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quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

VINHETAS D'OURO 2023 - Nomeados para Melhor Reedição de BD!



Se, de manhã, vos anunciei as 4 obras nomeadas para o VINHETA D'OURO para Melhor Edição de Banda Desenhada, agora trago-vos as 4 obras que estão nomeadas para Melhor Reedição de Banda Desenhada!

Esta é uma categoria que foi iniciada no ano passado e que, a meu ver (e não só), é bastante relevante, tendo em conta que são cada vez mais as reedições de BD, com muita qualidade, que são lançadas em Portugal. 

Assim, relembro, para os mais incautos, os pressupostos para a escolha dos nomeados para esta categoria: "pretende-se premiar aquela que foi, segundo o consenso do PAINEL DE JURADOS, a melhor reedição de um álbum de banda desenhada lançado em Portugal no ano transato. Não serão tidas em conta reimpressões, mas sim, reedições que difiram, portanto, das edições da mesma obra anteriormente publicadas em Portugal - ou que lhes acrescentem conteúdos adicionais. Este prémio procura realçar a pertinência da reedição de obras de elevada qualidade ou interesse público que já não se encontravam no mercado português e/ou a iniciativa editorial de melhorar e desenvolver a obra em questão, do ponto de vista da qualidade do objeto-livro ou da introdução de novos extras e investigação sobre a obra. Nesta categoria podem estar incluídas obras de origem nacional ou estrangeira."

Deixo-vos, então, com os 4 nomeados para Melhor Reedição de Banda Desenhada:

VINHETAS D'OURO 2023 - Nomeados para Melhor Edição de BD!


Com um novo dia, são conhecidos os nomeados para mais duas categorias dos Prémios de Banda Desenhada VINHETAS D'OURO 2023!

Comecemos, então, pela categoria Melhor Edição de Banda Desenhada!

Esta é uma categoria que está presente desde o lançamento da primeira edição dos Prémios. Contudo, e porque sou perseverante, todos os anos relembro os pressupostos de tal categoria.

E este ano, não é exceção. Segundo o Regulamento dos Prémios, "nesta categoria pretende-se premiar aquela que foi, segundo o consenso do PAINEL DE JURADOS, a melhor edição de banda desenhada lançada em Portugal no ano transato. A qualidade da edição é percecionada por elementos tão diversos como o luxo e nobreza dos materiais utilizados na edição física, na qualidade dos extras que a obra pode conter, na investigação sobre a obra, na qualidade da tradução, entre outros. Em suma, analisa-se a qualidade gráfica, física e/ou de conteúdo adicional da obra. Por outras palavras, pretende-se premiar o “objeto livro” e não tanto a obra em si. Nesta categoria podem estar incluídas obras de origem nacional ou estrangeira.".

E os nomeados para Melhor Edição de Banda Desenhada de 2023 são:

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

VINHETAS D'OURO 2023 - Nomeados para Melhor BD Infanto-Juvenil!



Hoje, além do anúncio dos nomeados para a Obra Revelação da Banda Desenhada Nacional feito esta manhã, trago-vos também os nomeados ao VINHETA D'OURO 2023 para a categoria de Melhor Banda Desenhada Infanto-Juvenil.

Acreditando que os VINHETAS D'OURO têm - ou podem ter, pelo menos - o potencial de promover a banda desenhada junto dos mais novos, seja através do contacto que os mesmos possam ter com os prémios, seja através do conhecimento de obras mais direcionadas para crianças e jovens que o público mais velho dos VINHETAS D'OURO pode ficar a deter, esta é uma categoria que muito acarinho.

Esta categoria procura, portanto premiar a melhor banda desenhada direcionada a um público infanto-juvenil, que foi lançada em Portugal no ano passado. É importante referir que se entende por “público infanto-juvenil” o público com idades compreendidas entre os 6 e os 14 anos.

Sem mais demoras, deixo-vos com as 4 obras nomeadas para esta categoria:

VINHETAS D'OURO 2023 - Nomeados para Obra Revelação!


Hoje trago-vos os nomeados para mais duas das categorias dos Prémios de Banda Desenhada VINHETAS D'OURO 2023!

E começamos, por agora, pela categoria dedicada às Obras Revelação da Banda Desenhada Nacional!

São estas as quatro obras que, nesta edição dos prémios, disputam este relevante VINHETA D'OURO:


segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

VINHETAS D'OURO 2023: Nomeados para Melhor Argumento de Autor Português!

Se de manhã anunciei as obras nomeadas a Melhor Ilustração de Autor Português, agora trago-vos os nomeados para Melhor Argumento de Autor Português!

Amanhã serão conhecidos os nomeados para outras categorias!

Por agora, deixo-vos, então, com os nomeados para a categoria que premeia o melhor argumento em banda desenhada de autor português, publicado no ano 2023, que são:


A Ala dos Livros vai lançar nova obra de Manu Larcenet!


A editora Ala dos Livros acaba de anunciar que vai lançar mais uma obra de Manu Larcenet!

Depois do fabuloso O Relatório de Brodeck, um dos livros da minha vida, a editora prepara-se para lançar durante a Primavera, A Estrada, o mais recente livro do autor francês. O lançamento desta adaptação a partir da obra original de Comarc McCarthy, ocorrerá em simulâneo com a edição francesa que está pensada para o final do mês de Março.

Relembro que, além de O Relatório de Brodeck, também magnífico O Combate Quotidiano foi editado recentemente em Portugal pelas editoras A Seita e Arte de Autor.

