sexta-feira, 27 de novembro de 2020

TOP 5 - As melhores novelas gráficas da última edição da Levoir e Público



TOP 5 - As melhores novelas gráficas da última edição da Levoir e Público 

Depois de, no passado sábado, ter chegado ao fim a 6ª edição da Coleção de Novelas Gráficas da Levoir e do jornal Público, é tempo de fazer uma pequena reflexão em relação a esta última edição, olhando para o seu conjunto, e definir quais foram as 5 melhores obras desta leva. 

Tal como todas as atividades de 2020, também a edição deste ano das Novelas Gráficas, sofreu com a pandemia de covid-19, tendo a coleção sido lançada apenas no final do mês de Agosto, cerca de dois meses mais tarde do que aquilo que aconteceu em edições anteriores. 

A série começou bastante mal, com a terceira e quarta obra, O Neto do Homem mais Sábio e Rever Paris, respetivamente, a serem lançadas com mais erros e falhas do que o aceitável, sendo de especial importância, o erro no ano do nascimento do autor José Saramago, em O Neto do Homem mais Sábio, que colocava o escritor português a nascer nos anos 90(!) e, a meu ver, ainda mais difícil de aceitar, a famigerada página 58 do álbum Rever Paris, que apresentou imagens impressas em baixa resolução, deixando-as "pixelizadas" e, consequentemente, arruinadas. Difícil de compreender também, foi a dualidade de critérios que a editora adotou face as erros destas duas obras. No caso de O Neto do Homem mais Sábio decidiu fazer uma nova edição da obra, recolhendo a primeira edição, sem custos adicionais para os leitores que a tinham adquirido. Algo que considero que foi responsável e bem feito, por parte da Levoir. Mas em Rever Paris, a editora nem sequer se pronunciou sobre os erros tão gritantes da obra. O que é lamentável. 

Há, no entanto, que ser justo e afirmar que, olhando para o todo, a edição das obras foi bastante satisfatória e sem mais problemas de aí em diante. É de assinalar que esta 6ª Coleção de Novelas Gráficas – que continuo a considerar O ACONTECIMENTO da edição de banda desenhada em Portugal – apresentou, em termos gerais, uma boa seleção de livros, todos inéditos em Portugal (à exceção de As Paredes Têm Ouvidos), e a um preço extremamente competitivo (10,90€). Por este preço apetecível, é quase "serviço público" aquilo que a editora faz. E, por esse motivo, todos os amantes de banda desenhada deverão estar gratos por esta fantástica coleção. 

Uma pequena nota que faço, meramente pessoal, é que me parece que o alinhamento das obras poderia ser mais bem dividido entre si. Neste ano, a grande maioria das melhores obras ficaram para o fim. Tendo em conta que interessa "agarrar" o leitor, desde o primeiro momento, será que as melhores obras não deveriam ser lançadas logo no início da coleção? Fica a questão no ar. 

A inclusão de três obras que, mesmo não sendo criadas por autores portugueses, tratam de assuntos do interesse geral dos portugueses, tais como a biografia de José Saramago, em O Neto do Homem mais Sábio, e o período do Estado Novo em Portugal, que é retratado em As Paredes Têm Ouvidos e Ao Som do Fado, merece uma vénia da minha parte. 

Deixo-vos então com a lista daqueles que considero os 5 melhores livros desta 6º edição da coleção  de Novelas Gráficas que, para os leitores mais atentos que seguem o Vinheta 2020, não deverá apresentar grandes surpresas:

 





5. A Vida é Bela, Se Não Desistires, de Seth 


Esta é uma obra que chegou aos leitores portugueses com muito atraso em relação ao lançamento original. 

A Levoir jogou por isso, uma boa cartada, com este livro, prestando o tal “serviço público”, que por vezes refiro, aos amantes portugueses de BD. 

Devo admitir que, embora esta seja uma obra com qualidade, um bom livro de BD, confesso que me deixou, ainda assim, um pouco desiludido. Porquê? Porque estava à espera de melhor ainda! E talvez a culpa disso seja o demasiado hype que envolve A Vida é Bela, Se Não Desistires. A meu ver, é bom, mas não considero que seja tão magnífico assim. É apenas bom. 

