PVP: 28,00€

Mais de 170 livros de BD com mega preço na Feira do Livro 2024!



Começa hoje a Feira do Livro em Lisboa, o maior evento do género em Portugal e, como já vem sendo hábito, deixo-vos com uma lista dos super preços de banda desenhada que poderão ser encontrados no evento.

Posso dizer-vos que há aqui "preços da China" que são verdadeiramente apetecíveis! 

A ASA este ano aposta de forma mais acérrima nos seus "Livros do Dia" e faço especial nota deste ponto porque são bastantes as vezes em que me escrevem a perguntar onde podem ser compradas séries como Peter Pan (Loisel), Long John Silver ou Rio, que saíram com o jornal Público e que, depois disso, ficaram difíceis de encontrar em livraria. A esses leitores, eu recomendo que visitem a Feira do Livro em Lisboa e aproveitem a disponibilidade destas séries e, ainda por cima, a um preço muito simpático!

Mas não são só esses os bons deals... também se encontram livros que, tendo um PVP algo elevado, acima dos 25€, podem aqui ser encontrados a um preço muito mais convidativo. Estou a lembrar-me de um Burlão nas Índias, de um Balada para Sophie, um Batman - O Regresso do Cavaleiro das Trevas, um Os Vampiros ou um Sapiens - Novela Gráfica.

Relembro que, mesmo que não consigam deslocar-se ao evento para comprar determinado livro no dia em que esse título é "Livro do Dia", poderão, ainda assim, fazer um bom negócio, pois todos os livros terão, pelo menos, um melhor preço do que o habitual PVP.

Porque acredito que é possível fazer melhor, volto a afirmar que o site da Feira do Livro, na secção "Livros do Dia" poderia/deveria colocar filtros de pesquisa para que os leitores pudessem selecionar as obras por género. Neste caso, por "banda desenhada". Isso seria muito fácil e bem-vindo para muita gente. Mas, como não existe, sobra-nos apenas o Vinheta 2020 para fazer esse serviço. You're welcome.

Faço ainda aqui uma nota: os livros de editoras como a Arte de Autor, a G. Floy Studio, a Polvo, a Devir e muitas mais editoras, não aparecem nesta lista porque também não aparecem no site do evento. Mas tenho quase a certeza que alguns dos livros destas editoras também serão "Livros do Dia". Se algum dos editores/distribuidores/expositores ler este artigo e me quiser fazer chegar uma lista dos seus "Livros do Dia", está à vontade para o fazer. Posteriormente, atualizarei este artigo com essa informação.


Por fim, permitam-me ainda uma nota mais pessoal. Esta Feira do Livro será única e especial para mim pois, desta vez, não serei apenas um mero visitante, como sempre fui desde os meus tempos de criança, mas estarei do lado dos autores em sessões de autógrafos. 

O meu livro Muitos Anos a Virar Páginas, não só terá direito a 4 sessões de autógrafos, como também estará a um preço muito convidativo. 20€ em vez dos habituais 25€. É de aproveitar!

Espero ver-vos por lá, para um autógrafo e para uma conversa sobre BD.

Estas serão as minhas sessões de autógrafos, que decorrerão no stand da Ala dos Livros (D48):

Quinta-feira, 30 de Maio - Das 17 às 18h
Sexta-feira, 31 de Maio - Das 18 às 20h
Sábado, 1 de Junho - Das 18h30 às 19h30
Domingo, 2 de Junho - Das 18 às 19h

Mas, voltando ao assunto deste artigo, pois é isso que vos trouxe aqui, deixo-vos então, mais abaixo, a listagem com mais de 170 livros com um preço fantástico!

Boas compras!

terça-feira, 28 de maio de 2024

Levoir lança Dissident Club!



A Levoir lançou, ainda durante o Maia BD, a sua nova aposta em banda desenhada.

Dá pelo nome de Dissident Club: Crónica de um Jornalista Paquistanês Exilado em França e é da autoria do paquistanês Taha Siddiqui e do francês Hubert Maury. e conta-nos a história verídica de Taha Siddiqui que se viu forçado a enverederar pelo exílio em França devido à sua luta pela liberdade de imprensa. 

