segunda-feira, 31 de maio de 2021

TOP 20 – Os Melhores Filmes baseados em Banda Desenhada



Desta vez, e em resposta aos inúmeros pedidos que me fizeram neste sentido, o assunto é o cinema. Mas, claro, o tema mantém-se intimamente ligado à banda desenhada, já que este é TOP do Vinheta 2020 para os 20 Melhores Filmes baseados em obras de banda desenhada.

E, antes de qualquer coisa mais, permitam-me dizer que este TOP reflete os meus gostos cinematográficos. São os melhores filmes, com base na minha opinião como, aliás, são todos os TOP’s e artigos deste blog.

Não esperem, portanto, encontrar nesta lista filmes dos Avengers, X-Men, Liga da Justiça e outros super-heróis que considero, sem ofensa, filmes chatos, previsíveis e insípidos como tudo. Aliás, uma boa maneira de me meterem a dormir é colocarem-me a ver um desses filmes. Mais cedo ou mais tarde, acabo por os ver a todos mas raramente mudo de opinião. Bem feitos em termos técnicos mas mal concebidos em termos de argumento, história e impacto. Não são, portanto, my cup of tea embora, não quer dizer que não possam ser considerados filmes espetaculares por muitos. Cada um com os seus gostos. Abaixo verão que há alguns filmes de super-heróis no meu TOP 20, sim, mas não estão em maioria, diria. Dos 20 filmes que apresento abaixo, apenas 4 ou 5 são baseados em heróis da Marvel ou da DC Comics.

No final, convido-vos, como sempre, a deixarem os vossos comentários com os vossos próprios gostos e opiniões. E, já agora, chegaram a ver todos os filmes da minha lista?

Conheçam o TOP 20 do Vinheta 2020, mais abaixo.





20. Corto Maltese – O Pátio Secreto dos Arcanos (2002)

A simples ideia de existir um filme de Corto Maltese é, por si só, uma ideia maravilhosa. Esta personagem lendária criada por Hugo Pratt recebeu mesmo um filme no ano de 2002 que, lamentavelmente, passou ao lado de muita gente. As produções europeias têm disto, diga-se. Em O Pátio Secreto dos Arcanos, Corto Maltese depara-se com sociedades secretas chinesas, uma fascinante duquesa russa e um grande número de generais, divididos entre o anseio pelo seu passado glorioso e o futuro incerto agora comprometido para sempre. Em cada local, o código de honra leva o marinheiro a lutar e a defender os mais pobres e os mais fracos. O estilo de animação é clássico, revelando, na ilustração, um trabalho espetacular por todos os artistas que trabalharam no projeto. Devo confessar que o ritmo é muito lento, tornando-se um pouco difícil de ver. Podia ser mais dinâmico. Mais ritmado. No entanto, para todos os que gostam de Corto Maltese ou do universo de Hugo Pratt, diria que é um filme obrigatório. Acho que é, acima de tudo, uma verdadeira homenagem ao marinheiro mais famoso do mundo.





19. O Corvo (1994)

O Corvo é uma adaptação cinematográfica da banda desenhada original de James O'Barr. O filme é de 1994 e, na altura, depressa se assumiu como filme de culto. Eu, que à época tinha 10 anos de idade, achei o filme espetacular com toda a sua estética gótica, com imensas cenas de sexo e com o carismático ator Brandon Lee, filho de Bruce Lee, que morreu acidentalmente nas filmagens de uma das últimas cenas do filme. Toda essa mística da morte do ator também fez com que o filme se tornasse mais comentado e idolatrado junto da juventude de então. Mas deixando as tragédias de parte, este é um filme que traz consigo uma estética negra e pesada muito especial e impactante. O filme conta-nos a história de Eric Draven que, juntamente como a sua noiva, é assassinado na Noite do Demónio. Mas, passado um ano, Eric volta do mundo dos mortos guiado por um corvo e com o objetivo de vingar-se dos seus assassinos. Hoje em dia, este filme pode já estar datado em inúmeras coisas, reconheço, mas ainda tem um honroso lugar de destaque nos melhores filmes que se basearam em banda desenhada.




