Análise: Batman Maldito, de Brian Azzarello e Lee Bermejo
Falar deste Batman Maldito é-me difícil. Penso que
este livro tinha tudo para ser uma daquelas histórias obrigatórias de Batman.
Mas, infelizmente, não o consegue ser.
Muitas vezes começo por abordar a história de um livro e só depois faço referência à sua arte, em termos de desenho. Mas, neste caso, farei o oposto.
Pois, de facto, é-me
quase impossível não começar por aquilo que é o melhor neste Batman Maldito: o seu soberbo desenho.
Nem preciso de escrever muito sobre isto. Basta fazer scroll down e olhar para algumas das páginas que compõem este livro
e perceber-se-á, facilmente, que Bermejo é um dos melhores ilustradores da
atualidade. Especialmente ao nível dos comics.
A capacidade de ilustrar na perfeição os corpos, as expressões faciais, as
cenas de ação e os cenários roça a perfeição. A abordagem dada a certas
vinhetas da sua obra, parece transpor-nos para os enquadramentos minuciosos dos
filmes de Batman, numa mistura a fazer lembrar o melhor da estética que um
casamento dos filmes de Chris Nolan com os de Tim Burton poderiam, quiçá,
criar. O nível de detalhe chega a ser assustador, de tão bom e minucioso que é.
Em cima disso, ainda há um trabalho de cor exemplar, que capta na perfeição
aquela tónica noir e intensa de Gotham
City. Se Batman, Joker e Companhia são personagens magistrais do ponto de vista
estético e cuja ilustração pede uma atenção especial, também Gotham City é, por
si mesma, uma "personagem" fulcral nos ambientes que servem as narrativas. O
trabalho de luz e contraste de Lee Bermejo merece ainda nota máxima.
Se tudo estava a
correr tão bem neste livro, o que é que falha?
Bem, a história
começa com a premissa de que Joker morreu. Mas sem se saber se foi Batman quem o
assassinou ou se foi uma outra força mais sinistra que o fez. E Batman parece
não se lembrar do acontecimento em si e vai procurar respostas. Ora bem, este
até me parece um bom começo. A própria possibilidade de colocar em análise as
razões e os métodos de Batman, parece-me um ponto de partida interessante.
Infelizmente, à medida que ia lendo este livro, o meu entusiasmo foi
diminuindo.
Não sei pois se será
uma falha em si ou se será um mero gosto pessoal mas, a verdade é que a
narrativa deste Batman Maldito parece querer misturar muitas fórmulas e géneros
mas que, acaba por se perder a si mesma e, por conseguinte, perder o leitor.
Embora sejam levantadas muitas questões, parece-me que acabam por não ser dadas
as devidas perguntas o que, no final, nos deixa uma sensação de história vazia.
Fica a ideia de que foram disparadas perguntas meio aleatórias para as quais, não foram
dadas ou devidamente procuradas, respostas aceitáveis. E não me digam que: "Ah, mas
a ideia foi deixar o leitor a pensar". Porque se, de facto, foi isso, são
perguntas que também não acarretam um grande grau de reflexão, pois acabam por
ser superficiais. Não tenho nada contra histórias que navegam mais dentro de si
mas aqui, parece-me que não havia necessidade de tornar a história tão confusa.
Há elementos que me parecem estar na mesma só para a tornar mais complexa –
leia-se confusa - mas que acabam por não contribuir para a criação de bons
elementos. E a personagem de Constantine, é (mais) um exemplo disso.
Há também um cariz
sobrenatural que é dado à história, que não me parece que funcione tão bem.
Batman pode ser uma personagem distorcida, com traumas internos por resolver
mas não é, nunca, uma personagem que assente em filosofias ou estados de espírito
do cômputo sobrenatural. O facto da história avançar para universos paralelos e
metafísicos acaba por ser uma má escolha.
Concluo dizendo que este
está longe de ser um mau livro.
Considero-o bom. Contudo, parece-me uma
oportunidade perdida pois sinto que com uma arte sublime como esta, merecia uma
história menos enrolada em si mesma e, por ventura, mais compacta ou linear.
Acredito que se Lee Bermejo tivesse ilustrado a obra O Regresso do Cavaleiro
das Trevas, de Frank Miller, teríamos certamente o melhor livro de sempre do
Batman. Se na obra de Frank Miller, a arte poderia ser melhor (mas isso são
outros "quinhentos"), em Batman Maldito, a história poderia ser melhor.
Há bastante de bom, mas também há muito que poderia ser melhor.
NOTA FINAL (1/10):
6.8
-/-
Ficha Técnica
Batman Maldito
Autores: Brian
Azzarello e Lee Bermejo
Editora: Levoir
Páginas: 152, a cores
Encadernação: Capa
dura
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