Presumivelmente - mas não só - devido à crise e incerteza que a pandemia covid-19 trouxe ao mercado de banda desenhada, a editora Devir demorou mais do que dois anos a publicar o quarto volume da série Lazarus, de Greg Rucka e Michael Lark. E, se é verdade que todos nós, leitores de banda desenhada, gostamos que as séries vão sendo publicadas de forma assídua e a uma boa cadência, acho que, não obstante, é louvável que a Devir não tenha deixado esta série órfã. Passou bastante tempo, sim, mas a editora não esqueceu os fãs da série e voltou ao lançamento da mesma, através deste quarto volume. E que bom isso é!
Esta é uma série onde Greg Rucka nos oferece um universo vagamente futurista, onde o mundo aparece dividido por fronteiras económicas, em detrimento das fronteiras políticas ou geográficas que conhecemos nos dias de hoje. Como tal, esse controlo económico do planeta é assegurado por um punhado de relevantes famílias, polarizando posições e aumentando o constante grau de conflito que paira no planeta. Todas estas famílias têm um “Lazarus” que consiste, basicamente num “super-soldado” geneticamente modificado. No caso da família Carlyle, a sua Lazarus é Forever Carlyle.
Nesse quarto volume vemo-la a ser enviada para Duluth, com o objetivo de impedir que a cidade seja conquistada por Hock, pertencente a uma família rival dos Carlyle. Mas Forever Carlyle, a protagonista, terá que encetar a sua luta munida apenas com uma pequena força de apenas quatro soldados no território inimigo. Parece uma missão impossível, não?
Ainda por cima, Forever Carlyle parece ter motivações pessoais que a levam a iniciar uma revolta e a deixar de responder àquilo que lhe é pedido pelos seus superiores. E embora Forever pareça ser imortal – pois sempre regressa à vida – os desafios estão a ficar cada vez maiores.
Se a vertente bélica e de ação da história montada por Rucka é bastante interessante, pareceu-me que há depois toda uma envolvente política que é um pouco forçada em variados momentos do livro, com o aparente e único motivo de tornar a leitura mais densa. Não há mal nenhum nisso – o de acrescentar camadas de interpretação e de bastidores político-estratégicos à trama principal, entenda-se – mas parece-me que Rucka abusa um pouco disso. Que enrola um pouco o "blablabla", diga-se por outras palavras. Dei por mim, muitas vezes, a desejar que a parte de diálogos avançasse rapidamente para poder acompanhar a carismática e bem conseguida personagem central da trama. É isso que torna a série Lazarus apelativo!
Por tudo isto, aviso que aqueles que não leram os anteriores volumes poderão sentir-se um pouco perdidos se se iniciarem na série com a leitura deste volume. E mesmo àqueles que, como eu, já conheciam a série, apelo para que a releiam novamente para apanharem tudo. Afinal de contas, passou muito tempo entre o lançamento do terceiro álbum e este quarto volume.
Em termos visuais, também a minha opinião converge com aquilo que senti no argumento. Isto é, as partes mais lentas e de maior diálogo e trama familiar, não só são as mais maçadoras em termos de história, como também o são em termos de ilustrações. E não é que Michael Lark as desenhe mal. Mas simplesmente parecem ser desenhos menos inspirados e com uma representação cénica de interiores mais pobre.
Onde Lazarus mais impressiona visualmente é mesmo quando estamos perante momentos de ação. As representações da guerra e combates viscerais, sangrentos e muito gory estão desenhadas de uma forma que impressiona. O trabalho de Michael Lark também é muito bom ao nível da caracterização das expressões faciais que, através de uma ótima utilização das sombras, bem como de alguns elementos como a neve ou o sangue que espirra nos combates, consegue pontuar os desenhos com um maior nível de detalhe, que os torna mais reais e, também, mais apelativos à vista.
Mas para que os desenhos de Lark se destaquem, também contribuem – e muito – as belas cores de Santi Arcas, que consegue oferecer ao todo as cores adequadas para cada cena.
Embora, no final, se sinta um resultado bastante digital, quer nas ilustrações de Lark, quer no processo de colorização de Arcas, considero que, usadas desta forma, as ferramentas digitais conseguem ser muito positivas. Lazarus é bastante apelativa em termos visuais.
A edição da Devir é em capa mole, com bom papel brilhante e boa encadernação e impressão. Considero que este livro talvez merecesse capa dura, de forma a ficar mais robusto, mas, tendo em conta os números anteriores também editados em capa mole, esperava-se, naturalmente, que a capa continuasse a ser mole. Nota positiva para os materiais de bónus que aparecem no fim do livro e que consistem na ilustração de uma capa adicional e uma ilustração dupla. Menos positiva é o trabalho de legendagem, ao nível da font utilizada, para as legendas em voz off que acabam por ficar praticamente ilegíveis. Há muito tempo que eu não encontrava um estilo de letra tão difícil de ler. Valha-nos que, em termos de balões de diálogo, que são mais frequentes do que as legendas em voz off, isto não aconteça e a leitura não seja prejudicada.
Em suma, é bom ver que a Devir manteve o seu compromisso com os leitores de Lazarus e que voltou à publicação da série. Sendo, por vezes, e quanto a mim, uma série desnecessariamente complexa em termos políticos, tem uma bela vertente de ação apressada e violenta que nos deixa em suspense para aquilo que a próxima página – ou livro – nos trará a seguir. E, por esse motivo, acaba por ser algo viciante.
NOTA FINAL (1/10):
7.8
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Lazarus #04 - Veneno
Autores: Greg Rucka e Michael Lark
Editora: Devir
Páginas: 146, a cores
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Outubro de 2022
Essa serie tem bem mais que 6 volumes nem a fase 1 acabaram ainda,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
ResponderEliminarMas para lá caminham. Interessa é ir avançando e não estagnar.
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