Quando, há cerca de dois anos, fiz um artigo sobre algum do mangá publicado em Portugal, referi que era normal que, dada a quantidade crescente de obras mangá que por cá (já) eram editadas por tantas editoras portuguesas, era natural que depressa o meu artigo ficasse desatualizado.
Não poderia estar mais certo pois, num curto espaço de dois anos, muitas mais obras foram lançadas desde então. Certa ou erradamente - a ver vamos o que nos diz o futuro - parece haver uma aposta algo desenfreada em séries de mangá por parte de várias editoras portuguesas. Há até autores como Junji Ito ou Jiro Taniguchi que são publicados por várias editoras. Como se o mangá fosse uma espécie de "galinha de ovos de ouro" para o meio da banda desenhada.
E quando assim é, torna-se natural que os leitores menos conhecedores do subgénero do mangá se percam um bocado face a um denso volume de novas obras que por cá vão surgindo, não sabendo quais os títulos em que devem ou não apostar. E é essa a razão principal para vos trazer este artigo: para vos dar a conhecer algumas das séries relativamente recentes no nosso mercado e a minha opinião sobre as mesmas.
Optei por não colocar obras mais célebres e de qualidade que considero ser superior, como Monster, Boa Noite, Punpun, O Preço da Desonra, Sunny, Hitler, Bairro Distante ou as várias obras de Junji Ito que, quanto a mim, não precisam deste tipo de artigos e que, além disso, até já receberam análises próprias aqui no Vinheta 2020.
Antes que me corrijam, permitam que eu mesmo o faça: considerei para este artigo obras que não são mangá - pois não têm origem no Japão. Não é bem uma falha da minha parte ou, se o é, é uma falha consciente que se justifica pelo simples facto de serem obras com o potencial de agradar ao mesmo público e de serem propostas que, na sua génese, têm bastantes pontos em comum com o mangá puro do Japão.
Sem mais demoras, deixo-vos mais abaixo com o meu "MANGÁzine" especial, a minha listagem que engloba 15 mangás que foram recentemente publicadas por cá e que merecem ser (re)conhecias.
Loui
Editora: ASA
Número de livros publicados em Portugal: 1
RedFlower, de Loui, é uma série francesa que funde o estilo narrativo do mangá com a mitologia africana, inspirando-se nas histórias que o autor ouviu da sua avó no Gana. A narrativa acompanha Kéli, um adolescente impulsivo que anseia por completar o ritual de iniciação Katafali para ser reconhecido como adulto pela sua tribo. No entanto, a sua jornada é interrompida quando Anansi, um feiticeiro, prevê uma invasão iminente por estrangeiros dotados de poderes misteriosos. Diante desta ameaça, a comunidade enfrenta um dilema: como se defender sem trair os seus princípios de não-violência?
O desenho muito expressivo e dinâmico de Loui deixou-me bastante satisfeito, pois capta bastante bem a beleza dos rituais tribais, bem como a intensidade dos momentos de ação. Mesmo assim, achei a narrativa algo desconexa, por vezes, com os elementos tribais a serem-nos dados um pouco de forma mais aleatória e com uma história que, pelo menos neste primeiro volume, ainda não se conseguiu encontrar verdadeiramente bem.
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Hiro Mashima
Editora: Distrito Manga
Número de livros publicados em Portugal: 6
Edens Zero engloba ficção científica e aventura, e acompanha Shiki Granbell, um jovem com o poder da gravidade, que parte numa jornada pelo espaço em busca da lendária deusa cósmica Mother. Acompanhado por Rebecca, uma criadora de vídeos para a plataforma B-Cube, e o seu gato robótico Happy, Shiki embarca a bordo da nave Edens Zero para explorar planetas desconhecidos, enfrentar perigos intergalácticos e descobrir o sentido da amizade, liberdade e destino. A história mistura elementos de fantasia com ficção científica, mantendo o estilo característico de Mashima.
É digna de nota a construção de um vasto universo com múltiplos mundos e tecnologias interessantes. Todavia, e embora o enredo evolua ao longo da série, parece-me que a história é demasiado infantil, carecendo de profundidade emocional. Ainda assim, Edens Zero é uma leitura divertida e empolgante para fãs de aventuras espaciais com um toque de humor e drama shonen clássico.
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Kanehito Yamada e Tsukasa Abe
Editora: Devir
Número de livros publicados em Portugal: 4
Frieren é uma das mais recentes apostas da Devir para um público mais juvenil e assume-se como sendo uma série de fantasia. A premissa é interessante: após derrotar o Rei Demónio, a elfa maga Frieren vê os seus companheiros de aventura envelhecerem e morrerem, enquanto ela, com a sua longevidade natural, continua a viver. A narrativa acompanha Frieren numa nova jornada em busca de significado, arrependimento e compreensão da efemeridade humana.