Este é, afinal de contas, um autor cuja obra tem um enorme peso e que se recomenda totalmente!

Como tal, estou super curioso com este novo livro que apresenta um registo de ilustração bastante semelhante à maravilha visual que é O Relatório de Brodeck.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais em francês.


A Estrada, de Manu Larcenet

O apocalipse aconteceu. O mundo está devastado, coberto de cinzas e cadáveres. 

Entre os sobreviventes, um pai e um filho vagueiam por uma estrada, empurrando um carrinho cheio de coisas que supostamente os ajudarão na sua viagem. 

Debaixo da chuva, da neve e do frio, dirigem-se para a costa sul, receando que hordas de selvagens canibais estejam a aterrorizar o que resta da humanidade. 

Depois de "O Relatório de Brodeck", Manu Larcenet volta a adaptar uma grande obra da literatura....










Já estão escolhidos os nomeados para os VINHETAS D'OURO 2023!



A 4ª edição dos prémios VINHETAS D'OURO já está aí à porta e, por agora, posso dizer-vos que já estão escolhidos os nomeados para esta nova edição dos "prémios da crítica portuguesa de BD" que procuram premiar a melhor banda desenhada publicada em Portugal durante o ano 2023.

Como tal, nos próximos dias partilharei os nomeados para cada uma das categorias a concurso!

E começamos por uma categoria bastante relevante: a MELHOR ILUSTRAÇÃO DE AUTOR PORTUGUÊS!

Os nomeados para esta categoria são os seguintes:

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Análise: A Arte da Guerra - Uma Aventura de Blake e Mortimer em Nova Iorque

A Arte da Guerra - Uma Aventura de Blake e Mortimer em Nova Iorque, de Jean-Luc Fromental, José Louis Bocquet e Floc'h - ASA - Leya

A Arte da Guerra - Uma Aventura de Blake e Mortimer em Nova Iorque, de Jean-Luc Fromental, José Louis Bocquet e Floc'h - ASA - Leya
A Arte da Guerra - Uma Aventura de Blake e Mortimer em Nova Iorque, de Jean-Luc Fromental, José Louis Bocquet e Floc'h

Foi já no final do ano passado que a ASA nos trouxe aquele que é o mais recente álbum da série Blake e Mortimer. Bom, julgo que considerá-lo da série Blake e Mortimer não será a afirmação mais correta da minha parte, visto que este livro se trata, na realidade, de um “Blake e Mortimer de Autor”, não pertencendo, portanto, à série canónica. Algo como foi feito pelos autores Jaco Van Dormael, Thomas Gunzig, François Schuiten e Laurent Durieux, com Uma Aventura de Blake e Mortimer - O Último Faraó, vá. Mesmo assim, estamos perante um Blake e Mortimer, naturalmente.

O argumento foi escrito pelos autores Jean-Luc Fromental e José Louis Bocquet, que já tinham sido os argumentistas responsáveis pelo recente Oito Horas em Berlim.

Desta feita, a ação toma lugar nos Estados Unidos, em Nova Iorque. Philip Mortimer e Francis Blake viajam para a “Big Apple”, pois Blake tem como missiva um discurso, em nome do Reino Unido, na Conferência Internacional da Paz, na sede da ONU. Esta Conferência tem como intuito primordial a diminuição da tensão que se faz sentir entre o Oriente e o Ocidente. Importa a todo o custo conservar a paz mundial que se encontra ameaçada.

Porém, logo na primeira noite em que Blake e Mortimer chegam a Nova Iorque, um evento que aparenta ser de cariz político, causa tumulto quando um homem é preso por vandalizar, no MET- Metropolitan Museum of Art, o famoso artefacto egípcio Cippus of Horus, deixando inscrita na peça a enigmática mensagem “Par Horus Dem”.

A Arte da Guerra - Uma Aventura de Blake e Mortimer em Nova Iorque, de Jean-Luc Fromental, José Louis Bocquet e Floc'h - ASA - Leya
Ora, devido ao envolvimento de Blake e Mortimer no caso da Grande Pirâmide, estes são chamados pelas autoridades locais para darem o seu apoio ao caso. E é então que descobrem que o homem que invadiu o MET é um velho conhecido. A partir deste ponto, a trama desenvolve-se numa narrativa plena de ação onde, curiosamente, não há muito texto, como é apanágio da série canónica. O que acaba por ser refrescante, permitindo ao leitor focar-se noutras questões que, normalmente, não consegue apreciar na série clássica.

Não me canso de dizer que sou bem mais adepto da vertente mais policial da série Blake e Mortimer – daí o meu álbum preferido de sempre ser, de longe, O Caso do Colar – do que da vertente de ficção científica que, quanto a mim, é demasiado kitsch e sensaborona. Mas é uma opinião muito pessoal, claro. E partindo deste pressuposto, devo dizer que até apreciei que a trama montada por Fromental e Bocquet não tivesse nada de ficção científica –ou quase nada - e que tentasse ser, de facto, um policial clássico, com suspense e conspiração polícia à mistura.

Mas se isso é uma boa notícia para os meus gostos, e admitindo que a história tem alguns méritos, esta história acaba por ser um pouco “sem sal”. Os autores tentam colocar na narrativa um certo sentido de urgência, próprio do género thriller, mas para que isso pudesse ser bem sucedido, seria necessária uma maior dinâmica no relato ou no texto. A história não é má, mas também está longe de ser fantástica. Já para não dizer que o final e o caminho para que a história caminha, começa a adivinhar-se várias dezenas de páginas antes.

