terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Análise: Batman Maldito







Análise: Batman Maldito, de Brian Azzarello e Lee Bermejo

Falar deste Batman Maldito é-me difícil. Penso que este livro tinha tudo para ser uma daquelas histórias obrigatórias de Batman. Mas, infelizmente, não o consegue ser.

Muitas vezes começo por abordar a história de um livro e só depois faço referência à sua arte, em termos de desenho. Mas, neste caso, farei o oposto.

Pois, de facto, é-me quase impossível não começar por aquilo que é o melhor neste Batman Maldito: o seu soberbo desenho. Nem preciso de escrever muito sobre isto. Basta fazer scroll down e olhar para algumas das páginas que compõem este livro e perceber-se-á, facilmente, que Bermejo é um dos melhores ilustradores da atualidade. Especialmente ao nível dos comics. A capacidade de ilustrar na perfeição os corpos, as expressões faciais, as cenas de ação e os cenários roça a perfeição. A abordagem dada a certas vinhetas da sua obra, parece transpor-nos para os enquadramentos minuciosos dos filmes de Batman, numa mistura a fazer lembrar o melhor da estética que um casamento dos filmes de Chris Nolan com os de Tim Burton poderiam, quiçá, criar. O nível de detalhe chega a ser assustador, de tão bom e minucioso que é. Em cima disso, ainda há um trabalho de cor exemplar, que capta na perfeição aquela tónica noir e intensa de Gotham City. Se Batman, Joker e Companhia são personagens magistrais do ponto de vista estético e cuja ilustração pede uma atenção especial, também Gotham City é, por si mesma, uma "personagem" fulcral nos ambientes que servem as narrativas. O trabalho de luz e contraste de Lee Bermejo merece ainda nota máxima.

Se tudo estava a correr tão bem neste livro, o que é que falha?

Bem, a história começa com a premissa de que Joker morreu. Mas sem se saber se foi Batman quem o assassinou ou se foi uma outra força mais sinistra que o fez. E Batman parece não se lembrar do acontecimento em si e vai procurar respostas. Ora bem, este até me parece um bom começo. A própria possibilidade de colocar em análise as razões e os métodos de Batman, parece-me um ponto de partida interessante. Infelizmente, à medida que ia lendo este livro, o meu entusiasmo foi diminuindo.

Não sei pois se será uma falha em si ou se será um mero gosto pessoal mas, a verdade é que a narrativa deste Batman Maldito parece querer misturar muitas fórmulas e géneros mas que, acaba por se perder a si mesma e, por conseguinte, perder o leitor. Embora sejam levantadas muitas questões, parece-me que acabam por não ser dadas as devidas perguntas o que, no final, nos deixa uma sensação de história vazia. 
Fica a ideia de que foram disparadas perguntas meio aleatórias para as quais, não foram dadas ou devidamente procuradas, respostas aceitáveis. E não me digam que: "Ah, mas a ideia foi deixar o leitor a pensar". Porque se, de facto, foi isso, são perguntas que também não acarretam um grande grau de reflexão, pois acabam por ser superficiais. Não tenho nada contra histórias que navegam mais dentro de si mas aqui, parece-me que não havia necessidade de tornar a história tão confusa. Há elementos que me parecem estar na mesma só para a tornar mais complexa – leia-se confusa - mas que acabam por não contribuir para a criação de bons elementos. E a personagem de Constantine, é (mais) um exemplo disso.

Há também um cariz sobrenatural que é dado à história, que não me parece que funcione tão bem. Batman pode ser uma personagem distorcida, com traumas internos por resolver mas não é, nunca, uma personagem que assente em filosofias ou estados de espírito do cômputo sobrenatural. O facto da história avançar para universos paralelos e metafísicos acaba por ser uma má escolha.

Concluo dizendo que este está longe de ser um mau livro.
Considero-o bom. Contudo, parece-me uma oportunidade perdida pois sinto que com uma arte sublime como esta, merecia uma história menos enrolada em si mesma e, por ventura, mais compacta ou linear. Acredito que se Lee Bermejo tivesse ilustrado a obra O Regresso do Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, teríamos certamente o melhor livro de sempre do Batman. Se na obra de Frank Miller, a arte poderia ser melhor (mas isso são outros "quinhentos"), em Batman Maldito, a história poderia ser melhor.

Há bastante de bom, mas também há muito que poderia ser melhor.

NOTA FINAL (1/10):
6.8


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Ficha Técnica
Batman Maldito
Autores: Brian Azzarello e Lee Bermejo
Editora: Levoir
Páginas: 152, a cores
Encadernação: Capa dura

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