18. 300 (2006)

Eu não gostei tanto assim de 300 como grande parte do público e da crítica que rápida e massivamente aclamou o filme, tenho que confessar. Achei-o talvez estilizado demais, em detrimento da própria história. No entanto, também tenho que admitir que a visão que Zack Snyder tinha para este filme, que se baseia na banda desenhada com o mesmo nome de Frank Miller, é verdadeiramente audaz, marcante, refrescante e original em termos de produção cinematográfica. Este é um filme muito, muito estilizado, com certas cenas a fazerem lembrar mais um videoclip musical do que, propriamente, um filme. Muitos poderão achar que o filme talvez fique refém do próprio mise-en-scène que o caracteriza. E eu até posso concordar, em parte, com isso. Mas, mesmo assim, é notável o trabalho técnico e tudo aquilo que foi conseguido ao nível da coreografia dos atores, nas violentas cenas bélicas do filme que se tornaram célebres. A história, sobejamente conhecida, gira em torno do Rei Leónidas, que lidera 300 espartanos na batalha contra o Deus-Rei Xerxes I da Pérsia e o exército deste com mais de 30 mil soldados.



17. Astérix e os Vikings (2006)

Astérix e Obélix têm inúmeros filmes. Desde animação clássica, a imagem real, e a animação por computador (CGI). E quase todas essas tentativas cinematográficas são, na minha opinião, muito, muito "fraquinhas". Se o humor francês em banda desenhada é excelente – com imensos exemplos para além de Astérix – as adaptações para cinema costumam apresentar um humor que quase envergonha os trabalhos originais dos autores franco-belgas. Estou a lembrar-me de algumas adaptações miseráveis como Lucky Luke (2009), de James Huth; ou Gaston Lagaffe (2018), de Pierre-François Martin-Laval. Mas também os filmes de Astérix, em imagem real, com Christian Clavier e Gérard Depardieu nos papéis principais, são bastante fracos e, a meu ver, não conseguem minimamente captar o excelente legado de Goscinny e Uderzo. Contudo, este Astérix e os Vikings é uma exceção. Não é um filme em imagem real mas sim em animação clássica, com uma boa produção franco-dinamarquesa e desenhos muito belos que fazem a melhor das homenagens aos álbuns da dupla de gauleses e que apresenta uma dinâmica muito bem conseguida. O filme é inspirado no álbum Astérix e os Normandos e conta-nos como os grandes guerreiros do Norte querem aprender o que é o medo, porque o medo “dá asas”. Atrevidix, sobrinho de Matasétix de férias na aldeia gaulesa, proclama-se campeão do medo, tornando-se assim o "instrutor" ideal para os vikings. Mas, na verdade, ele é apenas um gabarola amedrontado e acaba raptado pelos Vikings que o levam para o Norte onde Astérix e Obélix terão de viajar para resgatar o rapaz. Simples, eficaz e uma ótima réplica daquilo que pode - e deve - ser uma adaptação de Astérix para o cinema.




16. Smurfs: A Aldeia Perdida (2017)

Se, por norma, as adaptações para cinema de Astérix não me deixam feliz, posso dizer que também não tenho gostado das adaptações para cinema dos Smurfs – ou dos Schtroumpfs -, as simpáticas personagens criadas originalmente pelo autor belga Peyo. Aquela mistura entre imagem real – com o ator Neil Patrick Harris – e os Schtroumpfs animados com o recurso às técnicas CGI sempre me pareceu um esforço sem grande mais valia. Esses filmes são pouco chamativos para as crianças e sofríveis de ver para os adultos. No entanto, há uns dias estava a ver com as minhas filhas o filme Smurfs: A Aldeia Perdida, que tem animação totalmente digital – sem a presença de imagem real – e fiquei muito satisfeito com o filme. Nesta aventura, Smurfina não está contente porque começa a aperceber-se que todos os homens da aldeia dos Smurfs têm uma função precisa na comunidade, menos ela. Indignada, parte em busca de novas descobertas, e encontra a Floresta Encantada, com diversas criaturas mágicas. Enquanto isso, o vilão Gargamel segue os seus passos. Um filme que está muito bem produzido, com excelente ritmo e beleza estética de imagens, com uma história infantil - mas coesa - e vários números musicais divertidos. Se não contarmos com o número 2 deste meu Top, mais abaixo, diria que este Smurfs: A Aldeia Perdida é, de longe, o melhor filme de animação extraído do universo de bd franco-belga.




