quarta-feira, 11 de junho de 2025

Escorpião Azul lança BD brasileira de terror!


A editora Escorpião Azul acaba de lançar uma banda desenhada de terror, da autora brasileira Roberta Cirne!

Posso dizer-vos que, no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, pude tomar contacto com a autora e com a exposição dedicada à mesma - e fiquei muito bem impressionado.

O livro já se encontra à venda nas livrarias portuguesas.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


O Esqueleto, de Roberta Cirne

Esta novela gráfica que tem na mão, é a adaptação da segunda obra de terror lançada no Brasil, escrita por Joaquim Carneiro Vilela em 1872. Um dos primeiros autores do terror gótico brasileiro.

Conta-nos uma história de terror e decadência, que nos leva de uma tradicional e honrada família de altos valores morais até à depravação das ruas boémias da cidade de Olinda, no tempo em que ali funcionava a Faculdade de Direito de Pernambuco. 

Acompanhamos o romance de Felipe e Lívia e o verdadeiro amor que faz frente às tentações do mundo. Enamorado da sua prima Lívia, nada mais desejava... até ao dia em que é obrigado pelo seu pai a ir estudar para a Faculdade de Direito, onde acaba por conhecer Azevedo e os “Filhos de Minerva”. 

Pecado e redenção, ascensão e queda... Esta é uma história de terror, que se vai desenrolando lentamente, até tomar toda a alma do leitor sem aviso prévio.

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Ficha técnica
O Esqueleto
Autora: Roberta Cirne
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 56, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 24 cm
PVP: 15,00€


Análise: Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego

Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago - A Seita

Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago - A Seita
Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago

Se há coisas que, na maior parte das vezes, me parecem forçadas, por vezes fabricadas por mero apelo comercial, são os crossovers. Este encontro entre personagens de universos diferentes e independentes, muitas vezes utilizado em banda desenhada, mas não só, embora possa ser apelativo, especialmente quando já apreciamos um ou os dois universos que passam a estar juntos, é muitas vezes um exercício forçado, sem grande substância. Partindo deste pressuposto, e depois de ter ligo este Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, posso dizer-vos que esta nova aposta da editora A Seita foi uma agradável surpresa.

Reunindo duas personagens de primeira linha, Dylan Dog, pelos fumetti, e Batman, pelos comics americanos, este é um livro que consegue o quase milagroso feito de ser equilibrado, de ter uma história consistente e que, mais importante que tudo, nunca se atropela a si mesmo. Ou quase nunca. Mas já lá irei.

Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago - A Seita
Com argumento de Roberto Recchioni e desenhos por parte de Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago, este Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego até pode muito bem representar uma das mais inesperadas e bem-sucedidas colaborações intereditoriais da banda desenhada contemporânea. Ao unir dois universos aparentemente tão distintos como o sombrio e surreal mundo do investigador do pesadelo Dylan Dog e o universo noir e urbano do Cavaleiro das Trevas, os autores demonstram uma sensibilidade rara e uma compreensão profunda das personagens que têm em mãos.

A história arranca quando é forjada uma aliança entre os dois vilões Joker e Doutor Xabaras, que acaba por levar Batman a Londres, à cidade de Dylan Dog. A partir deste momento, os dois heróis deverão  colocar de lado as suas visões divergentes sobre a natureza do Mal, e unir forças para eliminar a terrível ameaça que se lhes apresenta.

A narrativa estabelece desde cedo um equilíbrio delicado entre o realismo psicológico e a fantasia gótica. A história decorre entre Londres e Gotham, cidades que espelham as características dos protagonistas: uma mais espectral e melancólica, a outra mais urbana e violenta. O enredo aproveita essa dualidade para explorar o trauma, o medo e a obsessão - temas que são comuns a ambos os heróis, apesar das suas diferentes formas de enfrentá-los.

Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago - A Seita
Recchioni mostra mestria ao fundir as mitologias de Dylan Dog e Batman sem que uma se sobreponha à outra. A construção da história é coesa, e os acontecimentos fluem com naturalidade, o que evita o risco típico de crossovers: o de parecerem artificiais ou forçados. Com efeito, é particularmente eficaz o modo como os dois protagonistas interagem. Em vez de uma simples união para combater um mal comum, há um verdadeiro confronto de métodos, éticas e até de fragilidades. Batman, metódico e controlado, encontra em Dylan uma figura mais intuitiva, sem grandes regras, aberta ao irracional e ao paranormal. Essa diferença é explorada com inteligência e traz-nos bons momentos de diálogo.

No entanto, a introdução da personagem de John Constantine e da ida ao inferno - numa alusão direta à obra de Dante - assume-se, claramente, como o excesso cometido pelos autores. Compreendo que a simples presença de uma personagem carismática como Constantine seja, por si só, uma escolha tentadora para qualquer história que envolva ocultismo, mas, neste caso específico, a sua entrada surge como um artifício que quebra o ritmo e a coerência interna da narrativa. A dimensão infernal, embora visualmente impressionante, acrescenta pouco à estrutura narrativa principal e desvia o foco da relação entre Batman e Dylan Dog. 

Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago - A Seita
Esta parte da história parece, pois, mais motivada por um desejo de introduzir mais uns "cameos" e referências, do que por uma real necessidade de enredo. O inferno de Dante, ainda que estilisticamente coerente com o tom onírico e perturbador do universo de Dylan Dog, soa mais a homenagem do que a desenvolvimento de enredo. E, quanto a mim, acaba por ser a parte mais forçada de um livro que, tal como já referi, até consegue não ser muito "forçado" e que até ali se mantinha sóbrio e bem doseado.

Tirava-se a parte de Constantine deste livro e, para mim, ele seria perfeito. É demasiado o  destaque dado a esta personagem, que acaba por cortar mais do que o devido com a linha narrativa principal da obra. Note-se que há muitas outras personagens que deambulam por este livro, como Alfred, Catwoman, Joker, Crocodilo, Comissário Gordon, Inspetor Bloch e o próprio Groucho... e todas elas foram mais bem introduzidas no espaço que a trama principal lhes permitia ocupar. O próprio Groucho, um comic relief à séria, aparece com tiradas especialmente inspiradas e divertidas que dão alguma luz e cor a uma história mais sombria. 

Apesar do erro da presença do carismático Constantine, o saldo final da obra é amplamente positivo. A ousadia da proposta é sustentada por uma execução sólida, que respeita profundamente os cânones dos dois heróis. Em vez de diluir as suas essências, o livro reforça o que há de mais icónico em cada um: o detetive do insólito, cuja mente é assombrada por sonhos e mortes, e o justiceiro de Gotham, prisioneiro de um trauma infantil que o transforma num símbolo.

Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago - A Seita
É também digno de nota o modo como os autores evitam o fan service gratuito. Cada referência, cada elemento de ambos os universos é integrado com conta e medida. A sensação que fica é a de uma celebração madura das personagens e não a de um desfile nostálgico para agradar a fãs.

Falando nas ilustrações desta obra, há que referir que a arte de Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago é, sem exagero, deslumbrante. A expressividade das personagens, o uso dramático das sombras e a paleta cromática alternando entre tons frios e quentes, refletem com precisão os estados emocionais das cenas. Há um trabalho pictórico que valoriza tanto a tensão da narrativa quanto a beleza estética do cruzamento entre o terror e o policial. 

O desenho é, portanto, de altíssimo nível, com as personagens totalmente reconhecíveis e carregadas de expressividade e carisma, o que torna cada cena ainda mais envolvente. Os ambientes são ricos em detalhes e contribuem para a atmosfera densa e imersiva da narrativa. A cinematografia dos planos utilizados é muito bem pensada, com enquadramentos dinâmicos que valorizam a ação e o suspense, criando uma leitura fluida e impactante. Além disso, o belo trabalho de cores complementa perfeitamente o clima sombrio, realçando as emoções e o tom de mistério que permeiam a história. Tudo isso junto resulta numa experiência visual marcante e memorável.

