Não, este artigo não procura ser uma análise à fantástica obra Peter Pan, de Loisel. A seu tempo, quando a edição da ASA, composta por 6 volumes, chegar ao seu término, é certo que farei uma análise completa a toda a obra. Por agora, olho apenas para as diferenças visíveis entre a nova edição da ASA e as antigas, da Bertrand e da Booktree.
Claro que, por agora, não deixo de sublinhar que o relançamento desta obra é uma fantástica aposta da ASA e que é uma série que eu recomendo totalmente.
Uma verdadeira obra sublime, quer na adaptação do argumento original de J.M. Barrie, quer na arte inconfundível do mestre Régis Loisel. Meste este que também assina - em parceria com Tripp - uma das minhas séries de banda desenhada preferidas de sempre: a magnífica Armazém Central, publicado pela Arte de Autor.
Não sendo, portanto, uma análise à totalidade da obra, este é um pequeno artigo, a que dei o nome de "comparativo", e em que comparo as edições de Peter Pan publicadas em Portugal. No caso do primeiro tomo da obra, intitulado Londres, o mesmo havia sido primeiramente editado em Portugal pela editora Bertrand. Estávamos em Julho de 1993. O segundo tomo ainda foi publicado pela mesma editora que, depois disso, abandonou a série. Nessa altura, a Booktree lançou o terceiro e quarto álbuns e a série ficou-se por aí. Quase 20 anos depois do lançamento de Londres pela Bertrand, a ASA publicou, já neste mês, esse mesmo volume inaugural desta obra-prima da banda desenhada mundial!
Assim, tendo os dois livros lado a lado há várias coisas que saltam logo à vista.
Depois, ainda olhando para a capa, há outra coisa que salta à vista: o arranjo gráfico - o design, vá - da capa. A edição da ASA é mais bonita, quanto a mim. Saíram aquelas barras a verde que eram desnecessárias e a ilustração do autor passou a ocupar a capa toda. Boa opção. Além disso, o próprio arranjo do nome do autor, da série e do volume ficaram arrumados de forma mais orgânica, com uma estética mais atual e mais agradável. Como se passaram quase 20 anos é normal que tenha havido esta evolução. Mas não deixa de ser pertinente assinalar isso. Acho que a ASA esteve bem pois manteve fidelidade ao original melhorando apenas o aspecto de forma subtil.
Mas há mais algumas diferenças quando abrimos os dois livros.
As primeiras duas páginas de guarda do livro da ASA passaram a ser em azul, perdendo-se aquela ilustração de Loisel que a edição da Bertrand tinha. Aqui, acho que não foi tão acertado. Preferia a versão anterior.
Na versão da Bertrand há uma fotografia do autor Loisel e uma dedicatória que o mesmo faz ao autor da obra original e à Disney. Infelizmente isso perdeu-se na edição da ASA. Contudo, em contrapartida, a versão da ASA recebe uma biografia de uma página de Régis Loisel que é uma boa adição para que os leitores mais incautos saibam algo mais sobre o autor.
As contracapas também são diferentes. Neste caso torna-se óbvio para mim que a versão da ASA é mais atual e mais bem conseguida do que a "velhinha" edição da Bertrand.
Finalmente, e se tenho estado a falar sobre pequenas diferenças entre as duas edições, considero que há uma diferença de maior importância. Que versa sobre as cores da obra.
Na versão da Bertrand as cores estão bem mais escuras, o que faz com que as ilustrações numa Londres sombria fiquem por vezes demasiado escuras e imperceptíveis. Na versão da ASA, as cores estão bem mais claras. Isso parece dar uma maior consistência entre a saturação das imagens. Se bem que também reconheço que em algumas vinhetas, como há um maior detalhe percepcionado, a versão da ASA perde um certo dramatismo na luz e sombras que a primeira edição continha e que também são importantes para a história que nos é contada. E isto deixa-me um bocado dividido: por vezes certas ilustrações ganham com as cores mais escuras da edição da Bertrand; noutras vezes, as ilustrações ficam mais legíveis e agradáveis na versão mais luminosa da ASA.