Tive ocasião de folhear o livro e devo dizer que fiquei bastante agradado com o traço de Maury, enquanto que o testemunho de Saddiqui também me parece ser de extrema relevância.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa da obra e com algumas imagens promocionais da mesma.

Dissident Club: Crónica de um Jornalista Paquistanês Exilado em França, de Taha Siddiqui e Hubert Maury

A Levoir vai lançar no Festival Maia BD de 24 a 26 maio a obra de Taha Siddiqui, Dissident Club: Crónica de um Jornalista Paquistanês Exilado em França onde o autor estará presente para sessão de autógrafos.

Taha conta a luta de um homem pela liberdade de imprensa, pelo acesso à informação e à liberdade de expressão, tudo isto com um sentido de humor libertador e sem limites. Co-escrita e dirigida por Hubert Maury, um antigo diplomata que se tornou artista de banda desenhada. Esta novela gráfica oferece-nos uma visão clara do Paquistão nos últimos trinta anos, bem como uma certa reflexão sobre a religião, os seus excessos e as fracturas de uma comunidade. É um relato comovente e sensível.

Nesta obra, Taha Siddiqui e Hubert Maury recordam a sua juventude, a sua carreira e a sua luta pela liberdade de imprensa. Quando os pais de Taha saíram do Paquistão para a Arábia Saudita, na esperança de uma vida melhor. Na terra de Meca, a vida quotidiana do pequeno Taha já era regida pelo rigoroso Islão, mas quando o pai se radicalizou, as coisas tornaram-se mais difíceis.

Taha Siddiqui, é um jornalista paquistanês, que vive no exílio em França desde 2018, depois de ter sido vítima de um rapto e de uma tentativa de assassinato no seu país natal.

Fundou o The Dissident Club um bar em Paris onde se reúnem dissidentes de todo o mundo. Também ensina no Instituto de Estudos Políticos de Paris e continua a escrever para vários jornais internacionais.
No Paquistão, foi correspondente de vários meios de comunicação internacionais, incluindo o New York Times, o Guardian e o France24. Em 2014, foi galardoado com o Prémio Albert Londres pelo seu trabalho sobre "A Guerra da Pólio". 
Um álbum em parceria com os Repórteres sem Fronteiras e a France Info.

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Ficha técnica
Dissident Club: Crónica de um Jornalista Paquistanês Exilado em França
Autores: Taha Siddiqui e Hubert Maury
Editora: Levoir
Páginas: 272, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato – 195 x 270 mm
PVP: 32,00€

sexta-feira, 24 de maio de 2024

Análise: Admirável Mundo Novo – Romance Gráfico

Admirável Mundo Novo – Romance Gráfico, de Fred Fordham - Relógio D'Água


Admirável Mundo Novo – Romance Gráfico, de Fred Fordham - Relógio D'Água
Admirável Mundo Novo – Romance Gráfico, de Fred Fordham

A editora Relógio d’Água lançou recentemente a adaptação para banda desenhada da obra-prima de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, escrita originalmente em 1932. À semelhança de um 1984, de George Orwell, ou de um Nós, de Zamiatine, esta é uma das distopias mais famosas da literatura mundial e, convenhamos, uma adaptação para banda desenhada era, quanto a mim, bem-vinda. O responsável por tal feito, é Fred Fordham, de quem a editora Relógio D’Água até já publicou Mataram a Cotovia, outra adaptação de um romance literário que, por acaso, me agradou muito.

Ora, dito tudo isto, estava bastante intrigado com este Admirável Mundo Novo pelas mãos e mente de Fred Fordham, já que sou um grande admirador do romance original de Huxley. E, com efeito, esta é uma adaptação que, mesmo podendo não ser perfeita, consegue bastantes feitos e honra a obra original.

A história passa-se num futuro distante onde a humanidade vive sob um regime totalitário que utiliza a biotecnologia, a engenharia genética e o condicionamento psicológico para manter o controlo social dos humanos. A obra aborda temas como a perda da individualidade, a manipulação do comportamento humano e a superficialidade das relações sociais num mundo claramente dominado pela tecnologia. Parece próximo do mundo em que vivemos? Sim, diria que sim. De facto, Aldous Huxley foi verdadeiramente visionário com esta obra escrita há quase 100 anos.

