A oitava entrada na coleção de Clássicos da Literatura em BD, que a Levoir publica em parceria com a RTP, traz-nos a adaptação da obra-prima da literatura, Dom Quixote de la Mancha, da autoria de Miguel de Cervantes. Este é o segundo livro mais vendido de sempre no mundo – ficando apenas atrás da Bíblia Sagrada. Quanto a mim, é uma obra que merece todos os louvores que lhe são feitos pois trata-se de uma história completamente original, divertida (mas com um lado sério), que soube reinventar um género. Aliás, a própria conotação de “romance moderno” só surge após o aparecimento de Dom Quixote que subverteu as regras e a utilização do narrador enquanto sujeito mais ativo na própria história que é contada.
Gosto tanto ou tão pouco desta obra que o meu cão até tem o nome de Quixote!
Esta adaptação para banda desenhada, ficou a cargo dos argumentistas Philippe Chanoinat e Djian, e do ilustrador David Pellet. Nesta mesma coleção dos Clássicos da Literatura em BD, Philippe Chanoinat foi responsável pelo argumento de Oliver Twist e Djian foi o autor do argumento de O Livro da Selva. O ilustrador David Pellet é estreante nesta coleção.
Não querendo falar muito sobre a obra de Dom Quixote que é, acredito, bem conhecida por todos, refiro apenas que nos conta as aventuras do fidalgo castelhano Dom Quixote, que perdeu o nexo e a razão, à conta dos inúmeros romances de cavalaria dos quais era fã. Assim como, todos nós, somos fãs de banda desenhada, Dom Quixote era fã destes romances de cavalaria. E, logicamente, num dia decide imitar todos os seus heróis e ser também, ele próprio, um cavaleiro andante.
Faz-se acompanhar por Sancho Pança que, sendo seu fiel companheiro, tem várias vezes uma visão mais pragmática dos factos. A história vai-nos contando alguns episódios caricatos que resultam das viagens que os dois fazem nas suas montadas: Rocinante, o cavalo magro e frágil de Dom Quixote, e o burro de Sancho Pança. Nestes pequenos episódios da obra, Dom Quixote envolve-se sempre, de forma algo gratuita, nas mais mirabolantes fantasias que acabam por ser desmentidas pela realidade que, quase sempre, é dura para com o fidalgo castelhano. Mas isso não dissuade o protagonista que, rapidamente, está pronto para mais uma aventura e consequente fracasso. Há um desfasamento abismal entre o que é a realidade e a "realidade subjetiva" que Dom Quixote observa. E é neste desfasamento que reside a magia e humor na obra de Cervantes. As próprias existências de Dulcineia de Toboso, a donzela imaginária, ou dos monstros que, afinal, são moinhos de vento, são possivelmente o ponto máximo do alheamento e loucura de Dom Quixote.
Olhando para a adaptação para banda desenhada, parece-me que há uma questão chave que faz com que a adaptação da obra original funcione particularmente bem aqui: é que, como Dom Quixote é uma obra marcada por pequenos episódios, quando reduzida e compactada para 56 páginas de banda desenhada, não ficamos com a ideia de muita perda. Ou, pelo menos, tendo os argumentistas optado por selecionar os episódios mais marcantes da obra de Cervantes, julgo ser justo dizer que esta adaptação cumpre bem o tal overview da obra original a que se propõe.
É verdade que é uma banda desenhada com demasiado texto/balonagem. Contudo, e conhecendo a obra original em que o narrador assume uma importância tão relevante na forma como a história nos é passada, acho que se compreende e aceita que os argumentistas tenham feito justiça a esta questão mesmo que, para tal, tenham colocado bastante texto nesta adaptação.
Quanto às ilustrações de David Pellet, devo dizer que as mesmas não são muito vistosas, nem têm o nível de detalhe que eu gostaria. Mas que acabam por cumprir bem os pressupostos básicos. Aqui e ali existem algumas vinhetas onde o autor me fez abanar positivamente a cabeça, face à forma como decidiu ilustrar algumas cenas.
No entanto, também é verdade que, especialmente nas expressões das personagens, que me parecem forçadas, o autor revela algumas debilidades. Destaco ainda que há uma certa heterogeneidade no traço e ilustração do autor pois encontram-se desenhos mais "cartoonizados", outros mais semi-realistas e outros que até tentam ser (mais) realistas. O resultado fica algo incongruente embora, insisto, também consegue dar bons apontamentos aqui e ali. E a verdade é que este resultado meramente satisfatório está em linha com a grande maioria das obras lançadas até agora nesta coleção dos Clássicos da Literatura em BD. Portanto, em termos de ilustração, não esperem ficar surpreendidos. Nem pela positiva, nem pela negativa.
Nota ainda para as cores que me pareceram um artificiais e pouco orgânicas face às ilustrações.
Quanto edição, este é mais um bom trabalho por parte da Levoir. Boa encadernação, capa dura e papel de ótima gramagem. Considero os dossiês de extras dos livros desta coleção muito bem conseguidos e sucintos. Nesta obra, isso não é exceção também. Uma pequena nota negativa para o facto de todas as páginas terem, no seu canto inferior direito, uma pequena legenda quadrada onde, presumo, era inserida o número da página. Como as páginas estão numeradas ao centro, acaba por não fazer sentido que cada página tenha este pequeno quadrado em branco.
Em suma, esta parece-me uma adaptação bastante aceitável de uma obra maravilhosa da literatura que é Dom Quixote de la Mancha. Não é uma BD perfeita, nem nada que se pareça, mas cumpre de forma satisfatória.
NOTA FINAL (1/10):
7.1
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Dom Quixote
Autores: Philippe Chanoinat, Djian e David Pellet
Adaptado a partir da obra original de: Miguel de Cervantes
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Abril de 2021
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