terça-feira, 30 de junho de 2020

À Conversa Com: Ala dos Livros



Hoje, na rubrica À Conversa Com: dá-se destaque à Ala dos Livros e às novidades - e trunfos - que a editora prepara para a segunda metade do ano 2020.

Numa agradável entrevista realizada com Ricardo M. Pereira, um dos responsáveis da editora, abordou-se o tema do Covid-19 e como a Ala dos Livros deu a volta às dificuldades inerentes à pandemia. 

Dentro dos próximos lançamentos da editora, dados como certos estão os segundos volumes das séries Undertaker e Os Escorpiões do Deserto. Além disso, será lançada uma edição comemorativa dos 25 anos do álbum Alice, de Luís Louro. Haverão ainda duas séries novas a ser lançadas mas, por enquanto, nada mais foi adiantado. 

Uma notícia menos boa para os leitores é que a série O Mercenário poderá ser adiada para 2021.

Abaixo fiquem com a entrevista na íntegra.


1. Como tem a Ala dos Livros superado os constrangimentos sofridos com a pandemia de Covid-19? Quais têm sido as maiores dificuldades e que estratégia tem a Editora adotado?
O facto de as vendas terem diminuído nas livrarias tradicionais que “confinaram” foi, de certa forma, compensado pelo aumento das vendas que se verificaram tanto no nosso site, como por parte dos parceiros que se mantiveram activos.

E estamos muito satisfeitos com a promoção que, apesar das contingências, conseguimos fazer com o lançamento do livro do Luís Louro, O Corvo – Inconsciência Tranquila: colocámos à disposição dos leitores 100 exemplares assinados e numerados que esgotaram.

2. Apesar das dificuldades, a Editora tem lançado livros. Já em pleno surto de Covid-19, foram lançados Mattéo - Terceira Época (Agosto de 1936) e O Corvo - Inconsciência Traquila. Podemos por isto, concluir que a Ala dos Livros conseguiu manter o seu plano de lançamentos para o primeiro trimestre de 2020? Ou alguns títulos/séries tiveram que ser descartados ou adiados?
Temos tentado manter a publicação regular de pelo menos um título por mês e não descartámos nenhum dos títulos planeados/ contratados. Mas repensámos o que tínhamos delineado e ajustámos o programa de edições a uma realidade que consideramos, sobretudo economicamente, que continuará a ser incerta.

Tínhamos por exemplo o livro de contos do meu avô – Estórias da História vol.1 - previsto para ser lançado em Abril, na Anadia. O evento do Tex foi adiado e decidimos adiar a sua edição para este mês de Junho. A própria impressão – que está a ser feita em Portugal -, acabou por se atrasar (contingências da situação que vivemos) e o livro acabará por ser comercializado em Julho.

E temos ainda situações de co-edições internacionais que foram adiadas. 

Respondendo concisamente à sua questão: ajustamo-nos bem a flutuações. Não estamos a correr atrás de nada.

3. Quais são os novos lançamentos que os leitores da Ala dos Livros poderão esperar no segundo semestre de 2020?
Concentrámos o nosso foco na continuação das séries que iniciámos e os leitores podem contar com os segundos volumes das séries Os Escorpiões do Deserto e Undertaker. Já anunciámos também, para Novembro, a edição comemorativa dos 25 anos do álbum Alice, do Luís Louro.

E em termos de novas séries no catálogo, teremos até final deste ano pelo menos mais duas.

4. Há alguma série ou livro que possa ter ficado para o próximo ano, devido ao estado pandémico que atingiu Portugal?
O estado de pandemia não se resume a Portugal e o futuro é, por toda a parte, incerto. Todos os países na Europa estão a reagendar os planos de publicações. Não somos pessimistas, mas achamos que devemos ser prudentes. E embora tenhamos os livros prontos para impressão e não esteja ainda totalmente decidido, estamos a equacionar adiar o início da publicação da série O Mercenário, por exemplo. É uma série longa e importante, que queremos publicar com ritmo. Se pudermos evitar que algum segundo ou terceiro surto de Covid nos estrague os planos, melhor.

5. Por último, há alguma série surpresa que ponderem lançar ainda este ano e que queiram dar a conhecer, em primeira mão, aos leitores do Vinheta 2020, através desta entrevista?
Não escondemos que gostamos de ser nós a anunciar as nossas novidades aos nossos leitores, no nosso site. Consideramos que assim estamos a tratar de igual forma todos os divulgadores de BD, pois são todos necessários e fazem um bom trabalho. Não lhe vou dar títulos, mas haverá ainda obras que consideramos boas surpresas para os leitores.

Obrigado e continuação de bom trabalho.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Lançamento: O Penteador



Outro dos recentes lançamentos da editora Escorpião Azul que merece destaque é O Penteador, de Paulo J. Mendes, que foi lançado no primeiro trimestre de 2020. Atente-se na espetacular capa do livro.

Abaixo fiquem ainda com a nota de imprensa e imagens promocionais.

O Penteador de Paulo J. Mendes
Candidato a um emprego numa velha loja de miudezas, o jovem Mafaldo Limparrim desloca-se a Poço Redondo, vila suburbana de montanha conhecida pelos seus maus ares, para conhecer o seu idoso e irrequieto patrão. 

Contaminado desde o primeiro minuto, acabará por retirar-se à socapa após uma vigorosa familiarização com algumas especialidades e personagens locais. 

Diversas circunstâncias, contudo, ditarão o sucessivo regresso do jovem à peculiar vila, sempre acompanhado por um crescendo de personagens cada vez mais ilustres.

Ficha técnica
O Penteador
Autor: Paulo J. Mendes
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 160, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
PVP: 15,00€

Lançamento: Júpiter (Edição Integral)



Hoje dou especial destaque aos mais recentes lançamentos da editora Escorpião Azul que não tinham sido anunciados no Vinheta 2020, embora já se encontrem nas lojas há alguns meses. 

O primeiro deles é Júpiter, de Ricardo Lopes, um mangá português, dividido inicialmente em 4 números, recebeu uma impressionante versão integral de 486 páginas.