Admirável Mundo Novo – Romance Gráfico, de Fred Fordham - Relógio D'Água
O livro descreve uma sociedade altamente organizada e tecnologicamente avançada, na qual as pessoas são produzidas em massa em laboratórios, geneticamente modificadas e condicionadas desde o nascimento para pertencer a uma das várias castas sociais. Estas castas são rigidamente hierarquizadas, com os Alfas no topo, destinados a posições de liderança, e os Ípsilones na base, destinados a trabalhos braçais. A estabilidade social é mantida através do uso de uma droga chamada "soma", que proporciona prazer e alívio do stress sem efeitos colaterais negativos aparentes. A liberdade individual é sacrificada em nome da estabilidade e da felicidade superficial. As emoções são suprimidas e as artes, a religião e a filosofia são praticamente inexistentes, uma vez que poderiam gerar questionamentos e instabilidade.

Um dos temas centrais do livro é também o contraste entre o controlo totalitário exercido pelo Estado e a perda de liberdade individual. A sociedade descrita em Admirável Mundo Novo prioriza a estabilidade e o bem-estar coletivo, mas isso é alcançado à custa do suprimento da individualidade e da liberdade pessoal. Os cidadãos são, pois, condicionados a aceitar o seu papel na sociedade sem se poderem questionar. E se estiverem descontentes em algum dos seus dias, uma dose de “soma” fá-los-á ficarem automaticamente felizes com a vida.

A obra ainda levanta questões sobre o uso da tecnologia para controlar e desumanizar a sociedade e, também, a superficialidade de um consumismo sem travão por parte da sociedade moderna, já que os habitantes deste “admirável mundo novo” são incentivados a procurar prazer imediato e gratificação instantânea, evitando qualquer tipo de reflexão ou desconforto emocional. Por esse motivo, ninguém estabelece relações familiares e toda a gente é independente. Mesmo ao nível da sexualidade, os parceiros sexuais não devem ser repetidos ou mantidos. O sexo é praticado pelo prazer físico do ato e não por questões amorosas.

Admirável Mundo Novo – Romance Gráfico, de Fred Fordham - Relógio D'Água
Bernard Marx, o protagonista, é um Alfa que se sente deslocado devido a sentir uma certa insatisfação com a sociedade que o rodeia, tornando-o crítico do sistema. Quando este faz uma viagem com Lenina Crowne até ao mundo selvagem – onde as pessoas levam uma existência mais próxima daquela que vivemos – encontram John, o Selvagem. E é a vinda deste personagem para o “admirável mundo novo” que leva o leitor a ter dois pontos de vista diferentes e a mergulhar nas críticas que a obra faz à sociedade humana. Um exercício deveras interessante, a meu ver. E que prova que a obra se mantém atual nos dias de hoje.

Olhando para a adaptação de Fred Fordham para banda desenhada, considero que o autor conseguiu captar a essência da obra original. Se é verdade que, do ponto de vista narrativo, por vezes Fordham parece deixar o leitor algo desorientado, perdendo o fio à meada se não conhecer bem a obra original, a verdade é que o autor foi especialmente bem sucedido na reimaginação do mundo onde decorre a ação. Havia discrições na obra original, sim, mas Fred Fordham acabou por adaptar os cenários, a tecnologia presente, os edifícios e as próprias indumentárias das personagens a um futuro que podemos considerar (mais) próximo da realidade em que vivemos no ano 2024 e, por conseguinte, como sendo mais verosímil. A mim, convenceu-me esta abordagem visual que o autor faz da obra de Huxley.

Há uma certa sensação de despovoamento face aos cenários demasiado vazios, mas, por uma vez, parece-me que isso era tudo o que era necessário numa obra deste calibre. É que o universo de Admirável Mundo Novo é totalmente vazio, clean e acético.