Quanto às ilustrações, este é um álbum em tudo diferente dos álbuns da série canónica que todos conhecemos. A componente visual poderá ser chocante para leitores experienciados na série e, de facto, tomei conhecimento que foi partilhada viralmente na web, não só em Portugal, como em vários países europeus, uma certa insatisfação perante a arte do autor Floc'h. Porém, estas reações negativas parecem-me exageradas. Até porque, sendo os desenhos de Floc'h diferentes daquilo que encontramos habitualmente na série Blake e Mortimer, são, ainda assim, muito mais próximos e parecidos do que o álbum desenhado por François Schuiten que, se bem me lembro, não chocou ninguém.

A Arte da Guerra - Uma Aventura de Blake e Mortimer em Nova Iorque, de Jean-Luc Fromental, José Louis Bocquet e Floc'h - ASA - Leya
Mas também depreendo que pode ser por esta mesma razão que a arte de Floc'h tem sido pouco aceite. É que a mesma é bastante diferente, mas, ao mesmo tempo, talvez não seja demasiado diferente. E, com efeito, a sua linha clara simplificada ao extremo, onde cada traço é limpo e sem espaço para sombras, parece um Blake e Mortimer normal, mas com menos detalhes.

É o estilo do autor e, como tal, é completamente legítimo. E esta opção do autor traz algumas coisas positivas e outras negativas. Por um lado, dá uma certa frescura à série – que se tem tornado bastante repetitiva nos últimos anos, temos que admitir. O estilo do autor, com vinhetas grandes e onde há pouco espaço para os célebres balões de fala carregados de texto, permitem um maior enfoque na ação e na própria componente visual da obra.

Todavia, por outro lado, com esta opção estético-visual, nem tudo são rosas. O facto de as ilustrações apresentarem um estilo bastante simplista e serem, ao mesmo tempo, grandes em dimensão, faz com que haja, quanto a mim, uma certa pobreza visual. Em particular nas expressões faciais das personagens – que parecem sempre muito sorumbáticas e algo artificiais – e nos cenários que são limitados às suas linhas de contorno. Também nas cenas de ação, quer os veículos, quer as personagens me parecem sempre muito estáticos, sem que haja a dinâmcia necessária. Normalmente sou adepto de formatos de livros de BD tão grandes quanto possível, mas, neste caso, talvez um formato menor tivesse funcionado melhor. Ou, mantendo o mesmo formato, talvez a utilização de vinhetas menores ou em maior número, fosse uma melhor opção.

Em termos de edição, este é um bom trabalho da ASA. O livro apresenta capa dura baça, com uma boa espessura. No miolo, encontramos bom papel baço e um bom trabalho ao nível da impressão e da encadernação. Destaca-se também o facto de o lançamento nacional ter sido feito praticamente em simultâneo com o lançamento mundial da obra. Isso é sempre algo que merece os meus louvores, pois é bom sabermos que não estamos sempre em atraso em relação ao que vai sendo lançado na Europa.

Em suma, se visto como um álbum de respeitosa homenagem ao melhor que a série Blake e Mortimer, de Edgar P. Jacobs, nos ofereceu, este A Arte da Guerra até tem os seus méritos. Respeita o legado da série e sabe, ao mesmo tempo, inovar. Contudo, e olhando a frio, quer em termos de história, quer em termos de ilustração, este é um álbum olvidável em poucos dias.


NOTA FINAL (1/10):
6.9



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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A Arte da Guerra - Uma Aventura de Blake e Mortimer em Nova Iorque, de Jean-Luc Fromental, José Louis Bocquet e Floc'h - ASA - Leya

Ficha técnica
A Arte da Guerra - Uma Aventura de Blake e Mortimer em Nova Iorque
Autores: Jean-Luc Fromental, José Louis Bocquet e Floc'h
Editora: ASA
Paginas: 124, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Novembro de 2023

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Análise: Estômago Animal e Espelho da Água

Estômago Animal e Espelho da Água, de Rui Cardoso Martins e João Sequeira - Polvo

Estômago Animal e Espelho da Água, de Rui Cardoso Martins e João Sequeira - Polvo
Estômago Animal e Espelho da Água, de Rui Cardoso Martins e João Sequeira

Foi durante o último Amadora BD que a editora Polvo editou, entre outros livros, a obra Estômago Animal, da autoria de João Sequeira, que adapta para banda desenhada mais um livro do escritor Rui Cardoso Martins. De resto, João Sequeira já o havia feito com Espelho da Água sendo, portanto, este Estômago Animal a segunda leva de BD por parte de ambos os autores.

Razão pela qual, hoje venho falar-vos dos dois livros. Não nesta, mas na edição de 2022, tive, inclusive, a oportunidade de apresentar Espelho da Água e de conversar um pouco com os dois autores. Fiquei então a saber que, embora estas bandas desenhadas sejam assentes nos textos dos livros originais de Rui Cardoso Martins, na verdade a iniciativa e o trabalho de os adaptar para banda desenhada derivaram da vontade de João Sequeira que, nestas adaptações, trilha o seu próprio caminho tendo depois, apenas, a anuência de Rui Cardoso Martins.