Com uma abordagem algo melancólica e contemplativa, Frieren distingue-se por explorar temas raramente aprofundados no género de fantasia em mangá, como o luto, a passagem do tempo e o peso das memórias. Admito que o ritmo lento da narrativa pode não agradar a leitores que preferem ação constante ou reviravoltas dramáticas. Por outro lado, também é isso, tal como o ambiente de fantasia da série, aquilo que pode agradar a outro tipo de leitores que possam sentir-se cansados com os habituais mangás com ação desenfreada.
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Ken Wakui
Editora: Distrito Manga
Número de livros publicados em Portugal: 5
Tokyo Revengers é uma série de manga que mistura ação, drama juvenil e viagens no tempo. A história gira em torno de Takemichi Hanagaki, um jovem desempregado e sem rumo que descobre que a sua ex-namorada de adolescência, Hinata, foi assassinada por um gang. Após um acidente que acontece fruto do acaso, Takemichi descobre que pode voltar 12 anos ao passado, revivendo os seus dias de escola. Com essa habilidade, ele decide infiltrar-se no gang para tentar mudar o futuro e salvar Hinata, enfrentando dilemas morais, violência de rua e amizades intensas ao longo do caminho.
A premissa de viagem no tempo não é propriamente nova, mas é bem utilizada para criar suspense e reviravoltas neste Tokyo Revengers. Os desenhos não me agradam tanto como noutras obras desta lista, mas reconheço que é uma ilustração eficaz nas cenas de ação e nos momentos dramáticos. Por outro lado, o enredo parece tornar-se algo repetitivo e certos momentos até se apresentam pouco credíveis.
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Aka Akasaka e Mengo Yokoyari
Editora: Devir
Número de livros publicados em Portugal: 2
Oshi no Ko é uma série que mergulha nos bastidores sombrios da indústria do entretenimento japonês. A história começa com a morte de Ai Hoshino, uma jovem ídolo carismática, assassinada por um fã obcecado. Antes disso, Ai dá à luz gémeos, um deles sendo a reencarnação de Gorou, um médico que admirava Ai Hoshino e que morreu misteriosamente. Reencarnado como Aqua, ele cresce determinado a descobrir quem foi o responsável pela morte da sua mãe.
Gosto da abordagem corajosa e inteligente da série em tocar alguns temas difíceis como a pressão do sucesso, o assédio, a exploração emocional e a artificialidade das relações no mundo do espetáculo. Temas que não são muito comuns em banda desenhada ou no mangá, mais concretamente. Os desenhos super expressivos também complementam bem o tom da história. O que me parece menos bem equilibrado é que a história até tenha pressupostos bastante adultos mas que depois, especialmente a nível de diálogos e enredo, assuma um tom mais adolescente.
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Tesuka, Sattin e Gurihiru
Editora: Distrito Manga
Número de livros publicados em Portugal: 1
Unico – Despertar é uma reinterpretação moderna da obra clássica Unico, criada por Osamu Tezuka, aqui reinventada por Samuel Sattin, no argumento, e por Gurihiru, no desenho. A história segue Unico, um pequeno unicórnio com o poder de espalhar amor e alegria por onde passa. No entanto, esses dons despertam a inveja de deuses e entidades celestes, que o perseguem e tentam apagá-lo da existência. Nesta nova versão, o enredo toma contornos mais contemporâneos e emocionais, aprofundando temas como a identidade, a memória e a luta contra a opressão, enquanto Unico tenta recuperar os seus poderes e a sua missão num mundo em constante transformação.
A fusão entre o legado emocional de Tezuka e a estética moderna e vibrante da belíssima arte de Gurihiru consegue equilibrar doçura com intensidade. A narrativa é acessível, sendo especialmente recomendada a um público mais jovem, embora o tom emotivo da obra possa agradar também a um público mais maduro. Sinceramente, não estava à espera de gostar tanto desta obra como gostei. Foi uma boa surpresa.