Admirável Mundo Novo – Romance Gráfico, de Fred Fordham - Relógio D'Água
E uma nota positiva tem que ser dada à forma como Fordham representa as exuberantes festas e orgias sexuais, através de cores fortes e garridas que poderiam lembrar o filme Blade Runner – ou, já agora, a banda desenhada Neon, da portuguesa Rita Alfaiate. Esta utilização da cor por parte de Fordham resulta muito bem para mostrar a superficialidade e surrealismo de uma falsa felicidade que assenta na utilização de drogas e no sexo sem barreiras.

Mesmo assim, também é verdade que, por vezes, os diálogos me pareceram algo longos em demasia. Compreendo que parte de uma distopia é explicar - através da narração ou dos diálogos - esse próprio universo distópico, mas, mesmo assim, talvez alguns diálogos pudessem ser um pouco mais pequenos.

E também é verdade que certos desenhos apresentam, por vezes, pouca definição nas linhas de contorno das personagens. Não consegui perceber se tal se devia à própria arte original de Fordham ou se isso tem que ver com algum erro ou imperfeição a nível editorial e de impressão. Não pude comparar com a versão original da obra. Mesmo assim, é algo negativo e que saltou à minha vista por diversas vezes.

A edição da Relógio d´Água é, como já vem sendo hábito, em capa mole e com bom papel baço no interior e um bom trabalho ao nível de encadernação, embora me pareça que o livro, enquanto objeto físico, beneficiaria se tivesse badanas. 

De qualquer maneira, realço com satisfação a continuação da aposta da editora no lançamento de banda desenhada. É certo que das nove bandas desenhadas lançadas, sete delas são adaptações de obras da literatura mundial e apenas duas foram primeiramente pensadas e projetadas para banda desenhada (O Segredo da Força Sobre Humana e Patos), mas isso não invalida que seja positivo que a editora persista no lançamento de banda desenhada. Que assim continue!

Concluindo, pode-se dizer que Admirável Mundo Novo não seria, à partida, uma obra fácil de adaptar para banda desenhada, mas que Fred Fordham se sai bem nessa empreitada. E, convenhamos, a própria opção por tornar mais presente e mais atual esta obra, que assenta numa crítica poderosa às tendências autoritárias e tecnocráticas da sociedade moderna, também é mais que bem-vinda. Afinal de contas, Admirável Mundo Novo continua a ser relevante hoje, provocando reflexões sobre o papel da tecnologia na sociedade e os limites do controlo estatal sobre a vida humana.


NOTA FINAL (1/10):
8.6


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Admirável Mundo Novo – Romance Gráfico, de Fred Fordham - Relógio D'Água

Ficha técnica
Admirável Mundo Novo - Romance Gráfico
Autor: Fred Fordham
Adaptado a partir da obra original de: Aldous Huxley
Editora: Relógio d’ Água
Páginas: 244, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 16,3 x 23,5 cms
Lançamento: Maio de 2024

Análise: Torpedo 1972 - O Que Isso Dói!

Torpedo 1972 - O Que Isso Dói!, de Enrique Sánchez Abulí e Eduardo Risso - Levoir e Público


Torpedo 1972 - O Que Isso Dói!, de Enrique Sánchez Abulí e Eduardo Risso - Levoir e Público
Torpedo 1972 - O Que Isso Dói!, de Enrique Sánchez Abulí e Eduardo Risso

Se há séries que são provocadoras, sem remorsos, e que emanam uma forte violência, Torpedo salta à memória como um dos belos exemplos dessa estirpe. E quando menciono “violência”, até nem me refiro a violência física - embora esta também exista em Torpedo, claro – mas de violência ao nível das histórias, das personagens e do enredo. Torpedo, também conhecido como Luca Torelli, é um verdadeiro bruto e uma personagem que, certamente, chocaria/chocará muitas das mentes demasiado (?) sensíveis que pululam nas gerações mais novas. Aliás, até vou mais longe: se Torpedo fosse uma série com mais sucesso - em vez de ser uma série de nicho - não tenho dúvidas de que muita gente se insurgiria contra a mesma, apelando ao seu cancelamento. Enfim, é o mundo atual em que vivemos.