Em termos de edição, o trabalho da editora A Seita é bastante bem conseguido. O livro apresenta capa dura baça e bom papel brilhante no seu interior, bem como um bom trabalho em termos de encadernação e impressão. As dimensões do livro são maiores face àquelas que a editora tem utilizado nos seus outros livros dedicados a Dylan Dog. Em termos de extras, o livro inclui um caderno de 12 páginas, que nos traz desenhos inéditos, um guia das personagens dos universos DC e Dylan Dog e uma galeria das capas alternativas. No início, a edição abre com um prefácio de Luca del Salvio. É uma bela edição, portanto.

Em suma, contra as expectativas mais conservadoras e negativas de muitos leitores que, como eu, se habituaram a ver nascer crossovers fracos que procuravam apenas vender livros apoiando-se em franquias de sucesso, Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego é uma bela surpresa. Não só demonstra a viabilidade de cruzamentos improváveis, como também eleva o género de crossover ao propor algo mais do que uma simples junção de mundos: uma verdadeira história com substância, atmosfera e arte. Mesmo que possa não ser perfeita, é uma leitura recomendada tanto para fãs de longa data de Dylan Dog e/ou Batman quanto para novos leitores. E, com sorte, até pode trazer novos leitores ou para os fumetti, ou para os comics americanos! Boa aposta!


NOTA FINAL (1/10):
8.9





Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020




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Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago - A Seita

Ficha técnica
Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego
Autores: Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago
Editora: A Seita
Páginas: 224, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 20 x 26,5 cm
Lançamento: Março de 2025


sexta-feira, 6 de junho de 2025

Escorpião Azul lança BD nacional de estilo "western apocalíptico"!



Já se encontra disponível em livraria a nova aposta da editora Escorpião Azul que dá pelo nome de Toxic West, e que marca o regresso de João Gil Soares ao lançamento de banda desenhada, depois de ter lançado pela mesma editora a sua obra de estrei Forgoth.

Desta feita, estamos perante uma história a cores, que é ambientada no faroeste e que tem ficção científica à mistura.

Tive oportunidade de ver a apresentação deste livro no Festival de Beja e posso dizer-vos que fiquei bastante intrigado com o mesmo.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

Toxic West, de João Gil Soares

Depois da extinção da humanidade, os mutantes tentam sobreviver no planeta poluído que herdaram. Os desertos, cobertos de lixo, são terras sem lei, repletos de forasteiros, caçadores de recompensas e gangues. 

Patti Graves, uma guaxinim fora-da-lei, e Sierra Bloom, uma ratazana psíquica, viajam juntas pelo deserto para chegar à cidade de Zion. 

Pelo caminho, encontram gangues loucos, ruínas da humanidade e robôs controlados por Warden, um tubarão investidor, que tenta expandir o seu poder através do financiamento da Grande Companhia.

Trata-se de um western pós-apocalíptico onde o caos é uma constante.

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Ficha técnica
Toxic West
Autor: João Gil Soares
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 136, a core
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 24 cm
PVP: 29,00€


São mais de 200 os livros de BD com preço especial na Feira do Livro 2025!!!


A Feira do Livro de Lisboa arrancou há dois dias! 

O maior evento do género em Portugal continua a decorrer no Parque Eduardo VII e, como habitual, há preços fantásticos devido à iniciativa "Livro do Dia" que, em determinado dia, disponibiliza um livro a um preço imbatível. Por vezes, esse preço é 50% mais barato!

Como tal, e como já venho fazendo em edições anteriores, faço aqui um apanhado com alguns dos melhores negócios de banda desenhada que poderão encontrar no certame.

São mais de 200 BDs que reúno mais abaixo. Chamo a atenção para o facto de, para aqueles que não são de Lisboa ou não podem comparecer no evento, algumas das editoras detentoras destes livros, fazem o mesmo tipo de desconto nos respetivos websites. Visitem os sites de cada editora e fiquem a conhecer as suas ofertas.

Boas compras!

Sem mais demoras, eis os livros em promoção: 

Começa hoje a nova coleção da Levoir!



