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quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Análise: Lazarus #04 - Veneno





Lazarus #04 - Veneno, de Greg Rucka e Michael Lark - Devir
Lazarus #04 - Veneno, de Greg Rucka e Michael Lark

Presumivelmente - mas não só - devido à crise e incerteza que a pandemia covid-19 trouxe ao mercado de banda desenhada, a editora Devir demorou mais do que dois anos a publicar o quarto volume da série Lazarus, de Greg Rucka e Michael Lark. E, se é verdade que todos nós, leitores de banda desenhada, gostamos que as séries vão sendo publicadas de forma assídua e a uma boa cadência, acho que, não obstante, é louvável que a Devir não tenha deixado esta série órfã. Passou bastante tempo, sim, mas a editora não esqueceu os fãs da série e voltou ao lançamento da mesma, através deste quarto volume. E que bom isso é!

Esta é uma série onde Greg Rucka nos oferece um universo vagamente futurista, onde o mundo aparece dividido por fronteiras económicas, em detrimento das fronteiras políticas ou geográficas que conhecemos nos dias de hoje. Como tal, esse controlo económico do planeta é assegurado por um punhado de relevantes famílias, polarizando posições e aumentando o constante grau de conflito que paira no planeta. Todas estas famílias têm um “Lazarus” que consiste, basicamente num “super-soldado” geneticamente modificado. No caso da família Carlyle, a sua Lazarus é Forever Carlyle.

Lazarus #04 - Veneno, de Greg Rucka e Michael Lark - Devir
Nesse quarto volume vemo-la a ser enviada para Duluth, com o objetivo de impedir que a cidade seja conquistada por Hock, pertencente a uma família rival dos Carlyle. Mas Forever Carlyle, a protagonista, terá que encetar a sua luta munida apenas com uma pequena força de apenas quatro soldados no território inimigo. Parece uma missão impossível, não?

Ainda por cima, Forever Carlyle parece ter motivações pessoais que a levam a iniciar uma revolta e a deixar de responder àquilo que lhe é pedido pelos seus superiores. E embora Forever pareça ser imortal – pois sempre regressa à vida – os desafios estão a ficar cada vez maiores.

Se a vertente bélica e de ação da história montada por Rucka é bastante interessante, pareceu-me que há depois toda uma envolvente política que é um pouco forçada em variados momentos do livro, com o aparente e único motivo de tornar a leitura mais densa. Não há mal nenhum nisso – o de acrescentar camadas de interpretação e de bastidores político-estratégicos à trama principal, entenda-se – mas parece-me que Rucka abusa um pouco disso. Que enrola um pouco o "blablabla", diga-se por outras palavras. Dei por mim, muitas vezes, a desejar que a parte de diálogos avançasse rapidamente para poder acompanhar a carismática e bem conseguida personagem central da trama. É isso que torna a série Lazarus apelativo!

Lazarus #04 - Veneno, de Greg Rucka e Michael Lark - Devir
Por tudo isto, aviso que aqueles que não leram os anteriores volumes poderão sentir-se um pouco perdidos se se iniciarem na série com a leitura deste volume. E mesmo àqueles que, como eu, já conheciam a série, apelo para que a releiam novamente para apanharem tudo. Afinal de contas, passou muito tempo entre o lançamento do terceiro álbum e este quarto volume.

Em termos visuais, também a minha opinião converge com aquilo que senti no argumento. Isto é, as partes mais lentas e de maior diálogo e trama familiar, não só são as mais maçadoras em termos de história, como também o são em termos de ilustrações. E não é que Michael Lark as desenhe mal. Mas simplesmente parecem ser desenhos menos inspirados e com uma representação cénica de interiores mais pobre.

Onde Lazarus mais impressiona visualmente é mesmo quando estamos perante momentos de ação. As representações da guerra e combates viscerais, sangrentos e muito gory estão desenhadas de uma forma que impressiona. O trabalho de Michael Lark também é muito bom ao nível da caracterização das expressões faciais que, através de uma ótima utilização das sombras, bem como de alguns elementos como a neve ou o sangue que espirra nos combates, consegue pontuar os desenhos com um maior nível de detalhe, que os torna mais reais e, também, mais apelativos à vista.

Mas para que os desenhos de Lark se destaquem, também contribuem – e muito – as belas cores de Santi Arcas, que consegue oferecer ao todo as cores adequadas para cada cena.

Lazarus #04 - Veneno, de Greg Rucka e Michael Lark - Devir
Embora, no final, se sinta um resultado bastante digital, quer nas ilustrações de Lark, quer no processo de colorização de Arcas, considero que, usadas desta forma, as ferramentas digitais conseguem ser muito positivas. Lazarus é bastante apelativa em termos visuais.

A edição da Devir é em capa mole, com bom papel brilhante e boa encadernação e impressão. Considero que este livro talvez merecesse capa dura, de forma a ficar mais robusto, mas, tendo em conta os números anteriores também editados em capa mole, esperava-se, naturalmente, que a capa continuasse a ser mole. Nota positiva para os materiais de bónus que aparecem no fim do livro e que consistem na ilustração de uma capa adicional e uma ilustração dupla. Menos positiva é o trabalho de legendagem, ao nível da font utilizada, para as legendas em voz off que acabam por ficar praticamente ilegíveis. Há muito tempo que eu não encontrava um estilo de letra tão difícil de ler. Valha-nos que, em termos de balões de diálogo, que são mais frequentes do que as legendas em voz off, isto não aconteça e a leitura não seja prejudicada. 

Em suma, é bom ver que a Devir manteve o seu compromisso com os leitores de Lazarus e que voltou à publicação da série. Sendo, por vezes, e quanto a mim, uma série desnecessariamente complexa em termos políticos, tem uma bela vertente de ação apressada e violenta que nos deixa em suspense para aquilo que a próxima página – ou livro – nos trará a seguir. E, por esse motivo, acaba por ser algo viciante.