Torpedo 1972 - O Que Isso Dói!, de Enrique Sánchez Abulí e Eduardo Risso - Levoir e Público
Mas, lá está, e talvez também por isso, essa violência, essa brutidão e essa aspereza que podemos encontrar em Torpedo, também fazem parte do conjunto de razões para que tantos leitores - incluindo a minha pessoa - descubram nesta série o sal e a pimenta que necessitam para uma história que mexe connosco, que nos choca, mas que, acima de tudo, nos faz rir perante o seu humor negro.

Depois de o Torpedo jovial – mas igualmente indecoroso e infame – que conhecemos na série originalmente desenhada por Jordi Bernet, e que colocava o protagonista, Luca Torelli, em plenos anos 30 (em 1936, mais concretamente), Torpedo 1972, conforme o nome sugere, posiciona a história nos anos 70, oferecendo-nos um Luca envelhecido e decrépito, embora mantendo todos os traços da sua personalidade. Este O Que Isso Dói! é o segundo volume desta aposta que tem Eduardo Rissso como ilustrador.

Neste volume, Luca Torelli acorre à sua amiga Lou para lhe atender a um pedido: matar o polícia Joe Carter, que está a pôr em perigo as raparigas e as próprias instalações do bordel, do qual Lou é gerente. Se Torpedo parece renitente em aceitar o pedido de Lou, logo acaba por aceder ao mesmo, quando esta lhe oferece, como parte do pagamento para este serviço, a possibilidade de bar e prostitutas grátis durante dois anos. Ora, combinado o negócio, Torpedo não terá pruridos éticos em assassinar alguém em troca de poder beneficiar de sexo grátis e sujo durante dois anos! Além disso, o seu fiel companheiro, Rascal, também poderá beneficiar deste pagamento.

Torpedo 1972 - O Que Isso Dói!, de Enrique Sánchez Abulí e Eduardo Risso - Levoir e Público
Por falar em Rascal, este mantém-se especialmente cómico neste volume, com a sua súbita necessidade de ir a um urologista para lhe tratar do problema de disfunção eréctil que lhe acontece devido à forte agressão às suas partes baixas, logo na primeira prancha do livro.

Se me perguntarem se a história, o argumento propriamente dito, deste O Que Isso Dói! tem algo de muito especial, terei que responder que não. A premissa é tão básica que - por falar em dor - até dói! No entanto, e à semelhança de um filme de Tarantino, Abulí procura mais dar-nos momentos marcantes, com diálogos inspirados e carregados de humor negro, do que em oferecer-nos algo que nos faça tirar grandes reflexões para a vida. É um daqueles casos onde é mais importante a jornada do que o destino.

O estilo de ilustração de Eduardo Risso casa bem com a personagem de Torpedo. Não será um desenho que, na minha opinião, é tão apelativo como o estilo mais clássico e maravilhosamente desenhado num traço a preto e branco puro por Jordi Bernet, mas, e até tendo em conta que este Luca Torelli já é outro do que o Luca Torelli que conhecemos - afinal de contas, passaram-se 36 anos para a personagem - a arte ilustrativa de Risso acaba por fazer jus à história e ao ambiente de Torpedo.

Torpedo 1972 - O Que Isso Dói!, de Enrique Sánchez Abulí e Eduardo Risso - Levoir e Público
Os que estão familiarizados com o tipo de desenho do autor – que, entre outras, pode ser apreciado em obras como 100 Balas ou Batman Noir, também editadas pela Levoir - encontrarão aqui muitos pontos em comum, já que o estilo “trashy” das personagens, que parecem saídas de um filme série B, se mantém uma imagem de marca do autor. E as cores acabam por desempenhar um papel importante porque, como Eduardo Risso não é um autor que deposite muitos detalhes nos seus cenários, as manchas cromáticas brincam bem com os ambientes que interessa recriar, explorando a dinâmica visual do todo.

Em termos de edição, a Levoir fez aqui um bom trabalho. Não esquecendo a edição da série completa (na altura) que havia editado em 2018, incluindo o primeiro volume de Torpedo 1972, a editora teve o bom senso de adaptar a edição deste O Que Isso Dói! às características gráficas dos 6 anteriores livros da coleção.