Fiquem com a nota de imprensa e imagens promocionais.

Júpiter (Edição Integral), de Ricardo Lopes

E se todas as lendas que ouvimos desde crianças fossem verdadeiras? E se todas as histórias sobre deuses e heróis não fossem mais que uma tentativa de explicar algo que se julgava impossível! Algo mágico? E todos os mitos acumulados pelo Homem ao longo da história não fossem mais que o relato de pessoas normais que vislumbraram magia, e tentaram explicá-la em lendas que deixaram às gerações futuras? As lendas são reais! A magia existe! Desde há séculos que toda uma sociedade mágica existe escondida à vista de todos, oculta por um véu de fábulas e mitologia. Governando esse mundo estão os deuses do Olympus, os magos mais poderosos de todos, cuja existência inspirou a mitologia greco-romana. É neste mundo que mergulha Miguel, um jovem rapaz que descobre a existência dos magos e da magia, e que desperta dentro de si um poder raro: Fulgur, a lendária magia dos relâmpagos. Contudo, o aparecimento de mais um mago de Fulgur destabiliza a paz do mundo mágico, e coloca em movimento um plano perigoso. Se aqueles que se movem nas sombras não forem travados, toda a sociedade mágica pode cair nas mãos da tirania.

Ficha técnica
Júpiter (Edição Integral)
Autor: Ricardo Lopes
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 486, preto e branco
Encadernação: Capa mole
PVP: 22,00€

domingo, 28 de junho de 2020

Lançamento: Raízes: The Lisbon Studio Series, Vol. 4




A Editora A Seita apresenta-nos o quarto e último volume da série The Lisbon Studio Series, uma antologia de BD, com alguns dos mais importantes nomes nacionais do género que acaba de ser editada.

Fiquem com as imagens promocionais e a nota de imprensa da editora. 

Raízes: The Lisbon Studio Series, vol. 4
Histórias de Ana Branco, Bárbara Lopes, Filipe Andrade, Marta Teives, Nuno Saraiva, Pedro Moura, Quico Nogueira e Ricardo Cabral. Prefácios de André Diniz e Patrícia Furtado.

A TLS Series é uma antologia de banda desenhada do The Lisbon Studio. Cada volume corresponde a um tema, e conta com uma equipa diferente, nesta colectânea de alguma da melhor banda desenhada que se faz em Portugal.

Onde estão as raízes de cada um? No passado, nas memórias? Num sítio? Numa família ou grupo? Em que se enraízam as palavras e as imagens? Seis histórias que nos vão levar a percorrer todo o género de paisagens e imaginações, reais e metafóricas.

No derradeiro volume desta série neste formato, os autores do TLS decidiram voltar atrás, e mergulhar nas suas... raízes. O The Lisbon Studio Series foi uma experiência forte e vital da banda desenhada no nosso país, uma pequena colecção de volumes antológicos pelos autores de um estúdio de que podemos dizer sem exagero que é “a” casa da banda desenhada no nosso país. Nestes quatro anos ao longo do qual saíram estes quatro livros, todos eles temáticos - Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes - o estúdio passou por muitas mudanças e alterações, saíram alguns artistas, outros ingressaram no estúdio, alguns estrearam-se na BD pela primeira vez, os três volumes anteriores receberam uma mão-cheia de nomeações para os Galardões do Comic-Con e os Prémios Nacionais de BD da Amadora, tendo vencido dois Galardões e um Prémio PNBD, e a colecção foi distinguida também com a edição de um volume antológico que recolhe histórias dos vários volumes, em modo best of, na Polónia (que se acompanhou de uma grande exposição retrospectiva e da presença de vários autores).

Acreditamos que fizemos alguma da história da BD em Portugal com estes 4 livros, e olhamos agora para o futuro e para outras experiências, contentes com este legado que deixamos e esperamos possa servir de inspiração e exemplo aos criadores do nosso país.

O The Lisbon Studio é um colectivo de artistas que conta com mais de uma década de existência, e que partilha um espaço com vista para o Tejo, em Santa Apolónia. Autores de BD que trabalham para a Marvel, autores que representam alguns dos maiores best-sellers da BD portuguesa, autores que representam estilos e modos de criação muito variados, incluindo autores que trabalham em design, ilustração, web-design, e mais. No The Lisbon Studio - apesar da constituição dos membros do TLS se ter alterado ao longo dos anos - não só se sente a herança dos seus fundadores, como a marca deixada por todos os que por aqui passaram.

Ficha Técnica
Raízes: The Lisbon Studio Series, Vol. 4
Autores: Ana Branco, Bárbara Lopes, Filipe Andrade, Marta Teives, Nuno Saraiva, Pedro Moura, Quico Nogueira e Ricardo Cabral. Prefácios de André Diniz e Patrícia Furtado. Capa de Marta Teives.
Editora: A Seita - Comic Heart
Páginas: 136, a cores e a preto e branco
Encadernação: Capa dura
PVP: 12€

sexta-feira, 26 de junho de 2020

À Conversa Com: Escorpião Azul



Hoje no À Conversa Com: é a vez de ficarmos a conhecer os planos editoriais da Editora Escorpião Azul, para o que resta do ano.

Depois do início de 2020 arrancar com os lançamentos de Júpiter, de Ricardo Lopes, e de O Penteador, de Paulo J. Mendes, a Editora tem algumas surpresas em calha, para lançar nos próximos meses.

Numa breve conversa com Jorge Deodato, responsável da Editora, o assunto voltou a incidir na situação da editora perante a pandemia de Covid-19, bem como quais são os lançamentos que a Escorpião Azul prepara para o segundo semestre de 2020.

E há boas notícias, pois os próximos lançamentos incluirão obras como O Último Sopro dos Mortos, de Davide Garota; e Dissonâncias Cognitivas, de Ricardo Santo. Não esquecendo que nas últimas semanas foi avançada uma bela surpresa para os fãs de Luís Louro: trata-se de Universo Negro, que o autor assina conjuntamente com Tozé Simões.