NOTA FINAL (1/10):
7.8



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Lazarus #04 - Veneno, de Greg Rucka e Michael Lark - Devir

Ficha técnica
Lazarus #04 - Veneno
Autores: Greg Rucka e Michael Lark
Editora: Devir
Páginas: 146, a cores
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Outubro de 2022

Análise: O Jardim Secreto - Novela Gráfica

O Jardim Secreto - Novela Gráfica, de Mariah Marsden e Hanna Luechtefeld - Fábula (Penguin Random House)

O Jardim Secreto - Novela Gráfica, de Mariah Marsden e Hanna Luechtefeld - Fábula (Penguin Random House)
O Jardim Secreto - Novela Gráfica, de Mariah Marsden e Hanna Luechtefeld

A chancela Fábula, pertencente ao grupo editorial Penguin Random House, e que, mais comummente, tem editado livros ilustrados para um público infanto-juvenil, lançou recentemente O Jardim Secreto – Novela Gráfica, de Mariah Marsden e Hanna Luechtefeld. Note-se que, apesar da essência da chancela ser o lançamento de livros ilustrados, este O Jardim Secreto não é a primeira banda desenhada que a Fábula lança. Já no ano passado, a editora lançou o muito interessante Ana dos Cabelos Ruivos, também de Mariah Marsden que, para essa obra, se fez acompanhar por Brenna Thummler nas ilustrações.

Portanto, já são duas bandas desenhadas que a Fábula nos traz. E o que é digno de realce é que, mesmo sendo banda desenhada, se compreende porque é que estes livros são lançados enquanto pertencentes à chancela Fábula e não a uma outra qualquer chancela do grupo editorial Penguin Random House que, relembro, tem no seu catálogo conjunto, o lançamento de outras bandas desenhadas como os livros de Filipe Melo e Juan Cavia, a série Sapiens ou os livros Fome, duas adaptações de 1984 ou Vida de Adulta, de Raquel Sem Interesse. É que, quer Ana dos Cabelos Ruivos, quer este O Jardim Secreto, sendo de banda desenhada, parecem direcionar-se para um público apreciador de belos livros ilustrados. A única diferença é que, para além de serem, cada um à sua maneira, livros bonitos, em termos de ilustração, o estilo de narrativa apresentado é o da banda desenhada.

O Jardim Secreto - Novela Gráfica, de Mariah Marsden e Hanna Luechtefeld - Fábula (Penguin Random House)
E, também como Ana dos Cabelos Ruivos, O Jardim Secreto é uma adaptação para banda desenhada de um famoso romance. Neste caso, eu não me lembro de ter lido a obra original, pelo que parti para esta leitura de espírito totalmente aberto. E posso dizer que, no final, me dei por satisfeito com este livro.

A história centra-se em Mary Lennox, uma criança que vivia na Índia, rodeada de luxos. Mas, quando os seus pais morrem por causa de doença grave, a pequena Mary vê-se órfã e obrigada a ir viver com um tio em Inglaterra. 

Mary começa por ser uma criança empertigada e mimada, enquanto que o seu tio se revela extremamente ausente e frio. Porém, sendo Mary uma criança cheia de vida, depressa começa a tomar contacto com o jardim que rodeia aquela que agora é a sua nova casa. 

Acaba por fazer dois novos amigos – cada um com as suas contrariedades e obstáculos. E, eventualmente, as três crianças acabam por descobrir uma porta para o jardim secreto que, tudo leva a crer, é ali escondido propositadamente, para que ninguém possa imergir no mesmo. Assim, e meio à socapa, as crianças começam a cuidar do jardim – que até então tinha sido deixado ao abandono durante longos 10 anos – e a fazê-lo renascer. E é esse renascimento que acabará por moldar, não só a vida das crianças, como, também, a vida de todos aqueles que convivem de perto com aquela casa.

A história é simples, mas tem um plano de leitura mais profundo e mais maduro, pois quantos de nós, especialmente na idade adulta, não acabamos por deixar de cuidar de tantos “jardins” na nossa vida? Seja na manutenção das nossas relações com os outros, seja na forma como tentamos ultrapassar os obstáculos da nossa vida, seja na própria forma como nos relacionamos connosco próprios? A mensagem, sendo simples, é bonita e nunca convém esquecer.

O Jardim Secreto - Novela Gráfica, de Mariah Marsden e Hanna Luechtefeld - Fábula (Penguin Random House)
Penso que, narrativamente falando, Mariah Marsden faz um belo trabalho. A história é-nos passada de forma escorreita, deixando espaço e tempo suficiente para cada momento e para o detalhe da ambiência que rodeia as personagens. Desta forma, há muitas narrações sem palavras que aumentam a força visual da obra. Este é um daqueles livros que poderia ser contado em menos de metade das páginas que tem. Mas, se assim fosse, não teríamos uma leitura tão gratificante e madura. Comparando-o a Ana dos Cabelos Ruivos, diria que fica alguns furos abaixo, embora eu tenha que confessar que, para esta minha afirmação, também contribui o facto de eu gostar muito da história - e da protagonista - de Ana dos Cabelos Ruivos.

O relato deste O Jardim Secreto é suave, infantil (mas sem ser “abebézado”) e acaba por nos dar uma bela história. As conclusões a retirar dela até não são muito diretas, mas acabam por estar bastante percetíveis. Quando se fala que faz falta que nós, adultos, saibamos introduzir a banda desenhada junto do público português mais novo, para que o hábito de ler banda desenhada não se extinga, acho que também devemos ter em conta que é necessário um bom conjunto de livros que possam introduzir os jovens à banda desenhada. Este O Jardim Secreto, bem que pode ser uma dessas opções.

Em termos de ilustrações, gostei bastante do estilo de desenho de Hanna Luechtefeld. Posso dizer que assenta muito bem no tipo de livros que temos em mãos e que supera largamente o trabalho de Brenna Thummler em Ana dos Cabelos Ruivos. Como nesse caso, importa referir, não é que eu considere que estejamos perante desenhos lindíssimos, mas, não o sendo, há que realçar e dar louvor à excelente harmonia visual que é criada. E, juntando as belas cores que pontuam a obra, ficamos com um belíssimo livro em mãos.