Assim, e com efeito, o livro apresenta o mesmo grafismo em termos visuais, com o mesmo lettering a vermelho, os mesmos tons a preto e a vermelho e o texto da contracapa em harmonia com o texto das contracapas dos anteriores seis livros. Além disso, na lombada, este novo volume continua a ilustração que o somatório das 6 lombadas já formava. É certo que a palavra “Torpedo” deixa de estar centrada (e como resolução desta consequência talvez este sétimo volume pudesse ter o nome dos autores, de lado, na parte superior da lombada, atenuando dessa forma esta assimetria, digo eu), mas parece-me que foi a escolha certa e que dignifica ainda mais a edição. Se tantas vezes a Levoir recebe críticas às suas edições, eis um belo exemplo de um bom trabalho de edição por parte da editora. E relembro ainda que o papel utilizado até melhorou face aos volumes anteriores e que o número de páginas com material adicional até foi bastante aumentado para 12 páginas.

Em suma, não consigo não ser fã de Torpedo. Eis uma das personagens mais eticamente incorretas da BD, uma autêntica besta no trato das mulheres e um verdadeiro animal no (in)cumprimento dos valores mais básicos de uma sociedade. Mas, de alguma forma, há nessa maneira de estar da personagem um charme sujo, uma beleza abismal, uma comédia abrutalhada, que entretém o leitor de forma viciante. Num mundo cada vez mais suscetível ao eticamente incorreto, a série Torpedo continua a afirmar-se como uma pedra no charco. E que bom é ser-se salpicado pela rebeldia e pelo anti-establishment. Recomenda-se, claro!


NOTA FINAL (1/10):
8.8



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Torpedo 1972 - O Que Isso Dói!, de Enrique Sánchez Abulí e Eduardo Risso - Levoir e Público

Ficha técnica
Torpedo 1972 - O Que Isso Dói!
Autores: Enrique Sánchez Abulí e Eduardo Risso
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 195 x 260 mm
Lançamento: Abril de 2024

Devir vai lançar 6º volume de Lazarus!



A série Lazarus, pela qual muitos leitores portugueses andaram ávidos, vai receber o seu sexto volume durante este mês de Junho!

Será no dia 17 de Junho que este livro, da autoria de Greg Rucka,  Michael Lark e Santiago Arcas, deverá chegar às livrarias portuguesas. A editora Devir anuncia também que o livro terá um pré-lançamento, na Feira do Livro de Lisboa, no dia 15 de Junho.

Por agora, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


Lazarus #6, de Greg Rucka, Michael Lark e Santiago Arcas

Com a guerra do Conclave a entrar no seu quarto ano, a família Carlyle mal consegue aguentar-se no terreno contra inimigos que a atacam de todos os lados.

Agora, Forever e Johanna Carlyle passaram à ofensiva, quebrando as alianças formadas entre os seus inimigos e removendo violentamente do mapa os LAZARUS rivais.

No entanto, os segredos começam a cobrar o seu preço e, quando forem revelados, os resultados poderão vir a ser devastadores.



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Ficha técnica
Lazarus #6
Autores: Greg Rucka e Michael Lark e Santiago Arcas
Editora: Devir
Páginas: 152, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 26 cm
PVP: 14,99€

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Análise: The Walking Dead - Coletânea 2

The Walking Dead - Coletânea 2, de Robert Kirkman, Charlie Adlard e Cliff Rathburn - Devir


The Walking Dead - Coletânea 2, de Robert Kirkman, Charlie Adlard e Cliff Rathburn - Devir
The Walking Dead - Coletânea 2, de Robert Kirkman, Charlie Adlard e Cliff Rathburn

Depois de quase 7 anos de espera, eis que a editora portuguesa Devir voltou a The Walking Dead! Julgo que isso, por si só, já será uma excelente notícia para muitos leitores e adeptos desta série que, rapidamente, se tornou, à escala global, um enorme sucesso, não só em termos de banda desenhada como, também, em termos de série televisiva.

