segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Análise: Sete para a Eternidade – Livro Um

Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren - G. Floy

Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren - G. Floy
Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren 

Sete para a Eternidade é uma história épica, repleta de fantasia e ação, da autoria de Rick Remender e Jerome Opeña, que a G. Floy publicou há já quase um ano. De resto, o segundo volume – que encerarrá a série – também já está prometido para o primeiro semestre de 2021, conforme aqui dei conta no artigo relacionado com os novos lançamentos da editora, para a primeira parte deste ano.

Sete para a Eternidade é uma banda desenhada com muitas coisas interessantes. Claro que nem tudo é perfeito e até há uma sensação de um certo over the top, por vezes. Com um universo carregado de uma enorme dose de fantasia, somos levados para um mundo que, por vezes, me lembrou o do filme Avatar, de James Cameron, O Senhor dos Anéis, de Tolkien, ou a famosa saga Star Wars, de George Lucas. Nesta história temos criaturas fantásticas, forças malignas, poderes sobrenaturais e uma grande quantidade de personagens, cada uma com as suas próprias características e identidade gráfica.

Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren - G. Floy
A história é bastante complexa, devido a ter muitos intervenientes, o que faz com que não seja um livro muito fácil para pegar. É uma leitura que exige atenção por parte do leitor. Sete para a Eternidade conta-nos a história de Adam Osidis que habita nas terras de Zhal, onde o Deus dos Sussurros reina de forma absoluta, controlando até os pensamentos dos seus habitantes. Mas já o pai de Adam o tinha ensinado a sempre se opor a este Ditador e agora o protagonista, que está doente e tem pouco tempo de vida, sente-se dividido entre honrar os valores de liberdade que o pai lhe passou e o seu desejo de viver (com saúde) mais tempo, junto da sua mulher e filhos. O seu caminho leva-o a juntar-se a um grupo de soldados - cada um com os seus próprios poderes e background - que procura formar um pequeno grupo de guerrilha, de forma a derrubar o Deus dos Sussurros.

Rick Remender, autor de vários títulos de sucesso, incluindo Uncanny X-Force, oferece-nos ainda um texto muito inspirado, com frases marcantes, que podemos retirar da história e adaptar a um cem número de coisas. Uma coisa que a história tenta ser também, é uma alegoria face ao universo real que nos rodeia, onde o populismo e a xenofobia têm, recentemente, e cada vez mais, ocupado um lugar de destaque nas esferas políticas de todo o mundo ocidental, desde o velho continente europeu até ao continente americano.

Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren - G. Floy
Por tudo o que já escrevi sobre esta obra até agora, já dá para ter uma ideia que temos uma rapsódia da 9ª arte em mãos: fantasia, espiritualidade, aventura, ação, política e um universo totalmente novo, fazem de Sete para a Eternidade uma obra que parece querer jogar em “todos os campeonatos”. E, embora faça quase todas estas coisas bem, não chega a ser perfeita em nenhuma delas. Acaba por ser superficial na sua abordagem. Julgo que se tivesse sido desenvolvida com mais profundidade uma ou duas destes várias vertentes que compõem a obra, a experiência seria mais marcante.

Em primeiro lugar, sendo este um universo tão vasto e com “regras” e funcionamentos tão próprios, a série teria beneficiado se o mundo fosse revelado e explicado de forma mais lenta. Afinal de contas, estamos perante um mundo muito próprio. Mas ao colocar o leitor em contacto com este universo complexo de forma abrupta, Remender faz com que o leitor se tenha que esforçar para conseguir acompanhar e mergulhar no mundo apresentado. E nada de mal existe nisso. Nem sempre é bom os leitores terem a “papinha toda feita” em termos de argumento ou premissa. No entanto, o ónus desta opção é que a imersão na leitura acaba por não ser tão grande. Senti-me sempre como “fora” da narrativa, tentando artificialmente entrar nela. Ponho as coisas desta maneira: esta obra teria funcionado melhor para mim, numa destas duas situações: 1) se o seu foco fosse mais a componente política e de reflexão sobre o bem e o mal e sem o universo fantástico; ou 2) se a história fosse num universo fantástico e com muita ação mas sem tanto foco na questão política e filosófica. Parece-me que quer ir “a todas” e acaba por não ir realmente a nenhuma.

Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren - G. Floy
Não obstante, é verdade que o texto de Remender, especialmente nas partes mais filosóficas e introspetivas, é bastante inspirado (com material muito quotable). Destaque para a introdução/reflexão, em texto corrido, que abre cada um dos 9 capítulos deste volume. Isso foi muito pertinente e bem explorado pelo autor para conseguir dar profundidade ao protagonista desta aventura. Remender é um bom escritor, há que reconhecer. E algumas personagens, especialmente o vilão Rei dos Sussurros e Adam Osidis são personagens muito interessantes, com variadas camadas nas suas condutas que tornam ténues as barreiras entre o bem e o mal. Será que o Rei dos Sussurros não é tão mau como parece?

E depois ainda existe a arte de Jerome Opeña que é extremamente impressionante! Diria que, por muito bom que o trabalho de Remender seja nesta obra, é a arte de Opeña que a torna em algo majestoso. Este terá sido dos livros mais bonitos que a G. Floy editou no ano passado, relativamente à arte ilustrativa. O desenho do autor é muito estilizado, com muita personalidade, excelentes enquadramentos, diversidade na planificação das pranchas e sabe ser impressionante em cada coisa que retrata. Seja uma cena introspetiva do protagonista a pensar, seja uma batalha com muitos guerreiros numa frenética cena de ação ou seja na concepção - quer gráfica, quer criativa – das personagens, que são muito originais, embora familiares.

De facto, senti que já tinha visto estas personagens em algures e por isso facilmente foi criada uma relação de familiaridade mas, em oposição, também senti que estas personagens eram algo novo, refrescante e com o qual eu não tinha tido contacto ainda. As próprias capas dos 9 capítulos são, por si só, verdadeiras obras de arte. E, como se não bastasse, as cores do experiente Matt Hollingsworth elevam ainda mais esta obra fantástica.

Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren - G. Floy
Como ponto a lamentar, há que referir que dois dos capítulos deste volume foram desenhados por James Harren. As ilustrações de Harren são "cartoonizadas" e pouco polidas. Se já seriam capítulos algo fracos em termos de ilustração, se tivermos em conta que estão inseridos numa história tão magnificamente desenhada por Opeña, chegam a parecer anedóticos. Compreendo que, especialmente no mercado americano dos comics, e devido a questões contratuais e de prazos,é frequente que parte de um trabalho de ilustração de uma obra seja assegurado por outro ilustrador. Mas, neste caso, o casting correu muito mal, a meu ver. Seria aceitável se esse capítulo tivesse sido usado para um flashback ao passado das personagens. E até é isso que começa, e bem, por acontecer. Mas quando a história regressa ao tempo presente, com um estilo de ilustração tão diferente – e inferior – do de Opeña, confesso que achei que foi uma grande machadada na qualidade da série.

Há ainda que realçar o fantástico trabalho de edição por parte da G. Floy. Este é um grosso volume de 264 páginas, com uma elegante capa baça e um papel brilhante e de boa qualidade. Há ainda uma generosa seleção de magníficos esboços de Opeña, que são um acrescento muito generoso para a obra. A opção de reunir uma história, que no total terá 17 números, em dois livros apenas - em vez de os agrupar em 3 ou 4 livros com menos capítulos - é uma decisão adequada e acertada.

No final, acho que Sete para a Eternidade é uma obra muito interessante e com várias coisas espetaculares mas que acaba por ter mais "olhos que barriga". Faz muitas coisas maravilhosas – como o texto inspirado de Remender, os desenhos espantosos de Opeña, ou as cores lindas de Hollingsworth. Mas depois, também parece ser uma manta de retalhos relativamente ao universo criado, com demasiadas personagens e eventos que, naturalmente, acabam por deixar o leitor algo perdido e incapaz de absorver a história de um trago. Com mais sensatez poderia ser uma obra de arte intemporal. Assim, é “só” um excelente livro.


NOTA FINAL (1/10):
8.8


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren - G. Floy

Ficha técnica
Sete para a Eternidade - Livro Um
Autores: Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren
Editora: G. Floy
Páginas: 264, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2020

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