Foi já na reta final do ano 2022 que a editora ASA lançou, em conjunto com o jornal Público, a série O Grão-Duque, da autoria da dupla formada por Yann e Hugault. Diga-se que, de há uns tempos para cá, esta parceria entre a editora e o jornal português já nos deu séries muito boas como, por exemplo, Peter Pan, de Loisel, Long John Silver ou Rio, entre outras.
O que têm em comum estas séries é que costumam ser curtas (reunindo entre 3 a 6 volumes) e que são todas de origem e estilo franco-belga. Coisa que, para além de me deixar feliz a mim, também deixará muitos leitores felizes, estou certo.
Desta vez a aposta recaiu em O Grão-Duque, uma minissérie de guerra, com 3 volumes, cujo argumento é de Yann e as ilustrações são de Romain Hugault. Sobre este último, convém dizer que o autor já tinha visto duas das suas obras publicadas por cá, pela editora já extinta Vitamina BD: o volume one shot O Último Voo e o primeiro volume do díptico Do Outro Lado das Nuvens que, lamentavelmente, ficou incompleto, devido ao fecho das portas por parte da Vitamina BD.
E, já nesses álbuns, era possível admirar a capacidade, por vezes desconcertante, de Hugault para um desenho super-realista, onde o maior detalhe e enfoque do autor parece residir, especialmente, em duas vertentes: no desenho de belas e luxuriantes mulheres e no desenho de aviões. Entre estas duas coisas, diria que o meu principal gosto são as belas mulheres, mas também não nego que aprecio um bom desenho de veículos terrestres ou aéreos. Portanto, é uma mistura que funciona bem. Especialmente se estivermos a falar de uma BD de guerra, como é o caso.
Começando, pois, este texto dando destaque ao desenho de O Grão-Duque, posso dizer-vos que aqueles que já conhecem o trabalho do autor, decerto não se sentirão defraudados com aquilo que ele nos dá nesta série. O detalhe e perfeição dos desenhos de Hugault chega a ser tanto que nos merece longos períodos a olhar para cada uma das suas belas ilustrações. Os aviões, quer em terra, quer em combate, são representados com um cuidado extremamente perfecionista e as mulheres, que miraculosamente possuem todas seios fartos e magnificamente bem delineados, são representadas com extremo detalhe e beleza.
Se corpos femininos, aeronaves, veículos, cenários, fardas dos soldados são desenhadas na perfeição por Hugault, sinto apenas que certas expressões faciais me parecem, por vezes, pouco naturais. Ou, melhor dizendo, sinto que essas expressões mesmo estando bastante boas na sua conceção, não conseguem estar ao nível da perfeição dos restantes tipos de desenhos que acabo de enunciar no parágrafo acima.
Quanto à planificação, o autor também faz bom uso de diferentes opções de organização de espaço, com a introdução de vinhetas de página inteira, vinhetas sobrepostas, vinhetas ao alto, vinhetas sem limite e até da utilização de margens pretas em alguns momentos da narrativa. Tudo isto faz com que a leitura seja rápida, do ponto de vista narrativo, mas que, como já referi, nos faça acalmar o ritmo devido a toda a beleza gráfica que emana dos desenhos do autor e que merece ser observada com tempo e calma.
Falando, agora, um pouco sobre o argumento que esta série nos oferece, importa referir que a história nos coloca bem no cerne da Segunda Guerra Mundial, entre 1943 e 1945, mostrando-nos, em simultâneo, o lado dos russos e o dos alemães.
Acompanhamos a caminhada de um piloto alemão, Wulf, que, durante a Segunda Guerra Mundial, e aos comandos do mítico avião Heinkel He-219, apelidado por si como "Grão-Duque", tem um improvável encontro com uma combatente inimiga de origem russa, Lilya, também ela piloto, que sendo uma mulher linda e sensual, também é uma feroz guerreira, com um enorme ódio pelos soldados alemães.