Destaque ainda para o lançamento do livro Saphari, de Miguel Ángel Martín, que será igualmente editado em Itália e Espanha e que assinala o regresso do autor às novelas gráficas, passados doze anos.

Abaixo fiquem com a entrevista.


1. Como tem a Escorpião Azul superado os constrangimentos sofridos com a pandemia de Covid-19? Quais têm sido as maiores dificuldades e que estratégia tem a Editora adotado?
A Escorpião Azul tem estado focada no desenvolvimento do plano editorial bem como dos seus autores. Utilizamos todas as plataformas existentes para divulgar e promover os nossos livros. A estratégia consistiu na alteração do plano editorial, quer pela escolha das melhores obras para publicação, quer pela sua grande redução de títulos.

2. Apesar das dificuldades, a Editora anunciou recentemente que irá lançar um novo livro de Luís Louro com Tozé Simões, Universo Negro. Podemos por isto concluir que a Escorpião Azul conseguiu manter o seu plano de lançamentos de banda desenhada para o primeiro semestre de 2020? Ou alguns títulos/séries tiveram que ser descartados ou adiados?
Não conseguimos manter o plano de banda desenhada que tínhamos proposto, foi reduzido para metade do que era suposto. Algumas das nossas obras foram adiadas para o próximo ano e outras afastadas em definitivo.  

3. Quais são os novos lançamentos que os leitores de banda desenhada poderão esperar no segundo semestre de 2020?
Para além desta obra “Universo Negro” que vai para o mercado no final deste mês, para o segundo semestre teremos “O Último Sopro dos Mortos” de Davide Garota, “Saphari” de Miguel Angel Martin e “Dissonâncias Cognitivas” de Ricardo Santo.

4. Há alguma série ou livro que possa ter ficado para o próximo ano, devido ao estado pandémico que atingiu Portugal?
“O Fogo Sagrado” por exemplo, do autor Derradé foi adiado para o próximo ano, bem como “A guerra nas margens do Rovuma” de Mário Ferreira.

5. Por último, há alguma série surpresa que ponderem lançar ainda este ano e que queiram dar a conhecer, em primeira mão, aos leitores do Vinheta 2020, através desta entrevista?
Temos a destacar o livro “O Último Sopro dos mortos” de Davide Garota, uma obra prima da nova banda desenhada italiana. Um road movie do princípio ao fim. 


Análise: Memórias de um Homem em Pijama



Memórias de um Homem em Pijama, de Paco Roca

Memórias de um Homem em Pijama está carregado de coisas boas mas, infelizmente, tem uma mancha na sua edição, à qual é difícil fazer vista grossa.

Comecemos pelas coisas boas: esta é uma obra do autor espanhol Paco Roca, composta por pranchas humorísticas, que foram sendo publicadas entre 2010 e 2011, no jornal espanhol Las Provincias.

Sendo Paco Roca um autor completo – encarregue da história e ilustração - em praticamente todos os seus livros, é de salientar que o seu fulgor para o texto parece ser muito profícuo. Se em Rugas, somos esmagados emocionalmente pela sua sensibilidade para aprofundar um tema tão complexo como a velhice; se em Os Trilhos do Acaso temos um muito bem detalhado livro histórico e bélico; se em O Tesouro do Cisne Negro, escrito em parceria com Guillermo Corral, temos uma história ao nível de um policial norte-americano; ou se em O Inverno do Desenhador temos um relato pormenorizado acerca das aventuras e desventuras da célebre Editora espanhola Bruguera; neste Memórias de um Homem em Pijama temos algo completamente diferente daquilo que o autor nos deu com as obras acima mencionadas. O que temos nesta obra é um texto humorístico. Um livro em que cada página nos oferece uma breve rábula do dia-a-dia do autor.

E tenho que dizer que, mais uma vez, Paco Roca oferece-nos qualidade. Não é um texto para chorar a rir, mas é um texto que nos deixa bem-dispostos. Que nos faz sorrir. Com um teor que nos remete, de certa forma, à série televisiva norte-americana Seinfeld, tal como a Levoir bem refere na contracapa do livro. 

Paco Roca conta-nos as suas histórias pessoais e aquelas que envolvem as pessoas que o rodeiam. Situações mundanas do quotidiano de um homem, na casa dos quarenta, que consegue realizar o seu sonho de criança que é trabalhar em casa, de pijama. 

São pequenas histórias pessoais, quase apontamentos, que o autor nos dá, tal como se abrisse a porta da sua casa para nos mostrar como é a sua vida e a sua pessoa. No fundo, é uma obra autobiográfica, que nos faz conhecer melhor este autor. No final, a ideia com que fiquei, é que Paco Roca deve ser uma pessoa muito divertida e com um apurado sentido de humor.

Este tipo de humor é o tipo de humor que catalogo como “humor seguro”. Não arrisca demasiado e joga pelo seguro. O resultado é que nunca faz rir desalmadamente mas quase sempre faz ficar com um sorriso na cara, no final de cada rábula. Funciona bem, portanto.

Devo dizer que mais do que nunca, esta obra faz sentido em Portugal e no resto do mundo, tendo em conta o confinamento que (quase) todas as pessoas se viram forçadas a fazer, a propósito da pandemia de Covid-19. A maioria das pessoas teve pois que trabalhar a partir de casa (possivelmente, de pijama), encarando uma nova realidade. Por este motivo, considero que dificilmente a editora Levoir poderia ter tido um melhor sentido de oportunidade. Não faço ideia se a obra até já estava pensada antes da pandemia de Covid-19. Se já estava, foi uma sorte feliz, por parte da editora. Se não estava, bato palmas a esta iniciativa tão oportuna.

Quanto ao estilo de ilustração, Paco Roca mantém-se fiel a ele próprio. Um desenho que utiliza a linha clara, cores fortes, e um estilo de ilustração "cartoonizado". É curioso verificar que em termos de texto, Paco Roca faz coisas muito diferentes nas suas obras, como já mencionei acima, mas que, em termos de ilustração, mantém sempre o mesmo género. E não há nada a apontar. É o seu estilo e funciona bem nas suas histórias. Em Memórias de um Homem em Pijama, sendo uma obra cómica, funciona melhor que nunca, diga-se.