15. Kingsman: Serviços Secretos (2014)

Este é um filme policial, com muita ação que conta com Colin Firth no papel principal. A história, inspirada na banda desenhada criada por Mark Millar, apresenta-nos uma organização de espionagem que recruta um jovem rebelde das ruas (Taron Egerton), mas com um futuro promissor, para um programa de treino ultracompetitivo. O elegante agente Harry Hart vê muito potencial neste jovem Eggsy, apesar do seu temperamento muito incerto. E após passar pela intensa preparação do serviço secreto, Eggsy tem de enfrentar uma ameaça global criada por um verdadeiro vilão que envolve erradicar o problema do aquecimento global por meio de uma matança em larga escala. Como costumo dizer, Mark Millar até pode não saber desenvolver todo o potencial das histórias que inventa, mas lá que o autor é uma verdadeira “máquina” de boas premissas narrativas, lá isso é. E Kingsman é (mais) uma delas. É um filme muito light e algo insípido - do  género de “filme de pipocas" para ver numa tarde de sábado -, reconheço, mas acho que é muito bem conseguido em termos de entretenimento. Se não for para pensar muito e para ver um filme divertido de ação, este Kingsman: Serviços Secretos é uma excelente opção.




14. Big Hero 6 - Os Novos Heróis (2014)

Esta é uma produção Disney que, embora muita gente não saiba, é (muito livremente) baseada numa banda desenhada com o mesmo nome. De facto, à semelhança do que a Disney faz com várias histórias que desenvolve, este Big Hero 6 afastou-se bastante da premissa da banda desenhada original. Mesmo assim, é de assinalar que este filme – feito em animação CGI – é fantástico e divertido do primeiro ao último momento. Sendo destinado para um público mais infanto-juvenil, acho que também se vê muito bem por parte de um público mais maduro. A história não podia ser mais simples: estamos na cidade futurista de San Fransokyo e o génio da robótica Hiro Hamada e o seu robot Baymax formam uma equipa de guerreiros inexperientes mas que têm que unir forças para enfrentar os inimigos que ameaçam a paz na cidade. Visualmente muito apelativo, com uma estética muito bem conseguida. E, além de tudo isso, simples, eficaz, bem produzido e muito divertido. A Disney raramente faz mal.



13. Rugas (2011)

Inspirado na obra original de Paco Roca, que consagrou o autor espanhol, Rugas é um filme peculiar e original que faz uma meritória adaptação para cinema a partir da obra original de banda desenhada. O filme conta-nos a história de Emílio, um bancário reformado, que sofre da doença de Alzheimer e que é internado num lar de terceira idade pelo seu filho. Rodeado por vários outros idosos, cada um com um quadro clínico distinto e com uma personalidade bem vincada, vai aprendendo as diversas estratégias para combater o tédio neste lar. Ao mesmo tempo, Emílio e os seus companheiros vão tentando introduzir, num quotidiano marcado por medicamentos, refeições, terapias ocupacionais e sestas de duração indefinida, alguns vislumbres de encanto e alegria de viver. Esta é uma obra ímpar da banda desenhada europeia e que neste filme tem uma porta de entrada para um outro meio – o do cinema. E por isso, à semelhança do que disse sobre o filme de Corto Maltese, mais acima, também este Rugas merecia, por si só, uma adaptação para o cinema. Adaptação essa que é feita com fidelidade ao livro. É um filme que, por vezes, peca por um ritmo algo lento, assente numa montagem pouco dinâmica, mas que, quando chegamos aos créditos finais, ficamos com um travo agridoce na nossa sensibilidade. Uma história subtil, humana e deliciosa que merece figurar em qualquer lista de melhores filmes baseados em obras de banda desenhada.



12. Deadpool (2016)

Para o meu gosto, Deadpool até resulta melhor em cinema do que na banda desenhada original que o criou. Sendo uma personagem completamente sem regras, que subverte os cânones das histórias clássicas de super-heróis, Deadpool é como que uma autêntica carta fora do baralho. Por vezes irritante, demasiado over the top, noutras vezes divertidíssimo e hilariante, é difícil que alguém fique indiferente a esta personagem. Uns adorarão, outros detestarão. O filme arranca com uma das melhores cenas iniciais de todos os filmes de super-heróis que já vi e procura contar-nos a história de Wade Wilson, Deadpool, desde a sua génese. Começando no momento em que o seu mundo – aparentemente normal - é destruído quando um cientista maligno o tortura e o desfigura completamente. A experiência química transforma Wade em Deadpool, que ganha poderes especiais de cura e uma força incrível. Com a ajuda de aliados poderosos e um sentido de humor totalmente desbocado e cínico, o irreverente anti-herói usa habilidades e métodos violentos para se vingar do homem que quase acabou com a sua vida. Para rir, para gozar ou para nos deixar bem dispostos, este filme é uma excelente opção.