O Jardim Secreto - Novela Gráfica, de Mariah Marsden e Hanna Luechtefeld - Fábula (Penguin Random House)
O estilo de desenho da autora é propositadamente ingénuo e algo infantil, mas sem que isso revele fraquezas técnicas. Na verdade, a forma como a obra é desenhada parece propositadamente pensada para ser agradável aos olhos de uma criança e, sem descurar essa vertente, conseguir igualmente agradar - e passar um certo tipo de nostalgia aos olhos de - um adulto que leia o livro. Talvez por isso, até, este é um livro que tanto pode ser lido pelos mais novos, como pelos mais velhos. 

Nota ainda para a forma muito variada como a planificação é feita por Luechtefeld. Temos ilustrações de uma só prancha, ou que ocupam duas páginas, temos vinhetas pequenas e grandes, quadradas e retangulares. Todas as páginas parecem ser diferentes entre si, a este nível da organização dos quadros.

A edição da Fábula é em capa mole, o que me surpreendeu, pois, sendo um livro da mesma argumentista de Ana dos Cabelos Ruivos, que foi editado em capa dura, eu estaria à espera que este O Jardim Secreto tivesse os mesmos atributos físicos. O papel é de boa qualidade e é baço para melhor acomodar as ilustrações que nos são dadas. A encadernação e a impressão são de boa qualidade, também.

Em suma, O Jardim Secreto - Novela Gráfica é um belo livro e uma boa opção para miúdos e graúdos que queiram (re)descobrir este clássico da literatura infanto-juvenil numa competente adaptação para banda desenhada. Espero que a Fábula continue a trilhar este caminho, ainda curto, de edição de livros de banda desenhada.


NOTA FINAL (1/10):
7.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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O Jardim Secreto - Novela Gráfica, de Mariah Marsden e Hanna Luechtefeld - Fábula (Penguin Random House)

Ficha técnica
O Jardim Secreto - Novela Gráfica
Autoras: Mariah Marsden e Hanna Luechtefeld
Adaptado a partir da obra original de: Frances Hodgson Burnett
Editora: Fábula (Penguin Random House Portugal)
Páginas: 192, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 15 x 23 cm
Lançamento: Agosto de 2022

Levoir lança dois livros de uma só vez!



São mais dois livros da coleção Clássicos da Literatura em BD que, de uma só vez, a Levoir acaba de lançar!

Desta vez, a editora traz-nos as obras Presa Branca e Conto de Natal. A primeira é da autoria de Jack London e a segunda é de Charles Dickens.

Presa Branca é adaptado para banda desenhada por Caterina Mognato e Walter Venturi, enquanto que Conto de Natal é adaptado por Patrice Buendia e Jean-Marc Stalner.

Os livros estão disponíveis deste 25 de Outubro.

Mais abaixo, deixo-vos com as sinopses de ambas as obras e algumas imagens promocionais.


Presa Branca, de Caterina Mognato e Walter Venturi

Presa Branca, a obra mais importante na carreira do escritor Jack London, é editada pela Levoir e RTP a 25 de outubro.

Jack London nasceu em São Francisco, Califórnia, no dia 12 de fevereiro de 1876. Com nove anos começou a desenvolver o gosto pela leitura e a frequentar a biblioteca da sua cidade. Teve uma vida breve e agitada reflexo de uma América em plena mudança no início do século XX. Uma infância miserável e uma juventude conturbada. As aventuras extremas narradas nos seus livros foram, em grande parte, vividas por ele. London foi pirata nos rios da Califórnia e percorreu os Estados Unidos e o Canadá à boleia como vagabundo. Foi preso. Foi operário, mineiro, marinheiro e caçador de focas no Oceano Pacífico.

Aos 22 anos decidiu tornar-se escritor. Narrador prolífico, em 1906 lançou um dos livros mais famosos da história da literatura americana. A narrativa tem como pano de fundo a corrida ao ouro no final do século XIX a expansão do homem branco em territórios nativos indígenas. E a história de Presa Branca um cão-lobo selvagem. É uma história que através de metáforas bem construídas e bem introduzidas na narrativa, nos permite refletir sobre a condição do ser humano em relação aos animais, sobre a solidão, sobrevivência, medo, poder, sobre amor.

A leitura deste clássico é indispensável. É um livro que tem o poder de nos despertar muitas emoções e mostrar a vida pela perspetiva de um animal, que, sobretudo, é o personagem central desta trama, e que tem muito a nos ensinar.

O dossier tem a colaboração de Sylvie Girard-Lagorce, e a adaptação é de Caterina Mognato.

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Ficha técnica
Presa Branca
Autores: Caterina Mognato e Walter Venturi
Adaptado a partir da obra original de: Jack London
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato – 210 x 285 mm
PVP: 13,90€



Conto de Natal, de Patrice Buendia e Jean-Marc Stalner

O volume 25 Conto de Natal da coleção Clássicos da Literatura em BD editado em conjunto pela Levoir e pela RTP vai estar nas livrarias e bancas a 25 de outubro.

O autor, Charles Dickens é considerado um dos principais romancistas da era vitoriana e um dos principais escritores do Realismo Inglês. Além dos populares romances, escreveu contos, peças e artigos jornalísticos. Nasceu na cidade de Portsmouth (Inglaterra) em 7 de fevereiro de 1812 e viria a morrer aos 58 anos de idade na cidade de Kent em 9 de junho de 1870.

As suas obras expuseram os principais problemas sociais da Inglaterra vitoriana, a violência, a pobreza, o desemprego, as péssimas condições de trabalho nas fábricas e a prostituição.

Conto de Natal conta a história de Scrooge, um homem de negócios egoísta e avarento, que não suporta o Natal e nem faz questão de ser uma pessoa agradável com quem passa pelo seu caminho. Na véspera de Natal, quando chega a casa, coisas estranhas começam a acontecer. O fantasma de Jacob Marley, seu antigo sócio que morreu há alguns anos, aparece-lhe de uma forma medonha – cheio de correntes presas à cintura. Enquanto vivo, tinha sido exatamente como Scrooge e a sua punição era vaguear por toda a eternidade carregando aquelas pesadas correntes. Naquela noite, Scrooge é visitado pelos três Fantasmas do Natal que o levam ao seu passado, ao presente e ao futuro, para que possa refletir sobre os seus atos. Será que ainda há esperança para Ebenezer Scrooge?