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Sanshiro Kasama e Hikaru Uesugi
Editora: A Seita
Número de livros publicados em Portugal: 2 (minissérie finalizada)
Deadpool: Samurai é uma curta minissérie, de apenas dois volumes, que tem o condão de ser perfeita para dois públicos: para os fãs de mangá, claro, mas também para os fãs dos super-heróis dos comics americanos que não leem mangá. Este Deadpool: Samurai certamente agradará a esses dois públicos. O que é perfeito, diria, para criar pontes entre duas vertentes diferentes de banda desenhada. Tal só é conseguido porque o trabalho feito por Kasama e Uesugi nesta minissérie é muito bem conseguido. Aqui podem encontrar todo o tipo de humor desregrado de Deadpool, adaptado ao próprio mangá. A história é inusitada, como não poderia deixar de ser, e as piadas do protagonista são constantes. O estilo de desenho consegue ter o aspeto mais habitual dos mangás, mas, ao mesmo tempo, manter uma certa linha de continuidade com o desenho mais "americanizado" dos super-heróis. E não é apenas Deadpool que aparece nesta história.
A trama segue Deadpool após este ser convidado por Nick Fury para se juntar a uma nova filial dos Vingadores no Japão. Entre piadas inusitadas, batalhas caóticas e referências à cultura pop, Deadpool encontra-se envolvido com heróis e vilões locais, incluindo colaborações inesperadas com personagens da Marvel e até participações especiais de figuras do universo mangá, como All Might de My Hero Academia. A obra é divertida ao parodiar clichets tanto dos comics americanos, como do manga japonês, criando uma experiência leve e caótica para os fãs dos dois mundos. Tenho que dizer-vos que me diverti imenso a ler este livro!
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suu Morishita
Editora: Distrito Manga
Número de livros publicados em Portugal: 2
Sinais de Afeto, de suu Morishita, é uma série de mangá recentemente iniciada em Portugal pela Distrito Manga (do Grupo Penguin) que gira em torno de Yuki, uma jovem universitária surda, e Itsuomi, um estudante multilingue com uma personalidade aventureira e misteriosa. A história começa quando Yuki conhece Itsuomi por acaso e os dois começam a desenvolver uma relação baseada na comunicação não-verbal, respeito e empatia. A série centra-se nas dificuldades e sucessos da comunicação entre mundos diferentes, explorando tanto o romance quanto o quotidiano de pessoas com deficiência auditiva, com uma abordagem sensível e delicada.
É um mangá mais direcionado (na génese) para um público jovem feminino com uma história que alguns poderão considerar um pouco lamechas, é certo, mas que, por outro lado, também é uma alternativa bem-vinda às histórias carregadas de ação. Por esse motivo, por ser diferente, mais pausado e se centrar nos temas da paixão adolescente e, talvez ainda mais relevante que isso, na relação entre uma pessoa com deficiência de audição e uma pessoa dita "normal". Os desenhos são leves e expressivos, combinando perfeitamente com o tom doce da narrativa. As personagens principais são cativantes, e a evolução do relacionamento é tratada com paciência e realismo. É uma opção interessante para quem procura algo diferente dentro do mangá.
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Akihito Tsukushi
Editora: A Seita
Número de livros publicados em Portugal: 3
Made in Abyss é uma série que combina fantasia, aventura e horror num mundo singular e visualmente deslumbrante. A história centra-se em Riko, uma jovem órfã que vive na cidade de Orth, construída em redor de um misterioso abismo colossal conhecido como o "Abyss". Fascinada pelas aventuras da sua mãe, uma lendária exploradora, Riko decide descer ao abismo para a encontrar, acompanhada por Reg, um misterioso menino-robô. À medida que descem pelas camadas do abismo, as duas personagens enfrentam criaturas perigosas, ambientes cada vez mais hostis e uma verdade cada vez mais sombria sobre o próprio abismo e a natureza humana.
A série destaca-se pelo seu mundo ricamente construído, repleto de mistérios, ecossistemas únicos e uma mitologia profunda. A arte é visualmente encantadora e contrasta de forma inquietante com os temas sombrios e violentos da narrativa — um contraste que amplifica o impacto emocional da história, tornando-a mais inesquecível. Os desenhos das personagens e das suas expressões empáticas são verdadeiramente lindos, tal como é o desenho dos ambientes. Admito que, por vezes, o texto torna a leitura desta obra algo difícil, o que é causado pela opção dos leitores em introduzirem numerosos balões - e de formas mais ovais do que o normal - nas pranchas. Ainda assim, tirando essa questão mais técnica, Made in Abyss é uma obra marcante, original e com grande apelo para fãs de fantasias sombrias.
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Muneyuki Kaneshiro e Yusuke Nomura
Editora: Distrito Manga
Número de livros publicados em Portugal: 2
Se há séries que têm os atributos certos para agradar a um público português jovem, Blue Lock é uma delas! Um país que vive e respira futebol, desde a mais tenra idade, certamente acolherá um mangá que tem no futebol o seu tema central. A história começa após a derrota do Japão no Mundial de Futebol, o que leva a Federação Japonesa a iniciar o projeto "Blue Lock": um centro de treino isolado onde 300 jovens avançados são colocados numa competição brutal para encontrar o atacante mais eficaz do país. O protagonista, Yoichi Isagi, um jogador promissor mas indeciso, entra nesse sistema com o objetivo de se tornar o melhor jogador de futebol do mundo.
