De facto, o Coimbra BD confirmou aquilo que já se vinha notando nas edições anteriores: é hoje um dos eventos de banda desenhada mais consistentes e carismáticos de Portugal. A cada ano, o festival cresce em qualidade e ambição, atraindo não só os aficionados de BD, como também novos públicos interessados na diversidade de atividades que o evento oferece.
Esta edição demonstrou que o Coimbra BD pode muito bem tornar-se num dos mais importantes eventos de banda desenhada em Portugal. Se já não o for. Acredito que o seja.
Desde logo, porque tem o melhor espaço possível de TODOS os eventos em Portugal. O Convento de São Francisco é um espaço bem central - situado ao lado do Portugal dos Pequenitos - com boas áreas, boas e modernas instalações, parque de estacionamento gratuito, boas casas de banho, boa sinalética, bom espaço para auditórios, bom espaço para a área comercial. Enfim, é um evento que, em termos de infraestruturas, tem a dignidade que merece. Se há alguma coisa negativa que se pode apontar ao espaço - e não é bem algo "negativo", mas algo que funciona como oportunidade futura, digamos - é que o Convento de São Francisco talvez até seja grande de mais para o evento que, por agora, alberga. Mas, lá está, se o Coimbra BD continuar a crescer, mais do que um defeito, isto é uma qualidade, uma oportunidade.
O crescimento do evento nos últimos anos é evidente e também se nota na presença de autores internacionais, o que eleva o nível do festival e abre portas para novas parcerias e intercâmbios culturais. Este ano, o Coimbra BD contou com a presença de Arno Monin (co-autor de A Adopção), Gigi Cavenago (autor de Batman/Dylan Dog - A Sombra do Morcego) e Eddy Barrows (ilustrador brasileiro da DC Comics). A vinda a Coimbra de autores internacionais acrescenta a valência de "evento internacional" ao Coimbra BD o que, naturalmente, e a continuar deste modo, permitirá que o mesmo consiga ser mais relevante e captar mais público.
Nesta edição de 2025, houve um salto qualitativo na secção de exposições. Os temas foram variados, bem organizados e, sobretudo, bem apresentados. A Organização decidiu colocar no piso superior umas divisórias/paredes que permitiam que a exposição fosse mais bem "arrumada" e que os visitantes melhor pudessem circular entre os trabalhos expostos. É verdade que, no primeiro dia, dei conta de várias molduras que se desprendiam e caíam, mas no final do dia vi os funcionários da Organização a corrigir o problema. Penso que houve aqui um salto qualitativo do ano passado para este ano. Nota ainda, bastante positiva, para uma maior presença de originais expostos, o que é sempre algo que valoriza as exposições, pois permite que os visitantes compreendam melhor o valor artístico e histórico das peças, elevando a experiência geral do evento.
Uma coisa que me parece bastante bem-vinda é o aumento da área Artists Alley que este ano contou com bastantes mais artistas. E o facto desta área ser o prolongamento físico da zona onde se encontram as lojas de banda desenhada, faz com que se crie uma verdadeira ponte entre as duas áreas. E acho que isso tem bastante valor, pois só com estas pontes a banda desenhada pode almejar ir buscar público a outras frentes. É bom que exista uma sala dedicada ao gaming, uma ampla sala dedicada à cultura pop, ou um espaço dedicado aos jogos de tabuleiro, pois o conjunto de todas essas atividades permite que o evento arraste mais público e, com isso, ganhe nome e relevância viral. Mas, lá está, o que se assiste é que esses subgéneros trazem o seu próprio público que, depois, interage pouco ou nada com aquilo que diz respeito à banda desenhada, seja exposições, apresentações ou mercado de BD. E é justamente por esse motivo que bem-digo o crescimento e a junção da área Artists Alley à zona comercial de banda desenhada. É uma autêntica ponte entre dois universos e dou os parabéns à organização por tal.
No entanto, e apesar da minha indisfarçável satisfação perante este evento - e, também, perante as pessoas da Organização do Coimbra BD que estão claramente comprometidas em melhorar o evento de edição para edição, sempre com um trato afável e educado - o Coimbra BD ainda tem margem para consolidar melhor a sua programação e potenciar ainda mais a adesão do público.
Com efeito, considero que a área de apresentações e palestras ainda precisa de ser revista com atenção. E não me entendam mal com esta afirmação. O que não falta no Convento de São Francisco são boas salas para apresentações. Mas o "problema" é mesmo esse: ao haver três salas de apresentações, faz com que as mesmas se apresentem de forma mais dispersa e sejam mais difíceis de acompanhar por parte dos visitantes. Confesso não compreender o porquê de tal escolha, uma vez que nem sequer se verifica que as salas estejam a ser usadas ao mesmo tempo. Resultado: o evento até pode estar cheio de gente - como, felizmente, estava - mas as salas vão estar às moscas. É um claro exemplo em que "menos seria mais".
Já no ano passado o referi e volto a referi-lo: parece-me bem mais viável que passe a haver apenas um auditório ativo onde decorrem todas as apresentações. De preferência, aquele que se encontra mais perto do espaço comercial. Esta simples alteração trará melhores resultados, estou certo. Não é necessário que haja três auditórios se os mesmos não são utilizados em simultâneo. Ganha a Organização, ganham os autores/editores e ganha, especialmente, o público. Tal como no mercado da música, vale mais um concerto dado num Coliseu dos Recreios cheio, do que num Altice Arena "às moscas".
Outra coisa que também pode e deve ser melhorada é o anúncio das apresentações. É verdade que junto ao espaço comercial está afixado um grande programa que deixa bem claro quais as atividades a decorrer, mas parece-me que um anúncio feito por microfone (para isso seria necessário instalar um sistema de som, eu sei, mas valeria a pena) ou, pelo menos, nos vários écrans espalhados pelo evento, ajudaria a que as sessões fossem mais concorridas.
O problema das salas de apresentações vazias ou pouco preenchidas não é apenas uma questão estética, mas também prejudica a dinâmica dos próprios convidados, que mereciam audiências mais robustas e entusiásticas. A utilização de apenas um auditório e uma comunicação mais eficaz dos horários e conteúdos aos visitantes poderia resolver este problema em futuras edições.
Este ano, junto à zona comercial, havia mesas para autógrafos. Pareceu-me uma boa ideia, por se tentar juntar à parte comercial os autores, mas, por outro lado, e havendo uma sala para sessões de autógrafos, pareceu-me uma medida redundante. Na maior parte das vezes, as mesas de autógrafos na parte comercial do evento encontravam-se vazias, o que senti causar uma certa confusão a alguns dos visitantes que por ali cirandavam. Creio que, na próxima edição, talvez seja melhor que os autógrafos aconteçam apenas na sala destinada para tal.
Enfim, mesmo com essas questões menores a corrigir, parece-me certo que o Coimbra BD continua a ser uma referência extremamente positiva no panorama da banda desenhada em Portugal. A qualidade geral ombreia com a de outros festivais nacionais de banda desenhada e a cidade de Coimbra já começa a ser reconhecida por este evento. Aliás, o facto do evento se encontrar muito concorrido na sexta-feira - mesmo considerando que era feriado - é prova de que o bom trabalho está a começar a gerar frutos de ano para ano.
Em 2025, o Coimbra BD demonstrou que tem a infraestrutura, a equipa e a paixão necessárias para crescer ainda mais. Que a próxima edição seja ainda melhor e parabéns a todos os envolvidos pelo sucesso desta edição!
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