Conto de Natal é uma obra muito importante para os apreciadores da literatura de alto nível que muito mais do que divertir, também ensina.

O argumento foi adaptado por Patrice Buendia. O dossier tem a colaboração de Danielle Brouzet e Sylvie Girard-Lagorce

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Ficha técnica
Conto de Natal
Autores: Patrice Buendia e Jean-Marc Stalner
Adaptado a partir da obra original de: Charles Dickens
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato – 210 x 285 mm
PVP: 13,90€

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Nova editora de banda desenhada em Portugal!


Continua a ser claro que a banda desenhada vive um período áureo nos tempos em que nos encontramos!

Acaba de ser criada a editora Iguana, pertencente ao grupo editorial Penguin Random House, que vai dedicar-se, em exclusivo, a banda desenhada, biografias ilustradas e novelas gráficas.

Esta editora já está em grande destaque no Amadora BD, através do espaço dedicado ao grupo editorial e vai-se apresentar com duas obras. 

A primeira, que já se encontra à venda no evento, é O seu nome é Banksy, de Francesco Matteuzzi e Marco Maraggi, uma novela gráfica sobre o conceituado artista de street art, Banksy.

O segundo livro será um livro ilustrado em homenagem a Patti Smith.

Mais abaixo, deixo-vos com a informação oficial da editora.


Está a chegar uma nova editora de BD: Iguana

Nas livrarias a 7 de novembro.

O catálogo pretende reforçar a ideia de que os livros ilustrados também são literatura.

O seu nome é Banksy, de Francesco Matteuzzi e Marco Maraggi, tem no centro da história uma rapariga e um rapaz que, apaixonados pela arte urbana, refazem a história de Banksy como se fosse um documentário, desde as primeiras obras do artista até aos seus últimos trabalhos.

Patti Smith é, como o nome indica, a biografia ilustrada de Patti Smith. Neste livro, Ana Müshell desvenda com precisão e paixão a trajetória da “madrinha do punk”: desde a sua infância na zona rural de Nova Jérsia até à sua estadia no boémio Chelsea Hotel em Nova Iorque.

O terceiro lançamento recupera dois protagonistas que todos conhecemos bem, o Grande Panda e o Pequeno Dragão. Ilustrado por James Norbury com o mesmo encanto do bestseller original, A viagem – O Grande Panda e o Pequeno Dragão é um conto de aventura e aceitação.

Até ao final do ano haverá mais novidades e em 2023 obras de autores portugueses, como Raquel Sem Interesse, Filipa Beleza e Helena Morais Soares (que assina, aliás, as ilustrações deste PR), e nomes já conhecidos, como Maria Hesse.

Antes de tudo isso, e até 30 de outubro, a Iguana – assim como o restante catálogo da Penguin Random House Portugal – está no Amadora BD. A 33.ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada acolhe o pré-lançamento de O seu nome é Banksy e de Patti Smith.




Inauguração da exposição sobre CoBrA: Operação Goa!


Nem só da Amadora BD vive o adepto da banda desenhada! 

E tanto assim é que, mesmo durante a semana em que decorre o festival de banda desenhada da Amadora, a banda desenhada CoBrA: Operação Goa, dos portugueses Marco Calhorda e Daniel Maia, publicada em Portugal pela Ala dos Livros, terá uma apresentação e exposição na Moita.

O evento terá lugar amanhã, dia 27 de Outubro, pelas 21h, no auditório da Biblioteca Municipal Bento Jesus Caraça, na Moita.

Mais abaixo, deixo-vos com toda a informação.

CoBrA: Operação Goa - Apresentação e Exposição na Moita

A convite da Câmara Municipal da Moita e da Biblioteca Municipal Bento Jesus Caraça, no dia 27 de Outubro, às 21h, no auditório daquele estabelecimento, tem lugar uma apresentação do livro CoBrA: Operação Goa, com presença do escritor Marco Calhorda e do ilustrador Daniel Maia, seguida de sessão de autógrafos. Até 11 de Novembro, fica patente na Junta de Freguesia da Moita uma breve mostra da obra, com informação histórica.

CoBrA: Operação Goa (Ala dos Livros) foi nomeado em Melhor Ilustração em Obra Nacional no 4º Prémio Bandas Desenhadas e em Melhor Obra de BD de Autor Português no Prémio de BD da Amadora ‘2022. A obra é baseada em acontecimentos reais decorridos há 60 anos, entre Dezembro de 1961 e 1962, na sequência da invasão da província portuguesa de Goa pela União Indiana, e narra as acções clandestinas da agência secreta CoBrA, do controverso empresário Jorge Jardim, no engendrar do repatriamento dos soldados portugueses cativos em deploráveis campos de prisioneiros, na Índia.

Morada: R. Dr. Alexandre Sequeira 36 2860, 2860-412 Moita
Contactos: 210 817 040 / div.cultura@mail.cm-moita.pt

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Um olhar sobre Amadora BD 2022



Mais um ano se passou e, com ele, foi tempo de regressar àquele que continua a ser o maior evento de banda desenhada em Portugal - o Amadora BD. Após um primeiro fim de semana, em que estive presente nos principais momentos do festival, julgo estar apto a tecer os meus comentários, como é habitual.

E o primeiro deles tem que ser em relação ao TODO. À globalidade do evento, vá. Justiça seja feita: a edição de 2022 supera, em tudo, a edição do ano passado e leva-me a crer no seguinte: mesmo havendo espaço para melhorias, a Organização está de parabéns. Este é o melhor festival dos últimos 10 anos.

Mas vamos lá por partes.

Se mais abaixo tentarei justificar o porquê destas afirmações, também sublinharei tudo aquilo – e ainda é alguma coisa – que é urgente melhorar no futuro.

