Análise: Astérix na
Hispânia, de Goscinny e Uderzo
Uma primeira nota sobre a Coleção Integral Asterix
Salvat
Quando a Salvat anunciou
que iria editar a obra completa de Astérix em Português de Portugal, as reações
foram mistas. É verdade que Astérix é incontornável na banda desenhada mundial,
tendo, também, muito sucesso no nosso país; e também é um facto que uma edição
integral de qualquer série de bd, ainda para mais, sendo uma edição com boa
qualidade de impressão, é sempre bem-vinda e olhada com bons olhos por todos,
parece-me.
No entanto, há várias
questões e críticas que vi serem levantadas e com as quais corroboro. Primeiro:
será que é assim tão pertinente relançar uma série já tão batida nas lojas
portuguesas? Quantos portugueses – até mesmo os que não são, propriamente, fãs
de banda desenhada – não têm, pelo menos, um livro do Astérix em casa? Já no
artigo que fiz, relativamente às séries de banda desenhada que ficaram
esquecidas por parte das editoras portuguesas, apontei que há muitas séries que
poderiam receber a atenção das editoras e, quiçá, terem muito sucesso junto dos
leitores. E ver este Astérix a ser relançado acaba por me dar sentimentos
mistos e uma certa frustração, enquanto leitor de banda desenhada. Dir-me-ão -
com alguma razão, reconheço - que aqui o intuito da Salvat será agradar
justamente a esse público, que nem sempre compra bd. E é verdade que Astérix é
muito popular. Mas também é verdade que, justamente por essa razão, as pessoas
já não queiram/precisem de comprar esses livros porque já o fizeram. Se os
livros tivessem fora de circulação há muito, ainda compreenderia, mas, no caso
de Astérix, as lojas têm-nos, praticamente, todos. Faz-me lembrar aquelas
editoras de música que estão constantemente a lançar Greatest Hits de determinada banda de sucesso. Mas, às tantas, já
não há público para comprar esses Greatest
Hits porque toda a gente já tem aquelas mesmas músicas. Vejamos se não será
isso que acontecerá com Astérix.
Postas estas questões de
parte, devo, no entanto, dizer que há dois apelativos que considero muito bons
nesta coleção: em primeiríssimo lugar, os cadernos de extras que, cada um dos
livros, está a receber. Quer em Astérix
na Hispânia, quer em Astérix e
Latraviata – que também já li – estes extras são verdadeiramente interessantes
para o leitor. Acrescentam informação relevante a cada um dos livros, o que até
nos faz valorizar, ainda mais, o génio criativo de Goscinny e Uderzo. Enquanto
leitor, muitas vezes deparo-me com extras, que simplesmente não acrescentam
grande coisa à obra. Às vezes, chega até a parecer que a razão para determinado
extra estar presente numa obra é apenas para se poder dizer: “olha, tem extras”.
Aqui, não. Esta iniciativa merece, pois, uma vénia da minha parte. São extras
que, sem serem demasiado exaustivos são, no entanto, muito pertinentes e bem
desenvolvidos. Do melhor, em termos de extra de uma obra de banda desenhada,
que já li.
A juntar a isto, reconheço
que a gramagem do papel é de qualidade superior. São, portanto, álbuns bonitos,
com uma boa qualidade de edição e com a vantagem, clara, dos cadernos de
extras. Superam, pois, e em muito, os livros lançados pela Asa. No entanto – e desculpem
a minha teimosia – a questão mantém-se: os motivos para editar esta coleção serão
suficientemente fortes? Haverão muitas pessoas que comprarão a série só por
causa deste atrativo de terem interessantes dossiers
com extras? Da minha parte, comprei os dois primeiros livros – até porque eram
os que tinham o preço mais barato – mas não terei razões (suficientes) para
comprar os restantes livros. Para bem da coleção, espero que não hajam muitas
pessoas a fazer como eu – embora tema que sim.
Análise: Astérix na Hispânia
Sobre Astérix na
Hispânia, é uma história ao bom nível que Goscinny e Uderno nos habituaram.
Sendo, o 14º álbum da série, mostra-nos que a dupla criativa encontrava-se
nesta fase, a trabalhar a “velocidade cruzeiro”. A arte de Uderzo estava mais
que estabelecida e a forma de contar uma aventura, por parte de Goscinny, com
todas as suas referências históricas, crítica social e humor, tipicamente
francês, estavam sedimentados. E, portanto, foi bom para mim ler, novamente,
esta história que leva Astérix e os seus fiéis companheiros Obélix e Ideiafix
até à Península Ibérica.
Desta vez, a Hispânia é
finalmente conquistada por Roma, mas, como sempre, uma aldeia continua
resistente ao invasor. Júlio César consegue ainda assim raptar o filho do chefe
dessa aldeia resistente, que acaba por ser acidentalmente salvo por Astérix e
Companhia. Estes, decidem levá-lo de volta à sua Aldeia natal. E a história
acaba por assentar na viagem de regresso e nas várias peripécias que vão
acontecendo.
Em suma, um clássico para
qualquer leitor de banda desenhada. Tenha o leitor, 8 ou 80 anos.
NOTA FINAL (1/10):
7.2
-/-
Ficha Técnica
Astérix na Hispânia
Autores: Goscinny e
Uderzo
Editora: Salvat
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
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