Não obstante, assumiu-se como um dos reforços de peso desta coleção e ocupa um meritório 5º lugar na minha lista. 









4. The New Deal, de Jonathan Case 


Ao contrário do anterior A Vida é Bela, Se Não Desistires, aqui o sentimento foi o oposto. Não estava com tantas expetativas com esta obra mas reconheço que a sua leitura foi uma lufada de ar fresco! 

The New Deal faz-me lembrar aqueles músicos maravilhosos que, utilizando poucos acordes, conseguem fazer músicas simples, mas que são, igualmente, soberbas. 

O autor poder-se-ia ter perdido num argumento mais profundo, com questões político-sociais mais prementes, mas, ao invés, optou por fazer tudo de forma simples e direta. 

Esta é uma história policial bem straight e ligeira, que convida a uma leitura sem pausas da obra. E, em termos visuais, é uma maravilha para os olhos. 

Uma verdadeira aposta ganha da Levoir. 









3. Acender Uma Fogueira, de Chabouté 


Reconhecendo que não será uma obra para todos, Acender Uma Fogueira é uma obra verdadeiramente magnânime pelo propósito que tem, pela componente gráfica e por trazer consigo uma mensagem que, até mesmo sendo de alguma forma "batida", sempre convém relembrar: há coisas maiores do que o homem. 

E ser humilde enquanto espécie animal, fazer-nos-á chegar mais longe do que se adoptarmos uma postura de que somos donos e senhores do mundo e de tudo o que nele acontece. Uma poderosa mensagem, num poderoso livro de Chabouté. 

A qualidade é uma garantia nesta obra e bem que eu gostaria que este autor passasse a ser mais publicado em Portugal. 

Mais um tiro certeiro da Levoir. 







2. Karmen, de Guillem March 


Karmen é uma obra verdadeiramente maravilhosa que fala sobre o suicídio. E a forma como March decidiu abordar esta temática apresenta uma grande objetividade e inteligência, sem descurar um olhar sensível sobre o assunto. 

História e ilustração complementam-se perfeitamente, dando-nos uma obra sublime e que recomendo vivamente para qualquer amante de boa banda desenhada. 

Temos um argumento inteligente, bem temperado com questões metafísicas mas querendo, também, ser uma história acessível e mundana. Quanto à componente gráfica, esta é uma obra de enorme fôlego artístico! 

A Levoir também está de parabéns pela aposta nesta obra fantástica. É um dos melhores livros do ano. Não só da Levoir como da totalidade de livros de bd lançados em 2020, no mercado português. Muito recomendável! 







1. Ao Som do Fado, de Nicolas Barral 


Curiosamente, foi o último livro a ser lançado nesta coleção que arrecada o título de melhor novela gráfica da 6ª edição da coleção. E, na verdade, até foi uma vitória relativamente fácil. Talvez, só mesmo o anterior Karmen, tenha ombreado com este Ao Som do Fado na obtenção pela primeira posição. 

Tudo parece funcionar bem neste livro. O argumento, que nos remete ao período do Estado Novo em Portugal, é excelente, as ilustrações são bonitas, as imagens de locais portugueses são fiéis, é um documento histórico, tem personagens bem desenvolvidas, uma fantástica capa e até tem a elegância de um título muito inspirado. Se tudo o que envolve esta obra não é perfeito, anda lá perto. 

É uma proposta obrigatória, mais que recomendada, e assume-se como um dos melhores livros do ano. 

Daqueles livros que, daqui a 50 anos, continuará a ser um fantástico romance, uma magnífica ode a Portugal - e à cidade de Lisboa, em particular -, e um valioso testemunho histórico sobre o Estado Novo, que tão profundamente marcou a história do nosso país. Se ainda não o compraram, não percam mais tempo. 





-/-

Todas as obras receberam análises no Vinheta 2020.