Ora, aparentemente, esta é uma obra interessante, lançada num bom timing, de um bom autor de banda desenhada, bastante respeitado em Portugal. Assim sendo, não haveria grande motivo para queixas, certo?
Errado!

E provavelmente, o leitor de banda desenhada atento já desconfiará daquilo que vou comentar. É que, este livro, foi editado de forma desastrosa! E não o digo em relação ao papel utilizado ou à encadernação, que é semelhante aos lançamentos da editora Levoir, na sua Coleção Novelas Gráficas – a própria opção por considerar esta obra, uma compilação de pranchas humorísticas, em “novela gráfica” não faz qualquer sentido, mas já nem vou por aí. 
Avanço então para o grande problema deste livro.

O grande problema reside, pois, no facto de Memórias de um Homem em Pijama ter sido lançado com páginas constituídas por 9 vinhetas quando cada uma das histórias foi pensada para ter 12 vinhetas. Ou seja, na prática, o que esta edição da Levoir faz, é cortar as três últimas vinhetas de cada história, e enviá-las para a página seguinte, fazendo com que todas - repito, todas – as histórias fiquem desorganizadas e de leitura difícil, com uma fluidez que é igual a zero. Isto arruína por completo a experiência de leitura.

Os mais otimistas poderão perguntar: “Então mas, com esta divisão das histórias por páginas, não dá para perceber a piada de cada uma das histórias?”.  A resposta é “Sim, dá para perceber”. Mas o que é mais importante, é que a piada se perde por si e tem que ser o leitor a "repescá-la". Mais atrás mencionei a série televisiva Seinfeld e agarro agora nesse exemplo: imaginem o que era o Seinfeld começar a dizer uma qualquer piada e, quando está a chegar o momento da tirada cómica final, irmos para intervalo! Seria inadmissível, certo? Pois, mas é o que se passa nesta edição de Paco Roca. É claro que todos percebemos a piada mas o problema é que a leitura da rábula fica sem qualquer fluidez. E não é a mesma coisa. Perde-se o momentum, perde-se o ritmo, perde-se a cadência. Tal como um músico que perde o tempo a meio de um compasso e depois tem que entrar atabalhoadamente no início do compasso seguinte.

Não tenho interesse em procurar a “culpa” desta triste escolha. Algures na blogoesfera já li que foi o próprio autor que autorizou este formato. Se o fez, fê-lo mal. Péssima decisão. Também já li que esta opção editorial passa por uniformizar o formato porque há mais dois álbuns, para além deste Memórias de um Homem em Pijama #1, que poderão vir a sair. Ou que a edição nos outros países também é com 9 vinhetas por página. Seja como for: qualquer desculpa é esfarrapada para esta opção. Não me interessa se foi a Levoir que escolheu esta opção. Ou se foi Paco Roca. Ou se foram outras editoras. Interessa-me é - a mim e aos leitores portugueses - o resultado final dessa escolha. Que é este: esta edição é um crime contra a própria obra. Uma missed oportunity, como dizem os ingleses. A ideia de lançar a obra foi excelente mas a forma como foi feita, foi completamente ao lado. Como um remate que, no futebol, sai pela linha lateral.

Porque o que aqui parece estar a ser esquecido – e me choca, principalmente – é que um dos alicerces da banda desenhada é a própria planificação da mesma. Quando o género de bd é o thriller, por exemplo, já se sabe que é quando folheamos a página que vamos ver algo que nos surpreende e nos deixa entusiasmados. Algo que responda ao cliffhanger da página anterior. Ora, se isso for trocado, então lá se vai o thrilling effect. Lá se vai a ideia do autor. Em banda desenhada humorística isto também é especialmente relevante. É que uma piada obedece a um ritmo, e tem um determinado momentum para ser dita. Se isso é alterado, perde-se a punchline. E a punchline é, sem qualquer dúvida, a parte mais importante de qualquer piada que se conte, veja ou leia. Desde as comédias clássicas da Grécia Antiga. Desde sempre. Ninguém, que aprovou esta decisão de dividir as histórias, pensou nisto? É uma das leis bases da criação de um texto, seja ele um conto, um poema ou uma banda desenhada! A mim incomoda-me mais isto do que se o livro tivesse sido impresso com cores esbatidas. Era grave, mas não tanto. Ou que as páginas viessem coladas. Era grave, mas não tanto. Ou outra coisa qualquer que pusesse em causa a boa edição da obra seria grave mas não tanto. Cortar o ritmo a um texto humorístico é como um coito interrompido subitamente. Podemos retomar, é claro. Mas a piada da coisa, o ritmo, a construção… já eram. E infelizmente, é isso que acontece neste álbum.

E se, de facto, a ideia era harmonizar o formato do livro, haveriam imensas formas de o fazer, sem ter este problema: poder-se-ia ter optado por uma singela marca gráfica a dividir a história. Essa marca gráfica podia ser um símbolo, um boneco do Paco Roca, um pijama, umas pantufas, qualquer coisa. 
Ou até a palavra “FIM”. Ou a assinatura do autor. Qualquer coisa seria melhor do que aquilo que (não) foi feito. Ou até – vejam lá como isto é um problema que era tão facilmente resolvido – poderia haver um simples espaçamento entre histórias, que fosse ligeiramente maior do que o espaçamento entre vinhetas da própria história.  Dar dois "enters" entre histórias, pronto.

Vou ainda mais longe e digo uma coisa que, curiosamente, ainda não li em nenhum lado. Tenho lido que a razão disto, prende-se com a mudança do formato e que, com este formato, a história teria que ser dividia em 9 vinhetas por página. Tirei uma foto a uma página, abri o photoshop e facilmente cheguei à conclusão que poderia perfeitamente ter sido mantido este formato do livro, maior do que o original, e ainda assim, assegurar as 12 vinhetas por página. Ou seja, por outras palavras, o livro poderia medir exatamente os mesmos centímetros e, mesmo assim, manter as 12 vinhetas por página. Não acreditam? Ora vejam:

Páginas do Livro como nos é dado. Notem como é imperceptível onde começa uma história e onde acaba a outra. Parece que estamos a ler uma só história. A fluidez é zero.

