quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Análise: Tango #6 - O Rio das Três Fronteiras

Tango #6 - O Rio das Três Fronteiras, de Philippe Xavier e Matz - Gradiva

Tango #6 - O Rio das Três Fronteiras, de Philippe Xavier e Matz - Gradiva
Tango #6 - O Rio das Três Fronteiras, de Philippe Xavier e Matz

Foi ainda no passado mês de Setembro que a Gradiva publicou o sexto e último volume da série Tango, de Philippe Xavier. E, começando por falar nisso, acho louvável que, em pouco mais de um ano, a editora tenha publicado a totalidade de uma série que, com os seus seis volumes, até não é tão curta assim. É um bom exemplo da forma como o paradigma da edição de banda desenhada tem vindo a ser mudado, em Portugal, nos últimos anos.

Se há, vamos dizer, 10/15 anos, era comum que várias séries de banda desenhada fossem lançadas por cá e que, depois, acabassem interrompidas, por motivos vários, agora o paradigma é outro: as editoras portuguesas apostam numa série e essa aposta vai até ao fim. Isto é bom por vários motivos. Senão vejamos: para os leitores é bom, porque podem completar coleções e, especialmente, quando há uma história que se desenrola ao longo de vários volumes, podem terminar a história. Mas para as editoras também é bom porque, a jusante, poderão rentabilizar os seus investimentos de forma mais compacta, como consequência de terem publicado toda a série. Já para não falar na notoriedade – esse bem intangível, mas extremamente relevante – que as editoras criam junto do seu público.

Tango #6 - O Rio das Três Fronteiras, de Philippe Xavier e Matz - Gradiva
Tudo isto para sublinhar que a série Tango, é apenas mais um desses exemplos. O sexto volume dá pelo nome de O Rio das Três Fronteiras e coloca, mais uma vez, o protagonista John Tango, bem como o seu fiel amigo Mario, em mais problemas com os mafiosos locais.

Continuando no seu périplo pela América Latina, desta vez os nossos heróis encontram-se num ponto curioso do nosso planeta que junta a fronteira de três países de uma só vez. Falo da Argentina, do Paraguai e do Brasil. É nessa tripla fronteira que toma lugar uma enorme operação de tráfico de droga, de bandidos ocultos e exilados, de negociantes de armas e de branqueadores de capital. 

John Tango e Mario são convocados pelo seu amigo Mike, que já apareceu no segundo volume da série, para uma visita a este local, sem saberem muito bem quais as intenções do seu amigo. Mas logo ficam a saber que Mike e outros amigos foram expulsos da ilhota onde viviam por um rei do crime que procurava construir um resort de luxo no local e operar a partir daquele ponto a sua rede criminosa. E, como se não bastasse, Mike ainda viu um dos seus amigos a ser assassinado pelo referido mafioso. Agora que este se encontra na zona da tripla fronteira, Mike procura vingar-se e pede a John Tango e a Mario o seu auxílio. Mas, eventualmente, como é costume nestes enredos, as coisas acabam por não correr como o esperado e o protagonista vê-se mergulhado, de forma profunda, no submundo local e terá que ser ele o agente da vingança, enquanto acerta algumas contas antigas.

Tango #6 - O Rio das Três Fronteiras, de Philippe Xavier e Matz - Gradiva
Esta é uma série que tem demonstrado alguma volatilidade em termos de qualidade de argumento. Já por vezes, demonstrou mais qualidade, como nos tomos 3 e 5, À Sombra do Panamá e O Último Condor, respetivamente, mas também já se apresentou bastante desinspirada, como sucedeu nos tomos 2, Areia Vermelha, e 4, Dobro ou Nada em Quito. Neste caso, sem que este 6º tomo nos ofereça uma história fantástica, acho que estamos perante um dos melhores da série. 