Wulf é uma personagem bastante interessante porque, embora combata pelo exército alemão, tem uma postura antinazi, recusando-se a ostentar a cruz suástica no seu avião. Logicamente, este tipo de atitude vai despertar algumas inimizades e dissabores junto dos seus camaradas de armas. Mas Wulf não quer saber disso. A sua única preocupação ainda é a sua filha Romy.
E é então que se cruza com Lilya, uma soldado pertencente ao regimento feminino russo apelidado como “As Feiticeiras da Noite”. O exército russo tem que combater em aviões completamente obsoletos e isto também faz surgir uma certa sensação de injustiça em Wulf.
Se Lilya começa por renegar a bondade que Wulf demonstra para com ela, a verdade é que ambos acabam por criar uma forte relação amorosa. Depois, há algumas reviravoltas na história que não vou referir, pois não quero estragar o prazer da leitura àqueles que, depois deste texto, forem ler a obra.
Parece-me, isso sim, que o argumentista Yann faz aqui um trabalho bastante decente. A história pode apresentar alguns clichets, aqui e ali, reconheço, mas não deixa de ter os seus bons momentos, bem doseados por Yann e duas personagens que, estando em lados opostos do conflito, acabam por fazer nascer uma certa sensação de empatia nos leitores.
A edição que a ASA nos propõe neste O Grão-Duque é em tudo semelhante às edições mais recentes da editora: capa dura brilhante, bom papel brilhante, boa encadernação e boa impressão. A editora optou por incluir, no final de cada volume, uma página com a tradução das expressões alemãs e russas que são utilizadas ao longo da série. Se, por um lado, aplaudo a iniciativa, por outro lado, julgo que teria sido mais conveniente se as traduções das expressões fossem aparecendo em nota de rodapé em cada uma das páginas em que são efetivamente ditas pelas personagens. Esta forma de estar a consultar constantemente a "folha de cábula" no final do livro, parece-me que torna a leitura menos fluída e, às tantas, o leitor até já desiste de ir tantas vezes à página em questão, ficando "às escuras" em relação ao que é dito. Teria apreciado também que o conjunto das três lombadas formasse um desenho ou, pelo menos, o logótipo da série. Mas, não obstante, e gostos à parte, tudo isto que refiro são detalhes e a verdade é que a edição está bastante bem conseguida.
Em suma, a aposta da ASA em séries franco-belgas situadas temporalmente na Segunda Guerra Mundial – como Operação Overlord, Airborne 44 ou U-Boot – tem neste O Grão-Duque uma das suas melhores séries, possivelmente suplantada apenas por Airbone 44. Portanto, para os fãs do género, diria que é uma série de compra obrigatória. Do lado da editora – e partindo do princípio que a série vendeu (ou está a vender) bem – a boa notícia é que há, pelo menos, mais duas séries de Hugault, que apresentam o mesmo cariz bélico e o mesmo aprumo visual, e que a editora poderá optar por editar numa coleção semelhante a este O Grão-Duque: Angel Wings (7 volumes) e Le pilote à l'Edelweiss (3 volumes). É uma questão de aguardarmos para ver se tal acontece ou não.
NOTA FINAL (1/10):
8.7
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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O Grão-Duque #1 - As Feiticeiras da Noite
Autores: Yann e Hugault
Editora: ASA
Páginas: 46, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Novembro de 2022
Autores: Yann e Hugault
Editora: ASA
Páginas: 46, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Novembro de 2022
Autores: Yann e Hugault
Editora: ASA
Páginas: 46, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Novembro de 2022
Força, Ricardo! Boas leituras!
ResponderEliminarGostei muito tirando a parte do dossier das traduçoes no fim.,,,
ResponderEliminarPois, concordo. Conforme digo no texto, acho que poderia ter sido feito de outra forma.
EliminarGostei bastante, se bem que o enamoramento precisava de ser mais trabalhado....
ResponderEliminarPois... é algo brusco, sim.
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