quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Análise: Stumptown Vol. 1




Stumptown Vol. 1, de Greg Rucka e Matthew Southworth

Este primeiro volume da série Stumptown é mais um lançamento na linha de alguns romances noir – a fazer lembrar, com as devidas diferenças no estilo e na forma, Criminal, The Fade Out ou O Cemitério dos Esquecidos, também lançados pela G. Floy Studio – que faz com que a editora portuguesa tenha um catálogo cada vez melhor e mais maduro, que vale a pena conhecer.

A série Stumptown, com argumento de Greg Rucka e ilustrações de Matthew Southworth, chegou a receber a adaptação para uma série de televisão – que em Portugal passa na Fox Life – protagonizada pela atriz Cobie Smulders, da série How I Met Your Mother, que também participou em inúmeros filmes de super-heróis como The Avengers, Capitão América, ou o mais recente filme de Homem-Aranha. O facto da série televisiva Stumptown ter tido bastante sucesso e ter sido anunciado em Maio último que a mesma iria receber uma segunda temporada, atesta o bom sentido de oportunidade da G.Floy, que lança a série de bd no mercado português, com excelente timing. É também assinalável que esta seja a série que marca a estreia no catálogo da G. Floy de Greg Rucka.


Stumptown
é, na verdade, a alcunha dada à cidade de Portland, no Oregon, e é um policial noir contemporâneo, de estilo hard-boiled, que nos conta a história de Dex Parios, uma detetive privada viciada no jogo.

E, de facto, é esse vício ao jogo que acende o rastilho para que a história deste primeiro volume – entitulado a O Caso da Rapariga que Levou o Champô (mas deixou o carro) – se desenrole. Tudo começa quando uma maré de azar leva Dex Parios a contrair uma dívida de vários milhares de dólares no casino das Tribos Confederadas da Costa do Vento. Ficando a nossa protagonista sem capacidade de pagar a multa, Sue-Lynne, a directora do casino, sabendo das qualidades de Dex enquanto investigadora, sugere-lhe que passe a investigar o desaparecimento misterioso da neta de Sue-Lynne. Se a encontrar, a dívida de Dex perante o casino é eliminada. Não tendo grandes alternativas, a detetive privada aceita a proposta e começa a investigar. Mas logo percebemos que esta será uma demanda que mergulhará a protagonista numa teia de crime, que a coloca em grande perigo de vida. 


Não é de admirar que Greg Rucka seja unanimemente considerado como um mestre em ficção policial, já que o autor consegue montar bem a história, deixando o leitor agarrado à mesma. Não é uma história com um ritmo muito acelerado – como é comum em alguns policiais – e, admito, por vezes até achei que o ritmo estava um pouco lento demais. No entanto, o autor sabe dosear os bons momentos, oferecendo-nos uma investigação envolvente e que nos deixa a lançar as nossas próprias perguntas e a lançar suspeições a várias personagens. A ideia de começar o livro contando a história ao contrário em termos temporais, ou seja, do momento mais recente para o momento mais longínquo no tempo, é algo que aqui também funciona muito bem, para irmos conhecendo a protagonista bissexual que vive com o seu irmão, que tem necessidades especiais.

Dex Parios apresenta um singular e subtil sentido de humor que lhe dá carisma. A construção da personagem de Parios está muito bem conseguida, tornando-a numa mulher forte e com carácter mas muito real e credível. Na verdade, a história é ficcional mas poderia muito bem ser baseada em factos verídicos, tal é a verossimilhança das características de personalidade de Dex Parios. Diria até, que esse é o maior trunfo desta obra: o de conseguir criar uma personagem marcante. Não é apenas "mais uma detetive". E talvez por isso, seja uma leitura madura, mais para adultos do que para jovens. Podíamos talvez dizer que esta é uma história que tem algumas parecenças com Jessica Jones – também publicada em Portugal pela G. Floy – embora, claro está, Stumptown seja mais terra-a-terra e a protagonista não tenha super-poderes.


