quinta-feira, 17 de abril de 2025

Análise: Intriga em Bagdade

Intriga em Bagdade, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor

Intriga em Bagdade, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor
Intriga em Bagdade, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon

O primeiro livro editado pela Arte de Autor neste ano de 2025 foi este Intriga em Bagdade que é parte intrigante daquela que é a maior coleção - em número - da editora portuguesa - a Coleção Agatha Christie - somando mais de uma dezena de livros até à data. E não deverá ficar-se por aí, visto que a série tem tido continuação em França.

Desta vez, não temos uma história dedicada a Hércule Poirot, o célebre investigador, mas antes uma intriga policial complexa que, quanto a mim, envelheceu muito bem, pois embora pudesse perfeitamente ser uma história policial feita no mês passado para o cinema, a verdade é que a história original de Agatha Christie foi originalmente publicada há mais de 70 anos, o que revela bem o cariz inovador, sem precedentes, do trabalho da célebre autora britânica.

Intriga em Bagdade, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor
Intriga em Bagdade
, dividido em dois álbuns, e que a Arte de Autor - e bem - publica num só volume, numa edição integral, é assinado pelo argumentista Frédéric Brémaud e pelo ilustrador Alberto Zanon que constituem a minha dupla favorita de autores desta coleção, sendo também responsáveis pelos livros Drama em Três Actos, Os Crimes do ABC e O Crime no Campo de Golf

A história centra-se na personagem de Victoria Jones, uma carismática jovem impulsiva e cheia de imaginação que, após ser despedida do seu emprego em Londres, decide viajar para Bagdade para reencontrar um homem por quem se apaixonou recentemente. No entanto, ao chegar à cidade, Victoria vê-se inesperadamente envolvida numa complexa conspiração internacional, quando um agente secreto morre no seu quarto de hotel, deixando-lhe uma desconcertante mensagem. À medida que tenta desvendar o mistério, Victoria acaba por se infiltrar num perigoso jogo de espionagem, onde interesses políticos e económicos se cruzam, tornando a sua simples aventura romântica numa corrida contra o tempo para impedir um atentado à paz mundial.

Intriga em Bagdade, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor
A narrativa deste Intriga em Bagdade transporta-nos para um cenário exótico e misterioso, onde várias personagens, aparentemente desconectadas, se cruzam no seio de uma teia de acontecimentos marcada pela intriga política, interesses económicos e motivações pessoais. É uma história que vai crescendo em complexidade à medida que se revelam as ligações entre as diversas tramas paralelas.

A escolha de adaptar esta história para banda desenhada em dois volumes, em vez de o fazer apenas num só livro, revela-se particularmente acertada, uma vez que estamos perante uma intriga densa, com múltiplos fios condutores e várias personagens que exigem espaço para se desenvolverem. Por isso, um único livro com as habituais 64 páginas dificilmente teria conseguido dar conta dessa ambição narrativa sem comprometer a clareza e o ritmo da leitura. Consequentemente, ao permitir que a trama se desdobre com algum espaço, os autores conseguiram ser mais fiéis à obra original e, também, criar um envolvimento mais eficaz com o leitor.

Intriga em Bagdade, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor
Cada uma das linhas narrativas que vamos acompanhando possui um tom e uma direção próprios, o que ajuda a manter o interesse ao longo da leitura. Esta construção complexa faz com que o leitor esteja constantemente a tentar montar o puzzle narrativo, o que confere ao álbum um certo carácter interativo.

Não obstante, e apesar da boa opção de se dar mais páginas a esta adaptação, é inevitável mencionar que a obra teria ganhado ainda mais força se tivesse sido um pouco mais extensa. Se em vez das 96 páginas, tivéssemos 128, por exemplo - o que seria o dobro do que habitual encontramos num só volume desta coleção. Digo isto porque há momentos em que sentimos que algumas personagens poderiam beneficiar de maior desenvolvimento e que certos arcos narrativos são resolvidos com demasiada rapidez. Essa limitação de espaço obriga a uma concentração de informação em algumas vinhetas, com balões algo carregados de texto, o que por vezes dificulta o fluxo da leitura. Embora a informação seja pertinente e a escrita de Brémaud eficaz, a sua densidade em certos momentos prejudica o impacto visual das pranchas.

Intriga em Bagdade, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor
Porém, esse desequilíbrio pontual é largamente compensado pelo belo trabalho gráfico de Alberto Zanon. O seu traço semi-realista confere um charme muito próprio às personagens e ao universo representado. A expressividade dos rostos e a linguagem corporal ajudam imenso a transmitir emoções e intenções, enriquecendo a leitura e dando vida à história para além das palavras.

As cores desempenham também um papel fundamental na construção do ambiente. Há uma paleta cromática quente e contrastada que evoca o calor e a tensão da cidade de Bagdade, conferindo coerência visual ao conjunto e acentuando os diferentes estados de espírito das cenas. 

A planificação das pranchas é outro dos elementos bem conseguidos. Longe de se limitar a uma grelha convencional, a obra aposta numa montagem variada, com vinhetas de diferentes tamanhos e formatos, o que contribui para um ritmo dinâmico e cinematográfico. 

A direção artística e a composição gráfica de Zanon demonstram, pois, um grande cuidado na construção da narrativa visual, tornando a experiência da leitura não apenas envolvente, mas também esteticamente gratificante.

Em termos de edição, o livro apresenta capa dura brilhante, com bom papel baço no interior. O trabalho de encadernação e impressão também é meritório. E, mais uma vez, sublinho a pertinência da opção da Arte de Autor em publicar a obra num volume integral que reúne os dois álbuns originalmente lançados.

Em suma, Intriga em Bagdade é um díptico ambicioso e bem conseguido, que se destaca pela sua complexidade narrativa, pelo apuro visual e pela boa gestão do suspense. Apesar de alguns desequilíbrios no ritmo e da sensação de que mais páginas teriam beneficiado a história, trata-se de uma adaptação bastante feliz ao formato da banda desenhada. O talento de Brémaud e Zanon é evidente, e juntos criam uma obra que merece ser lida.


NOTA FINAL (1/10):
8.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Intriga em Bagdade, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor

Ficha técnica
Intriga em Bagdade - Edição Integral
Autores: Frédéric Brémaud e Alberto Zanon
Adaptado a partir da obra original de: Agatha Christie
Editora: Arte de Autor
Páginas: 96, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
Laançamento: Fevereiro de 2025

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