11. TMNT - Tartarugas Ninja: Uma Nova Aventura (2007)

Em primeiro lugar, julgo que importa dizer algo: eu adoro as Tartarugas Ninja! É o meu guilty pleasure porque mesmo quando um filme ou um videojogo não é grande coisa, só por ser das Tartarugas Ninja, eu já o terei que comprar/ver. Por isso, quando sai um videojogo novo das Tartarugas Ninja, eu compro. Quando sai um filme novo, eu vejo-o. Enfim, desde criança que eram os meus desenhos animados favoritos. E, passados tantos anos, continuo a achar que, ao nível de character building, esta série é fantástica. Temos o líder sóbrio e sensato que é Leonardo; temos a personagem tecnológica e "engenhocas" que é Donatello; temos o clássico comic relief que é o divertisíssimo Michaelangelo; e ainda temos aquela que, a meu ver, é a personagem mais profunda e cativante das quatro que é Raphael, a tartaruga ninja mais impetuosa, agressiva e com uma personalidade mais vincada. Mas, adorando as Tartarugas Ninja, uma coisa tenho que admitir: nem sempre a franquia é utilizada da melhor forma. São inúmeros os filmes com estes heróis que considero para lá de maus. No entanto, em 2007, foi lançado o único filme do quarteto em animação digital (os outros, ou são em animação clássica, ou são em imagem real, ou são um misto de imagem real com elementos CGI) e acho que foi um filme bastante bem conseguido. Até porque, em termos de enredo, se foca na relação conturbada entre Leonardo e Raphael, levantando uma trama muito interessante e pertinente. A animação é bem conseguida e estas tartarugas estão mais carismáticas que nunca. Infelizmente, o filme não é perfeito e a conceção dos vilões e a subplot dos mesmos, parece-me verdadeiramente desinspirada. O que é uma pena e que mancha um filme que poderia figurar em lugares mais cimeiros desta lista. Ainda assim, é um filme de que gosto muito e o melhor das Tartarugas Ninja.



10. A Máscara (1994)

A Máscara (The Mask, no original) é um daqueles filmes que muita gente, acredito, nem sabe que é baseado numa banda desenhada. O filme que conta com Jim Carrey no papel de Stanley Ipkiss, o Máscara, e que no início dos anos 90 estava a transformar-se num autêntico ícone da comédia em Hollywood, é uma aventura leve e divertida, que dispõe bem e que, à altura, continha um muito interessante conjunto de efeitos especiais impressionantes. Hoje em dia esses efeitos especiais ainda estão up to date. Ipkiss é um bancário tímido e solitário, em quem ninguém parece reparar que, um dia, encontra acidentalmente uma máscara que possui o espírito do deus escandinavo Loki. E essa máscara confere-lhe poderes incríveis sempre que Ipkiss a usa. Transforma-se completamente, ficando com a cara verde, e consegue fazer praticamente tudo aquilo que quer. Mas onde o filme – e a bd – me parecem ser muito bem conseguidos, é na forma como fazem o protagonista usar os super-poderes. Em vez de correr para salvar o mundo, The Mask apenas quer conquistar a sua amada, a bela Tina, que no filme é interpretada por Cameron Diaz. E depois, claro, é um filme muito cómico, com muitos disparates envolvidos, que o tornam numa experiência cinematográfica muito, muito divertida. Não é um filme que se leve muito a sério, mas também não o é a banda desenhada original. Uma fantástica adaptação para cinema, sem dúvida.



