TOP 10 - Séries de BD incompletas em Portugal que mereciam publicação integral

TOP 10 - Séries de BD incompletas em Portugal que mereciam publicação integral

Vivemos numa altura em que este pesado fardo que, há uns anos, os leitores de bd tinham que carregar, que era o de serem lançadas séries de BD que depois ficavam a meio e obrigavam esses mesmos leitores a terem que ir comprar os volumes seguintes aos mercados estrangeiros, já não é uma constante. 

Atualmente, tem-se registado um forte comprometimento das editoras com os fãs e as séries vão sendo terminadas. Bem sei que isto é um efeito “bola de neve”: se uma série é lançada e vende pouco, os editores tiram a ilação de que, provavelmente, não faz sentido continuar com a série. Não obstante, também é verdade que o compromisso das editoras em terminar as séries também faz com que, hoje em dia, os leitores – "gatos escaldados" de outros tempos – arrisquem mais na compra de uma série. 

E para além desta nova e salutar tendência editorial em Portugal, até temos assistido ao resgate de séries excelentes que tinham sido deixadas a meio. Estou a lembrar-me de Armazém Central, que agora é publicado pela Arte de Autor, ou de Mattéo, que passou a ser publicado pela Ala dos Livros.

Assim, trago-vos a minha lista das séries de BD que se mantêm, à data, incompletas em Portugal e que, na minha opinião, mereciam (e bem!) ser publicadas na íntegra no nosso país.

10. Juan Solo, de Alejandro Jodorowsky e Georges Bess

Esta é uma pequena série com 4 tomos, que nos conta a história fantástica de Juan Solo, um jovem e carismático filho de uma prostituta, cuja ambição insaciável fará dele um implacável assassino que conhece a riqueza e a redenção. 

É um thriller bastante violento e inesquecível, muito bem construído por Alejandro Jodorowsky e ilustrado por Georges Bess. Infelizmente, a ASA apenas publicou os dois primeiros tomos da série, nomeadamente, Filho de Uma Arma e Os Cães do Poder. 

Sendo uma história de apenas 4 tomos, é uma pena que não tenha sido integralmente publicada por cá. Mas também me parece bastante "fácil" de editar, seja da forma que for: 1) ou lançando um integral; 2) ou lançando dois álbuns duplos; 3) ou lançando a série toda em 4 tomos; 4) ou lançando apenas os dois álbuns que faltam (de forma isolada ou num volume apenas).

09. O Peixe – Palhaço, de David Chauvel e Fred Simon

Esta é uma banda desenhada em 4 volumes que nos traz uma história de gangsters, a la Era Uma Vez na America, de Sergio Leone, e que nos é apresentada num estilo de ilustração franco-belga. 

É uma história muito bem montada, que me cativou desde a primeira página, mas que, lamentavelmente, se ficou pelo primeiro volume, em termos de edição em Portugal. 

Esta obra foi editada na chancela Biblioteca Novos Rumos, da extinta editora Meribérica/Liber. Sendo também uma série com apenas 4 volumes e completamente perdida no tempo – até já o primeiro tomo não é fácil de encontrar – confesso que gostaria de vê-la publicada em Portugal. 

Se a capa – nada bem conseguida, diga-se – pode não seduzir muitos leitores, garanto que a história e a arte fariam felizes muitos leitores de bd franco-belga. Um artigo ao primeiro volume, Happy, já foi feito aqui no Vinheta 2020.

08. Gipsy, de Enrico Marini

Tanto quanto sei, a carismática série Gipsy, de Enrico Marini – autor do qual já tivemos um bom número de obras publicadas em Portugal, tais como A Estrela do Deserto, As Águias de Roma, Rapaces, O Escorpião ou, mais recentemente, Batman: O Príncipe Encantado das Trevas – ficou apenas a um volume de ser terminada. 

A editora Meribérica/Liber editou o primeiro tomo e, depois, a ASA ainda publicou os 4 volumes seguintes de Gipsy – de um total de seis – mas, lamentavelmente, esta série ficou aquém de ser terminada. Neste caso concreto, há que ter em conta que as aventuras de cada livro não têm uma ligação muito direta entre si e que, nesse sentido, é uma série que dá para ler a partir de qualquer número. E por isso, não é tão “dramático” que a sua publicação não tenha sido feita na íntegra.

