As TLS Series são antologias de banda desenhada portuguesa, que foram desenvolvidas por autores do célebre The Lisbon Studio, um estúdio que reúne alguns dos nomes mais conceituados da produção nacional de banda desenhada, dos últimos anos. Este grupo de artistas partilhou em Lisboa um espaço físico para desenvolver o seu trabalho. E estes álbuns são antologias que reúnem os seus trabalhos durante esse tempo. Desde 2017, foram editados quatro volumes da coleção TLS Series, intitulados, respetivamente, Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes.
Cada volume tem, pois, por isso, um tema subjacente, um ponto de partida, do qual todos os autores partem para criar a sua história. Os primeiros 3 volumes foram co-editados pela Comic Heart e pela G. Floy Studio. O quarto e último volume, Raízes, foi editado pela editora A Seita e pela Comic Heart.
Eventualmente, poderia analisar cada volume ou cada história em separado. Haveria, certamente, legitimidade para o fazer dessa forma. Mas não creio que seja de uma forma isolada que devemos olhar para estas antologias de banda desenhada. Pelo menos, não é assim que olho para elas. Mais do que enaltecer esta ou aquela história, ou apontar este ou aquele defeito, penso que o mais importante é mesmo ter em conta que esta iniciativa foi fantástica do primeiro ao último volume, da primeira à última página. Enquanto catálogo da produção nacional, enquanto prospetor de exercícios narrativos na área da bd e, claro, enquanto iniciativa incubadora da criatividade nacional. Não há como não tirar o chapéu a esta ideia e aos seus resultados concretos. Que boa maneira de mostrar que há muitos autores portugueses com elevada competência na banda desenhada.
Olhando para estes quatro livros, há algo que rapidamente sobressai e que é raro de encontrar quando se trata de um antologia de banda desenhada que, quase sempre, procura reunir trabalhos seminais de bd independente. Pois, se há uma coisa que é característica à banda desenhada independente – ou a qualquer outra arte independente – é o habitual pouco profissionalismo da edição, por mais bela que seja, no caso da banda desenhada, a arte ou a ideia subjacente à história. Mas isso é uma coisa que não existe nestes TLS Series. Pelo contrário. O produto físico não só é profissional ao mais alto nível, como apresenta um aspeto bonito, tornando estes livros em algo extremamente apetecível do ponto de vista de um colecionador de banda desenhada.
As capas são duras e grossas, o papel é baço e de boa gramagem e há sempre um ou mais prefácios que introduzem cada um dos volumes. Cada livro é composto por 6 ou 7 histórias, em que apenas uma dessas histórias é impressa a cores, enquanto que as restantes são a preto e branco. O autor da história a cores de cada livro é também o autor responsável pela capa desse mesmo volume. E que magníficas capas (e contracapas) elas são! Eu bem que defendo que a construção de uma capa deverá ser algo que um autor de banda desenhada deve levar muito em conta. Especialmente nos dias de hoje. E estes quatro volumes apresentam capas muito bem concebidas. Atribuo destaque aos volumes Cidades e Viagens, que têm capas verdadeiramente incríveis. Embora Silêncio e Raízes também tenham boas capas, diga-se.
Há também uma homogeneidade em todos os livros no que diz respeito à edição, ao design dos livros. Tudo isto nos permite verificar que é um trabalho conjunto de amor à 9ª arte. E poder testemunhar isso nestas magníficas antologias que, ainda por cima, têm um preço tão simpático, é uma grande oportunidade que, a meu ver, um fã de bd não deve deixar passar.
Quanto às histórias, temos argumentos, ilustrações e linguagens de todo o tipo. Traços mais "cartoonizados", traços mais realistas... há de tudo um pouco. A heterogeneidade de histórias existe mas é-nos dada, conforme já referido, em cuidadas edições que almejam alcançar uma homogeneidade e uma harmonia que são raras encontrar em antologias de banda desenhada. Há diversidade mas também há harmonia em torno dessa diversidade.
Olhando de forma geral para as histórias que aqui temos, é justo afirmar que há qualidade em todas elas e em todos os géneros adoptados pela fantástica galeria de autores que compõem estes livros.
Apenas para nomear as minhas favoritas, diria que Quiosque, de Joana Afonso; Muralha de Filipe Andrade; O Rosto do Fantasma, de Marta Teives e Pedro Moura; Deslumbre e One Way, de Bárbara Lopes; Monte Morte, de Jorge Coelho e André Oliveira; Tempo, de Paula Bivar de Sousa; Escolha do Dia, de Nuno Rodrigues e Pedro Ribeiro Ferreira; e Franzi, de Nuno Saraiva, merecem a minha preferência. E isto sem desprimor para todas as restantes histórias a que não faço menção.
Pequeno comentário final: o primeiro volume desta coleção, o Cidades, há muito se encontra esgotado em todo o lado. Portanto, aproveito para agradecer aos meus caríssimos José Hartvig de Freitas e Bruno Caetano por me terem fornecido um dos últimos exemplares que ainda era possível recuperar.
NOTA FINAL (1/10):
9.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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TLS Series - Cidades
Autores: Dileydi Florez, Filipe Andrade, Gonçalo Duarte, Joana Afonso, João Tércio, Marta Teives, Pedro Moura, Ricardo Cabral
Editora: G. Floy / Comic Heart
Páginas: 120, a preto e branco (inclui uma história a cores)
Encadernação: Capa dura
Lançamento: 2017
Autores: André Oliveira, Bárbara Lopes, Darsy Fernandes, Filipe Pina, Jorge Coelho, Marta Teives, Nuno Rodrigues, Paula Bivar de Sousa, Pedro Moura, Pedro Ribeiro Ferreira, Ricardo Cabral
Editora: G. Floy / Comic Heart
Páginas: 144, a preto e branco (inclui uma história a cores)
Encadernação: Capa dura
Lançamento: 2017
Autores: Dileydi Florez, Filipe Andrade, Nuno Rodrigues, Nuno Saraiva, Pedro Ribeiro Ferreira, Quico Nogueira, Ricardo Cabral
Editora: G. Floy / Comic Heart
Páginas: 128, a preto e branco (inclui uma história a cores)
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Maio de 2018
Autores: Ana Branco, Bárbara Lopes, Filipe Andrade, Marta Teives, Nuno Saraiva, Pedro Moura, Quico Nogueira, Ricardo Cabral
Editora: A Seita / Comic Heart
Páginas: 136, a preto e branco (inclui uma história a cores)
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2020
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