É já hoje que sai com o jornal Público a nova coleção da Levoir, conforme já aqui anunciado previamente

A coleção abre com a obra A Floresta, de Thomas Ott, de quem a editora já havia publicado O Número 73304-23-4153-6-96-8, numa das suas coleções de Novelas Gráficas. Um belíssimo livro, já agora.

Estou muito curioso com esta coleção, pois a mesma assume-se como algo novo e diferente face àquilo que por cá tem sido lançado nos últimos tempos.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

A Floresta, de Thomas Ott

A colecção 25 Imagens da Levoir e jornal Público chega às bancas a 6 de Junho. Uma coleção em 6 volumes internacionais e um original da autoria de Vasco Colombo. Dedicada à criação de histórias em imagens sem palavras cujo objectivo é criar um formato curto de 25 imagens, uma por página, a preto e branco, sem texto, tal como definido em 1918 por Frans Masereel com o seu livro 25 images de la passion d'un homme, considerado o primeiro romance moderno sem palavras.

Em 2019 na colecção Novela Gráfica a Levoir publicou uma das obras mais conhecidas de Thomas Ott, O Número: 73304-23-4153-6-96-8.

A colecção conta com um leque de reconhecidos ilustradores, a começar pelo suiço Thomas Ott, autor premiado, em 1995 recebeu o Prémio Bloody Mary pela sua contribuição para L'Argent roi, em 1996 o Prémio Max e Moritz pelo conjunto da sua obra e em 2006 o Prémio Micheluzzi para a melhor banda desenhada estrangeira para Cinema Panopticum.

Ott nasceu em Zurique em 1966 e cresceu em Birmensdorf, uma pequena aldeia na orla de uma floresta no cantão de Zurique. É licenciado pela Escola Superior de Belas Artes de Zurique e pela Universidade de Artes de Zurique. Vive e trabalha como cartunista e ilustrador em Zurique e Paris. As suas ilustrações são publicadas em jornais e revistas de todo o mundo. Os seus desenhos estão expostos em galerias de Berlim, Milão, Paris e Zurique.

A Floresta é uma abordagem original sobre o tema do luto, tanto no cenário que oscila entre o sonho e a realidade, como nas imagens sumptuosas. Thomas Ott joga habilmente com a direcção da leitura, a luz, o equilíbrio entre o preto e o branco, os ângulos de visão e as perspectivas para nos convidar a entrar nesta história carregada de emoção.

Próximos volumes:
Marguerite
Joe Pinelli
20/06/2025

Ter 20 anos em Maio de 1871
Jacques Tardi
04/07/2025

Rumo ao Sul
Blair Landis
18/07/2025

A Restauração
Nina Bunjevac
01/08/2025

Nachave
Lucas Harari
15/08/2025

O Cabo de 2.102.400 km 
Vasco Colombo
29/08/2025

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Ficha técnica
A Floresta
Autor: Thomas Ott
Editora: Levoir
Páginas: 32, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 190 x 265 mm
PVP: 13,90€







terça-feira, 3 de junho de 2025

Devir prepara-se para editar BD premiada de Zentner e Pellejero!



É no próximo dia 19 de Junho que chega às livrarias o terceiro volume da Coleção Angoulême, que a editora Devir tem vindo a lançar por cá. 

Desta vez, a obra em questão é O Silêncio de Malka, da autoria de Jorge Zentner e Rubén Pellejero, originalmente lançado em 1996.

Por agora, o livro já se encontra em pré-venda no site da editora.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


O Silêncio de Malka, de Jorge Zentner & Rubén Pellejero

Vítimas das perseguições feitas aos judeus no final do século XIX, Malka e a sua família são obrigados a deixar a Rússia e emigram para a Argentina.

Aí terão que se habituar à dura vida de agricultores e às diferenças culturais em que a mistura de magia da Torá com a magia local obtém um resultado que nem sempre é o melhor.

O relato desenvolve-se em seis comoventes histórias, centradas em períodos específicos e iluminadas pelas cores magistrais de Pellejero.

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Ficha técnica
O Silêncio de Malka
Autores: Jorge Zentner e Rubén Pellejero
Editora: Devir
Páginas: 112, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 17 x 24 cm
PVP: 22,00€

A Tertúlia BD de Lisboa faz 40 anos!