09. A Verdadeira História de Jack, o Estripador (2001)

Este filme, originalmente denominado From Hell, baseia-se na aclamada banda desenhada com o mesmo nome de Alan Moore, que nos revela a história do emblemático Jack, o Estripador. Estamos em Londres, na época vitoriana, e um inspetor com fortes capacidades de investigação, começa a estudar uma onda de crimes hediondos que são cometidos em mulheres que se prostituem. Este investigador, que é interpretado por Johnny Depp, vai-se envolvendo cada vez mais na investigação, acabando por se relacionar emocionalmente com uma das vítimas de Jack. Esta é uma história bem pesada, séria, com um certo romantismo que dá alguma luz ao relato e que está muito bem-adaptada para cinema. Na verdade, até é daqueles filmes que muita gente não saberá que se baseiam num livro de banda desenhada. Parece algo concebido diretamente para o grande écran. Estão a ver aquelas pessoas que, ignorando o género da banda desenhada, dizem muitas vezes que bd é coisa de crianças? Bem, mostrem-lhes este filme e digam-lhes que é inspirado numa banda desenhada. Talvez mudem de opinião em relação à multidisciplinaridade do género.



08. V de Vingança (2006)

Continuamos em Alan Moore. Desta vez, com o filme V de Vingança. Este é um filme que rapidamente se tornou de culto, tendo conquistado milhões de pessoas por todo o mundo. Sim, é óbvio que a banda desenhada V For Vendetta, criada originalmente por Alan Moore e David Lloyd, já era uma obra de culto. No entanto, estou certo que só depois do lançamento deste filme, a obra de Alan Moore se tornou verdadeiramente mainstream. Até para aqueles que pouco ou nada ligam à banda desenhada. Aliás, quando em manifestações por esse mundo fora, vejo manifestantes com a máscara de V, julgo que isso é mais uma consequência do sucesso do filme do que do sucesso da banda desenhada. Seja como for, é um filme de forte teor político-social que nos mostra um mundo distópico em que, após uma guerra mundial, a Inglaterra é ocupada por um governo fascista e vive sob um regime totalitário. Na luta pela liberdade, um vigilante, conhecido apenas como V, serve-se de táticas terroristas para enfrentar os opressores da sociedade. V salva uma jovem chamada Evey da polícia secreta e encontra nela uma nova aliada em busca de liberdade e justiça para o seu país. Sendo um filme pesado e complexo, é uma obra singular que deve ser vista por todos.



07. Sin City: Cidade do Pecado (2005)

A estética de Sin City é das estéticas mais singulares, originais e marcantes de toda a banda desenhada lançada. Com fortes contrastes entre preto e branco, e uma apresentação muito estilizada e artística, a obra original de Frank Miller tornou-se célebre e indispensável para amantes de banda desenhada. E quando foi anunciado que Robert Rodriguez iria ser o realizador de uma adaptação desta bd para cinema, confesso que temi pelo expetável falhanço. Como adaptar Sin City para o cinema? Ou se despreza totalmente a estética singular da obra – o que é errado! – ou se tenta recriar a abordagem estética da obra – o que é arriscado! Mas foi mesmo isso que Rodriguez ousou fazer. E o resultado foi absolutamente maravilhoso. Quando assistimos a este filme, parece que estamos a ver as páginas criadas por Miller a aparecer-nos na tela. Sin City é um filme que conta quatro histórias totalmente diferentes, mas ligadas entre si e que tem um elenco bastante impressionante com nomes como Bruce Willis, Benicio del Toro, Mickey Rourke, Elijah Wood, Jessica Alba, Clive Owen, entre outros. É certo que foram tomadas algumas liberdades criativas na história que não agradaram a alguns dos fãs mais puristas e que, por esse motivo, talvez o filme não seja perfeito. Mesmo assim, tenho que dizer que é uma verdadeira homenagem à obra original, prestando-lhe todas as diligências para o adaptar com a máxima fidelidade possível às ilustrações de Miller. Depois ainda foi lançado um segundo filme – de que também gostei, embora menos – mas este Sin City: Cidade do Pecado, é um dos meus filmes preferidos que foram adaptados a partir de uma banda desenhada.



06. Persépolis (2007)

Marjane Satrapi tem um estilo único e muito peculiar de contar as suas histórias autobiográficas. E, na verdade, o seu storytelling até me parece mais pensado para o cinema do que, propriamente, para a banda desenhada. Persépolis é a história de uma menina que cresce no Irão durante a Revolução islâmica. Trata-se de um relato autobiográfico da autora Marjane Satrapi que nos mostra como era (e como é?) a esperança de um povo ser destruída quando os fundamentalistas tomam o poder, forçando as mulheres a usar o véu e prendendo milhares de pessoas. O relato é inteligente, pertinente, extrovertido e, ao mesmo tempo, divertido com a protagonista a conseguir, mesmo apesar das proibições, descobrir a cultura punk, os Abba ou os Iron Maiden. Mas quando o tio é cruelmente executado e as bombas começam a cair sobre Teerão durante a Guerra com o Iraque, o medo começa a ganhar forma. E a ousadia de Marjane torna-se uma preocupação para os pais que acabam por tomar a difícil decisão de a enviar para uma escola na Áustria. Um filme comovente, trágico e ao mesmo tempo cheio de humor, sobre a ignorância, a intolerância e a forma como há pessoas que continuam a lutar para fazer a diferença. Fantástico!