Comecemos pelas coisas boas, então.

Os leitores atentos saberão que, no ano passado, e ainda que já tenha havido muito de positivo a destacar na edição de 2021, houve várias coisas que foram mal executadas pela Organização e que eu, naturalmente, não me coibi de apontar.

Este ano, para minha total satisfação, vi que algumas das coisas que no ano passado tinham sido comummente aceites como negativas, foram tratadas de forma diferente. E isso revela uma Organização que está atenta às sugestões para melhorar! Que bom isso é!



O espaço das exposições

Este foi dos melhores anos de qualidade de exposição no Amadora BD. Houve cuidado visual e documental em cada uma das exposições, houve aprumo no tratamento do espaço cénico, houve um bom design de produção. Não acho nada justos certos comentários que já vi e ouvi, que dizem que o espaço de exposições não estava bom. Quer dizer… para mim não estava bom… estava muito bom!

A Organização e os responsáveis por cada uma das exposições conseguiram transformar as mesmas num autêntico "museu da banda desenhada". E todos estão de parabéns! Na verdade, já no ano passado eu tinha gostado muito da área expositiva do Festival e este ano considero que a mesma ainda conseguiu superar o ano transato.

Estou muito satisfeito com este espaço – que tem uma dimensão bastante aceitável – e que é tratado com muito cuidado por todos os envolvidos. Gostei de todas as exposições, mas destaco as minhas preferidas que foram a do Armazém Central, que foi recriada com um cuidado e um carinho inimaginável, ao ter-se reproduzido literalmente (!) o espaço do armazém central, onde não faltavam todos os produtos que eram vendidos nesta loja, bem como os sapatos vermelhos de salto-alto e laço e, ainda numerosos pormenores da série; a dos 60 anos do Homem-Aranha, com lindíssimas ilustrações espalhadas pelas paredes do espaço; a de Balada para Sophie, com um belo e harmonioso espaço cénico, que nos remetia para a sala de Julien Dubois; e Os Mundos de Thorgal, onde foi colocada a reprodução de uma embarcação da série.

Mas, não nomeando todas, a verdade é que nenhuma exposição me deixou insatisfeito. Gostei de todas.

Talvez pudesse, no entanto, ter havido um espaço dedicado ao mangá, já que é um género tão em voga e que satisfaz tanto os mais novos. Fica a sugestão.




Sobre a tenda principal

Em primeiro lugar, a organização da tenda onde ocorrem os debates, apresentações, sessões de autógrafos e espaço comercial, está muito, muito, muito melhor. Esta tenda recebeu um aumento de mais de 200 m2 face à área do ano passado, bem como sofreu várias alterações para melhor.

Esta tenda principal - chamemos-lhe assim, já que havia uma outra tenda - está organizada de forma simples, com lojas em cada um dos lados. Outro ponto positivo é que este ano, para além de todas as lojas/editoras que estiveram presentes no ano passado, há dois novos espaços comerciais: a Penguin Random House – que até aproveitou para apresentar uma nova chancela editorial de banda desenhada (a Iguana), da qual falarei num outro dia – e a Convergência, que vende banda desenhada de teor mais independente e alguns fundos de catálogo a bom preço. Portanto, no total temos, entre lojas de banda desenhada e editoras, os seguintes espaços: Dr. Kartoon, Arte de Autor, Âncora, Convergência, Polvo, Penguin Random House, Cult, Kingpin Books, ASA, Chili com Carne, Escorpião Azul, Devir, Ala dos Livros e Comic Heart. Podemos, pois, dizer que o Festival tem uma ótima e bem representativa oferta de banda desenhada para todos os gostos.

Notei que, ao centro desta grande tenda, havia espaço para circular, corrigindo assim o grande problema do ano passado, onde o espaço era demasiado contíguo para a livre circulação.

Mas a grande novidade da tenda comercial foi o redesenho do espaço e a colocação, em cada uma das suas extremidades, do auditório, de um lado, e do espaço para autógrafos, do outro. 

Meus caros, eu já frequento o Amadora BD há anos e anos e acho que é justo e certeiro dizer que este foi o melhor espaço de auditório de sempre. A organização, aqui, está mesmo de parabéns! No ano passado, optou por colocar o auditório enquanto ilha, no meio do pavilhão. A vantagem era que as pessoas que ali circulavam podiam facilmente ter contacto com o que estava a ser apresentado. A desvantagem era que não estavam criadas as condições mínimas para que, quem estivesse sentado na plateia, pudesse ouvir o que estava a ser dito em palco, tamanho era o caos sonoro. E, mesmo eu, enquanto moderador de um debate, lembro-me de mal dar para ouvir o que o meu entrevistado me dizia. Portanto, era óbvio que a Organização teria que fazer algo diferente para este ano. 

Havia, no entanto, o perigo de que, se se deslocasse o auditório para um outro espaço físico, que não esta grande tenda, ficássemos com assistências diminutas, o que é embaraçoso, quer para os artistas convidados, quer para os editores, quer para a Organização - e sua reputação - e quer até para o público. Mas a Organização matou dois coelhos com uma cajadada. Criou um auditório que reúne o melhor dos dois mundos: por um lado, como está localizado mesmo ali, dentro do grande espaço comercial, é de fácil e rápido acesso, fazendo até com que se possa assistir, sentado ou de pé, às apresentações. E, ao mesmo tempo, resolveu os problemas de som do ano passado. Este novo auditório permite intimidade suficiente para se fazerem apresentações, mas, em paralelo, e da forma como está projetado, permite que não se tenham assistências pequenas. Bem jogado, Organização!

Mesmo assim, deixo apenas algumas sugestões simples para ainda tornar melhor, aquilo que já foi bom, para o auditório:

1) acho que era simpático que o som daquilo que está a ser dito no auditório pudesse ser reproduzido (num volume mais baixo, claro está) por colunas espalhadas ao longo da tenda comercial. Isto faria com que algumas pessoas que estão por ali, a cirandar, soubessem o que está a acontecer em palco e, consequentemente, ainda enchessem mais o auditório. Acho que ainda há várias pessoas a perder algumas apresentações pela simples razão de não se aperceberem que está a ser apresentado algo.