Em termos de arte ilustrativa, Matthew Southworth entrega-nos um bom trabalho, com um traço rabiscado e marcado com personalidade, que encaixa muito bem no tom da obra. A concepção dos ambientes e das personagens está muito bem conseguida. Há no entanto, algo que a meu ver não resulta tão bem. E que tem a ver com a aplicação das cores. Enquanto lia o livro, pensava que as mesmas não estavam a puxar pela qualidade das ilustrações. E pensei: "será que os desenhos de Stumptown não funcionariam melhor se fossem apenas a preto e branco?". Ora, qual não é o meu espanto quando, no final do livro, há uma pequena história bónus a preto e branco e que me parece visualmente muito mais apelativa do que a história principal? É curioso que o próprio volume tenha respondido de forma inequívoca à minha suspeição. Atente-se numa coisa: não é que as cores – a cargo de Lee Loughridge, Rico Renzi e do próprio Matthew Southworth - estraguem a obra. Não o fazem, de todo. Possivelmente até poderão existir alguns leitores que apreciem as cores da obra. Mas para mim, as cores simplesmente, não estão ao nível das ilustrações e da própria história. Há pranchas muito bonitas, sim. Mas há outras onde as cores me distraíram da história, pela negativa.

Assinalo ainda outro ponto negativo em relação à ilustração. Mesmo sendo verdade, como já referi, que a arte de Matthew Southworth é apelativa para os meus olhos, houve uma coisa que dificultou a fluidez na minha leitura. É que o desenho de algumas personagens está demasiado próximo entre si, o que não permite a clara distinção entre personagens. E isso está (mais) patente nas personagens de Isabella e Charlotte – mas não só. Felizmente, é um livro que não conta com uma grande quantidade de personagens diferentes. Se assim fosse, penso que esta incapacidade de diferenciar melhor as diferentes personagens poderia ter um maior peso negativo na obra.


Quanto à edição da G. Floy só posso repetir-me em relação ao que tenho dito a análises a outros livros do catálogo da editora: aqui impera a qualidade. Bom papel - baço e de gramagem generosa -, capa mais dura do que o habitual nas comuns "capas duras", e extras verdadeiramente apelativos para o leitor. Vou confessar uma coisa: penso que por vezes as editoras colocam extras que pouco ou nenhum interesse têm para o leitor. Parece que estão ali só para que se possa dizer: "atenção, este volume tem extras!". Aqui, não é o caso. Em Stumptown Vol. 1 os extras são verdadeiramente interessantes e oferecem real valor acrescentado à obra. Este livro traz os designs de Stumptown utilizados em t-shirts, posters que foram feitos para apresentações da série em eventos e, a cereja no topo do bolo, é-nos dada com o mini-comic de oito páginas, que foi originalmente impresso no formato de um cartão de visita, e que era acompanhado por uma lupa(!) para poder ser lido. Um autêntico mimo e que, ainda por cima, conforme já referi, veio atestar aquilo que já mencionei acima: esta série em preto e branco seria visualmente mais apelativa. 

Em suma, Stumptown é mais uma boa série adulta, totalmente direcionada para fãs de policiais, com personagens carismáticas, que a G. Floy acrescenta ao seu excelente catálogo. No final, e sabendo que existem mais volumes da série, fica-se com a vontade de continuar a ler os números seguintes. Resta esperar que a G. Floy continue a publicar os próximos Stumptown com a assiduidade e periodicidade com que publica outras séries.


NOTA FINAL (1/10)
8.5


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020 


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Ficha técnica
Stumptown Vol. 1: O Caso da Rapariga que Levou o Champô (mas deixou o carro)
Autores: Greg Rucka e Matthew Southworth
Editora: G. Floy
Páginas: 160, a cores
Encadernação: capa dura
Lançamento: Junho de 2020

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Basicamente é a premissa do pilot da serie.tenho que ver se a bd é melhor,espero que Rucka seja melhor aqui que em Wolverine o Mulher Maravilha.

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    1. Obrigado pelo comentário. A meu ver, é um livro que vale a pena conhecer.

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