sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Análise: Huck


Análise: "Huck", de Mark Millar

Este é um daqueles livros de banda desenhada simples, agradável, com bom ritmo e de leitura fácil. Huck, que dá nome ao personagem central desta história, tem vários superpoderes tais como uma força bruta, a capacidade de se deslocar rapidamente e um sentido apurado para encontrar coisas desaparecidas. Sendo - talvez – o super-herói mais altruísta da história dos super-heróis, opta por ajudar as pessoas a resolver os problemas das suas vidas. A felicidade de Huck passa pois, por fazer os outros felizes. Isto, por si só, já é um ótimo conceito e um bom ponto de partida para explorar a obra.

Os livros de super-heróis costumam assentar num paradigma: qual o poder desse herói – ou vilão – e como é que esse poder influencia a própria história e o comportamento da personagem, ao nível das suas ações. E, em Huck, o autor do argumento Mark Millar está de parabéns ao ter conseguido fabricar um herói que é poderoso, mas, ao mesmo tempo, mundano. Desta forma, acaba por ser quase obrigatório que muitos leitores se identifiquem com Huck. Todos temos um pouco dele.
Por vezes é mais benéfico fazer o simples do que fazer o complexo e creio ter sido isso que Millar fez. Poderia ter extrapolado poderes e criado vilões com sete cabeças cuspidoras de fogo ou de raios laser mas, não. Optou, antes, por construir uma narrativa verosímil ainda que, pasme-se, se trate da história de um homem com superpoderes. E tanto assim o é que a pergunta que os leitores poderão fazer a si mesmos, enquanto lêem Huck é: “e se fosse eu a ter os superpoderes, de que forma é que os usaria?” Planos diabólicos para conquistar o mundo ou simplesmente tentaria ajudar aqueles que se encontram em necessidade? Junte-se a esta ideia a questão dos meios de comunicação e como um super-herói nos dias de hoje facilmente se tornaria viral, para termos uma excelente ideia para uma história.

Os chavões clássicos dos super-heróis são aqui desconstruídos de forma despretensiosa pois Mark Millar procurou criar uma personagem que tem poderes, mas fraquezas também, como por exemplo a sua total ingenuidade. Sensivelmente na segunda parte do livro, a história ganha ainda contornos políticos de uma forma ligeira.
Enquanto leitor, diria que a única coisa onde este livro peca, é em nos apresentar uma história com princípio, meio e fim de uma forma algo rápida. Ainda que o livro tenha 160 páginas – já contabilizando as agradáveis páginas de esboços, no final – a história parece passar a correr. Gostaria, pois, que tivesse sido dado um maior desenvolvimento às personagens. Com um paradigma tão interessante e rico, parece que este livro no final, sabe a pouco. No entanto, isso não anula o meu sentimento mais que positivo em relação a Huck. E se calhar, a sensação de o livro parecer pequeno ou rápido, assenta mesmo no facto de ser uma leitura que se faz rapidamente, devido à trama estar cativante, embora ligeira, e nos querer fazer conhecer o final da história.

Da minha parte, acho que seria interessante que os autores de comics começassem a desconstruir o universo dos super-heróis. Bem sei que muitos autores já o fizeram, mas ainda acho que estas iniciativas são em pequeno número. E aproxima o tema dos super-heróis a um público mais ciente e maduro.

Destaque ainda para a arte do ilustrador Rafael Albuquerque é maravilhosa, com cenas de ação muito bem conseguidas e dinâmicas bem como, situações mais calmas, mais introspetivas, de uma excelente profundidade sentimental. Alguns enquadramentos e planeamento das páginas também são bastante cinematográficos, o que, mais uma vez, encaixa muito bem na temática. As cores muito vivas, ajudam a arte e a narrativa a fluir bem, também.

Em suma, harmonia é a palavra que melhor encontro para descrever este livro. História e arte andam de mãos dadas, o que me faz recomendar este Huck.

NOTA FINAL (1/10):
7.4

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Ficha Técnica
Huck
Autores: Mark Millar e Rafael Albuquerque
Editora: G. Floy
Páginas: 160, a cores
Encadernação: Capa dura



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