É neste mês de junho que a Tertúlia BD de Lisboa comemora o seu 40º aniversário e, como tal, recebe um ilustre convidado!

Trata-se do gentil Francisco Ucha, uma personalidade importante para os quadrinhos brasileiros com quem aliás, tive o prazer de privar neste fim de semana, no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja.

O evento decorre hoje, no restaurante Entre Copos.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota oficial da organização, enquanto envio os meus parabéns e felicidades a todos aqueles que mantêm esta relevante iniciativa viva! Um abraço a todos eles!

Tertúlia BD de Lisboa 474º encontro - 3 de Junho de 2025

A Tertúlia BD de Lisboa de Junho será já no dia 3.
Mês em que completa 40 anos de existência.

O Convidado Especial será Francisco Ucha, jornalista, editor e restaurador de quadrinhos, designer, produtor gráfico e criador da #LivedeQuadrinhos, programa de entrevistas no YouTube.

Às 20h, no restaurante Entre Copos.
Rua de Entrecampos 11. Junto ao Campo Pequeno.
Apareçam.
E, se possível, confirmem a vossa presença p.f.

O meu Olhar sobre o Festival de Beja 2025


Este ano foi particularmente especial para o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, pois aquele que é o segundo mais antigo evento dedicado à banda desenhada em Portugal chegou a um marco importante: o das 20 edições! Com 20 anos de existência, um número bastante redondo, o Festival de Beja é um dos mais consolidados eventos de banda desenhada em Portugal. Como tal, eu não podia deixar de estar presente!

E acho que a primeira nota de agradecimento tem que ir para o Paulo Monteiro. Bem sei que não é o Paulo Monteiro que faz o festival sozinho. Ele recebe ajuda de várias pessoas, sim. Mesmo assim, é o Paulo que "faz acontecer" e é claro que se não houvesse Paulo Monteiro, não haveria Festival de Beja. Ele é espírito e vida do Festival! E se festejamos os 20 anos do Festival de Beja, também devemos festejar os 20 anos de trabalho contínuo que Paulo Monteiro dedicou a este certame. É uma vida! E tudo com uma dedicação, uma generosidade, uma simpatia e uma educação que não me canso de enaltecer!

Estive na inauguração, na passada sexta-feira, e durante o sábado. Como habitual, saí de coração cheio!

Longe do frenesim comercial de maiores convenções e longe da superficialidade muitas vezes associada a eventos mais massificados, o Festival de Beja distingue-se precisamente pela intimidade, pelo calor humano e por uma autenticidade rara. Esta é uma celebração onde a paixão pela nona arte se sobrepõe ao ruído da indústria, onde o foco está nas pessoas, nas histórias e nas ligações humanas que se criam em torno dos livros. Não há nenhum outro evento como este em Portugal!

Até porque uma das características mais especiais do festival é a proximidade real e genuína que se vive entre autores, editores e público. Ao contrário de outros certames, onde os criadores estão muitas vezes distantes, confinados a bancadas comerciais ou enclausurados por horários rígidos, em Beja os autores passeiam pelo evento, sentam-se na esplanada, convivem na rua e almoçam e jantam lado a lado com leitores, como se fossem velhos conhecidos. Esta horizontalidade desconstrói a habitual distância entre artista e público, criando um ambiente de camaradagem que se torna o verdadeiro coração do festival.

Para muitos autores - sejam eles emergentes ou consagrados - o festival representa uma oportunidade de se sentirem parte de uma comunidade. Aqui não há vedetismo; há conversas. Não há pressa; há tempo. Tempo para discutir influências, para trocar livros, para brindar com um copo de vinho ou uma cerveja na mão. A cidade, com o seu ritmo tranquilo e a sua luz quente (muito quente!) acolhe o festival como um anfitrião orgulhoso, e isso faz toda a diferença!