Eis os links para os respetivos artigos:

O Expresso do Amanhã Vol. 1, de Jean-Marc Rochette, Jacques Lob

O Expresso do Amanhã Vol. 2, de Jean-Marc Rochette, Jacques Lob, Benjamin Legrand

O Neto do Homem Mais Sábio, de Tomás Guerrero

Rever Paris, de François Schuiten e Benoît Peeters

As Paredes Têm Ouvidos, de Giorgio Fratini

The New Deal, de Jonathan Case


Bordados, de Marjane Satrapi

Arde Cuba, de Agustín Ferrer Casas

Karmen, de Guillem March

A Solidão do Executivo, de Hernán Migoya e Bartolomé Seguí


Acender uma Fogueira, de Christophe Chabouté

Ao Som do Fado, de Nicolas Barral

4 comentários:

  1. estando em geral de acordo, não deixaria de incluir a obra "Bordados" da Marjane Satrapi que, apesar da simplicidade do traço, a sua leitura, a obra no seu conjunto, foi concerteza a que mais me agradou. Duma simplicidade e profundidade e seriedade remete-nos para um dos desejos mais curiosos dos homens: o que as mulheres falam entre si e se as conversas são muito diferentes das conversas dos homens. A obra coloca-nos numa posição privilegiadas dum certo "voyeurismo" que, sem as senhoras que participam na conversa saberem, nos permite acompanhar os seus pensamentos e o contar de algumas das suas experiências. Achei genial. Na minha opinião o traço simples adequa-se muito bem à obra, fazendo o leitor centrar-se mais nas conversas no que na "beleza" do traço, tornando este de certa forma unicamente instrumental na forma que a autora quis contar a história. Excelente.

    Letrée

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    1. Caro Letrée,
      Obrigado pelo seu comentário. E concordo em tudo com o que diz sobre a obra Bordados. Na verdade, foi das obras que esteve quase a entrar neste TOP 5. Achei muito interessante, como escrevi na análise que lhe fiz. Um abraço.

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  2. Boas Hugo, embora considere que a qualidade das obras selecionadas é, de um modo geral, razoável e, em casos particulares, boa, como já referi anteriormente, seria bom que, para um lançamento com esta periodicidade anual, a seleção fosse um pouco mais criteriosa. Julgo que a Levoir, como qualquer outra editora, estaria aprestar um serviço melhor ao leitor se avaliasse a verdadeira relevância dos títulos editados, Não falo de gostos mas de conhecimento e pesquisa aturada - alguns títulos, parecem-me francamente aleatórios e para "preencher calendário". É certo que o licenciamento por vezes é demorado e complicado, mas para certos autores valeria o investimento de tempo (e dinheiro). Para além disto, continuam a permanecer problemas que "mancham" esta coleção desde à alguns anos:
    - pouca atenção à balonagem e ao desenho de letra (gritante na edição de "A Vida é Bela, Se Não Desistires"...)
    - pouca atenção ao suporte impresso (papeis, gramagem, etc...)
    - pouca atenção ao valores de produção e acabamento gráfico (reprodução de cores, comportamento da impressão sobre o papel...)
    - ausência de uma verdadeira revisão de texto e de provas gráfica, etc, etc...

    Continuo a dizer que esta coleção, poderia ser dividida ao longo do ano, em vez de ser concentrada numa janela de tempo de 2-3 meses, dando tempo ao editor de acompanhar a produção e ao leitor a possibilidade de adquirir, de forma espaçada, as obras. Da mesma forma julgo que, mantendo-se a coleção, deveria ser dado a cada a obra a sua identidade gráfica (lombada, capa/contracapa, guardas, papel, etc...), mesmo que com algum acerto no valor final do livro. Abraço.

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    1. Caro António,

      Obrigado pelo seu comentário. Concordo em boa parte com o que diz. No entanto, também há que ter em conta, que o preço é muito convidativo. E para ter algumas obras que seriam mais caras do que 10,90€, é preciso compensar com outras, cujo valor (quer de mercado, quer de produção) não seria tão grande. Por exemplo, o álbum duplo Rever Paris, a cores, por 10,90€ é um valor que deve, sozinho, gerar prejuízo. Mas claro, a editora compensa com outros que dão mais lucro. Mesmo assim, concordo consigo. Não é uma coleção perfeita (de todo) e há que continuar a melhorar.
      Quanto ao seu último parágrafo é que já discordo mais. Por muito que eu gostasse de ter as lombadas originais, acho que também é isto que faz com que a coleção seja uma coleção. Caso contrário, seriam apenas lançamentos singulares da editora. Até poderia ser mais benéfico para nós, leitores. Mas não seria uma coleção. Digo eu.

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