Alix Senator #3 e #4 - A Conjura das Rapaces e Os Demónios de Esparta, de Valérie Mangin e Thierry Démarez
Hoje trago-vos a análise não a um, mas sim a dois volumes da série
Alix Senator que a
Gradiva tem vindo a publicar a excelente ritmo. Neste dia em que vos escrevo estas linhas, já se encontram em livraria os tomos 5 e 6,
O Uivo de Cibele e
A Montanha dos Mortos que, futuramente, lerei e analisarei, igualmente.
Por agora, centremo-nos nos tomos 3 e 4, respetivamente A Conjura das Rapaces e Os Demónios de Esparta. E tão diferentes eles são! Se depois de dois tomos apetecíveis e interessantes, mas que, de alguma forma, não encantavam em termos de história, o terceiro tomo eleva, finalmente, o argumento a um patamar superior. Aliás, bastante superior em relação aos outros três tomos da série que, até agora, já pude ler. Sim porque, infelizmente, o tomo 4, Os Demónios de Esparta, traz-nos um argumento bem menos conseguido.
Olhemos, então, primeiramente para as ilustrações. Em ambos os livros o trabalho de desenho, que nos é dado por Thierry Démarez é bastante bem conseguido, através do seu traço de cariz realista. Posso dizer que o desenho se tem mantido fiel durante estes quatro tomos e, portanto, quem já leu os dois primeiros tomos de
Alix Senator e gostou, não ficará certamente desiludido com aquilo que Démarez nos oferece nestes tomos 3 e 4.
Assim, e como já escrevi anteriormente, “a arte de Thierry Démarez é servida por um traço realista que, diferindo um pouco do traço em linha clara da série original criada por Jacques Martin, acaba por funcionar bastante bem ao longo da história. Com um estilo que aparenta ser clássico na conceção – embora também se sirva de algumas ferramentas modernas digitais - também aqui fui remetido para Murena, de Delaby. Os cenários são muito bem representados e com um cuidado aprumado em relação ao nível de detalhe dos desenhos. Também em termos de personagens, gostei bastante das ilustrações do autor, com caras realistas e com expressões verossímeis na maior parte das vezes. Também é verdade que, em alguns casos. se sentem as personagens e seus demais gestos algo estáticos. Mas não é algo que, a meu ver, seja muito limitador da qualidade do desenho que, genericamente falando, é o que de melhor este Alix Senator tem para oferecer.”
Acrescento ainda que, em termos de cores, o autor nos dá um belo trabalho, onde as cenas mais escuras, com belos azuis escuros e amarelos oriundos da luz das tochas e fogueiras, nos oferecem belos contrastes e ambientes. Nota ainda para a introdução de algumas vinhetas de cariz mais bélico, com cenas de ação com inúmeros soldados que, não sendo perfeitas, dão alguma variedade àquilo que o autor nos pode dar em termos gráficos.
Fazendo, também, uma pequena menção às capas, torna-se por demais evidente que a capa de A Conjura das Rapaces é muito bonita e muito bem conseguida pelo autor. Sugestiva, original, e com um excelente desenho. O mesmo não direi acerca do volume quatro que, não tendo uma capa má, revela, ainda assim, alguma desinspiração do autor, pois parece que já vimos milhentas vezes esta mesma capa em muitos outros livros ou filmes.
Mas é, pois, no argumento, que estes A Conjura das Rapaces e Os Demónios de Esparta mais diferem entre si. Em A Conjura das Rapaces, devo dizer que fiquei agradavelmente surpreendido com a forma como Valérie Mangin montou uma boa trama, num belo ambiente de conspiração, que muitas vezes me fez franzir o sobreolho perante certas decisões que o protagonista, Alix Senator, toma ao longo da história. Essa, coloca-nos em Roma, no ano 12 a.C.
Recém-regressado do Egipto, devido aos acontecimentos que sucederam no tomo anterior,
O Último Faraó, Alix vê-se obrigado a afrontar a corte imperial. E o Imperador Augusto reage mal ao facto de Alix ter poupado Enak que em tempos o havia traído em favor de Cleópatra. O protagonista vê-se assim no centro de um conflito entre o Imperador e a misteriosa Conjura das Rapaces, bem como com Khephren, aquele que sempre tratou como um filho e que agora o parece renegar. Em termos de argumento, é claramente o melhor da série até agora. Gostei bastante.
E foi talvez até por ter gostado bastante que, de alguma forma, acabei por ficar algo desiludido com o tomo 4. É que o tomo 3 habituou-me mal. Estava à espera de algo na mesma bitola de qualidade do álbum anterior, mas, infelizmente, Os Demónios de Esparta fica uns furos abaixo.
A história deste quarto volume conta-nos que o enviado romano encarregado de trazer os livros sibilinos da Grécia é brutalmente assassinado e tudo parece apontar para os ferozes guerreiros de Esparta. Mas o que há de tão especial nesses misteriosos livros, que levam a que Alix tenha que pegar em armas e ajudar a comandar exércitos num volume que é muito mais bélico do que os restantes, até agora? Neste caso concreto não me parece que a trama esteja tão bem articulada em si mesma e são várias as pontas soltas que o livro deixa a pairar no ar. É um livro que se "lê bem", ainda assim, mas que volta a baixar a chama qualitativa em relação ao volume número três.
Aproveito para desfazer uma informação que tenho vista difundida por alguns artigos e
blogs na
internet: os primeiros três tomos não representam um arco da história. Bem, pelo menos, até me dei ao trabalho de investigar sobre tal informação e nunca vi isso escrito em lado nenhum. Parece-me que foi algo que se foi propagando mas que não está certo. A história do terceiro volume não fecha nada em termos de história. Fecha-se a si mesma, apenas. Coisa que é apanágio nesta série. Ou seja, cada volume tem uma história fechada em si mesma, que é fácil de ler embora haja, claro, uma noção de continuidade ao longo da série. Portanto, se no final do livro dois há uma "janela" que se deixa aberta para o volume 3, a verdade é que acontece exatamente a mesma coisa do terceiro para o quarto volume. E deste para o quinto e por aí diante.
A edição da Gradiva mantém-se em boa qualidade: capa dura, bom papel, boa encadernação e boa impressão. No quarto volume há o acréscimo de um pequeno prefácio da autoria de Numa Sadoul, uma individualidade que privou com Jacques Martin e em quem uma das personagens de Os Demónios de Esparta se baseia, visualmente falando.
Em suma, deixem-me dizer-vos que se há um livro que eu possa recomendar para aqueles que ainda não deram uma hipótese a esta série, esse livro é, sem dúvida, o tomo 3, A Conjura das Rapaces. Mesmo sem ser perfeito ou inolvidável, representa o melhor que a série nos deu até ao quarto tomo. Já este, fica alguns furos abaixo em termos de história. Mesmo assim, devo dizer que esta é uma série que se tem vindo a entranhar mais nos meus gostos.
NOTAS FINAIS (1/10):
Alix Senator #3 – A Conjura das Rapaces: 8.6
Alix Senator #4 – Os Demónios de Esparta: 7.2
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Alix Senator #3 – A Conjura das Rapaces
Autores: Valérie Mangin e Thierry Démarez
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2022
Alix Senator #4 – Os Demónios de EspartaAutores: Valérie Mangin e Thierry Démarez
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Maio de 2022
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Mais abaixo, deixo o convite para a leitura das análises já feitas pelo Vinheta 2020 aos restantes álbuns anteriores da série: