O Seu Nome é Banksy, dos autores italianos Francesco Matteuzzi e Marco Maraggi, foi lançado no passado mês de Outubro, no Amadora BD, com a particularidade de ser a primeira aposta de banda desenhada da nova editora Iguana, uma chancela da Penguin Random House, que se assume como sendo vocacionada para a publicação de BD e livros ilustrados.
E como primeira aposta em banda desenhada, temos este livro, de uma dupla criativa italiana, que, não sendo uma biografia sobre Banksy – porque, afinal de contas, a identidade do(s) ou da(s) artista(s) continuam no anonimato – é um livro que procura dar a conhecer a relevância do trabalho de Banksy no mundo em que vivemos.
Desde o seu aparecimento até às iniciativas que o(a) tornaram mais célebre. Ninguém sabe muito bem se Banksy é um homem ou uma mulher ou, talvez mais possivelmente, se Banksy é, no fundo, o nome para um coletivo de vários artistas anónimos. E também não será, naturalmente, este livro que dissipará as nossas dúvidas ou suspeições quanto a isso. Não obstante, o livro prima por sintetizar, numa boa dose informativa, aquilo que se sabe sobre Banksy. E, até, o que não se sabe. Que é muito!
Atualmente, Banksy é um dos artistas mais famosos do mundo e, graças ao seu contributo, a street art, ou a arte urbana, tornou-se respeitada e adorada por muitas pessoas à volta do mundo. A título pessoal, deixem-me dizer-vos que eu sou um grande admirador de arte urbana e, portanto, fiquei bastante curioso com um livro de BD sobre Banksy.
Francesco Matteuzzi é o argumentista deste livro e opta por nos passar a informação através de duas personagens que, dialogando entre si, vão refletindo, nas suas conversas, a informação sobre Banksy que o autor quer passar ao leitor. E é através das conversas entre este rapaz e esta rapariga, ambos apaixonados pela arte urbana, que vamos conhecendo um pouco mais sobre a carreira artística de Banksy, a sua posição política, a sua responsabilidade social e até algumas das teorias que existem sobre a sua verdadeira identidade.
A forma de contar a história, por parte de Matteuzzi, acaba por funcionar bem, embora tenha que admitir que, em alguns momentos, os diálogos entre as personagens parecem pouco naturais e algo forçados. Por vezes, parece que o autor quer tanto passar-nos informações que se esquece de fazer um diálogo mais natural e plausível entre as suas personagens.
Há, também, que dizer que aquilo que este livro faz bem, é dar-nos a conhecer um pouco mais acerca da personalidade de Banksy de uma forma simples e apelativa. É uma banda desenhada demarcadamente educativa e consegue fazer isso sem se tornar demasiado aborrecida. É uma daquelas "boas aulas" sobre algo, portanto. A informação é-nos dada de forma simples, assente no diálogo entre as duas personagens.
Contudo, uma queixa que se pode fazer é que, embora neste livro se fale de algumas das obras mais emblemáticas de Banksy, as mesmas nunca (!) são reproduzidas ou, pelo menos, apresentadas de forma visual. Apenas se fala sobre as mesmas. Há uma teorização sobre a prática de Banksy, portanto. Ora, esse é, quanto a mim, o maior pecado deste livro. Como se pode, sequer, conceber a ideia de um livro de banda desenhada educativa, sobre um tema que é visual e artístico, sem que se mostre essa arte e esse visual? Parece-me algo tão absurdo que a melhor explicação com que consigo avançar é que, por ventura, os autores não quiseram ter quaisquer problemas do ponto de vista de direitos(?). Mesmo assim, parece-me que poderiam ter desenhado as obras de Banksy.
Sem que se mostre nada sobre as obras de que falam as personagens, algo a que me vi obrigado a fazer, foi a ir ao site Google para conhecer, ou relembrar, algumas das instalações e obras de Banksy. Mas isso sou eu, que sou um grande apaixonado pela street art. Não creio que todo o leitor que pegue neste livro tenha essa mesma vontade e paciência que eu tive.
Olhando para os desenhos da autoria de Marco Maraggi, posso dizer que o trabalho é maioritariamente satisfatório. Com um estilo de ilustração americano na conceção, e com cores bastante saturadas, o autor consegue ir ilustrando uma história que, diria, como é amplamente assente nos diálogos entre as duas personagens, corria, de antemão, o risco de ficar algo entediante. Mas isso nunca chega a acontecer – pois este é um livro que se lê bastante rapidamente até - embora também seja verdade que, em termos de expressões faciais, por vezes se encontre uma certa sensação de repetição nos desenhos que o autor nos vai oferecendo.
Quando quer, o autor revela bastante virtuosismo para o desenho de cenários como, aliás, disso são exemplos a bela ilustração da cidade de Londres na página 65 ou a muito bem conseguida capa do livro. Noutros casos, o autor parece apostar num desenho mais simplista e menos detalhado.
Quanto à edição, e partindo do princípio que esta é a obra de banda desenhada inaugural da chancela Iguana, pertencente ao grupo editorial Penguin Random House, acho que estamos perante um bom trabalho de edição. O livro apresenta capa dura, bom papel baço de tom amarelado, e uma boa impressão e encadernação.
Compreendo o apelo comercial de lançar uma obra sobre Banksy, possivelmente o(a) artista mais famoso(a) do mundo em termos de arte de rua, mas acho que a editora talvez pudesse ter começado a sua aposta em banda desenhada com uma obra de qualidade mais inequívoca. Ainda assim, e seja como for, é sempre algo positivo que tenhamos um enfoque em banda desenhada por parte de (mais) uma editora nacional. É com bom grado e expetativa que espero pelas novas obras da editora para 2023.
Concluindo, O Seu Nome é Banksy é uma banda desenhada razoável e interessante que, não deixando de ter alguns problemas, consegue ser uma boa aula sobre Banksy e sobre todo o mistério que (ainda) envolve uma personagem tão carismática e com tanta repercussão na cultura pop e na política da atualidade, como Banksy.
NOTA FINAL (1/10):
6.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
-/-
O Seu Nome é Banksy
Autores: Francesco Matteuzzi e Marco Maraggi
Editora: Iguana (Penguin Random House)
Páginas: 128, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 170 x 240 mm
Lançamento: Outubro de 2022
Já aqui tinha levantado as minhas dúvidas sobre a existência de uma verdadeira curadoria / edição profissional nesta nova chancela. Parece que o critério aqui foi editar uma obra sobre a figura de Banksy e não sobre as qualidades inerentes da obra em formato BD o que é de lamentar. Resta saber se irão continuar nesta via ou arrepiar caminho no sentido de se tornarem um verdadeiro selo de BD.
ResponderEliminarCaro António, a este propósito, acabo de publicar as primeiras novidades da Iguana para este primeiro semestre de 2023.
Eliminar