O futebol é tratado quase como uma batalha psicológica, com foco na individualidade, no ego e na superação de limites pessoais, numa abordagem intensa e quase distópica. Se em vários casos esta série me remeteu para os desenhos animados Tsubasa (ou Oliver e Benji) que via na minha infância, também confesso ter sido remetido para a série Squid Game, que introduz vários jogadores destinados a tudo fazer para alcançar os seus objetivos. A narrativa é intensa e cheia de reviravoltas, o que mantém o leitor constantemente envolvido, enquanto a arte dinâmica de Nomura confere energia e impacto às cenas de jogo. No entanto, também admito que essa mesma intensidade pode parecer exagerada e a história às vezes se assume um pouco "over the top" ou menos credível. Mas isso é, quanto a mim, a regra geral nos mangás para um público mais jovem. Seja como for, Blue Lock destaca-se como uma obra ousada e estimulante, que desafia convenções tanto do género desportivo como dos mangas shonen em geral.
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Yuka Nagate
Editora: A Seita
Número de livros publicados em Portugal: 6 (2 da primeira temporada e 4 da segunda temporada)
De todas as séries que vos trago neste artigo, Butterfly Beast ganha (facilmente) na componente de desenho. O trabalho da autora Yuka Nagate em termos de desenho roça um realismo desconcertante, que é verdadeiramente digno de nota. Esta é uma daquelas séries que já nos encheria o olho de prazer só de a observar em silêncio.
A Seita começou por editar uma primeira temporada (com dois volumes) e encontra-se na iminência de completar a segunda temporada deste série (que terá cinco volumes). Acompanhamos a saga de Ochō, uma cortesã que leva uma vida dupla como assassina ao serviço do governo no Japão feudal. A personagem vai enfrentando uma série de missões que a colocam frente a frente com inimigos perigosos e intrigas políticas mais complexas, enquanto lida com os fantasmas do seu passado e uma constante tensão interior. A série oferece-nos um ambiente sombrio e sensual, enquanto aprofunda as questões morais e emocionais da protagonista num cenário marcado pela violência e pela hipocrisia social da época.
A única coisa que impede que esta seja uma obra fantástica é, a meu ver, uma certa repetição entre episódios. Se a obra tivesse uma história mais completa e menos episódica seria verdadeiramente fenomenal. Apesar disso, Butterfly Beast mantém-se como uma obra estilisticamente distinta e madura, ideal para quem aprecia histórias de ação histórica com forte carga emocional e estética refinada.
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Hajime Isayama
Editora: Distrito Manga
Número de livros publicados em Portugal: 6
De todas as séries que vos trago nesta lista, Ataque dos Titãs não é propriamente uma "novidade". Na verdade, esta série até já havia começado a ser publicada em Portugal, há uns anos largos, pela editora JBC. Mas foi no ano passado que a Distrito Manga começou a publicar esta série de Hajime Isayama, uma história pós-apocalíptica que gira em torno da luta da humanidade pela sobrevivência num mundo onde gigantes humanoides — os chamados "Titãs" — devoram seres humanos sem qualquer razão aparente. A história acompanha Eren Yeager, a sua irmã adotiva Mikasa e o amigo Armin, que se alistam no exército após a sua cidade ser destruída por um Titã colossal. Com o tempo, o enredo revela camadas políticas, conspirações militares e segredos obscuros sobre a origem dos Titãs e da própria humanidade, transformando-se numa narrativa complexa e bastante interessante sobre a liberdade, identidade e o ciclo da violência.
A narrativa é bastante imprevisível e o desenvolvimento das personagens é complexo e bem conseguido à medida que a história se vai desenrolando. Ao mesmo tempo, é uma obra que desafia constantemente o leitor com dilemas morais e mudanças drásticas na perspetiva da história, culminando num enredo ambicioso e cheio de reviravoltas. As ilustrações não são especialmente espetaculares, mas são eficientes na narração desta história bastante impactante. Eis uma série que, com a sua original premissa, nos faz refletir.