Estômago Animal e Espelho da Água, de Rui Cardoso Martins e João Sequeira - Polvo
Mas sendo dois livros feitos pelos mesmos autores, também há algumas diferenças entre si. Especialmente a nível da história. Espelho da Água é um livro mais toldado por um sentimento de crítica ou, pelo menos, que se alicerça na apresentação de factos do quotidiano, da vida como ela é, o que pressupõe, por conseguinte, um sentimento de crítica ou de desconforto de quem lê o livro.

A história começa com a travessia matinal do Tejo por parte de um cacilheiro. Mas quando aparece um cadáver a flutuar na água, os passageiros parecem sentir um susto de morte. Mas será pelo cadáver em si ou por toda a sua existência rotineira, de problemas ordinários e ocupações pequenas, numa vida que todos desejávamos que fosse grandiosa?

Vamos então conhecendo as vidas de vários passageiros do cacilheiro. É um conceito interessante e que funciona, embora me pareça algo aleatório, por vezes. Mesmo assim, gostei bastante da escrita e de algumas das subnarrativas que aqui aparecem. E as ilustrações de João Sequeira da cidade de Lisboa - bem como a planificação que é bastante dinâmica - deixaram-me bastante bem impressionado. O autor é dono de um estilo verdadeiramente poético.

Estômago Animal e Espelho da Água, de Rui Cardoso Martins e João Sequeira - Polvo
Já quanto a Estômago Animal, estamos perante uma história que acaba mais por ser uma reflexão poética da natureza animal dos Homens. A obra faz, pois, uso de histórias curiosas que se inserem numa realidade mais rural, apresentando personagens muito próprias, que nos permitem fazer uma ponte direta para dentro de nós mesmos. Embora seja uma história única, Estômago Animal poderia ser dividido em 3 atos: o primeiro, em que nos é apresentada a luta que um pai agricultor e o seu filho travam contra um grupo de toupeiras que destrói a sua plantação de oliveiras; a segunda, em que esse mesmo filho (que é também o narrador da história) nos fala de uma longa refeição com mais de 13 horas de duração - e onde o chefe Vintém preparou várias iguarias através da utilização das partes menos nobres de vários animais, como nervos, gorduras e cartilagens; e o último, em que, depois da conversa entre os comensais da referida excêntrica refeição, somos levados para uma outra realidade, mais distante, quando nos é revelada uma curiosa e chocante história que decorre com uma tribo africana que aparenta ser o “pior povo do mundo”.

Mas atenção, embora eu esteja aqui a separar estas três subnarrativas, chamando-lhe “capítulos” ou “partes”, na realidade, não há qualquer separação físico-visual destes 3 atos no livro com a narrativa a fluir de forma natural e não segmentada. De facto, as várias partes estão interligadas de um modo muito natural e bem conseguido. Isso é uma coisa que sempre aprecio numa obra e que aqui acontece: vamos mudando de tema, mas sempre de uma forma orgânica. Tal como quando se diz que “a conversa é como as cerejas”. Aprecio isso. Mesmo assim, e apesar do mencionado, parece-me ser claro que há uma linha narrativa comum e reflexiva em tudo o que nos é dado nas várias partes deste livro. E sendo uma história bastante peculiar, apreciei bastante o local e ambiente para onde a obra me levou. Quer através das palavras de Rui Cardoso Martins, quer através das imagens criadas por João Sequeira.

Estômago Animal e Espelho da Água, de Rui Cardoso Martins e João Sequeira - Polvo
É verdade que gostei de Espelho da Água, mas tenho a dizer que, em termos de história, até preferi este Estômago Animal, pois traz consigo um ambiente e uma reflexão muito profundas e poéticas. Gostei bastante. Só tive pena que o final parecesse algo abrupto acordando, com alguma aspereza, o leitor desta letargia saborosa para onde a obra o havia levado. Julgo que um maior número de páginas ou um final mais (bem) pensado, poderiam ter levado a obra a outro patamar.

Mesmo assim, é um belo livro.

Em termos de ilustrações, João Sequeira apresenta-se em boa forma em ambos os livros. O seu estilo de ilustração é muito próprio e característico, sendo facilmente identificável em pouco segundos. O seu traço é bastante abstracto, com vários borrões a tinha negra a preencherem as ilustrações, mas até é verdade que, especialmente em Estômago Animal, até há um bom equílibrio entre imagens mais complexas, chamemos-lhes assim, e imagens mais simples de decifrar. Sou um verdadeiro adepto de toda a poesia visual que emana dos desenhos de Sequeira. Acho até, com algum pesar, que muitas vezes este é um autor esquecido até no próprio "meio" da banda desenhada nacional.

Estômago Animal e Espelho da Água, de Rui Cardoso Martins e João Sequeira - Polvo
Não posso dizer que ache que o trabalho de João Sequeira mude substancialmente de Espelho da Água para Estômago Animal. Se gostei bastante do lado citadino de Espelho da Água, também aprecei especialmente certas opções visuais tomadas pelo autor neste Estômago Animal. Em ambos os livros há várias ilustrações que são belíssimas.

Quanto à edição da Polvo, estamos perante um trabalho meritório. Ambos os livros apresentam capa dura baça, bom papel baço e boa encadernação e impressão. Depois da oportunidade que Como Flutuam as Pedras, de João Sequeira e Pedro Vieira Moura, editado pel’ A Seita, me deu para mergulhar nas belas ilustrações do autor num grande formato, não posso deixar de considerar que, possivelmente, estes dois livros da Polvo também seriam mais impactantes num maior formato. Acho que a arte de João Sequeira o merece. Porém, também não deixa de ser verdade que os livros funcionam bem neste formato. Será uma questão de preferência, concedo.

