Ainda só vamos na terceira edição do LouriBD – Festival de Banda Desenhada da Lourinhã e já me parece ser justo dizer que o evento se está a tornar como uma referência para o universo de fãs portugueses de banda desenhada.
Realizado entre os dias 17 e 23 de março de 2025, com organização da Câmara Municipal da Lourinhã, em parceria com a editora Escorpião Azul e com o apoio da rádio Antena 1, o festival reafirmou o seu compromisso de tornar a banda desenhada acessível a toda a comunidade.
Não é um evento grande, convenhamos. Com as suas principais atividades a decorrerem no Centro Cultural Dr. Afonso Rodrigues Pereira também não poderá - pelo menos nesse mesmo espaço - almejar ser um evento muito maior em dimensão. Não obstante, poderá sê-lo em relevância. Especialmente se, daqui para a frente, a aposta num programa de qualidade, e não tanto de quantidade, continue a estar presente. Como esteve nesta última edição.
Este ano houve um decréscimo no número de apresentações e debates, mas houve um aumento qualitativo no programa, especialmente com a introdução dos dois debates denominados "Estados Gerais da Banda Desenhada", onde um conjunto de vários membros ativos nas mais variadas ramificações da banda desenhada em Portugal teve a oportunidade para falar um pouco sobre o setor. Pude participar num destes debates e posso dizer-vos que não só os intervenientes trouxeram temas muito pertinentes para a conversa, como foram ocasiões onde o auditório do Centro Cultural - que não é especialmente pequeno - esteve muito bem composto. É um bom sinal.
Se pensarmos noutros eventos de banda desenhada que são maiores em dimensão, como o Amadora BD, o Festival de Beja ou o Maia BD, parece-me que, à terceira edição do LouriBD, está encontrado um possível caminho de diferenciação para este certame: o de procurar ser um espaço de debate mais aprofundado entre as individualidades do meio. Os festivais de maior dimensão costumam ter uma agenda mais cheia, sim, mas com apresentações mais rápidas que, sendo adequadas para um público menos conhecedor de banda desenhada, são mais gerais e menos aprofundadas. O programa do LouriBD apresentou debates que foram isso mesmo: mais profundos.
O que não deixa de ser curioso, se tivermos em conta que o tema do próprio festival para esta terceira edição era "As Profundezas", que serviu de fio condutor para as diversas atividades, explorando a profundidade na criação artística, no território, no mar e no ser humano.
Para além da já mencionada agenda mais compacta, existiram outros pontos altos.
Em primeiro lugar, a presença do espanhol Miguel Ángel Martin, confere, por si só, o estatuto de evento internacional ao certame. O que é positivo, claro está e que deve ser um esforço anual da Organização. Além disso, houve a expectável presença de autores nacionais, como Paulo J. Mendes, Hugo Teixeira, Derradé, Susa Monteiro, Inês Fetchónaz, Xico Santos, Paulo Monteiro, João Amaral, Filipe Duarte, entre outros.
A obra Homem de Neandertal, do luso-brasileiro André Diniz, também teve direito a apresentação especial, já que foi o lançamento que a editora Escorpião Azul reservou para o evento.
De resto, a exposição que incluía algumas das pranchas originais de obras publicadas - ou a publicar - pela Escorpião Azul, foi outro dos destaques. Mais uma vez, não é um exposição grande, mas é uma exposição interessante.
O mercado de banda desenhada cresceu um pouco este ano, incluindo uma oferta interessante de obras de editoras independentes, da Escorpião Azul, da Ala dos Livros e algumas excelentes edições espanholas vendidas pela livraria Cult. Sendo uma seleção boa de banda desenhada, gostaria que futuramente pudessem ser incluídas outras obras relevantes de outras editoras portuguesas, embora também compreenda que não há muito espaço para mais.
A inclusão de uma exposição especial com marionetas da companhia de teatro A Bolha acrescentou uma dimensão extra ao festival, evidenciando a interseção entre diferentes formas de expressão artística.
E também a estreia do filme O Velho e a Espada, do realizador Fábio Powers, complementou a programação, evidenciando a relação entre a banda desenhada e outras formas de narrativa visual. Até porque foi referido que a história do filme será continuada/explanada em banda desenhada.
A manutenção de Rui Alves de Sousa, da Antena 1, como host do evento, apresentando os vários debates, continua uma aposta ganha por parte da Organização. O Rui é alguém com o à vontade, a boa disposição, a simpatia e o conhecimento certos para levar a bom porto o evento. Espero, portanto, que se possa manter nesta função que desempenha tão bem.
Por último, tenho que mencionar o saudável ambiente de camaradagem que se vive no LouriBD - que me lembra em muito aquilo que é vivido em Beja - em que autores, editores e leitores convivem abertamente, de forma descomprometida e casual, e que gostaria que se mantivesse em edições futuras. As simpáticas pessoas da Organização também ajudam a que o ambiente seja muito positivo e leve.
Que venham mais edições do LouriBD e que se continue a apostar numa programação compacta, mas aprofundada.
NOTA: As fotografias utilizadas neste artigo são da autoria e propriedade da Organização.
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