As exposições desta 20ª edição eram muitas e variadas, acolhendo a obra de Achdé, Amanda Baeza, Ana Margarida Matos, "Cadáver Esquisito!", José Lopes, Luís Louro, Mana Neyestani, Montanha de Azeitonas, Paulo J. Mendes, Pierre-Henry Gomont, "Portugal em Bruxelas", Roberta Cirne, Rui Pimentel, "Tales Fromo Nevermore", Theo, Uli Oesterle e Victor Mesquita. Houve, portanto, uma boa dose de ecletismo nas exposições que se apresentaram bem cuidadas ao nível de originais e com um bom trabalho cénico.

Em termos de programação, outro dos pontos fortes foi a riqueza e diversidade da mesma. Não é um festival que se limite à BD portuguesa, pois também consegue atrair autores internacionais de peso, como David Rubín, Achdé, Pierre-Henry Gomont, Theo, Mana Neyestani ou Uli Oesterle, apresentando desta forma uma diversidade de estilos, linguagens e géneros muito distintos. É um evento plural, que valoriza tanto a vanguarda como o classicismo, tanto o underground como o mainstream. Há espaço para todos!

Uma nota positiva tem que ser dada à forma como o auditório (com capacidade para mais de 30 pessoas) está quase sempre apinhado de gente. Isso é ótimo para os autores e editores e não é uma coisa nada comum, como bem sabemos. Paco Cerrejón, responsável pelo Hispacómic - Festival de Banda Desenhada de Sevilha, que também teve uma apresentação, referiu isso mesmo: que é incrível como o auditório das apresentações está sempre muito cheio em Beja. Julgo que para isso contribuirá (mais uma vez!) o esforço pessoal de Paulo Monteiro que, utilizando o microfone, faz a chamada para a apresentação seguinte, bem como a forma assertiva com que as apresentações têm que acabar impreterivelmente à hora marcada, de forma a que a extensa programação não se atrase. Admito que, por vezes, gostaria que as apresentações não fossem tão diminutas em tempo... 15 minutos é pouco. Mesmo assim, também compreendo que é a forma encontrada pela Organização para assegurar que todos têm um pouco do tempo de agenda para apresentar os seus projetos.

Ainda sobre o facto do auditório estar sempre cheio, fiquei bastante surpreendido pela positiva ao verificar que na apresentação do meu livro Muitos Anos a Virar Páginas, que ocorreu às 10h45 da manhã de sábado, a sala estivesse completamente cheia, com várias pessoas de pé.

Uma coisa que apreciei também, foi que, na noite de sábado, as apresentações noturnas tivessem sido feitas no auditório exterior. Isto permite que as apresentações e debates possam ser ouvidas por muito mais gente, propiciando um ambiente descontraído e agradável para todos os envolvidos. Seguramente, é algo a manter em edições futuras!

Para além das apresentações e das exposições, também houve as habituais sessões de autógrafos, concertos desenhados e o mercado do livro que estava muito bem composto com muita e variada banda desenhada.

Voltando ao que mais gosto do Festival de Beja, tenho que referir que se há algo que toca verdadeiramente os visitantes deste certame é o espírito que ali reside. A atmosfera em Beja é leve, acolhedora, familiar. Os almoços e jantares entre autores, editores, leitores e amigos tornam-se muitas vezes os momentos mais memoráveis do evento. São nesses encontros informais que nascem colaborações, ideias e amizades duradouras. E é aqui que Beja se torna diferente de quase tudo o resto.

A organização, liderada por Paulo Monteiro, tem sabido manter este equilíbrio raro entre profissionalismo e paixão, entre curadoria cuidada e espírito comunitário. É um trabalho de amor - e isso sente-se em cada detalhe, desde os cartazes às escolhas dos autores convidados.

Concluindo, o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja é, acima de tudo, um lugar de encontro. De encontros improváveis, de reencontros com autores favoritos, de descobertas de talentos escondidos.  Uma autêntica concentração de amantes de BD. Da mesma forma que existe, em Faro, a Concentração de Motards, um pouco mais acima, em Beja, existe a Concentração de Bedéfilos. É um espaço onde a BD é celebrada com sinceridade, onde cada leitor é tratado com atenção e onde cada autor sente que faz parte de algo maior. E isso, nos dias que correm, é mais do que especial - é necessário!