2) Uma coisa simples, barata, eficaz e fácil: TEM que ser colocado um cartaz da programação dos Debates e Apresentações à entrada do auditório. Reparem: eu até fiz algumas apresentações e considero que estava bem por dentro do que iria acontecer em palco e, mesmo assim, como não havia um cartaz com estas informações, vi-me obrigado a estar sempre a consultar o site, através do meu telemóvel, para saber quem iria falar a seguir. Se há coisas fáceis de resolver, esta é uma delas. Basta imprimir uma miserável folha A3 com o programa de apresentações de debates e colá-la na entrada do auditório. Espero que no próximo fim de semana esta hiper-super-mega fácil “medida” já tenha sido implementada.

3) Não sei se haverá orçamento da Organização para isto, mas acho que seria muito interessante se as conversas passassem a ser filmadas. Poderiam ter transmissão em diferido nas redes sociais do festival, aumentando o engagement dos interessados em banda desenhada em Portugal e, ao mesmo tempo, contribuir para a produção de um acervo de conteúdos por parte da organização.

4) Em vez das 20 cadeiras que compõem o auditório, julgo que faria sentido que o mesmo tivesse, pelo menos, mais 10 cadeiras. Dei conta de estarem muitas vezes pessoas em pé, a assistir, sem que se pudessem sentar, devido a não haver cadeiras disponíveis.



Sobre a cerimónia de abertura

Falando sobre a cerimónia de abertura que ocorreu na quinta-feira, também considero mais positivo que a mesma acontecesse dentro do auditório. 

Ainda que eu considere que o oco, embora visualmente espampanante espetáculo dos Custom Circus, nada tenha a ver com banda desenhada, preferi, mesmo assim, ver a atuação dentro do espaço em vez de à entrada do recinto, como no ano passado. 

Continuo a achar que a inauguração do evento não deveria acontecer em três espaços diferentes, pois isso apenas desfoca e confunde o público, e continuo a achar que esta cerimónia de inauguração deveria ter outro aprumo, como, por exemplo, através da organização de um evento mais social (com a presença de iminentes figuras que tragam media atrás deles, ou que tenham relevância viral nas redes sociais). E, de preferência, organizar a própria cerimónia de entrega de prémios neste dia da inauguração. Meus caros, não estou a dar nenhuma ideia tão extravagante assim.



Sobre a cerimónia de entrega de prémios

Mesmo assim, concedo que a cerimónia de entrega de prémios, foi mil vezes melhor do que a do ano passado. Não é que isso fosse difícil, relembro.

Este ano, a entrega dos prémios decorreu no auditório, no domingo, ao final da tarde. E, lá está, embora eu reitere que era possível e preferível fazer uma cerimónia mais “a sério”, fazendo um evento mais social e com alguns influencers que trazem público e mediatismo ao evento, tenho que conceder que esta cerimónia foi muito, mas muito melhor do que a do ano passado. Ao invés de um auditório dos Recreios da Amadora completamente vazio, tal como aconteceu no ano passado, este ano tivemos um auditório que se encheu para que os visitantes do evento pudessem assistir à entrega dos prémios.

Por falar em prémios, já pude opinar sobre a incredulidade que as nomeações dos mesmos deixaram por toda a gente que tenha algumas gotas de bom senso e, portanto, não vou tecer mais comentários sobre isso. 

Contudo, e tal como também já tinha previsto nessa minha primeira reação, parece-me que os vencedores destes prémios foram, todos eles, muito bem escolhidos: 
- a “Melhor Obra de Autor Português” foi para Bernardo Majer, com Estes Dias (editora Polvo);
- a “Melhor Obra Estrangeira de BD editada em Portugal” foi para O Relatório de Brodeck, de Manu Larcenet (editora Ala dos Livros);
- o prémio "Revelação" foi para O Crocodilo, ou o Extraordinário Acontecimento Irrelevante, de Francisco Valle e Rui Neto (Lobo Mau Produções);
- o “Melhor Fanzine ou Publicação Independente” foi para Ditirambos: Fauna, de Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Nuno Filipe Cancelinha, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira, Sofia Neto, Sónia Mota e Carla Rodrigues;
- e a “Melhor Edição Portuguesa de BD” foi para Tu És a Mulher da Minha Vida, Ela a Mulher dos Meus Sonhos, de Pedro Brito e João Fazenda, edição d’ A Seita e Comic Heart. Tudo vencedores legítimos, quanto a mim.

Nota especial para Ricardo Baptista que, quando recebeu o prémio para Ditirambos, referiu que seria pertinente que, futuramente, regressassem algumas categorias dos Prémios que nos últimos anos foram canceladas, como as categorias para Melhor Argumento ou para Melhor Ilustração. Não poderia estar mais de acordo com o Ricardo e tiro-lhe o chapéu por fazer este statement.

Mantendo o formato dos prémios deste ano, deixo algumas sugestões para a próxima edição:

1) Que na próxima edição cada um dos vencedores deste ano seja convidado a apresentar a respetiva categoria. E que seja prática recorrente nos anos seguintes.

2) Que haja uma melhor apresentação audiovisual das obras nomeadas. Se queremos dizer aos visitantes quem são as melhores obras nas diversas categorias, há que colocá-las visualmente presentes, como é feito na maioria das entregas dos prémios. Não é difícil de fazer… até se pode criar um arcaico powerpoint para este efeito. Enquanto se enumeram as obras nomeadas, aparecem projetadas as capas desses álbuns e, depois disso, uma imagem maior com o vencedor. É um pequeno detalhe, mas que não tenho dúvidas que enriqueceria a qualidade audiovisual da coisa. Não perceberam bem como é que isto se faz? Vejam os Oscars ou os Globos de Ouro. Ou, pelo menos, vejam os VINHETAS D’OURO. De nada.