Páginas do Livro COMO deviam ter saído. 12 vinhetas por página que cabem perfeitamente neste formato, sem se mexer no tamanho das vinhetas. Aqui fica provado que dava para ter sido editado o livro com as 12 vinhetas por página. Isto foi feito em photoshop sem alterar as dimensões das vinhetas.

Digam-me lá então, olhando para as duas imagens acima, se não era perfeitamente viável manter-se a estrutura original das histórias, com 12 vinhetas por página, lançando o livro com as mesmas dimensões. Não me considero uma pessoa muito picuinhas com estas coisas das edições. Por vezes até acho que os leitores abusam nas suas queixas com eventuais imperfeições editoriais. Mas neste caso, é-me difícil não abanar a cabeça negativamente, face a este disparate editorial. Cortar uma piada justamente no sítio onde a mesma não pode ser cortada? Sem desculpas. A própria introdução da fotografia do bloco de notas de Paco Roca, que aparece nas primeiras páginas do livro, permite verificar a sua planificação de uma página com 12 vinhetas. Não são nove. São doze.

Em conclusão, este é um livro que se torna difícil para eu recomendar. Por um lado, é uma obra interessante, de um excelente autor, e lançada numa boa altura. Por outro lado, a edição optada pela Levoir parece-me um claro tiro no pé. Não se trata de purismo, trata-se de respeitar todo um estilo e as regras que o mesmo utiliza.


NOTA FINAL (1/10):
7.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

-/-

Ficha técnica
Memórias de um Homem em Pijama
Autor: Paco Roca
Editora: Levoir
Páginas: 96, a cores
Encadernação: Capa dura


quarta-feira, 24 de junho de 2020

À Conversa Com: Devir



Hoje é a vez do À Conversa Com: receber a Devir

Numa breve (brevíssima) conversa que tive com Ana Lopes, Managing Editor da Devir, falámos sobre a forma como a Editora superou as dificuldades que a pandemia do Covid-19 impôs. 

A Editora admite que alguns dos títulos que a empresa tinha em calha, tiveram que ser adiados para o próximo ano. Revela, no entanto, que estão a ser preparadas surpresas mas que só serão reveladas em Setembro.

Abaixo, encontram a entrevista.

1. Como tem a Devir superado os constrangimentos sofridos com a pandemia de Covid-19? Quais têm sido as maiores dificuldades e que estratégia tem a Editora adotado?
Reduzimos o plano de lançamentos, porque as livrarias estão fechadas e existiam apenas vendas online. 
Dificuldades: Na produção de livros os prazos foram dilatados, com as gráficas a trabalhar menos e a demorar mais tempo a produzir os livros.

2. Apesar das dificuldades, a Editora tem lançado livros. Já em pleno surto de Covid-19, foram lançados Umbrella Academy Vol. 3 - Hotel Oblivion, Drama e, mais recentemente, Naruto#35 - Nova dupla inimiga e Tokyo Ghoul: re#03. Podemos por isto, concluir que a Devir conseguiu manter o seu plano de lançamentos para o primeiro trimestre de 2020? Ou alguns títulos/séries tiveram que ser descartados ou adiados?
Alguns títulos foram adiados.

3. Quais são os novos lançamentos que os leitores da Devir poderão esperar no segundo semestre de 2020?
Vamos manter as séries que estão em publicação neste momento, esperamos anunciar novidades mais perto de setembro.

4. Há alguma série ou livro que possa ter ficado para o próximo ano, devido ao estado pandémico que atingiu Portugal?
Por enquanto mantemos o planeado, mas com prazos dilatados.

5. Por último, há alguma série surpresa que ponderem lançar ainda este ano e que queiram dar a conhecer, em primeira mão, aos leitores do Vinheta 2020, através desta entrevista?
Esperamos anunciar novidades em setembro e neste momento ainda é cedo para divulgá-las.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Lançamento: Kick-Ass: A Miúda Nova Vol.1



A série Kick-Ass, de Mark Millar, está de regresso à banda desenhada em português. A G. Floy acaba de editrar Kick-Ass: A Miúda Nova Vol.1.

Abaixo encontram a nota de imprensa da editora e respetivas imagens promocionais.

Kick-Ass: A Miúda Nova Vol.1, de Mark Millar e John Romita Jr.

KICK-ASS está de regresso!

Os piores criminosos do Novo México precisam de uma lição, e Kick-Ass acaba de chegar para lhes ensinar uma ou duas coisas. Mas há uma cara nova por baixo da máscara antiga, e uma figura nova dentro daquele fato de mergulho verde e amarelo famoso. Um soldado que acabou de chegar dos horrores da guerra, e encontrou as ruas da sua cidade natal mergulhadas numa batalha. Uma heroína que serve à mesa de dia e combate o crime à noite. Uma nova Kick-Ass, com uma família para alimentar e um bairro que precisa de uma limpeza. Apresentamos a Sargento Patience Lee, a vossa nova super-heroína preferida. Conseguirá esta mãe sozinha equilibrar a sua vida familiar com a sua nova carreira como vigilante nocturna combatente do crime? Ou será que a sua luta contra os gangues e homicidas da sua cidade vai chegar demasiado perto da sua casa?

Duas lendas dos comics, MARK MILLAR e JOHN ROMITA JR. voltam a juntar-se para mais um capítulo do maior super-herói de todos os tempos!

“Aquilo que posso dizer é que esta nova Kick-Ass não é para brincadeiras, nem humorística como o primeiro Kick-Ass. A primeira encarnação da personagem, Dave Lizewski, era um fã de comics, um geek completamente perdido e fora do seu elemento quando se transformava em Kick-Ass. Mas esta nova versão não anda à procura de fama ou de ser fixe ou de se tornar viral na net. Patience Lee é uma personagem com problemas bem reais, e com que a maioria das pessoas - e certamente a maioria das mulheres - conseguirão simpatizar facilmente.”
Ian Cullen - SciFi Pulse

A nova versão de Kick-Ass é uma história que pode ser lida sem qualquer referência às anteriores versões da personagem. E, apesar de ser um regresso dos criadores originais, a arte de Romita ganha aqui uma dimensão nova com o excepcional trabalho de Peter Steigerwald, que combina uma arte-final complexa, e uma paleta de cores extraordinariamente adequada ao comic, num misto de cor directa com pouco traço (sobretudo em fundos e flash-backs), e de arte-final clássica. 