Em suma, quer Espelho da Água, quer Estômago Animal - e, por ventura, ainda mais este último - são belíssimos livros carregados de belas reflexões contemporâneas sobre nós próprios e o mundo que nos rodeia. E, claro, são poética e inspiradamente ilustrados pelo traço inconfundível de João Sequeira. Dois livros que merecem e devem ser lidos, portanto!


NOTAS FINAIS (1/10):
Espelho da Água: 8.4
Estômago Animal: 8.8


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Estômago Animal e Espelho da Água, de Rui Cardoso Martins e João Sequeira - Polvo

Fichas técnicas
Espelho da Água
Autores: João Sequeira e Rui Cardoso Martins
Editora: Polvo
Páginas: 56, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Novembro de 2022

Estômago Animal e Espelho da Água, de Rui Cardoso Martins e João Sequeira - Polvo

Estômago Animal
Autores: João Sequeira e Rui Cardoso Martins
Editora: Polvo
Páginas: 56, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Novembro de 2023

Iguana prepara-se para lançar a primeira BD de 2024!


A editora Iguana - uma chancela do grupo Penguin Random House - prepara-se para lançar, já no próximo dia 5 de Fevereiro, aquele que será o seu primeiro livro de banda desenhada deste novo ano de 2024. E começa logo com um álbum de autor português!

Falo da obra Tempo - Em Busca da Felicidade Perdida, do autor Jorge Pinto, que, neste novo livro, é acompanhado por Evandro Renan e Talita Nozomi nas ilustrações.

Devo dizer que gostei bastante do trabalho que Jorge Pinto demonstrou, a nível de argumento e escrita, em Amadeo – A Vida e Obra entre Amarante e Paris (com ilustrações de Eduardo Viana) e, portanto, estou bastante curioso com este novo livro do autor português.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

Tempo - Em Busca da Felicidade Perdida, de Jorge Pinto, Evandro Renan e Talita Nozomi

Esta é uma história sobre o tempo, o tempo que não para, sobre aqueles que só conseguem ser felizes no passado e que, além de lembrar, precisam de desesquecer. 

Uma história sobre um homem que todos os dias atualiza um calendário feito de pequenos arbustos, um homem que se castiga e cumpre uma penitência auto imposta, esquecido pelo seus, por um crime acidental. 

Um livro sobre solidão, amor e o imparável avanço dos ponteiros do relógio.

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Ficha técnica
Tempo - Em Busca da Felicidade Perdida
Autores: Jorge Pinto, Evandro Renan e Talita Nozomi
Editora: Iguana (Penguin Random House)
Páginas: 104, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 24 cm
PVP: 17,45€

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Comparativo: Lydie pel' A Seita e Arte de Autor e pela Norma Editorial

E como não há duas sem três, esta semana ainda vos trago um terceiro comparativo entre edições da mesma obra de banda desenhada.

Desta vez, foco-me na edição portuguesa e na edição espanhola do livro Lydie, da autoria de Zidrou e Jordi Lafebre, do qual já falei aqui no Vinheta 2020. Aconselho, aliás, a (re)leitura desse artigo, onde dou conta do quanto a obra me tocou. Este é um lindo livro, onde a escrita e argumento de Zidrou são verdadeiramente inspirados e onde, mais uma vez, o trabalho de Jordi Lafebre impressiona. E não tenho nem uma dúvida de que Lydie merecia ser editado em Portugal!

Por esse motivo, e mesmo já tendo na minha coleção pessoal a versão espanhola da obra, pela Norma Editorial, foi com enorme satisfação que soube que este livro iria ser publicado em Portugal através da parceria formada pelas editoras A Seita e Arte de Autor.

Esta é, aliás, a primeira obra que Zidrou e Jordi Lafebre fizeram em colaboração, ainda antes da belíssima série Verões Felizes, por cá publicada também pela Arte de Autor.

Passarei agora, então, a analisar as diferenças entre as edições portuguesa e espanhola deste Lydie.

E, desta vez, por muito que eu tenha sempre um especial carinho pelas edições portuguesas em detrimento das edições estrangeiras - porque, caramba, mesmo que eu consiga ler bem em inglês, espanhol e, mais ou menos, em francês, prefiro sempre ler em português, a minha língua mãe e, portanto, aquela onde se consegue maior profundidade na real captação dos significados, por vezes, complexo das palavras e expressões - por uma questão de honestidade intelectual, tenho que dizer o óbvio: em quase todas as valências, a edição espanhola supera a edição portuguesa.

Até porque, convenhamos, eu tinha a versão especial espanhola, o que pode, por si só, desnivelar um pouco este comparativo.

Mesmo assim, também há algumas coisas na edição portuguesa que superam, quanto a mim, a edição espanhola.

Em primeiro lugar, as duas edições têm capas diferentes. E, neste ponto, a edição portuguesa vence facilmente. A capa portuguesa da obra é muito mais apelativa, não só em termos de ilustração como, até mesmo, ao nível do grafismo do arranjo gráfico. A capa portuguesa vende por si só... a capa espanhola, não. Portanto, neste ponto, tenho que dar os parabéns às duas editoras portuguesas.

Ainda no grafismo das obras, refira-se que também na contracapa, a obra portuguesa é mais bonita. Para mim, pelo menos.