Sobre o espaço de gaming

Este ano há uma novidade: um novo espaço de gaming, que consiste numa pequena tenda situada entre o pavilhão das exposições e a área comercial. Algumas vozes insurgiram-se (logo) contra esta iniciativa, assim que a mesma foi anunciada.

Compreendo que se desvia do tema central do evento – que é (e TEM de ser) a banda desenhada – mas, e depois de falar a este propósito com a muito simpática Diretora do Festival, Catarina Valente, devo dizer que fiquei convencido com a resposta da Organização. 

Um dos objetivos do Festival passa por (também) cativar um público mais jovem para o evento e para a banda desenhada. Sabemos que os videojogos são um bom meio para tal e, portanto, foi nesse sentido que este espaço foi criado: para tentar captar mais público. É louvável, quanto a mim. E tendo em conta que o espaço e atenção sobre a banda desenhada não diminuiu – mas sim, aumentou – não me chateia nada que também haja este espaço para videojogos.



Sobre os autores presentes

Não terá sido o festival com a presença mais forte de autores, mas também não foi o pior. Quanto a mim, houve uma boa seleção de autores.

Diria que a grande super-estrela desta edição foi Régis Loisel, mas nomes multipremiados como Marcello Quintanilha, Jean-Louis Tripp, Bob Mcleod, Alfred, Giampiero Casertano, Fred Vignaux ou Olivier & Chico, também merecem destaque.

Já para não dizer que os principais nomes relevantes da banda desenhada nacional também marcam sempre presença neste evento.



Sobre o website

Já no ano passado me mostrei satisfeito com o website do evento. Por ser simples, intuitivo, apelativo e ter as informações relevantes.

Este ano, a Organização conseguiu melhorar ainda mais o mesmo, ao ter carregado as informações com mais antecedência para o website. 

E isso é mais relevante do que o que pode parecer. Obrigado e parabéns por isto, Organização.



Sobre a sinalética

Fiquei um bocado abismado com a falta de sinalética no evento. Ok, não é um evento enorme em dimensão e não estou a dizer que é por isso que as pessoas não encontravam uma coisa ou outra.

Há 3 espaços: o espaço das exposições, o espaço do gaming e o espaço comercial da banda desenhada. Mas, para chegar de um ponto ao outro, nem sempre era linear. A passadeira no chão servia como circuito, bem como os vasos que a delimitavam, mas sinto – e também recolhi essa opinião de muita gente – que faltou sinalização básica. 

Convenhamos que não tinha custado muito fazer umas setas a indicar devidamente onde era a entrada, a saída, os espaços, etc. Um daqueles erros de principiante que, não sendo o fim do mundo, pode e deve ser corrigido facilmente no futuro.



Sobre os Autógrafos

Deixei o pior para o fim.

Para este tema, proponho-vos uma breve e pequena fábula que invento, de seguida, enquanto vos escrevo estas palavras:

Era uma vez um gato chamado Tobias que era muito admirador de outro gato, um célebre pintor e cantor, chamado Josh Lemon. O Tobias decidiu organizar um evento de quatro dias em que tinha trabalhos de Josh Lemon expostos. E o melhor de tudo é que conseguiu trazer ao seu evento o Josh Lemon em pessoa. Naturalmente, as filas de gatos para conhecerem este célebre gato foram muitas. Nos primeiros dias, o Tobias não sabia bem como lidar com tantos fãs que queriam conhecer o Josh Lemon e tirar uma selfie com ele. Mas, no dia seguinte, lembrou-se de uma ideia: “e se eu desse senhas aos fãs que querem conhecer o Josh Lemon, de forma, a conter todo este caos?” E assim foi. Para contentamento de todos, foi isso que aconteceu e a loucura e caos à volta de Josh Lemon deu lugar a encontros ordeiros, justos e onde imperava a calma. No ano seguinte, Tobias quis organizar o mesmo evento mas, desta feita, com a presença Paul MaCat Ney, outro músico e artista plástico famoso. E agora pergunta-vos o vosso querido narrador: o que acham que Tobias fez, de forma a conter o caos de todos os fãs que queriam ver e conhecer Paul MaCat Ney? Resposta A: o Tobias aproveitou os ensinamentos obtidos com o caos do primeiro evento e optou logo por um sistema de senhas, não tendo gerado qualquer caos e tendo uma boa organização do evento ou Resposta B: o Tobias achou: “Senhas? Hmm… bah… não me parece”.

Pois bem, meus caros, esta maravilhosa fábula, meio jocosa, admito, é para vos descrever o que a Organização decidiu fazer este ano, em relação a este tema dos autógrafos. No ano passado, recordo, no primeiro dia, houve uma situação caótica e desnecessária com as filas dos autógrafos que se foram aglomerando dentro do espaço e, posteriormente, foram postas na rua e à chuva (sim, custa a acreditar, mas aconteceu mesmo!). O caos era tanto que a Organização optou por incluir um sistema de senhas. Foi perfeito? Não. Mas melhorou da noite para o dia a situação caótica? Logicamente que sim. Ora, como qualquer sistema de senhas, a pessoa poderia passear nos stands, comprar uns livros, assistir a apresentações de livros… enfim, aproveitar o tempo enquanto esperava pela sua vez para ter o famigerado autógrafo.

Logicamente, seria de antever que a Organização, “escaldada” com o que ocorreu no ano passado, optaria por um sistema de senhas para este ano. Mas, não só a Organização não aprendeu com o erro como, meus caros, conseguiu ainda piorar a situação. Decidiu-se que este ano seria feita uma fila única(!), que ocupava todo o pavilhão(!). Só quando a pessoa chegava praticamente ao fim da fila é que dizia a um dos colaboradores em que autor estava interessada em recolher um autógrafo. “E depois de recolhido o autógrafo?”, perguntam vós, caros leitores. Bem, depois de recolhido o autógrafo, se a pessoa quisesse o autógrafo de um outro autor, teria que ir novamente (!!) para o fim da fila. Mesmo que esse autor estivesse sem ninguém à sua frente. Não estou a brincar, não estou a exagerar, não estou a tentar ter graça. Foi isto que aconteceu.