Ficha técnica
Kick-Ass: A Miúda Nova Vol.1
Autores: Mark Millar e John Romita Jr
Editora: G. Floy
Páginas: 160, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 16€

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Análise: Uma Aventura de Blake e Mortimer - O Último Faraó



Uma Aventura de Blake e Mortimer - O Último Faraó, de Jaco Van Dormael, Thomas Gunzig, François Schuiten e Laurent Durieux

Se a publicação de um novo livro de Blake e Mortimer é sempre um motivo de euforia para os muitos fãs que esta série de banda desenhada tem, é de notar que este O Último Faraó, sendo uma obra de grande qualidade e uma homenagem ímpar às personagens de Edgar P. Jacobs, também revisita novos universos, traçando – para o bem e para o mal – um caminho que se afasta sobejamente dos livros desta série clássica.

De facto, esta obra parece transportar-nos mais para o universo de As Cidades Obscuras, de Schuiten e Peeters, do que, propriamente, para um livro clássico de Blake e Mortimer. E não que haja algum mal nisso. Porém, aviso os fãs de Blake e Mortimer que pode haver uma possível desilusão, se aquilo que procuram é mais uma aventura da famosa dupla. Já se, por acaso, existirem leitores que sejam fãs do universo ilustrativo de Schuiten e da série Blake e Mortimer, ao mesmo tempo – e certamente, haverão muitos! -, então este álbum reveste-se da maior obrigatoriedade possível. 

A história leva-nos a uma aventura, que vai buscar um fio condutor a O Mistério da Grande Pirâmide, uma das histórias mais célebres da dupla Blake e Mortimer. Neste O Último Faraó, o protagonisto é quase na totalidade de Mortimer, relegando Blake para funções mais secundárias na narrativa. Destaco que uma coisa que me fez alguma confusão foi o facto de Blake estar muito mais envelhecido do que Mortimer. Mortimer está mais velho, sim, mas Blake parece uma personagem verdadeiramente idosa, em comparação com Mortimer. 

A narrativa decorre numa Bruxelas destruída e abandonada, após a libertação de uma energia de origem desconhecida, cuja radiação coloca em risco toda a humanidade. Mortimer é pois, a pessoa que encabeça o empreendimento de enfrentar esta ameaça, com toda a sua inteligência e pensamento crítico. Para tal, tem que ir até ao ponto central de onde esta energia é emanada: o Palácio da Justiça – aquele que será, por ventura, o edifício mais notável e emblemático, não só da cidade de Bruxelas, como de toda a Bélgica. Este edifício, diga-se, tem uma importância tão grande na obra que é quase como se fosse uma personagem per si.

O ritmo da narrativa é algo lento – e mais uma vez, isto remete-nos para As Cidades Obscuras – com a personagem central a embarcar numa viagem pelo sobrenatural e pela ficção científica, assente numa realidade paralela que é propiciada, essencialmente, pelos sonhos de Mortimer, que martirizam a personagem e a levam a locais e encontros oníricos. Mas, à medida que a história vai avançando, há momentos de maior tensão e o ritmo narrativo avança significativamente, também.

Uma das coisas que mais gostei neste livro foram as questões que esta história tem a capacidade de levantar, nas mentes dos leitores. Quão dependentes estamos de uma sociedade que funciona a mil à hora, sem quaisquer oportunidades de abrandamento? Consegue o mundo respirar da forma como é explorado pela humanidade? Consegue a própria humanidade respirar? E se algo pára? Que capacidades temos para reagir? Como o faremos numa situação in extremis? Especialmente na época que (ainda) estamos a viver, causada pela pandemia de covid-19, que fez o mundo parar durantes uns meses e trouxe à baila uma reflexão mais profunda sobre a forma como estamos a viver, a leitura deste livro reveste-se, ainda mais, de significados secundários que serão, a meu ver, tão ou mais pertinentes do que a história mais linear que nos é dada nesta obra. 

Os livros de Schuiten sempre foram mais para pensar e para racionalizar, do que, propriamente para passarem emoções ao leitor. E, também aqui, isso acontece. Mesmo podendo ser uma história algo fria, do ponto de vista emocional, é uma história bem construída e que nos leva a pensar. Mais do que dizer: “este livro sensibilizou-me”, aquilo que acabamos por dizer quando acabamos a sua leitura é: “este livro fez-me pensar um pouco”. Para isso contribuiu a participação de vários nomes na elaboração da obra. Schuiten não esteve sozinho e foi ajudado no argumento por Jaco Van Dormael e Thomas Gunzig.

As ilustrações de Schuiten são absolutamente incríveis, especialmente em termos de ambientes e de arquitetura. Aliás, por vezes, Schuiten até me parece mais um arquitecto (e/ou um engenheiro) do que, propriamente, um ilustrador de banda desenhada. As suas ilustrações de ambientes atingem uma capacidade de detalhe singular, que são um mimo para os olhares atentos. Não obstante, e mesmo sabendo que esta afirmação poderá ser polémica para grande parte dos leitores que me lêem, não fico tão maravilhado com as ilustrações das personagens que este autor faz. Mesmo reconhecendo que o seu estilo é muito próprio – e isso merece, desde logo, as devidas vénias – a verdade é que nos seus livros todos, as personagens parecem-me sempre algo frias e pouco expressivas, o que faz com que se pareçam mais com bonecos de cera do que com figuras humanizadas. É o seu estilo, bem sei. No entanto, tratando-se de um livro de Blake e Mortimer, bem mais baseado nas personagens do que nas construções ou ambientes, penso que é uma coisa menos bem conseguida nesta obra. Apenas porque, repito, não considero que o nível de excelência de Schuitten na caracterização das expressões emotivas das personagens, seja tão bom como o é nos cenários e objetos. E, em Blake e Mortimer, talvez se pedisse mais no departamento das expressões das personagens.

