Análise: "Huck", de Mark
Millar
Este é um daqueles livros
de banda desenhada simples, agradável, com bom ritmo e de leitura fácil. Huck, que dá nome ao personagem central
desta história, tem vários superpoderes tais como uma força bruta, a capacidade
de se deslocar rapidamente e um sentido apurado para encontrar coisas
desaparecidas. Sendo - talvez – o super-herói mais altruísta da história dos
super-heróis, opta por ajudar as pessoas a resolver os problemas das suas
vidas. A felicidade de Huck passa
pois, por fazer os outros felizes. Isto, por si só, já é um ótimo conceito e um
bom ponto de partida para explorar a obra.
Os livros de super-heróis
costumam assentar num paradigma: qual o poder desse herói – ou vilão – e como é
que esse poder influencia a própria história e o comportamento da personagem,
ao nível das suas ações. E, em Huck, o
autor do argumento Mark Millar está de parabéns ao ter conseguido fabricar um
herói que é poderoso, mas, ao mesmo tempo, mundano. Desta forma, acaba por ser
quase obrigatório que muitos leitores se identifiquem com Huck. Todos temos um
pouco dele.
Por vezes é mais benéfico
fazer o simples do que fazer o complexo e creio ter sido isso que Millar fez.
Poderia ter extrapolado poderes e criado vilões com sete cabeças cuspidoras de
fogo ou de raios laser mas, não. Optou, antes, por construir uma narrativa
verosímil ainda que, pasme-se, se trate da história de um homem com superpoderes.
E tanto assim o é que a pergunta que os leitores poderão fazer a si mesmos,
enquanto lêem Huck é: “e se fosse eu
a ter os superpoderes, de que forma é que os usaria?” Planos diabólicos para
conquistar o mundo ou simplesmente tentaria ajudar aqueles que se encontram em
necessidade? Junte-se a esta ideia a questão dos meios de comunicação e como um
super-herói nos dias de hoje facilmente se tornaria viral, para termos uma
excelente ideia para uma história.
Os chavões clássicos dos super-heróis
são aqui desconstruídos de forma despretensiosa pois Mark Millar procurou criar
uma personagem que tem poderes, mas fraquezas também, como por exemplo a sua
total ingenuidade. Sensivelmente na segunda parte do livro, a história ganha ainda
contornos políticos de uma forma ligeira.
Enquanto leitor, diria
que a única coisa onde este livro peca, é em nos apresentar uma história com
princípio, meio e fim de uma forma algo rápida. Ainda que o livro tenha 160
páginas – já contabilizando as agradáveis páginas de esboços, no final – a história
parece passar a correr. Gostaria, pois, que tivesse sido dado um maior
desenvolvimento às personagens. Com um paradigma tão interessante e rico, parece
que este livro no final, sabe a pouco. No entanto, isso não anula o meu
sentimento mais que positivo em relação a Huck.
E se calhar, a sensação de o livro parecer pequeno ou rápido, assenta mesmo no
facto de ser uma leitura que se faz rapidamente, devido à trama estar cativante,
embora ligeira, e nos querer fazer conhecer o final da história.
Da minha parte, acho que
seria interessante que os autores de comics começassem a desconstruir o
universo dos super-heróis. Bem sei que muitos autores já o fizeram, mas ainda
acho que estas iniciativas são em pequeno número. E aproxima o tema dos
super-heróis a um público mais ciente e maduro.
Destaque ainda para a
arte do ilustrador Rafael Albuquerque é maravilhosa, com cenas de ação muito
bem conseguidas e dinâmicas bem como, situações mais calmas, mais introspetivas,
de uma excelente profundidade sentimental. Alguns enquadramentos e planeamento
das páginas também são bastante cinematográficos, o que, mais uma vez, encaixa
muito bem na temática. As cores muito vivas, ajudam a arte e a narrativa a
fluir bem, também.
Em suma, harmonia é a
palavra que melhor encontro para descrever este livro. História e arte andam de
mãos dadas, o que me faz recomendar este Huck.
NOTA FINAL (1/10):
7.4
-/-
Ficha Técnica
Huck
Autores: Mark Millar e Rafael Albuquerque
Editora: G. Floy
Páginas: 160, a cores
Encadernação: Capa dura
Sem comentários:
Enviar um comentário