05. Caminho para a Perdição (2002)

Este é mais outro dos filmes que muita gente não saberá que se baseiam em banda desenhada. Caminho para a Perdição (Road to Perdition no título original) é um filme realizado por Sam Mendes e que tem um elenco de luxo composto por Tom Hanks, Paul Newman, Jude Law e Daniel Craig. A história, baseada na bd original de Max Allan Collins e Richard Piers Rayner, passa-se no ano de 1931, durante a Grande Depressão, seguindo um mafioso e seu filho enquanto estes procuram vingança pela morte do resto da sua família. O filme explora vários temas, incluindo as consequências da violência e as relações entre pai e filho e é um daqueles que marca quem o vê. “Cinema a sério” como diria o meu pai. Boa história, boas atuações, boa fotografia, boa montagem, boa realização. Enfim, é todo ele muito bem feito. Se alguém não gostar deste filme é porque não se identificou muito com a história. Porque toda a obra, de forma global, está extremamente bem feita.



04. Homem-Aranha: No Universo Aranha (2018)

Quem diria que depois de tantos filmes em imagem real do Homem-Aranha seria com um filme de animação em CGI que eu ficaria finalmente rendido a este herói universal! Vou começar por dizer algo peculiar para quem não conhece este filme: este é um filme que arrisca bastante e que, sendo um autêntico "guisado" de conceitos e ideias, tinha tudo para correr mal. Mas, de alguma forma, os astros alinham-se para nos darem um filme extremamente bem feito – que até ganhou Oscar de filme de animação -, com uma boa história, muito bem narrada e montada, visualmente magistral, com personagens bem construídas e inovando de forma arriscada mas que, no final, consegue funcionar bem e ser marcante. Após ser atingido por uma teia radioativa, Miles Morales, um jovem negro do Brooklyn, transforma-se no Homem-Aranha, inspirado pelo legado do já falecido Peter Parker. Mas, entretanto, quando, numa noite chuvosa, visita o túmulo do seu ídolo, é surpreendido com a presença do próprio Peter, vestindo o traje do herói por baixo de um sobretudo. A surpresa fica ainda maior quando Miles descobre que ele veio de uma dimensão paralela, assim como outras versões do Homem-Aranha. Não costumo gostar muito de universos paralelos nas histórias pois parecem-me quase sempre, motivos "fraquitos" e desinspirados para contar uma história. Mas, por mais incongruente que eu possa estar a ser, neste caso concreto, esta ideia dos universos paralelos funciona perfeitamente. Dentro da animação, diria que nunca vi um filme de super-heróis tão bom. Para miúdos e para graúdos. Fantástico!



03. Joker (2019)

Joker para além de ser um fantástico filme é um verdadeiro statement em relação àquilo que as personagens da banda desenhada, mesmo parecendo leves e direcionadas para um público juvenil, podem - e devem! - ser. Este é um filme profundo, triste, intenso e marcante. A atuação de Joaquin Phoenix no papel de Joker é maravilhosa e verdadeiramente realista, levando-nos a concluir que há muitos potenciais "Jokers" na nossa sociedade. Essa personagem do universo de Batman que tantas pessoas acham over the top e exagerada tem, na sua génese, a influência negativa que uma sociedade pode colocar nos ombros de um único cidadão. O filme mostra-nos, pois, como a solidão e o desespero perante uma vida tão infeliz e tão desencantada pode resvalar toda uma existência e afastar uma pessoa do lado bom para o lado mau. Já tenho dito muitas vezes que Joker é o meu vilão favorito de sempre e a principal razão pela qual eu leio Batman. E, neste filme, isso volta a ficar atestado. Acompanhamos o percurso inicial de Joker que, desconsiderado pela sociedade, e sendo um comediante fracassado, acaba por assassinar três homens no metro. Entretanto, a sua ação tem repercussões na sociedade, fazendo com que surja um movimento civil contra a elite de Gotham City. A personagem e o próprio ambiente do filme remetem bastante para o maravilhoso clássico do cinema Taxi Driver, realizado por Martin Scorsese e interpretado pelo sublime Robert de Niro que, curiosamente, também participa neste Joker com um papel secundário mas de sobeja importância. Esta é uma verdadeira obra prima do cinema que ninguém – fã ou não de banda desenhada – deveria deixar de ver.