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Daisuke Igarashi
Editora: Devir
Número de livros publicados em Portugal: 1
Crianças do Mar é diferente de todas as outras propostas deste artigo, pois é uma obra carregada de poesia e contemplação. Por isso mesmo, diria que é um trabalho que poderá apelar a um outro tipo de público, quiçá mais adulto nas escolhas. A obra combina realismo mágico, ecologia e existencialismo numa narrativa profundamente simbólica. A história segue Ruka, uma adolescente emocionalmente conturbada que, durante as férias de verão, conhece dois misteriosos rapazes, Umi e Sora, que foram criados por dugongos e possuem uma ligação enigmática com o oceano. À medida que eventos estranhos começam a ocorrer - como o desaparecimento de peixes de aquários em todo o mundo - Ruka é atraída para um universo de mistério cósmico e descobertas profundas sobre a origem da vida e a conexão entre seres humanos e o mar.
O desenho deixa-me com sentimentos mistos: a caracterização do mar e dos cenários é verdadeiramente apaixonante e extraordinária! Já o desenho das personagens, não me parece tão fabuloso assim, embora seja competente. A narrativa é poética, contemplativa e ambiciosa, tratando temas como o lugar da humanidade no universo e a espiritualidade da natureza. Mesmo assim, também considero que esta é uma daquelas obras que "não é para todos", pois o seu enredo pode parecer abstrato ou confuso em demasia, com uma progressão não linear e diálogos muitas vezes metafóricos que exigem interpretação. Não obstante, Crianças do Mar é uma obra visualmente deslumbrante e intelectualmente provocadora, ideal para quem aprecia mangás que fogem à estrutura convencional e oferecem uma experiência mais sensorial e reflexiva.
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Mathieu Reynès
Editora: ASA
Número de livros publicados em Portugal: 1
Confesso-vos: não havia nada nesta obra que me parecesse especialmente atraente assim que dela tive conhecimento. No entanto, foi dos livros desta extensa lista que mais me divertiu ler! Esta é uma obra da autoria do francês Mathieu Reynès que mistura ação, mistério e ficção científica num ambiente urbano contemporâneo.
A história coloca-nos num mundo distópico onde após anos de crises sanitárias, económicas e ecológicas, se desenvolve uma guerra civil de dimensão mundial, que deixa o mundo dividido entre os grandes centros urbanos, onde a vigilância militar e médica é apertada, e as zonas rurais mais livres e próximas do nosso tempo. A protagonista é Beck, uma jovem que parte para Bajara, a cidade conhecida pelas competições de luta de rua, em busca do seu mentor Kal que desapareceu sem deixar rasto.
O estilo de ilustração casa muito bem o desenho próximo do género a que chamamos mangá e junta-lhe um ritmo narrativo próximo dos livros de super-heróis americanos e uma história escorreita próxima do franco-belga. Os desenhos são modernos, expressivos e bem adaptados ao ritmo cinematográfico da narrativa, com cenas de ação bem coreografadas. O resultado é um livro que, embora simples e direto, funciona bastante bem e que, para mim, constituiu uma bela surpresa!
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Masaaki Ninomiya
Editora: A Seita
Número de livros publicados em Portugal: 4
Como obra que mais me agradou - e continua a agradar - desta lista, trago-vos Gannibal, de Masaaki Ninomiya, a cuirosa e original série de suspense e terror psicológico publicada pel' A Seita.
A história desenrola-se numa aldeia remota do Japão chamada Kuge e acompanha Daigo Agawa, um jovem polícia que foi transferido para esta comunidade isolada após ter acontecido um incidente traumático na localidade. Mas logo que Agawa chega ao local, começa a desconfiar que algo de sinistro se esconde por trás da suposta fachada pacata da região. O tema da obra é o canibalismo que parece estar a ser praticado por alguns dos habitantes da aldeia.
É uma história que me agrada especialmente pela inquietude que causa no leitor. A atmosfera deixa-nos sempre tensos, estando sistematicamente na constante instância de nos horrorizar. O autor Ninomiya é especialmente bem sucedido em deixar a história em suspenso sem com isso a deixar entediante. Bem, pelo menos até agora. Depois de quatro volumes, confesso recear que a história se mantenha demasiado tempo neste clima de tensão e acabe por se tornar repetitiva. Para já, no entanto, isso ainda não aconteceu. O enredo mantém-se envolvente com uma atmosfera opressiva, alimentada por personagens ambíguas e situações de constante desconfiança. Embora o estilo de ilustração do autor possa parecer algo diferente daquele desenho mais clássico e "limpinho" que encontramos muitas vezes no mangá, acaba por ser bastante agradável e encaixar bem na tensão que a história sugere. Mesmo tendo algum receio que o interesse de Gannibal se extinga a ele mesmo por um clima de tensão que sugere muito e revela pouco, esta é uma obra poderosa para quem aprecia thrillers psicológicos e que, por agora, me está a agradar bastante!
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