O volume final da série Duke, intitulado Este Mundo não é o Meu, da autoria de Hermann e de Yves H., assinala o encerramento de uma saga western marcada por altos e baixos. É justo afirmar que este sétimo volume, mesmo sem se revestir de um final apoteótico, consegue cumprir o papel que lhe compete: fechar a história do anti-herói Duke com alguma coerência narrativa, mesmo que sem grande fulgor ou emoção.
A história traz-nos o capítulo final para as personagens Duke e Swift que se deslocam ao rancho de King para um último confronto. Duke procura libertar a prostituta Peg, a sua amada, que se mantém nas garras de King, o seu raptor que exige os 100 000 dólares que Duke e Swift mantêm em sua posse. Naturalmente, a transação não ocorre de forma tão diplomática assim, e o confronto entre Duke e o seu inimigo torna-se irremediável e sangrento.
A história de Este Mundo não é o Meu traz-nos, ao mesmo tempo, o confronto final de Duke com o seu próprio passado, com a sua moral vacilante e com as forças corruptas que o rodeiam. Vemos um homem desgastado, tanto física quanto psicologicamente, a enfrentar os últimos fantasmas da sua existência. O enredo, apesar de previsível em certos pontos, consegue manter o interesse, sobretudo porque, lá mais para o final, aposta mais na introspeção do protagonista do que numa escalada de ação desenfreada, como em volumes anteriores. Mesmo assim, há um tiroteio emblemático, claro.
O argumento de Yves H. continua a ser funcional, mas nunca especialmente inspirado. As falas são secas, o que por vezes funciona no registo western, mas falta-lhes alguma profundidade emocional. Em várias passagens, nota-se um certo esforço para parecer filosófico ou trágico, sem que isso se concretize de maneira convincente.
No entanto, também é justo reconhecer que o final fecha a série com dignidade. Não há uma apoteose grandiosa no fim, mas há um final que também não é óbvio e que até tem o condão de, para além de fechar o enredo, deixar uma porta aberta para um possível regresso à série, no futuro, caso os autores assim o entendam.
É importante sublinhar que este volume não é, de forma alguma, espetacular. Nem o é a série como um todo. Duke sempre viveu na sombra de outras obras maiores do género e, particularmente, na sombra de Comanche, outro western onde Hermann, acompanhado então por Greg, demonstrou um domínio narrativo e artístico superior, que acabou mesmo por fazer história para a banda desenhada europeia. Comparando ambas as séries, Duke surge como uma tentativa mais desinspirada e menos envolvente de revisitar as histórias ambientadas no faroeste americano.
Ainda assim, também há mérito na forma como Hermann se manteve fiel à sua estética ao longo da série Duke. O seu trabalho em aguarelas continua a ser digno de elogios, e mesmo num volume mais sombrio como este, há momentos em que a sua paleta de cores e os seus cenários áridos respiram vida e personalidade. As paisagens, em especial, evocam uma solidão melancólica que casa bem com o espírito do protagonista.
Infelizmente, o mesmo já não se pode dizer das expressões faciais das personagens. Há uma estranheza persistente nos rostos, sobretudo no das mulheres, cujas expressões por vezes caem no grotesco ou no caricatural, de uma forma que chega a parecer quase deliberadamente jocosa.
Mas, enfim, o traço de Hermann, mesmo que envelhecido, ainda possui um peso próprio. Mesmo com as limitações já referidas, o domínio da composição visual, da sombra e da luz, e a forma como as cenas são enquadradas, mostra um autor que, embora já longe do seu auge, ainda é um mestre em alguns aspetos da arte sequencial.
A edição da Arte de Autor é em capa dura baça, com bom papel baço no interior, bom papel e boa encadernação. Uma boa edição, portanto.
Em resumo, Este Mundo Não é O Meu encerra a série Duke com um suspiro mais do que com um estrondo. Não é um grande final, mas é um final apropriado. Quem acompanhou a série até aqui encontrará uma conclusão razoável, ainda que sem grande emoção. Com o nome de Hermann envolvido, a expectativa é sempre alta, especialmente para quem conheceu o autor nas décadas de 70 e 80. Duke não está à altura das suas obras maiores, mas consegue, ao menos, não envergonhar esse legado. Há um eco distante de grandeza, que por vezes emerge — ainda que fugazmente — nas páginas deste último volume.
NOTA FINAL (1/10):
7.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Duke #7 - Este Mundo não é o Meu
Autores: Hermann e de Yves H
Editora: Arte de Autor
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Fevereiro de 2023
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