Como é possível? Não sei. Mas aconteceu. Isto gerou o caos e, naturalmente, as pessoas passaram a não cumprir as regras, multiplicando ainda mais o caos. No entanto, lá se passou a usar as senhas, que facilitaram um pouco as coisas.

Eu acho que há duas formas de fazer os autógrafos: ou se opta pela maneira mais fácil que é de fazer uma fila por autor et voilà. É a forma mais simples e vai acabar por gerar, também, outras pequenas filas. Mas, lá está, é muito melhor do que aquilo que tivemos no sábado. Ou, então, faz-se um sistema de senhas, logo de início, mas uma coisa bem feita e mais bem organizada. Em vez de se colocar um pobre colaborador a berrar “senha 26!!”, como se estivesse a anunciar os números da lotaria do Ano Novo, se calhar poderia comprar-se um simples sistema de senhas eletrónico. Colocava-se num lugar bem visível e as pessoas iam estando atentas ao seu número, enquanto faziam compras em loja ou enquanto assistiam a apresentações. E antes que alguém diga: “isso é tudo muito bonito, mas é difícil de fazer”, como sou prático e “não falo para o boneco”, pesquisei por um sistema destes e a Worten vende-os a 169€. Será que não é um investimento que se justifique? Eu acredito que sim, pois não é nenhuma extravagância financeira para o orçamento de um evento desta envergadura.

Acho que esta coisa dos autógrafos foi mesmo a principal “mancha” neste primeiro fim de semana.



Sobre o espaço onde decorre o Festival

Outra coisa que tem sido alvo de muitas críticas é a questão do espaço onde se desenrola o festival. Meus caros, eu compreendo e corroboro que não é o espaço perfeito, mas parece ser o espaço possível para o festival. E mais vale habituarmo-nos a ele, tentando extrair o que de melhor ele tem e corrigindo eventuais problemas.

Se o pavilhão onde decorrem as exposições está perfeito para o evento, é verdade que organizar numa tenda a outra parte do festival – os autógrafos, as apresentações e o espaço comercial – que é tanto ou mais importante para os visitantes e agentes envolvidos como o espaço expositivo, é algo que ainda acarreta muitos problemas.

Aqui a solução é simples: é necessário que seja construído um novo pavilhão. Só dessa forma o evento poderá crescer condignamente e deixar de ser feito em tendas.

Esse será, aliás, o grande desafio e projeto que Sua Excelência, a Sra. Presidente da Câmara, tem que fazer acontecer. Sei que há um projeto para a construção de uma estrutura, mas não sei se já há orçamento e/ou aprovação e, muito menos, se há vontade. Sei também – todos sabemos! – que em Portugal os projetos camarários que envolvem, portanto, dinheiros públicos, são tudo menos rápidos. Mas, seja como for, acho que cabe à Presidência da Câmara fazer este statement. Se a bandeira da “cidade da banda desenhada” e da “relevância da cultura” tem sido tantas vezes hasteada por esta Câmara… é, agora, (hoje e não amanhã) a altura de fazer acontecer. “Ah… é complexo. Ah… é difícil. Ah… é custoso. Ah… é moroso”. Meus caros, como diria o outro, “practice what you preach” e façam acontecer.

Esta forma de evento em tendas é o que é possível no presente e convivo bem com isso. Mas é algo temporário e que precisa de mudar o quanto antes. Se não for em 2023, que seja, forçosamente, em 2024. A partir daí, estou certo que as coisas vão melhorar.

Até porque há coisas que, simplesmente, não casam bem entre si, não é? Sei lá… iogurte de bacalhau. Claques rivais de equipas de futebol a partilharem uma estância balnear. Outra coisa que não combina mesmo nada bem é água e papel. Ora, se quase sempre chove em Outubro e se, em Outubro, faz-se um evento de livros (compostos por papel, para quem não sabe ou finge não saber), isto quer dizer que uma tenda pode não ser a melhor solução, não?

Em vez de olharmos para os problemas, que tal olharmos para as soluções? Não seria melhor adiantar o Festival um mês, para o final de Setembro, quando chove muito menos? Não adiantando o festival, não seria melhor investir parte do orçamento em soluções como um desumificador para cada stand? Ou em tendas melhor apetrechadas em termos de impermeabilidade?

É claro que, quando existir a tal estrutura sólida (novo pavilhão) este problema será apenas uma memória passada. Mas cabe à organização decidir: ou bem que fazemos o tal novo pavilhão, ou bem que, se não conseguimos o pavilhão para já, fazemos a tal tenda de melhor forma. Decisions, decisions

Portanto, e concluindo este longo texto, dou os meus parabéns à Organização e a todos os envolvidos.

Faço uma breve síntese daquilo que me parece mais relevante a retirar deste festival que tem nota muito positiva, apesar de tudo!



Prós:

- o espaço de exposições está fantástico;

- a tenda da banda desenhada cresceu em tamanho;

- o novo auditório para debates e lançamentos está quase perfeito;

- a cerimónia de entrega dos prémios, podendo ainda melhorar, foi tãããão melhor do que a do ano passado!



Contras:

- A gestão dos autógrafos. “Plamordedeus", é fácil fazer melhor!

- A sinalética. Facílimo fazer melhor.

- O espaço em tenda. Partindo do princípio de que é um evento que ocorre no final de Outubro, a opção pelas tendas vai continuar a trazer vários problemas alocados: chuva dentro dos stands, humidade que enrola os livros e que, portanto, traz custos para os lojistas. É, portanto, um “contra”, mas que também pode ser visto como uma “oportunidade”, caso a Organização consiga construir o novo pavilhão, o mais depressa possível.



Nota final

O Amadora BD decorre até ao próximo fim de semana. Não é perfeito e tem muito espaço para melhorar, mas é o maior evento de banda desenhada em Portugal. 

E considero visita obrigatória para todos os que amam a 9ª arte. Portanto, se estás a ler isto e ainda não foste ao Amadora BD, não o deixes de fazer. Se já lá foste, estou certo que ainda há motivos para uma segunda visita.

Vemo-nos por lá.