A série Bruno Brazil é uma série de culto para muitos fãs de banda desenhada. Tendo sido originalmente lançada por Greg e Vance, ainda no final da década de 1960, conquistou muitos admiradores entre os anos 70 e 80. E, em 2019, a editora francesa Le Lombard anunciou o regresso d' As Novas Aventuras de Bruno Brazil, pelas mãos de Laurent-Frédéric Bollée e Philippe Aymond. Desta nova incursão surgiu o primeiro álbum, Black Program, que já aqui foi analisado.
Neste segundo tomo desta aventura, voltamos a seguir as pegadas de Bruno Brazil, que procura, a todo o custo, descobrir quem foi o responsável pelo assassinato do maior inimigo de sempre de Bruno, bem como localizar o operacional da NASA que ficou desaparecido, e que relação terá tido, tudo isto, com a estranha fuga da sensual Rebelle da prisão. A Brigada Caimão, mesmo que privada de alguns elementos do passado, que entretanto pereceram, conta também com Whip, Nómada e Gaúcho. Quanto à ação, esta irá levar os nossos heróis a cenários de outras aventuras passadas, o que poderá ser um aperitivo para os fãs da série.
Em termos de ilustração, destaca-se uma arte bastante fiel à de Vance, tentando prestar um tributo à sua linha e grafismo, sem espaço para grandes (re)interpretações de estilo. O que será, para muitos, uma garantia de continuidade com as aventuras passadas de Bruno Brazil. E, se em Black Program Vol. 1 isso foi bem conseguido, neste segundo tomo, o trabalho de Aymond mantém-se na mesma linha. O autor cumpre muitíssimo bem as suas funções de ilustração. Há uma dinâmica e diversidade interessante nos vários tipos de desenho praticados, seja com o recurso a cenários que nos colocam na selva brasileira – muito bem ilustrada -, seja nos cenários mais dignos de um filme de ficção científica dos anos 70. Por vezes, pareceu-me, no entanto, que Aymond ficou um pouco abaixo em termos de resultado final, quando comparado com o seu trabalho no volume anterior. E digo isto com base em algumas cenas de ação, que me pareceram parcamente detalhadas e menos inspiradas e/ou feitas mais “à pressa”, com o autor a arriscar menos. Em termos de dinâmica de planificação das pranchas, este também é um álbum que arrisca ainda menos do que Black Program Vol. 1. E note-se que, já no volume anterior, não tinha sido um autor que arriscasse muito. Mesmo assim, não creio que seja por aqui, pelo campo dos desenhos, que este volume fique (muito) aquém do seu antecessor.
Ao invés, parece-me que é no argumento que este segundo volume consegue ser menos dinâmico em relação aos pressupostos e boas ideias levantadas no primeiro tomo. Julgo igualmente que o argumentista, Bollée, poderia ter sido mais bem sucedido se tivesse dedicado mais tempo (e vinhetas) ao desenvolvimento mais detalhado e profundo das personagens. Por exemplo, o clima de problemas familiares que envolve Bruno ou a perda de Billy são assuntos muito pobremente abordados neste segundo volume. Compreendo também que se procure aqueles plot twists rápidos e inesperados, ao jeito dos filmes de ação, mas, por vezes, pareceu-me que estas mudanças no enredo eram um pouco forçadas e sem grande fundamento. O argumento acaba por se assumir algo over the top, como diriam os ingleses. Bem sei que essa é uma característica algo presente nos números antigos da série. Mas, hoje em dia, acaba por me parecer datada esta forma de abordar o argumento.
Logicamente, como disse na análise ao volume 1, continuo a achar que esta é uma série mais recomendada a um público mais velho e nostálgico, do que propriamente a um público com idade inferior a 35/40 anos. Além de que o tema das aventuras espaciais, tão utilizado durante os anos da Guerra Fria, é hoje em dia algo que até já soa kitsch e fora de sítio. Mas isso não invalida que a homenagem, envolta num trabalho de continuação, das Novas Aventuras de Bruno Brazil não seja interessante e levada a bom porto por Aymond e Bollée. E, se as vendas compensarem, creio que veremos muitas mais aventuras desta série.
E, nesse sentido, convém aliás relembrar ainda que, embora este segundo volume feche a história de Black Program, a verdade é que são tantas as coisas que ficam em aberto – mais do que aquelas que ficam fechadas, até – que novos livros deverão ser lançados com o propósito de responder às questões que ficaram por responder. Mesmo que não se chame Black Program 3, o próximo livro certamente continuará a história que aqui foi levantada.
Quanto à edição da Gradiva, temos um trabalho impecável. Neste segundo volume, aquele problema dos N's invertidos e dos I's serifados do primeiro volume foram corrigidos e o restante trabalho da edição, ao nível da encadernação, da qualidade da capa e do papel, mantém-se bem conseguido. É notável também que, mesmo num ano ensombrado pela pandemia, a Gradiva tenha sido bastante célere entre o lançamento do primeiro e do segundo tomos. Apenas se passaram alguns meses entre os dois volumes, não ficando os leitores em standby durante muito tempo.
Em conclusão, devo reiterar que o segundo volume ficou um pouco aquém das minhas expetativas, tendo em conta que o primeiro tomo levantou de forma (mais) coesa o véu para as novas aventuras deste herói esquecido e há muito reclamado pelos fãs da série. Quer na continuação do argumento, quer no desenho, ambos os autores me parecem menos inspirados e com menos fulgor neste segundo tomo. Ainda assim, é um livro que se lê bem e que, estou certo, fará as delícias dos fãs de Bruno Brazil.
NOTA FINAL (1/10):
7.7
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Bruno Brazil - Black Program - Vol. 2
Autores: Laurent-Frédéric Bollée e Philippe Aymond
Editora: Gradiva
Páginas: 60, a cores
Lançamento: Novembro de 2020