Ainda só passaram meros 2 meses desde que o primeiro número de Holy me chegou às mãos (e cuja análise recomendo e pode ser lida aqui) e já tive oportunidade de ler o segundo número desta série, da autoria da dupla portuguesa constituída por Rafael Marques e Katiurna. Isto atesta, de forma inequívoca, o grau de envolvimento e foco que os autores parecem ter perante esta sua primeira série de banda desenhada, com a aposta na criação de uma boa e assídua relação com o seu público. O que é sempre digno de destaque e apreço.
Este segundo número continua a história do protagonista Cartwright, um agente da empresa Eden, que terá que arcar com as consequências de ter baleado um cliente no número anterior. Depois de montada e explicada a premissa da série no número 1, este número 2 opta por desenvolver o lado mais humano do protagonista e a relação que tem com uma criança, Cristina, que resolve resgatar depois de finalizado um serviço a um dos clientes pouco ortodoxos da Eden. A história anda, portanto, algum tempo para trás. Devo dizer que gostei particularmente desta vertente e da capacidade de Marques em afastar-se da ação desenfreada para nos dar algo mais humano e com um sabor agri-doce. E a introdução de Cristina acaba por ser uma mais valia para a série que, espero, seja bem aproveitada em termos narrativos nos próximos números de Holy.
Mas este número não nos apresenta apenas Cristina, nem Laura, a sua cuidadora - que também é irmã de Cartwright. Apresenta-nos também Ela, uma chefe de Cartwright que, obviamente, está descontentíssima com os atos do agente perante um cliente da empresa Eden, e faz questão de demonstrar essa desilusão recorrendo a uma violêcia gratuita. Nas duas dezenas de páginas que compõem este segundo número não há espaço para muito mais. Mas ficamos com a ideia que a aventura ainda agora está a começar para Cartwright, o que dá vontade, claro, de sabermos mais, quando o livro acaba.
Quanto à arte de Katiurna, há um destaque bastante positivo que deve ser dado à boa caracterização facial das personagens, por parte da atutora. Mesmo tendo em conta que o estilo é bastante cartoonizado, Katiurna consegue passar um conjunto de emoções bastante variado para as faces das suas personagens. E mesmo que algumas dessas expressões até possam parecer, por vezes, exageradas, parece-me que assentam bem no ambiente da série. São um ponto muito positivo que nos faz criar uma boa relação com as mesmas.
Porém, e tal como referi no número anterior, ainda sinto a autora à procura do seu próprio estilo. Algumas vinhetas parecem-me totalmente experimentais. E os resultados disso, naturalmente, variam entre uma boa ideia muito bem conseguida ou uma ideia que não resulta tão bem. É natural para autores que estão ainda no começo da sua carreira na banda desenhada.
E onde me parece que a série mereceria um cuidado especial da autora, era na introdução de mais elementos cénicos. Por vezes, certos elementos dos cenários parecem estar lá só para que o espaço que envolve as personagens não seja totalmente vazio. E o mobiliário dos anteriores, muito retilíneo e simplista, acaba por ficar um pouco pobre demais, a meu ver. Uma nota também para o cabelo do protagonista que, no primeiro número estava bem mais excêntrico e selvagem. Foi com alguma pena que vi que, neste segundo número, o seu cabelo está menos exagerado e mais “normal”. Eu tinha gostado do exagero dos penteados das personagens no primeiro volume pois isso dava alguma originalidade à série. Mas também compreendo que talvez seja Katiurna a experimentar coisas diferentes, de forma a encontrar a imagem certa para o seu protagonista. Tudo ainda bastante experimental, como já referi.
Em termos de edição – e relembro que esta é uma edição de autor – verifica-se um salto qualitativo do primeiro para o segundo número. Neste segundo livro, mantêm-se as características de “revista comic” do primeiro número mas a qualidade da impressão e, especialmente, do papel é bastante superior. O próprio papel da capa, sendo também mole, é mais robusto, fazendo com que toda a experiência de leitura seja muito mais aprazível. Destaque ainda para o facto de, nesta vez, a língua utilizada ser o português e não o inglês. Como referi na análise que fiz ao primeiro número de Holy, que saiu na língua inglesa, acredito e espero que, estando a série em português, possa chegar a um público nacional mais vasto.
É também digna de destaque positivo a boa assiduidade com que os lançamentos, sob a chancela da RKComics, têm estado a sair. Espero que assim se mantenham. Aproveito também para dizer que gostaria que esta série chegasse a ser editada num só volume, em capa dura, se possível. Este formato de revista é simpático mas não tenho dúvidas de que, se editada num só livro, a história poderia ser mais bem apreciada.
Em conclusão, devo dizer que nesta segunda leva de Holy, temos um Rafael Marques que se mantém inspirado e que parece saber para onde está a ir em termos de narrativa. Katiurna, por sua vez, parece ainda estar à procura do seu estilo, embora demonstre melhorias em vários cômputos do seu trabalho, tais como, na capacidade para dividir a história de uma forma mais dinâmica, bem como a desenvoltura técnica para representação das personagens e respetivas emoções. No geral, penso que a série está a evoluir bem. Vale a pena conhecer.
NOTA FINAL (1/10):
7.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
-/-
Holy #2 - Um Anjo Caído
Autores: Rafael Marques e Katiurna
Editora: RKComics
Idioma: Português
Páginas: 22, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Janeiro de 2020
Sem comentários:
Enviar um comentário