Este é um livro enorme em dimensão pois, tendo mais de 500 páginas, agrega 4 volumes num só livro. Denomina-se, por isso, de “coletânea”, sendo esta a segunda de um total de oito. Relembro que, em 2016, a editora lançou a primeira coletânea e que a mesma continua disponível para venda.

Recolhi por essa internet fora várias reações negativas face ao enorme interregno temporal que houve entre o lançamento da primeira e, agora, da segunda coletânea. Naturalmente, compreendo que um leitor de banda desenhada queira continuar a ler as séries do seu interesse de forma ininterrupta, mas também devo dizer que essas críticas apontadas à Devir são algo infundadas porque, na verdade, este interregno não foi bem uma escolha editorial da Devir, já que a negociação dos direitos da série esteve "embrulhada" pelo lado americano, durante um grande tempo.

The Walking Dead - Coletânea 2, de Robert Kirkman, Charlie Adlard e Cliff Rathburn - Devir
É lógico que, por outro lado, também compreendo que muitos dos leitores portugueses que se viram privados de continuar a ler a série em português, tenham optado por fazê-lo em inglês ou noutra língua. Mas, lá está, esta é uma série que apela a um grande público e quer-me, por isso, parecer, que ainda há uma franja de público considerável que ainda não leu a série (ou que deixou de a ler) e que, agora que The Walking Dead foi retomada, pode mergulhar numa série de enorme sucesso. Portanto, deixando as críticas de lado, acho que, neste caso, e conhecendo as causas antes de opinar, talvez seja mais avisado dar louvores às Devir por não deixar a série no limbo e por regressar à publicação da mesma.

The Walking Dead é uma série de zombies criada por Robert Kirkman que se tornou num autêntico fenómeno mundial. É quase impossível que haja alguém que não saiba o que é The Walking Dead – e para isso também contribui o facto de a série televisiva ser das mais célebres dos últimos anos. A causa deste mundo pós-apocalíptico é uma epidemia de proporções mundiais que varreu o globo, fazendo com que os mortos ganhassem vida e começassem a alimentar-se dos vivos. Dito assim, pode parecer uma ideia algo pobre e, até mesmo, simplória, mas garanto-vos que a questão dos zombies é um mero engodo narrativo para um autêntico tour de force em termos de narrativa e estudo sociológico.

The Walking Dead - Coletânea 2, de Robert Kirkman, Charlie Adlard e Cliff Rathburn - Devir
Esta Coletânea 2 começa a partir do quinto capítulo, intitulado A Melhor Defesa. Rick Grimes, o protagonista, e as personagens que circundam à sua volta mantêm-se a ocupar uma prisão, tornando-a num lar e num forte defensivo contra a praga de zombies que parece não cessar de os rodear. As personagens secundárias recebem mais atenção nesta fase da série, permitindo uma exploração mais rica das suas histórias e motivações. E isso não só adiciona profundidade à trama, como também amplia o espectro emocional da narrativa. As interações entre os membros do grupo refletem, pois, a diversidade de respostas humanas ao trauma e à adversidade, passando por atitudes altruístas ou profundamente maléficas. Lori, Glenn, Andrea e outros membros do grupo enfrentam os seus próprios demónios e desafios, revelando camadas complexas de personalidade e resiliência.

E, claro, com a figura do Governador, Kirkman consegue atribuir valentes camadas de violência psicológica à série. Se um bom herói é espírito e vida de uma boa série, não tenho dúvidas de que um bom vilão é o que torna a história mais impactante e, por conseguinte, inolvidável para o leitor. Pelo menos é isso que acontece comigo. "Chapéus (e heróis) há muitos…" mas bons vilões nem sempre aparecem nas histórias que leio. E a personagem de o Governador é um desses vilões que resiste ao teste do tempo. Nunca mais o esquecemos depois de lermos The Walking Dead.

The Walking Dead - Coletânea 2, de Robert Kirkman, Charlie Adlard e Cliff Rathburn - Devir
Além disso, o que é absolutamente fabuloso em The Walking Dead, não é especialmente o facto de esta ser uma série de zombies, mas sim a própria narrativa que, sendo complexa, consegue explorar bem a psique e o instinto de sobrevivência das personagens, bem como as suas relações interpessoais num mundo pós-apocalíptico. Kirkman aprofunda o desenvolvimento de várias personagens, mas com especial ênfase em Rick Grimes, dando destaque às suas lutas internas e a decisões difíceis que precisam de ser tomadas para proteção da sua família e do seu grupo.