Onde o livro é muito forte também, é nas cores, que são asseguradas por Durieux. Se há algo que, à semelhança do traço de Schuiten, eleva este livro a um objeto de arte é, sem dúvida, a componente cromática que habita nestas páginas. O ambiente é muito próprio, com cores que são exatamente aquilo que a história pedia. Mas mais do que isso, as cores conseguem realçar da melhor forma o traço de Schuiten. E isso é sempre digno de menção. Destaque para a capa do álbum, que é espetacular em termos de concepção, ilustração e de aplicação de cores.

Relativamente à edição por parte da editora ASA, devo dizer que está impecável. O papel é bom, a qualidade da impressão também e o design do livro é fiel ao livro original, em francês. É, também, um objeto bonito para se ter numa boa coleção de banda desenhada.

Em conclusão, e dito de uma forma muito linear, este é um livro que se for visto como "um livro que presta homenagem a Blake e Mortimer", é uma obra estupenda da banda desenhada. No entanto, se for visto como “mais um livro de Blake e Mortimer” ou como "uma continuação da série", terá um sabor agridoce para muitos fãs, não obstante a sua qualidade.

Uma coisa é certa: pode não ser perfeito mas a qualidade está lá, com uma história pertinente para os dias de hoje e com uma arte ilustrativa singular, carregada de virtuosismo técnico. 


NOTA FINAL (1/10):
8.5

Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

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Ficha técnica
Uma Aventura de Blake e Mortimer - O Último Faraó
Autores: Jaco Van Dormael, Thomas Gunzig, François Schuiten e Laurent Durieux
Editora: Asa
Páginas: 96, a cores
Encadernação: Capa dura

domingo, 21 de junho de 2020

À Conversa Com: G. Floy Studio - Novidades para 2020



Hoje no À Conversa Com: foi a vez de falar com José Hartvig de Freitas, Editor da G. Floy Studio, que amavelmente compartilhou o ambicioso plano editorial da editora, até final do ano.

Para além da continuação de séries em andamento, tais como Harrow County, Descender, Criminal, Gideon Falls ou Novos X-Men, a G. Floy Studio lançará as séries The Old Guard, StumptownBlack Magick. Todas de Greg Rucka. Lançará ainda o volume auto-contido de Jeff Lemire, entitulado Berserker Unbound. 

E há duas novidades que estavam no segredo dos deuses até ao dia de hoje e que foram avançadas ao Vinheta 2020 em primeira mão! Uma delas é uma história que roça o sobrenatural e o erótico, da autoria de Brian Azarello, e que dá pelo nome de Faithless. E a segunda novidade consiste num clássico da banda desenhada, com mais de 500 páginas: Moonshadow, escrito por J. M. DeMatteis.

Não percam esta pertinente conversa, onde José Hartvig de Freitas, fala abertamente dos planos da editora, das dificuldades causadas pelo covid-19 e do próprio funcionamento da G. Floy Studio.

Uma entrevista mais do que interessante, que podem ler abaixo. 

1. Como tem a G. Floy superado os constrangimentos sofridos com a pandemia de Covid-19? Quais têm sido as maiores dificuldades e que estratégia tem a Editora adotado?
O principal problema que enfrentámos foi, obviamente, o facto de os nossos principais clientes (Fnac, Bertrand, etc...) terem estado fechados, e agora que se iniciou o desconfinamento, estarmos a assistir a um recomeçar muito tímido em termos de vendas e de encomendas por parte dos clientes.

Fizemos um esforço para manter um fluxo de facturação constante, fazendo promoções para vendas online, e tivemos a satisfação de ver que os nossos fãs corresponderam bem, e encomendaram MUITOS livros, nunca pensámos que conseguíssemos vender tanto directamente. Alguns dos nossos clientes mantiveram o seu trabalho, e nomeadamente a Wook aumentou muito as suas encomendas. Como somos uma editora com poucos custos fixos, as coisas não foram dramáticas, e no geral podemos dizer que passámos bem este período.

Dito isto, se as vendas levarem muito tempo a recuperar para o nível anterior - que já não era particularmente bom - as coisas podem complicar-se. Temos a vantagem de estarmos “acoplados” aos nossos colegas na Polónia, e de lá as coisas terem corrido bastante melhor (quase não perdemos vendas em termos absolutos lá). Esperamos agora que os nossos clientes reabram completamente, e claro, que os leitores recomecem a ir às livrarias comprar. Vamos também continuar a apostar nas vendas online, mas queremos ter algum cuidado na nossa gestão do relacionamento com as livrarias, porque não queremos ganhar essas vendas online à custa da diminuição das vendas nos nossos clientes.

2. Apesar das dificuldades, a Editora lançou já em pleno surto de Covid-19 bastante banda desenhada, como The Wicked + The Divine vol. 4: Escalada; Roughneck - Um tipo duro; Criminal - Livro Três ou os Novos X-Men Vol. 1 - E de Extinção. Podemos por isto concluir que a G.Floy conseguiu manter o seu plano de lançamentos de banda desenhada para o primeiro semestre de 2020? Ou alguns títulos/séries tiveram que ser descartados ou adiados?
Muitos desses livros já tinham sido lançados antes (entre finais de Novembro e Março), simplesmente dado o nosso sistema de distribuição em fases (primeiro em bancas, e só dois a três meses depois em livrarias), alguns desses livros foram cair durante o período da pandemia. Os únicos livros que lançámos na altura como novidade absoluta foram o Roughneck e o Criminal Livro Três, que foram também os nossos motores de venda online durante o confinamento.

O que é preciso ter em conta é isto: nós TEMOS de imprimir junto com os nossos colegas Polacos, e na Polónia o mercado manteve-se mais ou menos estável e não podíamos parar de imprimir os livros. Conseguimos um acordo com a nossa gráfica para espalhar pelo tempo o pagamento da meia-dúzia de livros que imprimimos em português nessa altura, mas continuámos sempre a produzir os livros, porque não podemos prejudicar o ritmo de lançamento dos nossos colegas polacos.

