É só passados alguns dias do término da última edição da Comic Con que, à semelhança do que se passou no ano passado, teve lugar no Parque das Nações, no espaço Altice Arena, e que ocorreu entre 8 e 11 de Dezembro, que vos dou algumas notas sobre o evento.
Não farei considerações tão grandes como as que já fiz no ano passado - e que convido os leitores do Vinheta 2020 a (re)lerem - pois parece-me que, do ano passado para este ano, a estrutura do evento foi razoavelmente mantida da mesma forma. O "esqueleto" foi o mesmo, vá.
Parece-me que esta localização ainda é o melhor sítio para que este evento decorra convenientemente, embora não seja um espaço perfeito. Mas nenhum o seria, lá está.
Em termos de transporte, é difícil pensar num local em Portugal que esteja mais bem servido do que o Parque das Nações. Há comboio, metro, autocarros e bons acessos para quem vai de carro. Até há ciclovias para que alguns lisboetas possam ir de bicicleta. O estacionamento também não é um problema, embora seja difícil estacionar sem pagar preços avultados.
Este espaço também permite que a Comic Con seja um evento híbrido (que ocorre em espaço fechado e aberto, ao mesmo tempo), o que leva a que as atrações acabem por não ficar concentradas num só espaço - o que tem coisas boas e coisas más, naturalmente. Consequentemente, torna-se um pouco difícil circular pelo evento sem que acabemos perdidos, muito embora me pareça que, nesta última edição, tenha havido um esforço da organização em melhorar a sinalética do evento. Os acessos para deficientes - se existirem - parecem-me mal sinalizados e algo que tem mesmo que ser melhorado.
De resto, continuamos a ter o mega-auditório, um espaço de "ativações de marca", a área comercial, outros auditórios mais pequenos, a zona do gaming, a zona dos autógrafos dos autores de BD, a zona infantil e a Artist's Alley que, infelizmente, está longe de tudo e todos, carecendo de uma mudança de espaço urgente já para a próxima edição do evento. Desculpem mas ali, naquele sítio, não pode continuar. A título de curiosidade, posso dizer que encontrei neste Artists' Alley o autor Luís Louro, a autora Patrícia Costa e um espaço que vendia bd em segunda mão.
Por falar em vendas, este ano a área comercial mudou de sítio, passando da sala Tejo para uma tenda própria. Embora a tenda me tenha parecido algo pequena para tantos expositores, gostei que a mesma tivesse ligação direta para o pavilhão. Em caso de chuva - o que acabou por acontecer - isto possibilitava que os visitantes não tivessem que andar à chuva entre o espaço comercial e a Altice Arena.
Mas, se isto foi bom, acho que também incrementou uma das principais mudanças face ao ano passado. É que, embora o evento tenha tentado ser híbrido na questão de ter coisas a acontecer dentro e fora do pavilhão, a verdade é que fora do mesmo pouco ou nada acontecia. O espaço exterior estava, assim, bem mais vazio do que no ano passado. Vazio de gente e vazio de atrações, entenda-se. Havia alguns espaços de restauração e uma tenda da FNAC que achei mesmo triste e isolada. Não acredito que os responsáveis de Marketing da FNAC estejam satisfeitos com a Comic Con este ano. E, se voltarem a participar no evento no próximo ano, estou certo que a Organização terá que tratar a empresa melhor.
Houve, como dizia, uma reajuste do espaço, colocando o espaço de merchandising numa tenda e trazendo o espaço de gaming para o local onde no ano passado estava o espaço comercial.
Não vou opinar muito mais sobre aquilo que não é BD na Comic Con. Vejo muitas críticas ao evento. Umas parecem-me legítimas. Outras, nem tanto.
No seu todo, e digo isto como crítica construtiva, o evento parece-me excessivamente caro para a oferta que tem. E quando falo em "oferta" falo naquilo que o evento tem para dar, efetivamente. Parece muito mas não é assim tanto. Só consigo lembrar-me de um evento mais superficial e "para a fotografia" do que a Comic Con: a Web Summit.
E sei do que falo porque já participei por várias vezes em ambos os eventos. A Comic Con é, por isso, um bom exemplo de uma "mão cheia de nada". Parece que está carregada de milhentas coisas para fazer, de milhentas atividades, de um sem número de entretenimento... mas quando se olha com frieza para o todo que é este evento, fica claro uma de duas coisas: ou nós, sociedade, estamos a tornar-nos cada vez mais superficiais, apreciando coisas mais frívolas e que servem, apenas, para uma boa fotografia do instagram, ou então, são os próprios criadores de conteúdo e Organização que não se esforçam devidamente. Acho que era possível que a Organização fizesse mais e melhor em todas as áreas. Não vai ao fundo em nenhuma delas.
Não interpretem estas minhas palavras como arrogantes ou como de uma pessoa que se considera mais do que os outros ou de uma elite de qualquer coisa. Não. Nada disso. Acho que faz todo o sentido que haja um evento de cultura pop, tendo em conta a relevância que a mesma tem. Simplesmente, olhando para a Comic Con, fico com a ideia de que praticamente tudo é feito muito à superfície, sem aprofundar, sem ir mais longe.
No entanto, tenho algumas coisas boas para dizer sobre a Comic Con. Nomeadamente sobre a banda desenhada que será aquilo que mais interessa aos leitores do Vinheta 2020.