Diga-se também, em abono da verdade, que em termos de argumento, não é uma série por aí além. Não obstante, é uma série de ação divertida, com um protagonista cheio de carisma e com ilustrações espetaculares que eu gostaria de ter visto terminada em Portugal.

07. Do Outro Lado das Nuvens, de Régis Hautière e Romain Hugault

Magoa o coração de um leitor de bd que uma banda desenhada com apenas dois tomos, seja deixada a meio! É o caso deste Do Outro Lado das Nuvens, de Hugault e Hautière. Provavelmente, tal aconteceu porque a editora que publicou esta série em Portugal, a Vitamina BD, cessava a atividade editorial deixando muitas séries a meio. E esta série foi apenas uma delas. Os livros de Hugault são bastante sui generis porque a devoção do autor em desenhar aviões – e outros temas da aviação – bem como, pin-up girls, parece ser o seu maior foco em grande parte dos livros que faz. E alguns até não têm um grande argumento. Não obstante, a sua arte é espetacular e o detalhe que imprime às suas ilustrações é magnífico. 

A mesma editora publicou O Último Voo, que era um one shot e que foi interessante de ler. Mas este díptico Do Outro Lado das Nuvens, ambientando-se no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, parecia trazer um argumento – assinado por Hautière - bastante interessante, baseado num clima de rivalidade entre dois aviadores. Uma pena que tenha ficado "pendurado".

06. Sky Doll, de Alessandro Barbucci e Barbara Canepa

Tal como a obra que mencionei anteriormente, esta foi mais uma série que a Vitamina BD não conseguiu acabar. Já analisada aqui no Vinheta 2020, é uma banda desenhada que apresenta uma arte ilustrativa verdadeiramente espantosa, com fortes influências da Disney e com uma premissa futurista que, não sendo perfeita, está muito interessante. 

Em Portugal foram editados os primeiros três de um total de quatro volumes da série. Por isso, é mais um caso de uma série que, infelizmente, “morreu na praia”. 

Pessoalmente parece-me que Skydoll passou um pouco ao lado de muitos leitores (eram outros tempos, em que o lançamento de uma bd quase não era acompanhado de promoção e a internet e redes sociais não tinham o peso que têm hoje em dia) mas, parece-me que se fosse relançado num integral de 4 tomos, em dois álbuns duplos ou relançado em 4 álbuns – e bem promovido – facilmente alcançaria sucesso. E digo até mais, é um franco-belga (com influências americanas e de mangá, é certo) que tem a capacidade de conquistar (também) jovens leitores. Portanto é uma daquelas obras que “mata dois coelhos com uma só cajadada”. Uma pena que não tenha sido terminada e uma oportunidade que se mantém no ar para quem a quiser agarrar.

05. O Escorpião, de Enrico Marini

Neste caso há que reconhecer que, pelo menos, foi editado em Portugal o primeiro ciclo completo da série que são especificamente 6 volumes. O primeiro tomo pela Meribérica/Liber e os seguintes pela ASA. 

No entanto é com pena que vejo que, lá fora, esta série continua a ser publicada e conta já com 13 álbuns, indo já no terceiro ciclo. 

Esta é uma série de que sempre gostei bastante. Conta-nos a história de um homem, implacável e agressivo, com muito sucesso junto das mulheres e que, depois de perseguido pelo Cardeal Trabaldi, começa a ir atrás das altas instâncias do Vaticano. 

Tem todos os ingredientes de uma boa e inesquecível série de ação e é servido por uma arte ilustrativa de qualidade superior, por parte de Marini. Aquela a que o autor suiço nos tem habituado. 

Para mim, é uma grande pena que a série tenha sido abandonada pela ASA.

04. O Combóio dos Órfãos – de Philippe Charlot e Xavier Fourquemin

Das obras que constam nesta minha lista, o aparecimento deste O Combóio dos Orfãos neste TOP pode estar a ser uma injustiça da minha parte. E explico porquê: tanto quanto sei, por parte da editora Maria José Magalhães, esta obra composta ao todo por 8 álbuns, dos quais os primeiros 4 tomos (metade da série) já foram publicados em Portugal pela editora Arcádia, do Grupo Babel, até não está descontinuada. Portanto, talvez não seja justo eu dizer que esta série ficou incompleta. Aparentemente, tenho ideia que está nos planos da editora publicar a restante metade da coleção que falta publicar. Mas, por agora, acho que também é justo dizer que a série está, pelo menos no momento atual, incompleta. Por ventura deixará de o estar. Mas no momento em que escrevo estas linhas, a série está em suspenso. O primeiro volume, que reúne os primeiros dois tomos, foi publicado em Portugal em 2014 e o segundo volume (com os tomos 3 e 4) foi editado em 2018. É bastante tempo entre publicações. 