A tensão psicológica é constantemente elevada, com dilemas éticos que desafiam a humanidade das personagens, forçando-as a redefinir os seus conceitos de certo e errado. The Walking Dead é, pois, um autêntico tratado a nível sociológico, onde fica bem visível a enorme habilidade de Kirkman para combinar o horror e o drama numa história que ressoa nos leitores. O simbolismo da horda de zombies como uma representação da inexorável decadência da civilização e da moralidade humana também é uma constante presença poderosa na narrativa, que se desenrola com um ritmo intenso, onde a segurança é efémera e as ameaças são constantes. Tanto dos mortos como dos vivos.

As ilustrações de Charlie Adlard cumprem bem a sua tarefa, servindo a narrativa e proporcionando ao leitor alguns bons momentos, mas tenho que relembrar que o trabalho de Tony Moore, que ilustrou apenas o primeiro capítulo da série, com o seu estilo mais “cartoonizado” - o que possibilitou às personagens a obtenção de uma expressividade marcante - nunca mais foi igualado. O trabalho de Adlard é bom, mas inferior ao de Moore, a meu ver. É claro que tendo Charlie Adlard assumido, depois, a partir do segundo capítulo e até ao fim, os desígnios da ilustração da série, acabou por lhe incutir muito do seu cunho pessoal. Tratar-se-á de uma questão algo subjetiva - e, portanto, pessoal - mas, quanto a mim, sempre lamentei que Tony Moore tivesse deixado o projeto.

The Walking Dead - Coletânea 2, de Robert Kirkman, Charlie Adlard e Cliff Rathburn - Devir
Seja como for, a planificação é bastante cinematográfica e o jogo de luz proporcionado pelo preto e branco de Adlard - que depois recebe ainda os tons a cinza de Cliff Rathburn - tem vários momentos bem conseguidos que fazem jus ao argumento dinâmico de Kirkman, conseguindo dar à série o aspeto sombrio, com atmosferas desoladas, que a narrativa pedia.

Em termos de edição, o livro apresenta capa mole com badanas e um papel bastante fino que quase lembra o papel que encontramos em revistas! Isto pressupõe que tenhamos que ter algum cuidado no manuseamento do livro para que não fiquemos com uma página na mão. Compreendo, por outro lado, que é uma opção editorial que funciona bem para conseguir reunir num só livro, 4 capítulos e mais de 500 páginas, sem que o mesmo pareça uma “lista telefónica”. Nesse ponto, funciona bem, de facto, mas fica o aviso para terem cuidado no manuseamento do livro. Mesmo assim, tenho que admitir também que, com as devidas precauções, o livro resiste bem e, pelo menos, não fica com aquele vinco típico que costuma aparecer nas lombadas dos livros grossos de capa mole. De resto, a impressão e a encadernação apresentam boa qualidade.

Em suma, The Walking Dead continua a explorar a ideia de que os verdadeiros monstros nem sempre são os zombies, mas os próprios humanos, quando se deixam levar ao extremo pelas suas fantasias, amarguras e desejos mais diabólicos. A habilidade de Kirkman em criar situações de alta intensidade emocional faz com que os leitores se envolvam profundamente com as personagens e com as suas jornadas, possibilitando que esta série continue a ser um estudo fascinante da condição humana em tempos de crise extrema e oferecendo-nos uma leitura que é ao mesmo tempo emocionante e profundamente reflexiva.


NOTA FINAL (1/10):
9.4



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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The Walking Dead - Coletânea 2, de Robert Kirkman, Charlie Adlard e Cliff Rathburn - Devir

Ficha técnica
The Walking Dead - Coletânea 02
Autores: Robert Kirkman, Charlie Adlard e Cliff Rathburn
Editora: Devir
Páginas: 544 páginas, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 26 cm
Lançamento: Março de 2024