Mas, olhando para as duas capas, há também uma outra coisa que salta à vista: o formato dos dois livros. A edição espanhola é substancialmente maior em relação à edição portuguesa. E, neste ponto, mantenho-me firme no que sempre digo: prefiro sempre que as edições tenham a dimensão maior possível (salvo raras e concretas exceções), embora também não ache que uns cms a mais, ou a menos, arruinem a experiência de leitura. Não é isso que me faz deixar de comprar uma edição. Portanto, preferindo a edição maior, também é verdade que não me sinto ultrajado pela edição relativamente mais pequena portuguesa.

Imagino que, como o plano das duas editoras portuguesas é lançarem uma coleção de obras de Zidrou, tenham tido a ideia de estandardizar as dimensões dos vários livros. Pelo menos, o Emma G. Wildford, já lançado pel' A Seita e pela Arte de Autor, tem a mesma dimensão deste Lydie. Portanto, goste-se ou não, pelo menos parece haver uma certa lógica nesta opção da dimensão dos livros.


Quanto ao tipo de papel utilizado, volto a preferir a escolha feita pela edição portuguesa da obra que opta por um papel baço em detrimento de um papel brilhante. 

Acho que certos tipos de traços, bem como certos tipos de histórias, funcionam melhor num papel baço. E é o caso deste Lydie.


De resto, em termos de encadernação e impressão, ambas as edições têm uma boa qualidade onde nenhuma se destaca em relação à outra.

E chegados a este ponto deste comparativo, até poderão achar que, além da questão do formato da obra, eu até gostei mais da versão portuguesa de Lydie, pois gostei mais da capa portuguesa, bem como do papel utilizado. 

No entanto, há algo que a edição espanhola tem e que, infelizmente, a edição portuguesa optou por não ter: um muito generoso e completo dossier de extras onde há textos sobre a obra e muitos e belos esboços do autor Jordi Lafebre. Um verdadeiro mimo.

Acho que, neste ponto, a A Seita e a Arte de Autor perderam a oportunidade de incluir estes belos extras e de tornar a sua edição em algo muito mais especial.

Também é verdade que o preço da edição portuguesa é relativamente inferior ao da edição espanhola - o que é sempre uma boa notícia para os leitores portugueses - mas, mesmo assim, julgo que, mesmo que o preço do livro português fosse ligeiramente superior ao que é, seriam muitos os portugueses a apreciar tão belo dossier de extras na edição portuguesa, como partilho convosco mais abaixo.







Resumindo e concluindo, sim, A Seita e a Arte de Autor dão-nos uma bem conseguida edição da totalmente recomendada obra Lydie, de Zidrou e Jordi Lafebre, mesmo que, comparando com a edição da espanhola Norma Editorial desta mesma obra que eu já detinha na minha coleção, a oferta em português não seja superior em termos qualitativos.

Gorila Sentado lança novo volume de Sweet Wind!


Já está disponível o segundo e novo volume da revista Sweet Wind, que a Gorila Sentado tem vindo a lançar nos últimos meses!

De resto, e para que melhor possam ficar a conhecer este projeto da editora independente, aconselho-vos a lerem a análise que lhe foi feita, aqui no Vinheta 2020.

Recebi alguns contactos de leitores do blog a perguntarem onde é que esta revista se pode comprar. Respondendo a essas questões, informo que, para já, a revista pode ser encomendada online, através do próprio site da Gorila Sentado, ou na livraria Mundo Fantasma, no Porto.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

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Sweet Wind #2, de Daniel da Silva Lopes

Extinção não significa o fim da vida, mas, sim como a conhecemos. 

Em Sweet Wind, uma minissérie em seis volumes para todos que amam ficção científica, suspense e terror, seguimos o que resta de um homem, sem nunca saber seu nome, que vive preso dentro de um fato que o tem mantido vivo por centenas de anos enquanto vagueia pelo que resta do planeta terra e enquanto procura outros como ele. 

Outros que aceitaram passar pela mesma experiência em troca de imortalidade. Neste segundo volume iremos aprofundar mais as suas memórias e de que forma ele se lembra do passado.

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Ficha técnica
Sweet Wind #2
Autor: Daniel da Silva Lopes
Editora: Gorila Sentado
Páginas: 28, a preto e branco
Encadernação: Capa mole (revista)
PVP: 6,00€

Na compra da revista oferta de um print exclusivo ainda por anunciar*
*Limitado ao stock existente.

Já se conhecem os novos jurados dos VINHETAS D'OURO 2023!


Como já vai sendo uma tradição, com o início de cada ano temos o regresso dos prémios VINHETAS D'OURO, os únicos prémios de banda desenhada em Portugal que são escolhidos por um conjunto independente e heterogéneo de jurados que são criadores de conteúdos relacionados com banda desenhada. Os prémios da "crítica especializada", como muita gente já lhes chama, se quiserem.

Os VINHETAS D'OURO têm vindo a crescer, de ano para ano, conquistando o seu espaço e relevância junto do público nacional de banda desenhada. 

A forma calorosa e participativa como os autores, nacionais e internacionais, têm acarinhado esta iniciativa, também tem sido especial. 

Ao longo deste anos, já participaram nas Galas dos VINHETAS D' OURO autores incontornáveis da BD portuguesa como José Ruy, Luís Louro, Filipe Melo, Nuno Saraiva, Paulo J. Mendes, Joana Afonso e muitos outros. E, mesmo em termos de nomes internacionais, já participaram nestas Galas nomes incontornáveis da banda desenhada mundial como Régis Loisel, Zidrou, Alain Ayroles, Thierry Joor, Jordi Lafebre ou Jean-Louis Tripp. Coisa que me deixa muito feliz.