02. As Aventuras de Tintin - O Segredo do Licorne (2011)

Finalmente, os fãs da banda desenhada franco-belga tiveram aquilo com que sonhavam há muitos anos, estou certo: uma grande produção cinematográfica para adaptar, como deve ser, uma bd do universo franco-belga. E se há filmes que demonstram o envolvimento e a paixão da equipa produtora do filme pela obra original, As Aventuras de Tintin – O Segredo do Licorne será o melhor exemplo disso. Aqui tudo é feito “à grande”. Música do filme? Que tal John Williams, um dos melhores compositores de sempre do cinema, com obras que passam pela Guerra das Estrelas ou por Indiana Jones? Realizadores? Que tal Steven Spielberg, um dos realizadores mais ecléticos e com mais sucesso de sempre? E se juntarmos a ele ainda o nome de Peter Jackson, responsável pela saga d’ O Senhor dos Anéis ou o remake de King Kong? E se juntarmos a tudo isto uma equipa enorme de produção? Esta adaptação de Tintim é pois como que um banquete de tudo o que é do bom e do melhor, com um único objetivo: ser uma verdadeira homenagem à clássica personagem criada por Hergé e, ao mesmo tempo, ser um espetacular filme de aventura – que bebe muito dos maravilhosos filmes de Indiana Jones –, com muita ação à mistura. Quando Tintim compra numa feira de rua uma figura de um galeão antigo está longe de imaginar a enorme aventura que o espera. Repentinamente toda a gente parece ficar interessada neste galeão e nos segredos que este guarda. A história do filme apoia-se no díptico O Segredo do Licorne e O Tesouro de Rackham, O Terrível (os meus dois álbuns favoritos de toda a série Tintim) e depois junta-lhes uma pitada da história d’ O Caranguejo das Tenazes de Ouro. Sei que muitos fãs da série original não gostaram desta certa liberdade criativa que houve. Na minha opinião, foi algo que resultou bem pois pretendeu-se, mais do que adaptar apenas uma história de Tintim, dar à personagem um fôlego cinematográfico e impactante. E isso foi claramente conseguido! É um filme bem executado do primeiro ao último segundo. Maravilhoso e a melhor adaptação de sempre de uma bd europeia para o cinema!




01. Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008)

Batman - O Cavaleiro das Trevas é o segundo filme da trilogia do realizador Christopher Nolan que nos deu a sua versão mais realista - e, portanto, mais próxima do nosso mundo - de Batman. Em vez daquele estilo demasiado(?) "cartoonesco" do Batman de Tim Burton, Nolan recriou a personagem de Batman, e toda a envolvente de Gotham City, de um modo que aproxima este universo daquele em que vivemos. O argumento é muito bem congeminado, permitindo ao espetador uma verdadeira viagem pelo mundo e submundo de Batman e Companhia. O desfile de personagens marcantes – com excelentes atuações por parte dos atores – também é fantástico. A história conta-nos a ascenção de Joker – magistralmente interpretado pelo ator Heath Ledger – que começa a ganhar importância no crime e a instalar o autêntico caos na cidade de Gotham. Batman será então testado psicologicamente num fantástico jogo do "rato e gato", marcado por numerosos plot twists que impactam o espectador. Todos os atores brilham neste filme mas, de facto, a interpretação de Joker, por parte de Ledger, é icónica e, possivelmente, a mais completa daquele que é, repito, o meu vilão preferido de sempre. A história é complexa e madura fazendo com que seja um filme muito mais para graúdos do que para miúdos. E embora existam muitas cenas de ação fantástica, o filme é muito mais marcado pela trama bem tecida e pelos mind games que Joker executa. Um filme brilhante e universal que continua a estar na primeira posição dos filmes que adaptaram bandas desenhadas. Obrigatório!

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