Pessoalmente, posso dizer que esta série me conquistou desde o primeiro segundo, sendo uma maravilhosa fábula de crianças orfãs abandonadas à sua sorte pela America do Norte, e que prende o leitor às personagens inesquecíveis que nela habitam. Ficaria muito, muito feliz se, brevemente, a série deixasse de estar incompleta. Não estando oficialmente “descontinuada”... a verdade é que já está “incompleta” há bastante tempo.

03. Peter Pan, de Régis Loisel

NOTA POSTERIOR: Já tinha este artigo escrito na sexta-feira passada quando ontem tive a confirmação de que Peter Pan, de Régis Loisel, será publicado na íntegra, pelas mãos da ASA e do jornal Público, já a partir do próximo dia 15 de Abril! Mas que fantástica notícia!

Isto era o que eu tinha escrito antes de saber desta novidade de arromba:

Esta é um obra magnífica da banda desenhada mundial e, infelizmente, só 4 dos seus 6 tomos foram publicados em Portugal. 

Os dois primeiros pela Bertrand e os dois seguintes pela Booktree. É uma pena porque esta adptação livre da personagem de Peter Pan e do seu universo, criados por J. M. Barrie, têm nesta obra uma abordagem adulta e quiçá triste que nos remete também para o universo de Oliver Twist, de Charles Dickens, e nos leva numa fantástica saga. 

Maravilhoso e uma obra prima da banda desenhada. Os leitores portugueses merecem esta obra.

02. Soda, de Gazzotti e Tome

Esta é uma série franco-belga, da autoria de Gazzotti e Tome, que já conta com 13 tomos publicados na sua versão original. 

Infelizmente, em Portugal, apenas dois números foram publicados pela Booktree: o tomo 1, A Morte de Um Anjo, (que conta com o argumentista Philippe Warnant no lugar de Tome e, por isso, não é, a meu ver, tão bom como os álbuns a partir do tomo 3) e o tomo 9, Livrai-nos do Mal. 

Soda é um polícia que, perante a sua mãe, finge ser um padre para não inquietá-la mas que, na verdade, está sempre envolvido na resolução de muitos crimes e em situações-limite. A série tem um ótimo ritmo, sendo uma boa mistura de comédia com ação e é maravilhosamente ilustrada por Gazzotti (autor de Seuls), no seu estilo franco-belga da escola Spirou. 

Custa-me a crer que esta série não vendesse bem em Portugal se, naturalmente, fosse bem promovida junto dos canais disponíveis. Adoro-a.

01. Sambre, de Yslaire

E a série que eu mais lamento que não tenha sido integralmente publicada em Portugal é mesmo Sambre, de Yslaire. 

Esta é uma série de enorme sucesso na Europa e que, quando visito uma loja de bd em Bruxelas, por exemplo, encontro sempre Sambre em destaque. 

Do primeiro ciclo da história, que é composto por 8 tomos, foram apenas publicados em Portugal os primeiros 4 tomos (tomo 1, pela Baleia Azul, e tomos de 2 a 4 pela Witloof). Depois ainda há outros ciclos que, mesmo sendo bons, não me parecem tão espetaculares como a série principal. 

Não compreendo como nenhuma editora pega nesta série. Parece-me até que consegue agradar a um público masculino e, ao mesmo tempo, feminino, dada a natureza de "romance vitoriano gráfico". 

É uma série multi-premiada que nos conta a história de uma família rural burguesa do século XIX, cujo protagonista, Bernard Sambre, se apaixona por Julie, uma jovem vagabunda de olhos vermelhos que a sua família odeia ao nível da superstição. Esta era das séries que mais gostaria de ver publicadas na íntegra em Portugal e acho que pode mesmo ser um sucesso de vendas. Se, bem promovida, claro. É preciso que as pessoas conheçam para que depois possam comprar.

E vocês, que outras séries de BD que ficaram incompletas gostariam de ver (re)publicadas em Portugal?