E isto também poderá ter que ver com o tipo de papel que varia entre ambas as edições. Na edição da Bertrand o papel era baço e na edição da ASA o papel é brilhante.
Abaixo coloco algumas imagens que tentam demonstrar esta diferença.
Em suma, compreendo que existam alguns leitores que já tendo os primeiros quatro volumes da Bertrand e da Booktree, optem por comprar apenas os volumes 5 e 6 da ASA. Não obstante, e tendo em conta as diferenças e harmonia que a edição da ASA traz consigo, parece-me que fará sentido que se compre a coleção completa da ASA. Se a carteira o permitir, claro.
Como não tinha ainda essa obra, vou comprar na totalidade a da ASA. Mas parece bonita a coleção.
ResponderEliminarÉ fantástica e totalmente recomendada. Boas leituras.
EliminarTenho de passar a ler mais os seus comentários porque concordo com eles, por isso, parabéns! De momento estou fora da minha residência (Lisboa) e como só tive acesso à Edição da "Asa-Público" há 3 dias, só agora estou a concluir um breve comentário às legendas deste primeiro volume, que penso publicar daqui a 1 ou 2 dias, aqui no "Face". Encontrei alguns erros, inaceitáveis para profissionais e para uma edição que se queria o mais perfeita possível, mas nada que ponha verdadeiramente em causa a qualidade geral deste álbum. Mas apetece dizer: "Se não querem passar por lobos não se vistam com a sua pele", o mesmo é dizer que ainda há algum trabalho a melhorar na qualidade da tradução, do português usado e das respectivas legendas. Continuação de bom trabalho!
ResponderEliminarCaro João Neves. Muito obrigado pelas suas palavras. Eu ainda não li esta nova versão da obra. É por isso que não opinei sobre tradução ou legendagem. Posso dizer que só passei brevemente os olhos pela legendagem e pareceu-me boa. Mas, lá está, não entrei em detalhes. Mas, certamente, quando ler os 6 volumes, atentarei nessa questão.
EliminarHugo parabéns pela sua paciência e pela atenção a detalhes que, para a maioria dos leigos (não é o meu caso..) passam despercebidos. É natural que hajam diferenças na reprodução de obras em prazos tão dilatados, nomeadamente pela evolução das técnicas e qualidade de impressão e, penso ser aqui o caso, por ter havido uma nova redigitalização dos originais (pormenor que poderia ter sido referido pelo editor numa nota suplementar). Lamentável o facto da Asa ter eliminado as ilustrações das folhas de guarda e as notas de agradecimento do autor. Poderiam também ter aproveitado a oportunidade e incluído materiais extra (esboços, estudos, ilustrações ...) que enriqueciam de sobremaneira a obra. Outro detalhe que chamou à atenção são a s evidentes diferenças na tradução - será que esta última é mais fiel ao original?... Aguardemos os seus comentários.
ResponderEliminarCaro António. Muito obrigado pelo seu comentário. Sim, já dei conta que há diferenças na tradução. Mas, até agora, ainda não reli a edição da ASA. Fá-lo-ei posteriormente e nessa altura poderei opinar sobre o tema. Uma coisa que vejo agora que me esqueci de referir é que há algumas diferenças em termos de tipo de leta. Mas nada que, a meu ver, afete negativa ou positivamente a leitura da obra.
EliminarHugo parabéns pela sua paciência e pela atenção a detalhes que, para a maioria dos leigos (não é o meu caso..) passam despercebidos. É natural que hajam diferenças na reprodução de obras em prazos tão dilatados, nomeadamente pela evolução das técnicas e qualidade de impressão e, penso ser aqui o caso, por ter havido uma nova redigitalização dos originais (pormenor que poderia ter sido referido pelo editor numa nota suplementar). Lamentável o facto da Asa ter eliminado as ilustrações das folhas de guarda e as notas de agradecimento do autor. Poderiam também ter aproveitado a oportunidade e incluído materiais extra (esboços, estudos, ilustrações ...) que enriqueciam de sobremaneira a obra. Outro detalhe que chamou à atenção são a s evidentes diferenças na tradução - será que esta última é mais fiel ao original?... Aguardemos os seus comentários.
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