Quando comecei esta iniciativa, de forma meio tímida, nunca achei que a mesma crescesse a este nível.

Portanto, para a 4ª edição dos VINHETAS D'OURO, referente ao ano 2023, posso começar por vos dizer que já estamos a trabalhar na matéria há algumas semanas e que até já apurámos as obras nomeadas, que tentarei dar a conhecer ainda durante esta semana.

Para já, deixo-vos com uma informação referente aos jurados para esta nova edição dos prémios. Conseguimos assegurar o mesmo número de jurados do ano passado (17!), mas houve algumas alterações. 

Saíram - por indisponibilidade - alguns jurados e entrou novo sangue, o que, quer parecer-me, é bom e positivo para que se assegure a tão desejada democratização das escolhas nestes prémios.

Sem mais demoras, apresento-vos, então, os jurados para os VINHETAS D'OURO 2023:

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Levoir lança nova obra de Keum Suk Gendry-Kim!


A Levoir lança hoje a obra A Árvore Despida, da autora Keum Suk Gendry-Kim.

Esta é uma autora que, aliás, em pouco tempo viu os seus livros tornarem-se presença habitual nos lançamentos editoriais de banda desenhada em Portugal. 

Com efeito, se há cerca de 6 meses não havia nenhuma BD da autora coreana Keum Suk Gendry-Kim publicada em Portugal, em pouco tempo a autora prepara-se para ter 4 obras editadas por duas diferentes editoras portuguesas. 

Relembro que a Levoir já havia lançado, na sua última Coleção de Novelas Gráficas, a obra Alexandra Kim, Filha da Sibéria e a editora Iguana (do grupo Penguin Random House) editou A Espera. A mesma editora já anunciou que deverá editar nos próximos meses a obra A Erva.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota da imprensa da obra e com algumas imagens promocionais.



A Árvore Despida, de Keum Suk Gendry-Kim

Depois da publicação de Alexandra Kim, na coleção Novela Gráfica, a 23 de Janeiro a Levoir edita A Árvore Despida, obra da autoria de Keum Suk Gendry-Kim. Keum nasceu em Goheung, na província de Jeolla do Sul, é tradutora, argumentista e ilustradora. Escreveu a adaptação do romance de Park Wan-seo, traduziu-o e concebeu os desenhos para esta novela gráfica. Estudou pintura ocidental na Universidade de Sejong e em 1998 licenciou-se em artes, na Escola de Artes Decorativas de Estrasburgo.

Em 1950, quando rebentou a guerra da Coreia, Kyung era uma jovem de vinte anos. Vivia em Seul com a sua mãe. Para sobreviver, trabalhava como vendedora numa loja frequentada por soldados americanos.

Um dia, conhece Ok Heedo, um pintor que tinha fugido do norte do país e que trabalhava em retratos encomendados pelos GI’s para alimentar a família. Kyung apaixona-se imediatamente por este homem tocada pela sua diferença e pelo seu talento. Acima de tudo, este amor ajuda-a a esquecer a terrível tragédia que acaba de atingir a sua família... Infelizmente, Ok Heedo é casado.

Muitos anos mais tarde, visita uma exposição póstuma dedicada a este pintor. O passado obscuro que ela julgava adormecido ressurge de repente. Kyung começa a escrever a sua história para se reconciliar com os fantasmas que a perseguem.

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Ficha técnica
A Árvore Despida
Autora: Keum Suk Gendry-Kim
Editora: Levoir
Páginas: 328, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 190 mm x 280 mm
PVP:  28,90€

Comparativo: A Fórmula da Felicidade - Nova e Antiga Edição

Hoje é oportunidade para mais um comparativo entre diferentes edições para a mesma obra.

E, desta vez, trago-vos uma das minhas bandas desenhadas portuguesas preferidas de sempre: A Fórmula da Felicidade, de Nuno Duarte e Osvaldo Medina.

Lançado originalmente em 2009, depressa este trabalho absolutamente soberbo, se tornou um clássico da banda desenhada nacional, quanto a mim. Por essa altura, a obra foi lançada em dois volumes pela Kingpin Books. E é essa mesma Kingpin Books que, passada mais de uma década, volta a colocar no mercado esta obra que há muito se encontrava esgotada e virtualmente impossível de encontrar à venda.

Só por isso, já há mérito e sentido de oportunidade por parte da Kingpin Books. Há livros que, na minha opinião, e na medida do possível, devem estar sempre disponíveis no mercado. A Fórmula da Felicidade é um desses livros.

Já não o lia há muito tempo e, agora que voltei a ler este livro, posso dizer que a obra envelheceu muito bem e continua obrigatória. A escrita e argumento de Nuno Duarte continuam profundos e marcantes; e as ilustrações de Osvaldo Medina - que aqui nos dá, à boa maneira de Blacksad, um mundo com personagens antropomorfizadas - continuam um deleite para os olhos. Muito aprecio o trabalho de ambos os autores noutras das suas obras mas, a meu ver, esta continua a ser a melhor BD escrita por Nuno Duarte e a melhor BD desenhada por Osvaldo Medina. Já para não falar na própria premissa da história que é verdadeiramente inteligente e bem explanada por Nuno Duarte. Enfim, se estão a ler este artigo e não conhecem este livro, façam um favor a vós mesmos e vão comprá-lo... agora! Thank me later.