Apreciei bastante a forma como o livro acaba, com as personagens John e Mario a elucidarem o leitor, através do diálogo que mantêm – sobre aquilo que, realmente, acabou por acontecer com os malfeitores. Mesmo podendo parecer má ideia não mostrar – através do desenho – o desenlace final, especialmente tendo em conta que se trata de uma série de ação, pareceu-me que foi uma maneira diferente e original, que acabou por funcionar bem.

Quanto ao desenho, o trabalho de Philippe Xavier mantém-se fiel ao que o autor já nos ofereceu nos 5 tomos anteriores. Diria que é um desenho extremamente eficiente e que cumpre, sem maravilhar. Como já referi anteriormente, “o seu estilo realista é demarcadamente franco-belga, com uns toques de modernidade, e certamente agradará aos amantes das séries XIII, Largo Winch ou I.R.S.. São desenhos que funcionam bem e que são bastante apelativos para o olho. São mais eficazes do que virtuosos porque, se olharmos com um olho mais clínico, verificaremos que os cenários e os pormenores até poderiam ser mais polidos.

Tango #6 - O Rio das Três Fronteiras, de Philippe Xavier e Matz - Gradiva
Acima de tudo, e olhando para os seis tomos, acho que consistência é a palavra chave, em termos de ilustrações – quanto ao argumento não é bem assim, como já referi acima. O trabalho de Philippe Xavier, pelo menos no seu todo, nem melhorou, nem piorou ao longo da série. Portanto, quem gostou logo do primeiro tomo, continuará a gostar. Quem não gostou dos desenhos até agora, também não deverá mudar de opinião.

Também em termos de edição, a Gradiva foi consistente ao longo da série. Todos os livros apresentam capa dura, bom papel brilhante, boa impressão e boa encadernação. Houve um dos livros – o primeiro, se não me falha a memória, que tinha um breve conteúdo de extras. Mas, normalmente, os livros de Tango não têm material extra.

Infelizmente, também houve consistência na legendagem que me pareceu apresentar vários problemas, com balões demasiado grandes e uma fonte excessivamente grande e muito espaçada. No entanto, parece-me que fez mais sentido que a editora, ainda assim, fosse fiel a si mesma, não alterando a harmonia com o que já tinha feito nos primeiros volumes. Mas, claro, deixo a nota para outras séries futuras em que a Gradiva aposte.

Concluindo, o último volume de Tango, encerra de forma satisfatória a série e acaba por simbolizar, também, a boa forma editorial da Gradiva que, em cerca de 13-14 meses, publicou integralmente uma série de seis volumes, demonstrando bom músculo editorial.


NOTA FINAL (1/10):
8.1



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Tango #6 - O Rio das Três Fronteiras, de Philippe Xavier e Matz - Gradiva

Ficha técnica
Tango #6 - O Rio das Três Fronteiras
Autores: Philippe Xavier e Matz
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 23,30 x 31,30
Lançamento: Setembro de 2022

5 comentários:

  1. Bom dia. Não tenho informações a esse respeito, embora já tenha solicitado as mesmas junto do editor. Até porque, convenhamos, já estão a faltar 2 livros na coleção portuguesa: o quinto e sexto volumes. Contudo, espero que, num destes dias, possamos ser agradavelmente surpreendidos.

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  2. O preço e que vai upa upa do 1 ao ultimo.,,,

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  3. Notícia JN 25.01.2023, aquando do prêmio de angouleme. Os quatro primeiros tomos estão publicados em português pela Teorema, que revelou ao Jornal de Notícias que irá publicar o quinto, "Ser jovem no Médio Oriente (1992-1994)", no segundo semestre deste ano.

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  4. Essa tinha-me escapado! Obrigado pela partilha, Ricardo! :)

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  5. Já aqui tinha posto essa nota. A avaliar pela cadência de edições da Teorema lá para 2024-25 teremos, talvez, a coleção concluída. Isto sem contar com a incerteza do trabalho de produção que deixou muito (mesmo muito...) a desejar aquando o 4º volume. Falar da Teorema como editor de BD é pura coincidência...

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