Em primeiro lugar, há que dizer que tivemos, mais uma vez, uma boa seleção de autores. Tivemos nomes relevantes como Miguelanxo Prado, Paco Roca, Joseph Homs, Mike Deodato Jr., Jean Bastide e Philippe Fenech (criadores de Ideiafix), Cary Nord, Wes Craig, Gene Ha, António Gonçalves e Joana Rosa. Uma oferta de autores bastante alargada e boa, diria, embora me pareça que também poderia ter sido dado mais destaque a mais autores nacionais.
Outra das coisas que, em termos de banda desenhada, melhorou face à edição do ano passado, foi que a zona de autógrafos foi retirada da barulhenta e confusa sala Tejo, onde estava no ano passado, e foi deslocada para um espaço mais recôndito. Bem, por um lado, retirou-se destaque à BD para o público mais generalista. Mas, por outro lado, permitiu-se que os autógrafos pudessem decorrer numa zona mais serena, onde dava para falar melhor com os autores. Portanto, acho que foi uma alteração para melhor. E, ainda por cima, este espaço dos autógrafos aproximou-se fisicamente do auditório onde decorriam as apresentações de banda desenhada, o que foi mais um ponto a favor.
Portanto, falando de banda desenhada, o que é que a Comic Con 2022 fez bem? Teve um bom cartaz de artistas presentes e boas apresentações. Ou seja, para os adeptos de autógrafos e para os adeptos das apresentações e entrevistas com os autores, a Comic Con cumpriu e bem.
No entanto, acho que deveria ter sido feito mais. E para não parecer que me estou a focar apenas numa opinião pessoal neste ponto, até me vou servir dos resultados obtidos nos BD Censos 2022, em que ficou claro que os autógrafos são a coisa que a maioria dos visitantes de um evento de BD menos valoriza. E aquilo que é mais procurado é a possibilidade de comprar banda desenhada, especialmente se for a um bom preço, e, claro as exposições de/sobre banda desenhada.
Ora, e é exatamente aqui que a Comic Con falha. Não há qualquer exposição e não há muitos sítios para comprar banda desenhada. Sim, havia alguma BD na isolada tenda da FNAC, num stand da Leya, num stand da Wook e num stand da Panini Comics. Mas era uma oferta muito fraquinha e completamente dispersa. Acho que não seria complexo arranjar um espaço mais bem pensado para se vender a principal BD editada em Portugal.
E já quanto à área da exposição, onde já no ano passado eu tinha referido que era necessário criar um espaço de exposição no evento, lembro-me que foram várias as pessoas que me disseram que "num evento como a Comic Con não seria viável ter um espaço deste tipo". Bem, qual não foi o meu espanto quando, este ano, o espaço da Nickelodeon me deu razão e força à minha ideia.
Este ano, a Nickelodeon criou um espaço de exposição com divertidas reinterpretações de obras clássicas da pintura com as personagens do Sponge Bob. Que tem isto a ver com o espaço de exposição da banda desenhada? Bem, permite perceber que, se dúvidas ainda houvesse, se a Organização quiser, dá para criar algo semelhante para a banda desenhada. Nem precisa de ser um espaço enorme. Quatro paredes, postes separadores de segurança entre o público e as obras et voilà, temos a Comic Con a fazer aquilo que a maioria do público mais quer num evento sobre BD. Não sou eu que o digo apenas, portanto.
Assim sendo, a minha sugestão para a área da banda desenhada no próximo ano.
1) manter um bom cartaz de autores, com boas sessões de apresentação e debate;
2) manter a zona de autógrafos no mesmo espaço (mas não permitir que os leitores apresentem mais do que 2 livros para autografar, o que infelizmente, não foi feito nesta edição)
A introduzir:
1) área de exposição de BD (se possível, junto à zona de autógrafos, onde este ano estava um espaço infantil que, esse sim, pode ser deslocado para outra localização). Isto não é nada de muito difícil para fazer. Se o Sponge Bob consegue, também devem conseguir as obras dos autores que cá vêm;
2) garantir que há mais banda desenhada a ser vendida no evento. Há muitas formas de fazer isto: não praticar preços tão elevados para lojas de BD; ter uma loja própria do evento que vende BD (como é feito no Festival de Beja); juntar num só sítio as lojas que vendem BD, etc. A forma de fazer isto caberá à Organização. Mas é bem possível fazê-lo.
Nota final: tive também o prazer enorme de ser o moderador da apresentação de Paco Roca. Era uma conversa que já estava planeada para ocorrer na edição passada mas que lamentavelmente, e devido a motivos de doença, Paco Roca teve que cancelar em 2021, não marcando presença nessa edição.
Mas, felizmente, em 2022 isso foi reposto e posso dizer-vos que foi uma conversa memorável. Eu sou suspeito neste ponto pois fui eu que conduzi a entrevista. Mas o que foi especial não foi o que eu perguntei mas as respostas profundas e genuínas com que Paco Roca me brindou a mim e a todos os presentes nesta conversa. Como tal, só posso agradecer à Organização por este privilégio. Foi das conversas mais interessantes que já tive com um autor.
Mais um ano, mais uma Comic Con, mais uma ausência. Já aqui fiz eco da minha discordância relativamente ao modelo das Comic Cons, sejam por cá sejam noutros países. São feiras de entretenimento, não de BD. Ainda assim, consideraria a minha eventual presença caso 1) o valor dos ingressos fosse mais baixo (não vai acontecer...) e se a oferta de BD autores /expositores/exposições fosse mais significativa (alguma vez acontecerá?..). Assim sendo e apesar de terem estado 2 autores que aprecio bastante (Paco Roca e Miguelanxo Prado), dificilmente terei "argumentos" que justifiquem a minha presença. É pena...
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