A nossa maior atrapalhação foi que acumulámos uns 6 ou 7 livros para enviar para livrarias agora em Junho (tinham sido distribuídos no início do ano em bancas, e por causa do confinamento não começaram a ir para livrarias quando deviam ter começado a ir, em Abril) e em simultâneo 6 novidades que foram para bancas entre Maio e Junho (ainda estão a sair neste momento).

E, infelizmente, e para preservar a tesouraria da empresa, e dado também que as vendas em Portugal estavam já numa trajectória descendente, há séries que acabaram por ser canceladas e que só sairão na Polónia. Porque não nos podemos dar ao luxo de estar a imprimir livros que vão levar um ano a pagar-se, e a ter o dinheiro empatado sob a forma de paletes no armazém, nesta altura. Assim, 2 ou 3 coisas que sairão na Polónia, não sairão cá, títulos que achámos que cá iriam vender mais devagar.

3. Quais são os novos lançamentos que os leitores de banda desenhada poderão esperar no segundo semestre de 2020?
Iremos publicar em breve o nosso plano para a segunda metade do ano, mas obviamente, iremos continuar as séries que temos em curso. Descender e Harrow County terminarão entre Julho e Setembro, nos seus volumes 6 e 8, respectivamente, que vai marcar mais uma série de colecções nossas terminadas, e continuaremos também com Criminal, Gideon Falls e Novos X-Men. Como séries novas posso confirmar que se resolveram finalmente os problemas contratuais com os agentes do Greg Rucka, e que The Old Guard e Black Magick estão ambos a caminho, mas vamos dar prioridade a The Old Guard, cujo filme estreia para o mês na Netflix. Vamos estrear também a série Stumptown (também de Rucka), que deu origem à série de TV que está neste momento a passar na Fox. E teremos também um volume auto-contido de Jeff Lemire, com arte de Mike Deodato, Berserker Unbound. Contamos lançar um total de cerca de mais 15 a 17 livros este ano. Para mais novidades, vejam a última pergunta!

4. Há alguma série ou livro que possa ter ficado para o próximo ano, devido ao estado pandémico que atingiu Portugal?
Exceptuando aqueles livros que decidimos simplesmente não fazer cá, os atrasos ou adiamentos têm mais que ver com a situação nos EUA do que cá. Em primeiro lugar, porque tem levado muito tempo a negociar séries e títulos, os agentes estiveram em layoff ou fora dos escritórios, e muita coisa está a levar muito tempo. É o caso, p.ex. do terceiro volume de Moonshine, que estávamos quase certos de conseguir lançar este ano, mas que talvez deslize para o próximo porque ainda não recebemos os contratos. E o outro factor tem que ver com séries que viram a sua edição suspensa durante alguns meses nos EUA, e que por causa disso atrasarão cá também. É nomeadamente o caso da conclusão de Outcast, que tínhamos esperança de lançar este ano, e de Saga cujo relançamento está atrasado por causa disso (mas Saga provavelmente teria sido sempre um lançamento para 2021). Possivelmente, Black Magick de Greg Rucka será também apenas agendado para o início de 2021.

5. Por último, há alguma série surpresa que ponderem lançar ainda este ano e que queiram dar a conhecer, em primeira mão, aos leitores do Vinheta 2020, através desta entrevista?
Temos duas novidades que ainda não estavam anunciadas e estavam no “segredo dos Deuses”. Em primeiro lugar, iremos lançar Faithless, uma história entre o sobrenatural e o erótico, escrita por Brian Azzarello, e desenhada pela artista catalã Maria Llovet, uma série que teve bastante impacto nos EUA.

E iremos lançar um grande clássico, numa edição ENORME de mais de 500 pgs, o integral de Moonshadow, escrito por J. M. DeMatteis no final dos anos 80, o primeiro comic US que foi integralmente pintado, com arte de Jon J. Muth, e Kent Williams e George Pratt. É uma das primeiras “novelas gráficas” dos comics americanos - ou mega-romance gráfico, dado o tamanho! - e teve um imenso impacto. É uma espécie de clássico esquecido, que recebeu recentemente uma nova edição, que é a que vamos editar nós também. Originalmente saiu na Epic, o selo editorial da Marvel em que saíam os comics que não eram de super-heróis, e onde foram publicadas algumas das BDs mais arrojadas dessa época, e passou mais tarde para Vertigo, onde atingiu enorme popularidade. Um romance gráfico poético e filosófico, e visualmente inovador, que marcou uma época. 

Lançamento: Aqui já houve algo...



Recentemente chegou-nos a boa notícia deste lançamento da editora Polvo. Trata-se de Aqui já houve algo..., do autor alemão, Flix. A Editora esclarece que embora o livro até tenha sido publicado no mês de março, só a partir deste mês de junho é que se encontra em distribuição física.

Fiquem com a nota de imprensa.

Aqui já houve algo... - Memórias deste e do outro lado, de Flix

“Aqui já houve algo…” reúne as memórias da infância de Flix, o autor deste livro, e de uma série de parceiros de conversas. Do tempo em que a Alemanha ainda estava dividida e o muro existia.

Tudo começou em 2008 com a publicação, num jornal de Berlim, de uma pequena história sobre tanques de brincar, percepções erradas e uma realidade que, para uma criança de sete anos, era inconcebível.

Mas após esta estreia, Flix foi tendo cada vez mais conversas sobre o tema com amigos e conhecidos e apercebeu-se que também eles tinham recordações interessantes para relatar dessa época. Uma única história transformou-se em duas, depois três, quatro e por aí fora. Quase todos os meses aparecia uma no jornal, até se atingir mais de trinta episódios.

Estes são, pois, os seus testemunhos.

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Ficha técnica
Aqui já houve algo…
Autor: Flix
Editora: Polvo
Páginas: 138, a cores
Encadernação: Capa mole
PVP: 20€