Se o primeiro Nevada me deixou com grande expetativa para o que poderia vir a seguir, devo dizer que este segundo tomo me deixou algo desiludido. E não o digo por estarmos perante um mau livro. Nada disso! Nevada 2 consegue cumprir, dando-nos uma história eficiente e funcional. No entanto, não é o salto qualitativo desejável, para transformar a série em algo mais marcante, que eu desejaria. É bom, mas não é extraordinário. E a minha ligeira desilusão prende-se com o facto de considerar que, tudo somado, este segundo volume fica uns furos abaixo do primeiro.
A história mantém-se à volta da personagem de Nevada Marquez, um agente oficioso que trabalha para os estúdios de Hollywood, tendo como funções a resolução de missões difíceis e perigosas e outros tantos negócios sujos. Um típico “faz tudo”, portanto. Nevada está, desta vez, em São Francisco para recolher uma encomenda que deverá ser entregue, em Los Angeles, a uma personagem importante de Hollywood. Mas quando o conteúdo desse misterioso pacote atrai a atenção das tríades de Chinatown, Nevada vê-se forçado a realizar uma viagem para Sul, na recentemente inaugurada Estrada 99, que une São Francisco a Los Angeles. E essa viagem torna-se perigosa e longa, pondo as capacidades de Nevada em teste.
A grande originalidade desta série é que junta dois universos que, raramente, aparecem juntos: o do oeste americano e o do lado citadino de Hollywood, onde a indústria cinematográfica é uma verdadeira força motriz da economia daquele lado dos Estados Unidos. Por um lado, a série é apetecível para os muitos amantes do western. Por outro lado, também pisca o olho a todos os que gostam do género policial, de estilo pulp. Acaba por ser uma mistura rara, que funciona bem.
Ao contrário do álbum anterior, em que parece que há uma maior predominância de partes mais alusivas ao western do que ao lado mais urbano e moderno da história, neste Estrada 99, são mais raras as partes que nos remetem para o universo do faroeste. É certo que parte da aventura é passada na árida e desértica estrada, mas a história é mais urbana e citadina do que a anterior. Coisa que até sou capaz de apreciar mais, diga-se.
Portanto, Nevada 2 até parecia que ia ser mais do meu agrado. Não o foi por um motivo apenas: os autores parecem menos inspirados neste álbum. O argumento é mais simples e expetável e, até mesmo os desenhos, parecem menos inspirados (embora a um bom nível, ainda assim).
Aceita-se que esta seja uma daquelas séries que não procura que os seus argumentos sejam muito profundos ou de um cariz que faça o leitor refletir. E nada há de mal nisso, refira-se. Não obstante, parece que o trabalho dos argumentistas neste segundo tomo é, por ventura, algo superficial em demasia, criando apenas as bases genéricas para que o enredo se sustente. Consequentemente, senti a falta de personagens e vilões mais impactantes. De situações mais extremas. De urgência narrativa. Porém, isso pouco ou nada acontece e, de facto, os argumentistas apenas se preocuparam em jogar pelo seguro.
O desenho de Colin Wilson é quase sempre verdadeiramente impressionante e bem conseguido. Digo “quase sempre” porque, aqui e ali, o autor nos brinda com alguns desenhos onde as expressões faciais de algumas personagens, parecem feitas de forma menos cuidada. Se, por um lado, compreendo que o traço do autor é bastante dinâmico e consegue alguns desenhos fantásticos, por outro lado, fico com pena que, de vez em quando, a expressão do protagonista pareça um bocado deformada. A última vinheta da página 8 deste livro é apenas um exemplo do que estou a dizer. Não há muitos exemplos assim, mas há alguns.
Mas, lá está, na maioria das vezes, Colin Wilson impressiona com o seu desenho de traço rápido, mas com bastantes virtuosismos, e capaz de ilustrar com extrema eficácia os vários tipos de ação que a história nos dá: sejam cenas de alucinantes perseguições, sejam cenas de tensão entre personagens, sejam conversas num diner. Os enquadramentos, de cariz cinematográfico, também são agradáveis e permitem uma boa imersão do leitor na história.
Quanto à edição da editora A Seita, não há nada negativo a apontar. Sendo uma série de formato tipicamente franco-belga, o livro apresenta capa dura; bom papel, com a quantidade certa de brilho; boa impressão e boa encadernação. Nota para o facto de a editora já ter anunciado que editará durante este ano os restantes dois tomos que faltam da série. Coisa que merece os meus aplausos. Relembro que sendo uma série onde as histórias são autocontidas há, não obstante, uma certa linha de continuidade na história de Nevada. E, saber que, em pouco tempo a série receberá os tomos seguintes é positivo para que os leitores possam apostar na mesma.
Concluindo, este segundo tomo de Nevada continua a ser uma leitura agradável, que tem como principal atributo o facto de ser um híbrido entre um clássico western e um policial, de estilo pulp. Mesmo que o segundo tomo fique alguns furos abaixo do primeiro volume da série, continua a ser muito recomendável para todos os que apreciam estes dois géneros de aventuras.
NOTA FINAL (1/10):
8.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Nevada #2 - A Estrada 99
Autores: Fred Duval, Jean-Pierre Pécau e Colin Wilson
Editora: A Seita
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 23 x 32 cm
Lançamento: Setembro de 2022
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