Olhando, então, para a nova edição, há bastante a dizer.

Em primeiro lugar, e já o referi, o facto de uma obra de referência que estava esgotada voltar a estar novamente disponível justifica, por si só, a existência desta reedição.


Mas há mais coisas boas para além disso. A obra que antigamente era formada por dois volumes, passou a estar disponível neste volume integral, que reúne os dois tomos e, adicionalmente, acrescentou-lhe uma nova história curta que serve como complemento à história principal e onde, novamente, a escrita de Nuno Duarte é um verdadeiro sopro de leveza e beleza. E, quanto a Osvaldo Medina, este volta a não desiludir.

Esta história adicional que se intitula "Era uma vez um Epílogo que era um Prólogo" contém 16 páginas e funciona como uma prequela da história ao permitir explorar melhor duas das personagens d' A Fórmula da Felicidade. É um extra muito bem-vindo e que acrescenta bastante à história.

Outra das novidades desta nova edição, é a nova capa que apresenta uma linda ilustração de Osvaldo Medina. Eu gostava das capas dos dois volumes originais, especialmente da capa do primeiro volume, mas acho que esta nova ilustração ainda é mais bonita e impactante. E é colorida com belas cores, também. E o próprio lettering utilizado para o título está inspirado, cativante e faz uma ponte clara para os temas matemáticos que encontramos na história. Esta nova capa é lindíssima!


Além disso, os livros originais tinham capa mole e esta nova reedição é em capa dura, o que atribui à obra o requinte que ela merece.

Tudo muito bem feito, portanto.

Se, no que mais importa, tudo foi feito para melhor, nos detalhes há algumas questões que, quanto a mim, poderiam ter sido feitas de uma outra forma.

O novo formato é mais pequeno do que o formato original. Não consigo perceber muito bem o porquê desta opção. Talvez tenha que ver com a tentativa de não encarecer os custos de produção ou de, comercialmente falando, tentar aproximar o livro do posicionamento mais de "novela gráfica" do que de "banda desenhada" - mas este tema daria pano para mangas e não me quero alargar muito nesta questão. Seja como for, lamento que o formato tenha sido reduzido, embora também não ache que seja algo que destrua o prazer da leitura.


A legendagem e as fonts escolhidas para o texto também sofreram alterações nesta nova edição. Na colocação das legendas e balões parece-me que a nova edição está mais bem feita e profissional. E parece-me também que a font utilizada nos balões de fala funciona melhor do que a font original. No entanto, na font das legendas utilizadas para os monólogos e narração de Victor, a personagem principal da obra, não apreciei tanto a nova font utilizada. Parece-me que a anterior trazia mais familiaridade e aconchego ao texto que nos era dado. 

Também em termos de papel houve alterações. Passámos de um papel baço (mate) para um papel brilhante (couché). Não tem muito brilho, mas tem algum. Ora, bem sei que esta escolha do acabamento do papel é algo muito subjetivo. Mas devo dizer que prefiro o papel baço utilizado na versão original da obra que se coadunava bem mais ao estilo de traço e cores da obra em questão. Basta folhear um e outro livro e a sensação é inequívoca. Mas subjetiva, concedo. 

Por fim, e imagino que isto aconteça por algum tipo de dificuldade em ter disponíveis (ou digitalizados) os ficheiros originais da obra, algumas das cores da nova versão da mesma parecem-me algo garridas e com saturação a mais. Mais uma vez, não é nada que belisque a qualidade da obra ou a fluidez da leitura, mas, lá está, tendo as duas versões em mãos, sente-se a diferença.


De resto, é pena o lapso na página 55 - que nos dá uma legenda em polaco em vez da mesma estar em português - e o estranho desaparecimento, na página 47, do quadro afixado na parede da casa de Victor que, miraculosamente, volta a aparecer na página 82 do livro.

Como nota final, acho que teria sido pertinente a inclusão de algum tipo de material de extras nesta edição, de forma a torná-la ainda mais definitiva, como esboços do autor (que no primeiro livro original até apareciam) e - porque não? - um texto de análise à obra ou alguma entrevista com os autores. Lamento ainda a ausência dos prefácios de Nuno Artur Silva e Filipe Homem da Fonseca que os volumes 1 e 2, respetivamente, continham. Mesmo não querendo repetir-se os mesmos textos para o prefácio, poder-se-ia ter criado um novo prefácio. A obra merecia-o.

No entanto, foi com satisfação que vi que, nesta nova versão da obra, as duas páginas com o estudo para a fórmula matemática da felicidade tenham sido mantidas. Como gostei da página com as biografias dos autores.


Em suma, e apesar de alguns pequenos detalhes que poderiam ter tornado a edição perfeita, volto ao que já disse no início: o simples facto desta nova edição de A Fórmula da Felicidade (re)colocar uma obra tão relevante como esta no mercado nacional, já é motivo de regozijo! Além disso, a inclusão de uma nova história curta - com real valor e não apenas com o objetivo de ser um mero filler - bem como a belíssima nova ilustração da capa e a opção pela capa dura, fazem desta edição um trabalho verdadeiramente meritório.

Deixando o tema da edição de lado, o importante a manter presente é o seguinte: se não conhecem esta obra ou se já ouviram falar dela mas não a leram... o meu conselho é muito simples: não deixem de a adquirir!